Naturalismo
Lista de 15 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Naturalismo com questões de Vestibulares.
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01. (UEMA) A questão têm como texto base fragmento do romance O Mulato, de Aluísio Azevedo. Leia-o para responder à questão
TEXTO
As paredes, barradas de azulejos portugueses e, para o alto, cobertas de papel pintado, mostravam, nos seus desenhos repetidos de assuntos de caça, alguns lugares sem tinta, cujas manchas brancacentas traziam à ideia joelheiras de calças surradas. Ao lado, dominando a mesa de jantar, aprumava-se um velho armário de jacarandá polido, muito bem tratado, com as vidraças bem limpas, expondo as pratas e as porcelanas de gosto moderno; a um canto dormia, esquecida na sua caixa de pinho envernizado, uma máquina de costura de Wilson, das primeiras que chegaram ao Maranhão; nos intervalos das portas simetrizavam-se quatro estudos de Julien, representando em litografia as estações do ano; defronte do guarda-louça, um relógio de corrente embalava melancolicamente a sua pêndula do tamanho de um prato e apontava para as duas horas. Duas horas da tarde.
Não obstante, ainda permanecia sobre a mesa a louça que servira ao almoço. Uma garrafa branca, com uns restos de vinho de Lisboa cintilava à claridade reverberante que vinha do quintal. De uma gaiola, dependurada entre as janelas desse lado, chilreava um sabiá.
Fonte: AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Martin Claret, 2010.
O fragmento ilustra uma característica muito presente na prosa naturalista brasileira, conhecida como
- determinismo científico
- experimentalismo narrativo.
- pessoalismo engajado.
- crítica aos valores sociais.
- detalhismo descritivo.
02. (UFPR) Ao mesmo tempo em que narram fatos, os narradores de Casa de Pensão e Clara dos Anjos também assumem postura intrusa e opinativa: eles interrompem a narração de acontecimentos e inserem seus comentários e opiniões, apresentando análises sociológicas ou psicológicas de acontecimentos, ambientes e personagens. Nas alternativas abaixo, foram transcritos trechos dos dois romances.
Assinale a alternativa em que se observa tal atitude intrusa e opinativa do narrador no romance de Aluísio Azevedo.
- “Por outro lado, as mulatas folgavam em tê-lo perto de si, achavam-no vivo e atilado, provocavam-lhe ditos de graça, mexiam com ele, faziam-lhe perguntas maliciosas, só para ‘ver o que o demônio do menino respondia’. E logo que Amâncio dava a réplica, piscando os olhos e mostrando a ponta da língua, caíam todas num ataque de riso, a olharem umas para as outras com intenção”.
- “Muita vez chorou de ternura, mas sempre às escondidas; muita vez sentiu o coração saltar para o filho, mas sempre se conteve, receoso de cair no ridículo./ E não se lembrava, o imprudente, de que o amor de pai é bem ao contrário do amor de filho; não se lembrava de que aquele nasce e subsiste por si e que este precisa ser criado; que aquele é um princípio e que este é uma consequência; que um vem de dentro para fora e que o outro vem de fora para dentro”.
- “O seu ideal na vida não era adquirir uma personalidade, não era ser ela, mesmo ao lado do pai ou do futuro marido. Era constituir função do pai, enquanto solteira, e do marido, quando casada. Não imaginava as catástrofes imprevistas da vida, que nos empurram, às vezes, para onde nunca sonhamos ter de parar. Não via que, adquirida uma pequena profissão honesta e digna do seu sexo, auxiliaria seus pais e seu marido, quando casada fosse”.
- “A casa da família do famoso violeiro não ficava nas ruas fronteiras à gare da Central; mas, numa transversal, cuidada, limpa e calçada a paralelepípedos. Nos subúrbios, há disso: ao lado de uma rua, quase oculta em seu cerrado matagal, topa-se uma catita, de ar urbano inteiramente. Indaga-se por que tal via pública mereceu tantos cuidados da edilidade, e os historiógrafos locais explicam: é porque nela, há anos, morou o deputado tal ou o ministro sicrano ou o intendente fulano”.
