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Filosofia Antiga

Simulado de 20 questões de Filosofia Com Gabarito para a UEL, UEM, UENP, UFPR e Unioeste com questões de Vestibulares.


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01. (UFPR) De acordo com Tales de Mileto, a água é origem e matriz de todas as coisas.

Essa maneira de reduzir a multiplicidade das coisas a um único elemento foi considerada uma das primeiras expressões da Filosofia, porque:

  1. é um questionamento sobre o fundamento das coisas.
  2. enuncia a verdade sobre a origem das coisas.
  3. é uma proposição que se pode comprovar.
  4. é uma proposição científica.
  5. é um mito de origem.

02. (UEL) Leia o texto a seguir.

Alguns julgam que a grandeza de uma cidade depende do número dos seus habitantes, quando o que importa é prestar atenção à capacidade, mais do que ao número de habitantes, visto que uma cidade tem uma obra a realizar. [. . . ] A cidade melhor é, necessariamente, aquela em que existe uma quantidade de população suficiente para viver bem numa comunidade política. [...] resulta evidente, pois, que o limite populacional perfeito é aquele que não excede a quantidade necessária de indivíduos para realizar uma vida auto-suficiente comum a todos. Fica, assim, determinada a questão relativa à grandeza da cidade.

(ARISTÓTELES, Política 1326b6-25 Edição bilíngue. Tradução e notas de António C. Amaral e Carlos C. Gomes. Lisboa: Vega, 1998. p. 495- 499.)

Com base no texto e considerando o papel da cidade estado (pólis) no pensamento ético-político de Aristóteles, assinale a alternativa correta.

  1. As dimensões da pólis determinam a qualidade de seu governo: quanto mais cidadãos, maior e melhor será a sua participação política.
  2. A pólis não é natural, por isso é importante organizá-la bem em tamanho e quantidade de cidadãos para que a sociedade seja autossuficiente.
  3. O ser humano, por ser autossuficiente, pode prescindir da pólis, pois o bem viver depende mais do indivíduo que da sociedade.
  4. A pólis realiza a própria obra quando possui um número suficiente de cidadãos que possibilite o bem viver.
  5. O ser humano, como animal político, tende a realizarse na pólis, mesmo que esta possua quantidade excessiva de cidadãos.

03. (UFPR) Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir assim: “Que quererá dizer o Deus? Que sentido oculto pôs na resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele então significar declarando-me o mais sábio? Naturalmente não está mentindo, porque isso lhe é impossível”. Por longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, decidi-me por uma investigação, que passo a expor.

(PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. Jaime Bruna. Coleção Os Pensadores. Vol. II. São Paulo: Victor Civita, 1972, p. 14.)

O texto acima pode ser tomado como um exemplo para ilustrar o modo como se estabelece, entre os gregos, a passagem do mito para a filosofia. Essa passagem é caracterizada:

  1. pela transição de um tipo de conhecimento racional para um conhecimento centrado na fabulação.
  2. pela dedicação dos filósofos em resolver as incertezas por meio da razão.
  3. pela aceitação passiva do que era afirmado pela divindade.
  4. por um acento cada vez maior do valor conferido ao discurso de cunho religioso.
  5. pelo ateísmo radical dos pensadores gregos, sendo Sócrates, inclusive, condenado por isso.

04. (Unioeste) Segundo a conhecida alegoria da caverna, que aparece no Livro VII da República, de Platão, há prisioneiros, voltados para uma parede em que são projetadas as sombras de objetos que eles não podem ver. Esses prisioneiros representam a humanidade em seu estágio de mais baixo saber acerca da realidade e de si mesmos: a doxa, ou “opinião”. Um desses prisioneiros é libertado à força, num processo que ele quer evitar e que lhe causa dor e enormes dificuldades de visão (conhecimento). Gradativamente, ele é conduzido para fora da caverna, a um estágio em que pode ver as coisas em si mesmas, isto é, os fundamentos eternos de tudo o quê, antes, ele via somente mediante sombras. Esses fundamentos são as Formas. Para além das Formas, brilha o Sol, que representa a Forma das Formas, o Bem, fonte essencial de todo ser e de todo conhecer e unicamente acessível mediante intuição direta. Com base nisso, responda à seguinte questão: se chegamos ao conhecimento das Formas mediante a dialética, que é o estabelecimento de fundamentos que possibilitam o conhecimento das coisas particulares (sombras), é CORRETO dizer:

