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Memórias do Cárcere, Graciliano Ramos

Lista de 06 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Memórias do Cárcere, Graciliano Ramos com questões de Vestibulares.


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01. (ENEM PPL 2009) Resolvo–me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos — e, antes de começar, digo os motivos por que silenciei e por que me decido. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas e, assim, com o decorrer do tempo, ia–me parecendo cada dia mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a idéia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava–me deformá–las, dar–lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de utilizá–las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas?

RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2000, v.1, p. 33.

Em relação ao seu contexto literário e sócio-histórico, esse fragmento da obra Memórias do Cárcere, do escritor Graciliano Ramos,

  1. inova na ficção intimista que caracteriza a produção romanesca do modernismo da década de 30 do século XX.
  2. aborda literariamente teses socialistas, o que faz do romance de Graciliano Ramos um texto panfletário.
  3. é marcada pelo traço regionalista pitoresco e romântico, que é retomado pelo autor em pleno modernismo.
  4. apresenta, em linguagem conscientemente trabalhada, a tensão entre o eu do escritor e o contexto que o forma.
  5. configura-se como uma narrativa de linguagem rebuscada e sintaxe complexa, de difícil leitura.

Resposta: D

Resolução:

02. (CESGRANRIO) Embora não me restasse ilusão, a franqueza nua

abalou-me: sem papas na língua, suprimiam-nos de

chofre qualquer direito e anunciavam friamente o desígnio

de matar-nos. Singular. Constituíamos uma sociedade

numerosa, e não tínhamos nenhum direito,

nem ao menos o direito de viver. Esquisita afirmação.

Várias pessoas estavam ali sem processo, algumas

deviam quebrar a cabeça e indagar porque as tratavam

daquele jeito; não havia julgamento e expunham

claro o desejo de assassiná-las.

RAMOS, G. Memórias do cárcere. 9. ed. Rio de Janeiro: Record e São Paulo: Martins. v. 2, 1976. p. 65. Fragmento.

Graciliano Ramos foi um dos grandes escritores brasileiros do início do século XX e abordou, em sua obra, questões profundas da sociedade brasileira. Pela leitura do Texto II, constata-se que o autor

  1. desponta, entre os escritores modernistas, pelo comprometimento com uma literatura voltada para as difíceis condições de vida do homem rural nordestino.
  2. utiliza seus escritos para questionar a situação política da época, da qual ele e muitos outros foram vítimas sem qualquer acusação formal.
  3. revela uma profunda percepção do lado psicológico dos personagens, criando tipos que podem ser entendidos como universais.
  4. aborda as condições sub-humanas em que vive o indivíduo privado de falta de conhecimento ou de educação.
  5. emprega uma forma de narrar focada nos problemas do homem hostilizado pelo ambiente e sufocado por problemas existenciais.

Resposta: B

Resolução:

03. (UFAL) Graciliano Ramos inicia Memórias do cárcere com o seguinte trecho:

“Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos – e, antes de começar, digo os motivos porque silenciei e porque me decido. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance. Mas teria eu o direito de utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas?”

RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Vol. I. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 33.

Sobre este livro, é correto concluir:

  1. foi escrito na maturidade do autor e se concentra principalmente nas memórias de sua prisão durante a Ditadura Vargas. Trata-se de um livro em que Graciliano Ramos também discorre sobre os limites e as dificuldades de narrar o vivido resgatado pela memória.
  2. foi elaborado por Graciliano Ramos na década de 30 e tinha como objetivo narrar as misérias vividas por pessoas que o autor conheceu no sertão de Alagoas, região assolada pela seca e pela miséria.
  3. tem como tema apenas a infância de Graciliano no interior de Alagoas, onde passou dias muito felizes ao lado de seus amigos e parentes, que ele agora transforma em personagens centrais do seu livro de memórias.
  4. deriva da utilização de procedimentos formais que foram copiados das vanguardas europeias, numa mera busca da inovação, o que é típico da primeira geração do modernismo brasileiro, e tem como intuito denunciar as péssimas condições dos presídios brasileiros.
  5. tem como personagem central e também narrador o próprio Graciliano Ramos, que reconstitui o seu percurso de ascensão social, com a compra da fazenda São Bernardo, e sua relação com sua esposa, Madalena, que se suicida.

Resposta: A

Resolução:

04. (PUC-Campinas) Em Memórias do Cárcere, lê-se a seguinte passagem, em que Graciliano Ramos, preso em 1936, recorda a prisão que sofrera seis anos antes:

Chegamos ao quartel do 20⁰ Batalhão. Estivera ali em 1930, envolvera-me estupidamente numa conspiração besta com um coronel, um major e um comandante da polícia e, vinte e quatro horas depois, achava-me preso e só. Pensando nessas coisas, desci do automóvel, atravessei o pátio que, em 1930, via cheio de entusiastas enfeitados com braçadeiras vermelhas. (...) Se todos os sujeitos perseguidos fizessem como eu, não teria havido uma só revolução no mundo. Revolucionário chinfrim. As minhas armas, fracas e de papel, só podiam ser manejadas no isolamento.

(Graciliano Ramos. Memórias do Cárcere. São Paulo: Martins, 6. ed, 1969. p. 19 e 20)

Graciliano Ramos criou personagens de ficção marcantes, como Fabiano e Paulo Honório, que, em seus respectivos romances,

  1. pertencem a grupos rebelados que convulsionaram o sertão.
  2. aproximam-se pelo fato de ambos assumirem o ato de narrar.
  3. constituem símbolos esperançosos de uma sociedade mais justa.
  4. representam faces do conformismo do trabalhador oprimido.
  5. ocupam posições econômicas e sociais inteiramente contrastantes.