- “O provinciano, muito desvigorizado com a moléstia, sentia perfeitamente que os lúbricos impulsos, que dantes lhe inspirava a graciosa rapariga, iam-se agora destecendo e dissipando à luz de um novo sentimento de gratidão e respeito. A primitiva Amélia desaparecia aos poucos, para dar lugar àquela extremosa criança, àquela irmãzinha venerável, que lhe enchia o quarto com o frescor balsâmico de sua virgindade e rociava-lhe o coração com a trêfega mimalhice de sua ternura”.
03. (UEMA) Leia o texto a seguir para responder à questão
— Não chores, minha flor... segredou-lhe afinal. Tens toda a razão... perdoa-me se fui grosseiro contigo! Mas que queres? todos nós temos orgulho, e a minha posição ao teu lado era tão falsal!... Acredita que ninguém te amará mais do que te amo e te desejo! Se soubesses, porém, quanto custa ouvir cara a cara: Não lhe dou minha filha, porque o senhor é indigno dela, o senhor é filho de uma escrava! Se me dissessem: É porque é pobre! Que diabo! eu trabalharia! se me dissessem: É porque não tem uma posição social! juro-te que a conquistaria, fosse como fosse! É porque é um infame! um ladrão! um miserável! eu me comprometeria a fazer de mim o melhor modelo dos homens de bem! Mas um ex-escravo, um filho de negra, um mulato! E, como hei de transformar todo meu sangue, gota por gota? como hei de apagar a minha história da lembrança de toda esta gente que me detesta?
Fonte: AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Martins Claret, 2010. a
O diálogo entre os personagens Raimundo e Ana Rosa na obra O Mulato, de Aluísio Azevedo (1881), expressa o preconceito racial existente na sociedade maranhense do século XIX.
Da leitura do romance O Mulato, percebe-se que
- as classes dirigentes discriminavam os mulatos para evitar uma mobilidade social que colocasse em riscoa estrutura vigente naquela sociedade.
- os mulatos representavam uma pequena fração da sociedade maranhense e esperavam chegar ao poder político por meio do casamento com mulheres da elite.
- os escravos eram vistos de forma romanceada em razão da característica birracial da sociedade rural maranhense no século XIX.
- os abolicionistas defendiam a plena igualdade racial como forma de estabelecer uma sociedade igualitária e justa para todos.
- o mulato era aceito pela sociedade por ser símbolo do embranquecimento da população negra como queriam os defensores da manutenção da pureza racial.
04. (UEMA) A questão têm como texto base fragmento do romance O Mulato, de Aluísio Azevedo. Leia-o para responder à questão
TEXTO
Raimundo tinha vinte e seis anos e seria um tipo acabado de brasileiro, se não fossem os grandes olhos azuis, que puxara do pai. Cabelos muito pretos, lustrosos e crespos; tez morena e amulatada, mas fina; dentes claros que reluziam sob a negrura do bigode; estatura alta e elegante; pescoço largo, nariz direito e fronte espaçosa. A parte mais característica de sua fisionomia eram os olhos grandes, ramalhudos, cheios de sombras azuis; pestanas eriçadas e negras, pálpebras de um roxo vaporoso e úmido; as sobrancelhas, muito desenhadas no rosto, como a nanquim, faziam sobressair a frescura da epiderme, que, no lugar da barba raspada, lembrava os tons suaves e transparentes de uma aquarela sobre papel de arroz.
Tinha os gestos bem-educados, sóbrios, despidos de pretensão; falava em voz baixa, distintamente, sem armar ao efeito; vestia-se com seriedade e bom gosto; amava as artes, as ciências, a literatura e, um pouco menos, a política.