  1. para Platão, a dialética é o conhecimento imediato (doxa) dos objetos particulares.
  2. o Bem é um objeto particular, que pode ser conhecido sensivelmente, de modo imediato e indolor, por todos os seres humanos.
  3. as Formas são somente suposições teóricas, sem realidade nelas mesmas.
  4. a dialética, que não é o último estágio do ser e do conhecer, permite chegar, mediante um processo difícil, que exige esforço, às coisas em si mesmas (Formas).
  5. a dialética, último estágio do ser e do conhecer, permite chegar, mediante um processo difícil, ao conhecimento do Bem.

05. (UENP) Leia o texto a seguir.

– Depois disto – prossegui eu – imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no gênero dos tapumes que os homens dos “robertos” colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.

(PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, s/d., p.315.)

O texto é a abertura do Livro VII da República de Platão, no qual ele expõe sua famosa “Alegoria da Caverna”. Com base nessa Alegoria e na filosofia de Platão, assinale a alternativa correta.

  1. A teoria do conhecimento de Platão, expressa na Alegoria da Caverna, estabelece que todo conhecimento verdadeiro se origina nas sensações.
  2. Com a Alegoria da Caverna, Platão mostra que o conhecimento da verdade é impossível, uma vez que os homens estão presos nas sombras desde a infância e jamais poderão se libertar.
  3. Platão descreve, nessa Alegoria, a melhor forma de educação, desde a infância, dos homens da polis, os quais devem ficar presos em uma caverna para não sofrerem influências do mundo externo.
  4. Platão narra a situação de homens que foram presos em Atenas, em razão de crimes que teriam cometido.
  5. Platão procura, com a Alegoria da Caverna, narrar a situação dos homens que estão presos no mundo sensível e de como deveriam dele se libertar para conhecer a verdade.

06. (UENP) Segundo Aristóteles, as ciências dividem-se em teoréticas, práticas e produtivas. O propósito imediato de cada uma delas é o conhecimento, contudo, se diferem em seus propósitos últimos. Sobre Aristóteles e a classificação das ciências, assinale a alternativa correta.

  1. A conduta é o fim do conhecimento das ciências teoréticas e produtivas.
  2. As ciências produtivas visam ao conhecimento como um guia de conduta.
  3. As ciências teoréticas têm em vista o conhecimento por si próprio.
  4. Nas ciências práticas, o conhecimento é empregado para produzir algo útil.
  5. O objetivo do conhecimento das ciências práticas é o cultivo de algo belo.

07. (UFPR) Em determinado momento do diálogo de Hípias Menor, de Platão, Sócrates declara que encontrou dificuldade para responder à pergunta “qual o critério para reconheceres o que é belo e o que é feio?”.

De acordo com Platão, a dificuldade está em que:

  1. os juízos de Beleza são subjetivos, sendo relativos a quem os enuncia.
  2. o belo e o feio não se distinguem realmente.
  3. é preciso conhecer o que é Beleza para que se possam identificar as coisas belas.
  4. o critério de Beleza não é acessível aos homens, mas apenas aos deuses.
  5. a Beleza é uma mera aparência.

08. (UEL) Leia o texto a seguir.

Ao que parece, duas causas, e ambas naturais, geraram a poesia. O imitar é congênito no homem, e os homens se comprazem no imitado. Sinal disso é o que acontece na experiência: nós contemplamos com prazer as imagens mais exatas daquelas mesmas coisas que olhamos com repugnância, por exemplo, as representações de animais ferozes e de cadáveres. Causa é que o aprender não só muito apraz aos filósofos, mas também, igualmente, aos demais homens, se bem que menos participem dele. Efetivamente, tal é o motivo por que se deleitam perante as imagens: olhando-as aprendem e discorrem sobre o que seja cada uma delas, e dirão, por exemplo, “este é tal”. Porque, se suceder que alguém não tenha visto o original, nenhum prazer lhe advirá da imagem, como imitada, mas tão-somente da execução, da cor ou qualquer outra causa da mesma espécie.

(Adaptado de: ARISTÓTELES, Poética. Trad. Eudoro de Sousa. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p.445. Os Pensadores.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a noção de imitação (mímesis) em Aristóteles, assinale a alternativa correta.

