Claro Enigma
Lista de 10 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Claro Enigma (Carlos Drummond de Andrade) com questões de Vestibulares.
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01. (PUC-SP) O poema baixo integra a integra a obra Claro Enigma de Carlos Drummond de Andrade
O CHAMADO
Na rua escura o velho poeta
(lume de minha mocidade)
já não criava, simples criatura
exposta aos ventos da cidade.
Ao vê-lo curvo e desgarrado
na caótica noite urbana,
o que senti, não alegria,
era, talvez,carência humana.
E pergunto ao poeta,
[pergunto-lhe
(numa esperança que não digo)
para onde vai – a que angra serena,
a que Pasárgada, a que abrigo?
A palavra oscila no espaço
um momento. Eis que, sibilino,
entre as aparências sem rumo,
responde o poeta: Ao meu
destino.
E foi-se para onde a intuição,
o amor, o risco desejado
o chamavam, sem que ninguém
pressentisse, em torno, o
Chamado.
A respeito dele É CORRETO[] afirmar que
- a seleção vocabular, apesar da carga negativa que carrega, não provoca uma atmosfera opressora nem pessimista, ainda que o ambiente possa ser inóspito e desalentador.
- o poeta a que se refere o eu lírico e com quem dialoga é uma alusão genérica a todo e qualquer poeta, já que nada indicia a identificação de quem quer que seja.
- a palavra “Chamado”, propositalmente em maiúscula e em destaque, fecha o poema e refere também o fecho da vida, numa metáfora que alude à convocação da morte.
- a estrutura poética que organiza o texto se apoia em versos decassílabos, sem preocupação com rimas de nenhuma natureza e com sintaxe fragmentada que quebra o ritmo do poema.
02. (UNIVESP) Leia o poema para responder à questão.
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
– Carlos Drummond de Andrade, em “Claro enigma”. 1951.
A respeito do termo malamar, presente na primeira estrofe do poema, pode-se afirmar corretamente que trata-se de
- um verbo muito usado na linguagem mais formal, característica do autor.
- um advérbio de lugar, referente à localização próxima ao mar.
- um adjetivo que qualifica a forma de amar típica do poeta.
- um neologismo, palavra criada por Drummond pela junção do verbo amar e do advérbio de modo mal.
- um vocábulo que Drummond tomou emprestado da língua italiana, recurso recorrente na obra do autor.
03. (Albert Einstein) A MÁQUINA DO MUNDO
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
( ... )
O trecho ao lado integra um poema maior da obra Claro Enigma, de Carlos Drummond de Andrade. Considerando o poema como um todo, NÃO É CORRETO afirmar que
- caracteriza-se por um tom sombrio, insere-se nos poemas escuros da obra e apresenta o material temático desenvolvido no poema.
- revela o lirismo filosófico e existencial do poeta sob a configuração de uma máquina que se mostra a um desiludido viajante.
- personifica um caminhante que aceita o convite que lhe é feito, e decifra a máquina do mundo, compreendendo, assim, o sentido íntimo da vida e de tudo.
- mantém uma relação dialogal com mesmo tema de obra de Camões e com a estrutura poético-narrativa da obra de Dante Alighieri.
04. (UEA - SIS) Legado
Que lembrança darei ao país que me deu
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
E mereço esperar mais do que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.
De tudo quanto foi meu passo caprichoso
na vida, restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra que havia em meio do caminho.
(Carlos Drummond de Andrade. Claro enigma, 2012.)
Considerando que pleonasmo constitui “redundância de expressão, em que um termo repete o que outro já exprimiu”, indique o verso em que tal figura de sintaxe se manifesta.
- “Na noite do sem fim, breve o tempo esqueceu”
- “minha incerta medalha, e a meu nome se ri.”
- “tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?”
- “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.”
- “uma pedra que havia em meio do caminho.”
05. (Fuvest) Os bens e o sangue
VIII
(...)
Ó filho pobre, e descorçoado*, e finito
ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais
com a faca, o formão, o couro... Ó tal como quiséramos
para tristeza nossa e consumação das eras,
para o fim de tudo que foi grande!
Ó desejado,
ó poeta de uma poesia que se furta e se expande
à maneira de um lago de pez** e resíduos letais...
És nosso fim natural e somos teu adubo,
tua explicação e tua mais singela virtude...
Pois carecia que um de nós nos recusasse
para melhor servir-nos. Face a face
te contemplamos, e é teu esse primeiro
e úmido beijo em nossa boca de barro e de sarro.
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.
* “descorçoado”: assim como “desacorçoado”, é uma variante de uso popular da palavra “desacoroçoado”, que significa “desanimado”.
** “pez”: piche.
Considere as seguintes afirmações:
I. Os familiares, que falam no poema, ironizam a condição frágil do poeta.
II. O passado é uma maldição da qual o poeta, como revela o título do poema, não consegue se desvencilhar.
III. O trecho “o fim de tudo que foi grande” remete à ruína das oligarquias, das quais Drummond é tributário.
IV. A imagem de uma “poesia que se furta e se expande/à maneira de um lago de pez e resíduos letais...” sintetiza o pessimismo dos poemas de Claro enigma.