Fonte: AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Martin Claret, 2010.
Ao longo da narrativa acima, o autor nos brinda com diferentes descrições do protagonista Raimundo.
O fragmento revela uma visão do personagem como
- anti-herói modernista, pois, a despeito de sua condição social, mantém-se fiel a sua origem simples.
- herói romântico, pois é apresentado como ser de superioridade total tanto moral quanto física e intelectual.
- anti-herói realista, pois suas atitudes são típicas do grotesco e da imoralidade sem desconsiderar os aspectos intelectuais.
- anti-herói idealizado, pois representa todo o preconceito racial, ponto central do romance, sem se corromper.
- herói picaresco, pois é retratado como ser comum, da grande província, que vive os reveses sem abalar suas convicções.
05. (USF) O romancista Aluísio Azevedo situa sua principal obra em um núcleo de moradia coletiva: “[n]oventa e cinco casinhas comportou a imensa estalagem. As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por dia: tudo pago adiantado.” Analise o que se afirma a respeito de alguns personagens dessa estalagem retratada em O cortiço, do referido autor, e assinale o que for correto.
1. A escrava Bertoleza, no início da obra, possuía uma quitanda bastante afreguesada. Para mantê-la, pagava a seu senhor um valor mensal. Depois de morto seu senhor, Bertoleza se amigou com João Romão, que se apropriou do dinheiro dela para iniciar a construção da estalagem.
2. João Romão era empregado de um vendeiro, que lhe deixou a venda e um valor em dinheiro ao retornar a Portugal. Incansável, Romão trabalhou arduamente para ampliar e diversificar seus negócios, tendo como meta alcançar e superar a riqueza de seu vizinho Miranda.
3. Miranda admirava o empenho e a força de João Romão e propôs-lhe sociedade no cortiço, tencionando ampliar a habitação coletiva e multiplicar os lucros, o que lhe seria importante para deixar a mulher adúltera, que era a dona do dinheiro da família.
4. Jerônimo é um dos personagens em que a força do Determinismo do meio se mostra de maneira inequívoca: chega ao cortiço para trabalhar na pedreira e o faz de maneira séria, disciplinada e competente, até conhecer Rita baiana. O português então abrasileira-se e se transforma em um homem displicente e irresponsável.
5. Pombinha é a flor do cortiço. Moradora da estalagem em virtude da falência e posterior suicídio do pai, tem no casamento a oportunidade de sair dali e iniciar nova vida, junto da mãe e do jovem esposo, o comerciante João Costa. Entretanto, moldada pela lama moral do ambiente, acaba cedendo aos imperativos do sexo e se torna prostituta e amante de Léonie.
É correto o que se afirma em
- 1, 3 e 5, apenas.
- 2, 4 e 5, apenas.
- 1, 2 e 4, apenas.
- 1, 2, e 3 apenas.
- 2, 3, e 4, apenas.
06. (UNICAMP) Durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa (...).
À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fatigado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa da sala de jantar e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum de bestas no coito.
(Aluísio de Azevedo, O cortiço. 14. ed. São Paulo: Ática, 1983, p. 22.)
Levando em conta o excerto, bem como o texto integral do romance, é correto afirmar que
- o grosseiro rumor, a sexualidade desregrada e a exalação forte que provinham do cortiço decorriam, segundo Miranda, do abandono daquela população pelo governo.
- os termos “grosseiro rumor”, “animais”, “bestas no coito”, que fazem referência aos moradores do cortiço, funcionam como metáforas da vida pulsante dos seus habitantes.
- o nivelamento sociológico na obra O Cortiço se dá não somente entre os moradores da habitação coletiva e o seu senhorio, mas também entre eles e o vizinho Miranda.
- a presença portuguesa, exemplificada nas personagens João Romão e Miranda, não é relevante para o desenvolvimento da narrativa nem para a compreensão do sentido da obra.