Resposta: E

Resolução:

05. (PUC-Campinas) Em Memórias do Cárcere, lê-se a seguinte passagem, em que Graciliano Ramos, preso em 1936, recorda a prisão que sofrera seis anos antes:

Chegamos ao quartel do 20o Batalhão. Estivera ali em 1930, envolvera-me estupidamente numa conspiração besta com um coronel, um major e um comandante da polícia e, vinte e quatro horas depois, achava-me preso e só. Pensando nessas coisas, desci do automóvel, atravessei o pátio que, em 1930, via cheio de entusiastas enfeitados com braçadeiras vermelhas. (...) Se todos os sujeitos perseguidos fizessem como eu, não teria havido uma só revolução no mundo. Revolucionário chinfrim. As minhas armas, fracas e de papel, só podiam ser manejadas no isolamento.

(Graciliano Ramos. Memórias do Cárcere. São Paulo: Martins, 6. ed, 1969. p. 19 e 20)

A prisão, em 1936, do autor de Memórias do Cárcere relaciona- se ao contexto histórico em que se insere o movimento conhecido como

  1. Revolta Armada, que apoiada em vários setores sociais liderados por frações das oligarquias descontentes com o exclusivismo paulista sobre o poder republicano federal, foi responsável pela Revolução de 1930.
  2. Cívico MMDC, que iniciou os preparativos para a luta armada em favor da redemocratização do país e a convocação de uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova Constituição mais liberal e cidadã.
  3. Campanha Civilista, que visava a derrubada do governo representante da oligarquia e a aprovação imediata de medidas para que o país retomasse a normalidade política e a ampliação da participação popular.
  4. Intentona Comunista, que serviu de pretexto para o governo desencadear violenta repressão a todos os participantes e simpatizantes do comunismo, ou apenas suspeitos de simpatizar, e aos inimigos do regime.
  5. Revolução Paulista de 1924, movimento de caráter nacional, mas que ficou limitado na cidade de São Paulo, onde elementos da poderosa Força Pública, sublevaram- se, tomando pontos estratégicos da cidade.

Resposta: D

Resolução:

06. (UERJ) Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos − e, antes de

começar, digo os motivos por que silenciei e por que me decido. Não conservo notas: algumas

que tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais

difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas

[5] forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como

adiante se verá. Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com

os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do

livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em história presumivelmente

verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo

[10] palavras contestáveis e obliteradas?

(...)

O receio de cometer indiscrição exibindo em público pessoas que tiveram comigo convivência

forçada já não me apoquenta. Muitos desses antigos companheiros distanciaram-se, apagaramse.

Outros permaneceram junto a mim, ou vão reaparecendo ao cabo de longa ausência, alteramse,

completam-se, avivam recordações meio confusas − e não vejo inconveniência em mostrá-los.

(...)

[15] E aqui chego à última objeção que me impus. Não resguardei os apontamentos obtidos em

largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água.

Certamente me irão fazer falta, mas terá sido uma perda irreparável? Quase me inclino a supor

que foi bom privar-me desse material. Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada

instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, quantas demoradas

[20] tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das folhas que tombavam das

árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autênticas, gestos,

gritos, gemidos. Mas que significa isso? Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis.

E se esmoreceram, deixá-las no esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que valiam

pouco. Outras, porém, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná-

[25] las. Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade. (...) Nesta reconstituição de fatos

velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado. Outros devem possuir

lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que não recusem as minhas: conjugam-se,

completam-se e me dão hoje impressão de realidade. Formamos um grupo muito complexo, que

se desagregou. De repente nos surge a necessidade urgente de recompô-lo. Define-se o ambiente,

[30] as figuras se delineiam, vacilantes, ganham relevo, a ação começa. Com esforço desesperado

arrancamos de cenas confusas alguns fragmentos. Dúvidas terríveis nos assaltam. De que modo

reagiram os caracteres em determinadas circunstâncias? O ato que nos ocorre, nítido, irrecusável,

terá sido realmente praticado? Não será incongruência? Certo a vida é cheia de incongruências,

mas estaremos seguros de não nos havermos enganado? Nessas vacilações dolorosas, às vezes

[35] necessitamos confirmação, apelamos para reminiscências alheias, convencemo-nos de que a

minúcia discrepante não é ilusão. Difícil é sabermos a causa dela, desenterrarmos pacientemente

as condições que a determinaram. Como isso variava em excesso, era natural que variássemos

também, apresentássemos falhas. Fiz o possível por entender aqueles homens, penetrar-lhes

na alma, sentir as suas dores, admirar-lhes a relativa grandeza, enxergar nos seus defeitos a

[40] sombra dos meus defeitos. Foram apenas bons propósitos: devo ter-me revelado com frequência

egoísta e mesquinho. E esse desabrochar de sentimentos maus era a pior tortura que nos podiam

infligir naquele ano terrível.

GRACILIANO RAMOS Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2002.

Memórias do cárcere, do romancista Graciliano Ramos, contam as desventuras do autor enquanto foi preso político no Presídio da Ilha Grande, em 1936.

Apesar de ser um livro autobiográfico, o autor expõe, logo na abertura, as dificuldades de reconstrução da memória.

A consciência de Graciliano Ramos em relação ao caráter parcialmente ficcional das suas memórias está evidenciada no seguinte trecho:

  1. Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, (l. 1)
  2. Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, (l. 6)
  3. Outros devem possuir lembranças diversas. (l. 26-27)
  4. conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade. (l. 27-28)

Resposta: D

Resolução:

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