  1. A pintura e a poesia retratam prazerosamente as coisas imitadas como mais belas do que são na realidade.
  2. A pintura e a poesia são prazerosas quando retratam coisas agradáveis, já as imitações desagradáveis nenhum prazer causam nas pessoas.
  3. Ao dizer “este é tal”, percebem-se a cor e as técnicas usadas pelo pintor, o que provoca uma sensação desagradável.
  4. As imitações da poesia e da pintura causam prazer ao se reconhecer o retratado, mesmo que seja uma retratação de algo desagradável.
  5. Diferentemente da pintura, a poesia surgiu via causas naturais, pois, nesta, a imitação é uma característica adquirida na experiência.

09. (UEL) Leia o texto a seguir.

[...] a arte imita a natureza [. . . ] Em geral a arte perfaz certas coisas que a natureza é incapaz de elaborar e a imita. Assim, se as coisas que são conforme a arte são em vistas de algo, evidentemente também o são as coisas conforme à natureza.

ARISTÓTELES, Física I e II. 194 a20; 199 a13-18. Tradução adaptada de Lucas Angioni. Campinas: IFCH/UNICAMP, 1999. p.47; 58.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre mímesis (imitação) em Aristóteles, assinale a alternativa correta.

  1. O artista deve copiar a natureza, retirando suas imperfeições ao imitá-la com base no modelo que nunca muda.
  2. O procedimento do artista resulta em imitar a natureza de maneira realista, típica do naturalismo grego.
  3. A arte, distinta da natureza, produz imitações desta, mas são criações sem finalidade ou utilidade.
  4. A arte completa a natureza por ser a capacidade humana para criar e produzir o que a natureza não produz.
  5. A arte produz o prazer em vista de um fim, e a natureza gera em vista do que é útil.

10. (UEL)

Texto IV

Nas origens do estudo sobre o movimento, o filósofo grego Aristóteles (384/383-322 a.C.) dizia que tudo o que havia no mundo pertencia ao seu lugar natural. De acordo com esse modelo, a terra apresenta-se em seu lugar natural abaixo da água, a água abaixo do ar, e o ar, por sua vez, abaixo do fogo, e acima de tudo um local perfeito constituído pelo manto de estrelas, pela Lua, pelo Sol e pelos demais planetas. Dessa forma, o modelo aristotélico explicava o motivo pelo qual a chama da vela tenta escapar do pavio, para cima, a areia cai de nossas mãos ao chão, e o rio corre para o mar, que se encontra acima da terra. A mecânica aristotélica também defendia que um corpo de maior quantidade de massa cai mais rápido que um corpo de menor massa, conhecimento que foi contrariado séculos depois, principalmente pelos estudos realizados por Galileu, Kepler e Newton.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre cosmogonia, é correto afirmar que a concepção aristotélica apresenta um universo

  1. acêntrico.
  2. finito.
  3. infinito.
  4. heliocêntrico.
  5. policêntrico.

11. (UEL) Leia o texto a seguir.

Quando o artista [demiurgo] trabalha em sua obra, a vista dirigida para o que sempre se conserva igual a si mesmo, e lhe transmite a forma e a virtude desse modelo, é natural que seja belo tudo o que ele realiza. Porém, se ele se fixa no que devém e toma como modelo algo sujeito ao nascimento, nada belo poderá criar. [. . . ] Ora, se este mundo é belo e for bom seu construtor, sem dúvida nenhuma este fixará a vista no modelo eterno.

PLATÃO. Timeu. 28 a7-10; 29 a2-3. Trad. Carlos A. Nunes. Belém: UFPA, 1977. p. 46-47.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filosofia de Platão, assinale a alternativa correta.

  1. O mundo é belo porque imita os modelos sensíveis, nos quais o demiurgo se inspira ao gerar o mundo.
  2. O sensível, ou o mundo que devém, é o modelo no qual o artista se inspira para criar o que permanece.
  3. O artífice do mundo, por ser bom, cria uma obra plenamente bela, que é a realidade percebida pelos sentidos.
  4. O olhar do demiurgo deve se dirigir ao que permanece, pois este é o modelo a ser inserido na realidade sensível.
  5. O demiurgo deve observar as perfeições no mundo sensível para poder reproduzi-las em sua obra.

12. (UEL) Leia os textos a seguir.

A arte de imitar está bem longe da verdade, e se executa tudo, ao que parece, é pelo facto de atingir apenas uma pequena porção de cada coisa, que não passa de uma aparição.