Estão corretas:
- I e II, apenas.
- I, II e III, apenas.
- II e IV, apenas.
- I, III e IV, apenas.
- I, II, III e IV.
06. (FGV-RJ) Texto para a questão
A tela contemplada
Pintor da soledade nos vestíbulos
de mármore e losango, onde as colunas
se deploram silentes, sem que as pombas
venham trazer um pouco do seu ruflo;
traça das finas torres consumidas
no vazio mais branco e na insolvência
de arquiteturas não arquitetadas,
porque a plástica é vã, se não comove,
ó criador de mitos que sufocam,
desperdiçando a terra, e já recuam
para a noite, e no charco se constelam,
por teus condutos flui um sangue vago,
e nas tuas pupilas, sob o tédio,
é a vida um suspiro sem paixão.
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.
Entre as diversas linhas temáticas e estilísticas que compõem Claro enigma, arroladas abaixo, apenas uma NÃO se encontra direta e imediatamente presente no poema. Trata-se da
- retomada de gêneros poéticos herdados da tradição.
- presença de elementos classicistas.
- reflexão sobre a madureza - ou experiência do envelhecimento.
- metalinguagem – linguagem que tem como referente a própria linguagem.
- utilização de versos dotados de regularidade métrica.
07. (FGV-SP) Texto para a questão
Um boi vê os homens
Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente, falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
(...)
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.
O fato de trazer o boi como sua referência primordial vincula mais diretamente o poema à seguinte linha temática, dentre as que compõem o livro Claro enigma:
- crítica do engajamento político.
- memória do passado mineiro do poeta.
- metalinguagem, como crítica do fazer poético.
- madureza – ou a experiência do envelhecimento.
- desilusões do amor.
08. (ITA) O livro “Claro Enigma”, uma das obras mais importantes de Carlos Drummond de Andrade, foi editado em 1951.
Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. “Claro Enigma”, Rio de Janeiro: Record, 1991.)
Sobre esse texto, é correto dizer que
- a passagem do tempo acaba por apagar da memória praticamente todas as lembranças humanas; quase nada permanece.
- a memória de cada pessoa é marcada exclusivamente por aqueles fatos de grande impacto emocional; tudo o mais se perde.
- a passagem do tempo apaga muitas coisas, mas a memória afetiva registra as coisas que emocionalmente têm importância; essas permanecem.
- a passagem do tempo atinge as lembranças humanas da mesma forma que envelhece e destrói o mundo material; nada permanece.
- o homem não tem alternativa contra a passagem do tempo, pois o tempo apaga tudo; a memória nada pode; tudo se perde.
09. (UP) Considerando o poema “Memória” e o livro Claro enigma, assinale a alternativa correta.
- Ao contrário de grande parte dos poemas de Claro enigma, que exploram as formas poéticas clássicas, “Memória” retoma a estética do primeiro modernismo, tanto pelos versos livres como pelo humor.
- Apesar de possibilitar uma leitura fluida e ritmada, “Memória” aborda a temática da transitoriedade, opondo aquilo que é claro ao que é enigmático, procedimento característico dessa fase da poesia de Drummond.
- A confusão a que o poeta se refere relaciona-se à temática predominante em Claro enigma, elemento responsável pela diferenciação entre essa obra e as anteriormente publicadas por Drummond: a temática amorosa.
- A oposição entre “coisas tangíveis” e “coisas findas” exemplifica o caráter religioso presente na poesia de Drummond desde sua estreia, em 1930, até os livros publicados postumamente.
- Por se tratar de um soneto, a estrofe final resume a ideia central do poema: aquilo que já acabou pode se tornar belo mesmo que escape à memória, pois só a morte dá sentido à existência humana.
10. (UFPR) O poema “Legado” integra a primeira parte do livro Claro enigma (1951), a que o autor denominou “Entre lobo e cão”.
Legado
Que lembrança darei ao país que me deu
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
E mereço esperar mais do que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.
De tudo quanto foi meu passo caprichoso
na vida, restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra que havia em meio do caminho.
ANDRADE, Carlos Drummond de, Claro enigma. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 19.
Considerando o poema, sua relação com o livro, e a poética de Carlos Drummond de Andrade, assinale a alternativa correta.
- O livro Claro enigma é considerado pela crítica como um marco na redefinição da poesia de Drummond por instaurar diálogo com as poéticas clássicas.
- Se anos antes Drummond havia escrito “no meio do caminho tinha uma pedra”, no verso final de “Legado” observa-se a opção por uma expressão mais coloquial.
- O poema “Legado” tematiza a identidade nacional, vinculando-se aos modelos e perspectivas próprios do movimento Antropofágico.
- O poema “Legado” tematiza a inconstância do eu do poeta e das coisas do mundo e inaugura a vertente autobiográfica da poesia de Drummond.
- O último terceto trai a norma clássica de um soneto, pois apresenta a síntese do poema, da biografia e da trajetória poética de Carlos Drummond de Andrade.