(Adaptado de: PLATÃO. A República. 7.ed. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993. p.457.)

O imitar é congênito no homem e os homens se comprazem no imitado.

(Adaptado de: ARISTÓTELES. Poética. 4.ed. Trad. de Eudoro de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p.203. (Coleção Os Pensadores.))

Com base nos textos, nos conhecimentos sobre estética e a questão da mímesis em Platão e Aristóteles, assinale a alternativa correta.

  1. Para Platão, a obra do artista é cópia de coisas fenomênicas, um exemplo particular e, por isso, algo inadequado e inferior, tanto em relação aos objetos representados quanto às ideias universais que os pressupõem
  2. Para Platão, as obras produzidas pelos poetas, pintores e escultores representam perfeitamente a verdade e a essência do plano inteligível, sendo a atividade do artista um fazer nobre, imprescindível para o engrandecimento da pólis e da filosofia.
  3. Na compreensão de Aristóteles, a arte se restringe à reprodução de objetos existentes, o que veda o poder do artista de invenção do real e impossibilita a função caricatural que a arte poderia assumir ao apresentar os modelos de maneira distorcida.
  4. Aristóteles concebe a mímesis artística como uma atividade que reproduz passivamente a aparência das coisas, o que impede ao artista a possibilidade de recriação das coisas segundo uma nova dimensão.
  5. Aristóteles se opõe à concepção de que a arte é imitação e entende que a música, o teatro e a poesia são incapazes de provocar um efeito benéfico e purificador no espectador.

13. (Unioeste) O tema da expulsão dos poetas da ‘cidade ideal’, proposto pelo personagem Sócrates, na República, tem gerado discussão e perplexidade ao longo da história da filosofia. O fundamento conceitual dessa expulsão é a hipótese das Ideias ou Formas. Por um lado, as Ideias são entidadeternases , que se constituem como verdadeiro ser, ser pleno, instaurando o âmbito ontológico do inteligível; por outro lado, tudo que pertence ao âmbito do imediato, circundante – o ‘nosso mundo’, âmbito do Sensível – é ‘menos ser’. A Ideia do Um, por exemplo, tem plenitude de ser, ao passo que todas as unidades dos seres (objetos, seres humanos, etc.) dependem de sua participação na Ideia do Um, para vigorar como unidades. As Ideias são eternas; os entes sensíveis são temporais, efêmeros e somente subsistem enquanto se dá a participolispação. A ideal construída por Sócrates deverá ser governada pelos filósofos, porque esses concentram-se na atenção ao Inteligível, sem se perder nos apelos do Sensível; e, ao imaginar esse governo, uma das exigências para a plenitude de justiça dessa cidade é a expulsão dos poetas, os ‘imitadores’.

Levando-se em conta essa base conceitual, tal como aqui apresentada, assinale a alternativa que explica CORRETAMENTE a expulsão dos poetas.

  1. Sócrates redigiu a República com base na teoria das Ideias e chegou à conclusão de que poetas são politicamente perigosos e socialmente improdutivos. Assim, somente cientistas e construtores podem permanecer em atividade, na polis ideal, porque são os únicos a lidar com o Inteligível.
  2. A expulsão dos poetas, propugnada por Sócrates, personagem da República, tem origem em sua afirmação de que a poesia está inteiramente fundada no Inteligível.
  3. Platão redigiu a República com base na teoria das Ideias e chegou à conclusão de que poetas são politicamente perigosos e socialmente improdutivos. Assim, somente cientistas e construtores podem permanecer em atividade, na polis ideal, porque são os únicos a lidar com o Inteligível.
  4. As Ideias são entidades eternas, que vigoram no âmbito Inteligível, ou seja, elas são a inteligibilidade ou sentido de tudo que ‘existe’; sem Ideias, as coisas não têm sentido. Os poetas, em lugar de atentar ao sentido inteligível dos entes, imitam, reproduzem, copiam – afastando-se, assim, das Ideias e desviando a polis de suas tarefas prementes. Este é o motivo de sua exclusão.
  5. Sem uma análise do contexto, é impossível entender uma tese tão radical como a da expulsão dos poetas. Sócrates propõe essa medida extrema devido à mistura entre poesia e sofística, que se verificava em todas as grandes cidades da Grécia antiga. Os poetas, mesmo Homero e Hesíodo, já se deixavam influenciar pelas teses dos sofistas, inimigos da filosofia, com o que Sócrates e seus discípulos não podiam concordar. Poetas que louvassem os deuses e a filosofia, porém, poderiam permanecer na cidade ideal.

14. (Unioeste) “A proposição de Tales de que a água é o absoluto ou, como diziam os antigos, o princípio, é filosófica: com ela, a filosofia começa porque, através dela, chega à consciência de que o um é a essência, o verdadeiro, o único que é em si e para si. Começa aqui um distanciar-se daquilo que é em nossa percepção sensível; um afastar-se deste ente imediato - um recuar diante dele. Os gregos consideraram o sol, as montanhas, os rios, etc., como forças autônomas, honrando-os como deuses, elevados pela fantasia a seres ativos, móveis, conscientes, dotados de vontade. Isto gera em nós a representação da pura criação pela fantasia — animação infinita e universal, figuração, sem unidade simples. Com essa proposição está aquietada a imaginação selvagem, infinitamente colorida, de Homero; dissociar-se de uma infinidade de princípios, toda esta representação de que um objeto singular é algo que verdadeiramente subsiste para si, que é uma força para si, autônoma e acima das outras, é sobressumida e assim está posto que só há um universal, o universal ser em si e para si, a intuição simples e sem fantasia, o pensamento de que apenas um é. Este universal está, ao mesmo tempo, em relação com o singular, com a aparição, com a existência do mundo.”

Hegel

“Não se trata de contrapor os gregos aos outros povos, como se fossem destituídos de racionalidade. Mas diante do real, os gregos não se limitaram a uma atividade prática ou a um comportamento religioso; ao lado disso, souberam assumir um comportamento propriamente filosófico: a pergunta filosófica exige uma postura mais puramente intelectual.”

Gerd A. Bornheim

Considerando os textos acima, que tratam do surgimento da filosofia e do primeiro filósofo grego, Tales de Mileto, é CORRETO afirmar que

  1. a proposição de Tales é filosófica, mas não constitui uma resposta racional que pretende organizar o mundo para além da ordem mitológica ou do ente imediato.
  2. ao afirmar que a água é o princípio de tudo, Tales institui mais uma perspectiva para o mito, mas agora como uma verdade sobre o que é a realidade.
  3. o advento da filosofia não distingue os gregos de seus contemporâneos ou daqueles que os antecederam, apenas acrescenta uma nova noção, a noção de ser, à história da cultura.
  4. a representação que temos do mundo, formada pela fantasia e pelo mito, guia a razão à essência do real e motiva os primeiros filósofos em suas reflexões.
  5. a filosofia, ao surgir, impulsiona a razão a se perguntar se aquilo que observamos através de nossa percepção sensível constitui a verdadeira essência da realidade.

15. (Unioeste) O filósofo alemão Martin Heidegger publicou, em 1927, sua obra Ser e tempo, que rapidamente ganhou notoriedade e ocupa posição central nos debates de várias correntes e temas filosóficos. Entre as inovações da obra, está a elevação da tonalidade afetiva ao centro da possibilidade de compreensão do mundo. Compreendemos algo sempre situado em algum contexto: primeiro dá-se algo como sala de aula, ou como sala de visitas, ou como sala de jogos, e somente por abstração imaginaríamos uma ‘pura sala’, a ‘sala em si mesma’. Toda compreensão é, assim, interpretativa (algo aparece sempre como algo, x aparece como sala de aula, etc.). Mas, além disso, toda compreensão é atravessada por tonalidade afetiva. Nunca se está apenas puramente em uma sala de aula; está-se ali de algum modo, tocado por uma tonalidade de afeto: tédio, ansiedade, cansaço, alegria, expectativa... A tonalidade mostra, abre, unifica a sala de aula, que, sem isso, seria um ajuntamento de partes. O ‘como aparece’ antecede o ‘o que aparece’: os entes não são essências determinadas, eles dependem do modo de aparecimento, que inclui interpretação e tonalidade afetiva.

Essa ontologia diverge frontalmente da metafísica da substância, ligada a certa leitura do aristotelismo. Segundo essa metafísica, o conhecimento verdadeiro e ‘primeiro’ dos entes implica visualizar sua substância ou essência, o que se faz e se expressa na definição, que diz o que é x.

Com base nas indicações precedentes, assinale a alternativa CORRETA.

  1. Ao se adotar a perspectiva substancialista, fundada em certas leituras da filosofia aristotélica, as teses de Ser e tempo sobre a tonalidade afetiva complementam perfeitamente a tarefa de uma definição, a qual, segundo Aristóteles, deve ser compreensiva, interpretativa e caracterizada pela tonalidade afetiva análoga.
  2. Compreensão é sempre interpretativa, e, além disso, atravessada e unificada por uma tonalidade afetiva. Essa tese de Ser e tempo oferece um ponto de partida para a comparação com Aristóteles e, com base nela, Heidegger afirma que as definições são todas poéticas.
  3. Segundo Heidegger, o erro aristotélico reside em ignorar os sentimentos e optar somente pela racionalidade. Com isso, a definição se tornaria impossível, pois toda definição depende de uma sensação. Noutras palavras, a tonalidade afetiva ganhou lugar no discurso filosófico definicional, a partir de Ser e tempo.
  4. A tonalidade afetiva, proposta por Heidegger em Ser e tempo, implica a primazia do sentir sobre o pensar. Por isso, a fenomenologia heideggeriana supera o racionalismo aristotélico.
  5. Para Aristóteles, o decisivo é indicar a forma substancial (essência) de um ente, a fim de alcançar a sua definição – assim ocorre o conhecimento metafísico. Em outras palavras, devemos saber e dizer “o que é” uma sala, uma xícara, um ser humano, para assim iniciar um discurso de conhecimento. Em Heidegger, por outro lado, a definição alcança somente o ente abstraído do contexto de compreensão e tonalidade afetiva, em que apareceu. Tal conhecimento abstrativo é, para Heidegger, por isso, precário e derivado: definir uma sala de aula é um procedimento tardio em relação à “experiência” em que a unidade de seu aparecimento articula compreensão, interpretação e tonalidade afetiva.

16. (Unioeste) “A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática”.

Aristóteles

Considerando a citação acima e o pensamento de Aristóteles, assinale a alternativa CORRETA.

  1. Para o autor, a virtude se encontra entre dois extremos. Por isso, também podemos chamá-la de doutrina do justo meio.
  2. Fazer o bem consiste em permitir que as virtudes, compreendidas como inatas no homem, apresentem-se através de suas ações.
  3. A virtú corresponde à astúcia política daqueles que governam, a fim de se obter sucesso através dos favores da fortuna e, com isso, alcançar a glória e manter o poder dos príncipes.
  4. As virtudes não podem ser aprendidas com a prática, pois são habilidades das quais só alguns são dotados, como tocar um instrumento musical, pintar ou falar bem.
  5. É preciso avaliar os sentimentos a partir de uma escala de preferências. A atribuição de valor é feita considerando-se o prazer gerado.

17. (UEL) Sócrates, Giordano Bruno e Galileu foram pensadores que defenderam a liberdade de pensamento frente às restrições impostas pela tradição. Na Apologia de Sócrates, a acusação contra o filósofo é assim enunciada:

Sócrates [...] é culpado de corromper os moços e não acreditar nos deuses que a cidade admite, além de aceitar divindades novas (24b-c).

Ao final do escrito de Platão, Sócrates diz aos juízes:

Mas, está na hora de nos irmos: eu, para morrer; vós, para viver. A quem tocou a melhor parte, é o que nenhum de nós pode saber, exceto a divindade. (42a).

(PLATÃO. Apologia de Sócrates. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2001. p. 122-23; 147.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a disputa entre filosofia e tradição presente na condenação de Sócrates, assinale a alternativa correta.

  1. O desprezo socrático pela vida, implícito na resignação à sua pena, é reforçado pelo reconhecimento da soberania do poder dos juízes.
  2. A aceitação do veredito dos juízes que o condenaram à morte evidencia que Sócrates consentiu com os argumentos dos acusadores.
  3. A acusação a Sócrates pauta-se na identificação da insuficiência dos seus argumentos, e a corrupção que provoca resulta das contradições do seu pensamento.
  4. A crítica de Sócrates à tradição sustenta-se no repúdio às instituições que devem ser abandonadas em benefício da liberdade de pensamento
  5. A sentença de morte foi aceita por Sócrates porque morrer não é um mal em si e o livre pensar permite apreender essa verdade.

18. (UEL) Leia o texto a seguir.

É pois manifesto que a ciência a adquirir é a das causas primeiras (pois dizemos que conhecemos cada coisa somente quando julgamos conhecer a sua primeira causa); ora, causa diz-se em quatro sentidos: no primeiro, entendemos por causa a substância e a essência (o “porquê” reconduz-se pois à noção última, e o primeiro “porquê” é causa e princípio); a segunda causa é a matéria e o sujeito; a terceira é a de onde vem o início do movimento; a quarta causa, que se opõe à precedente, é o “fim para que” e o bem (porque este é, com efeito, o fim de toda a geração e movimento).

(Adaptado de: ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. de Vincenzo Cocco. São Paulo: Abril S. A. Cultural, 1984. p.16. (Coleção Os Pensadores.))

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, assinale a alternativa que indica, corretamente, a ordem em que Aristóteles apresentou as causas primeiras.

  1. Causa final, causa eficiente, causa material e causa formal.
  2. Causa formal, causa material, causa final e causa eficiente.
  3. Causa formal, causa material, causa eficiente e causa final.
  4. Causa material, causa formal, causa eficiente e causa final.
  5. Causa material, causa formal, causa final e causa eficiente.

19. (UEL) Leia o texto a seguir.

Eis com efeito em que consiste o proceder corretamente nos caminhos do amor ou por outro se deixar conduzir: em começar do que aqui é belo e, em vista daquele belo, subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um só para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos para os belos ofícios, e dos ofícios para as belas ciências até que das ciências acabe naquela ciência, que de nada mais é senão daquele próprio belo, e conheça enfim o que em si é belo.

(PLATÃO. Banquete, 211 c-d. José Cavalcante de Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1972. (Os Pensadores) p. 48).

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filosofia de Platão, é CORRETO afirmar que

  1. a compreensão da beleza se dá a partir da observação de um indivíduo belo, no qual percebemos o belo em si.
  2. a percepção do belo no mundo indica seus vários graus que visam a uma dimensão transcendente da beleza em si.
  3. a compreensão do que é belo se dá subitamente, quando partimos dele para compreender os belos ofícios e ciências.
  4. a observação de corpos, atividades e conhecimentos permite distinguir quais deles são belos ou feios em si.
  5. a participação do mundo sensível no mundo inteligível possibilita a apreensão da beleza em si.

20. (UEL) Leia os textos a seguir.

Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre.

(HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3.ed. Trad. de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995. p.91.)

Segundo a mitologia ioruba, no início dos tempos havia dois mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e Aiyê, que seria dos homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olorum, o deus supremo, o orixá Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça com ingredientesespeciais, entreelesaterraescuraque jogaria sobre o oceano para garantir morada e sustento aos homens.

(A Criação do Mundo. SuperInteressante. jul. 2008. Disponível em: . Acesso em: 1 abr. 2014.)

No começo do tempo, tudo era caos, e este caos tinha a forma de um ovo de galinha. Dentro do ovo estavam Yin e Yang, as duas forças opostas que compõem o universo. Yin e Yang são escuridão e luz, feminino e masculino, frio e calor, seco e molhado.

(PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e lendas do mundo. Ilustrado por Nilesh Mistry. Trad. de Felipe Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996. p.22.)

Com base nos textos e nos conhecimentos sobre a passagem do mito para o logos na filosofia, considere as afirmativas a seguir.

I. As diversas narrativas míticas da origem do mundo, dos seres e das coisas são genealogias que concebem o nascimento ordenado dos seres; são discursos que buscam o princípio que causa e ordena tudo que existe.

II. Os mitos representam um relato de algo fabuloso que afirmam ter ocorrido em um passado remoto e impreciso, em geral grandes feitos apresentados como fundamento e começo da história de dada comunidade.

III. Para Platão, a narrativa mitológica foi considerada, em certa medida, um modo de expressar determinadas verdades que fogem ao raciocínio, sendo, com frequência, algo mais do que uma opinião provável ao exprimir o vir-a-ser.

IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito é reduzido a um conto fictício desprovido de qualquer correspondência com algum tipo de acontecimento, em que inexiste relação entre o real e o narrado.

Assinale a alternativa correta.

  1. Somente as afirmativas I e II são corretas.
  2. Somente as afirmativas I e IV são corretas.
  3. Somente as afirmativas III e IV são corretas.
  4. Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
  5. Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

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