07. (URCA) Sobre o romance de Eça de Queirós, A Cidade e as Serras, publicado em 1901, podemos afirmar que:
- Apresenta uma voz narrativa em primeira pessoa que discorre sobre as angústias e aflições por que passa um coração que não é correspondido;
- É uma narrativa de relato de experimento em que se analisam os preceitos e as convenções do casamento e o comportamento da pequena burguesia da cidade de Lisboa;
- Apresenta uma personagem que detesta inicialmente a vida do campo, aderindo ao desenvolvimento tecnológico da cidade, mas que ao final regressa à vida campesina e a transforma com a aplicação de seus conhecimentos técnicos e científicos;
- É uma narrativa cujo enredo fala sobre a vida devota da província e o celibato clerical, caracteriza a situação de decadência e alienação do distrito de Leiria, tomando-a como espelho da marginalização de todo o país com relação ao contexto europeu;
- Desenvolve-se em dois grandes blocos temáticos de ação: um norteado por amores incestuosos; outro voltado para a análise da vida da alta burguesia lisboeta.
08. (UFRGS-RS) No romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, a sintonia com os ideais naturalistas é acentuada pela seguinte característica básica da história.
- personagem sobrepõe-se ao ambiente.
- coletivo sobrepõe-se ao individual.
- psicológico sobrepõe-se ao social.
- trabalho sobrepõe-se ao capital
- A força sobrepõe-se à razão.
09. (Mackenzie) Assinale a alternativa incorreta sobre a prosa naturalista:
- As personagens expressam a dependência do homem às leis naturais.
- O estilo caracteriza-se por um descritivismo intenso, capaz de refletir a visualização pictórica dos ambientes.
- Os tipos são muito bem delimitados, física e moralmente, compondo verdadeiras representações caricaturais.
- Tem como objetivo maior aprofundar a dimensão psicológica das personagens.
- Comportamento das personagens e sua movimentação no espaço determinam-lhe a condição narrativa.
10. (USF) Pode-se entender o Naturalismo como uma particularização do Realismo que:
- se volta para a Natureza a fim de analisar-lhe os processos cíclicos de renovação.
- pretende expressar com naturalidade a vida simples dos homens rústicos nas comunidades primitivas.
- defende a arte pela arte, isto é, desvinculada de compromissos com a realidade social.
- analisa as perversões sexuais, condenando-as em nome da moral religiosa.
- estabelece um nexo de causa e efeito entre alguns fatores sociológicos e biológicos e a conduta das personagens.
11. (Fuvest) “E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, e esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, a multiplicar-se como larvas no esterco.”
O fragmento de “O cortiço”, romance de Aluísio Azevedo, apresenta uma característica fundamental do Naturalismo. Qual?
- Uma compreensão psicológica do Homem.
- Uma compreensão biológica do Mundo.
- Uma concepção idealista do Universo.
- Uma concepção religiosa da Vida.
- Uma visão sentimental da Natureza.
12. (PUC–PR) Assinale a alternativa que contém a afirmação correta sobre o Naturalismo no Brasil.
- O Naturalismo, por seus princípios científicos, considerava as narrativas literárias exemplos de demonstração de teses e ideias sobre a sociedade e o homem.
- O Naturalismo usou elementos da natureza selvagem do Brasil do século XIX para defender teses sobre os defeitos da cultura primitiva.
- A valorização da natureza rude verificada nos poetas árcades se prolonga na visão naturalista do século XIX, que toma a natureza decadente dos cortiços para provar os malefícios da mestiçagem.
- O Naturalismo no Brasil esteve sempre ligado à beleza das paisagens das cidades e do interior do Brasil.
- O Naturalismo do século XIX no Brasil difundiu na literatura uma linguagem científica e hermética, fazendo com que os textos literários fossem lidos apenas por intelectuais.
13. (FUVEST) Atente para as seguintes afirmações relativas ao desfecho do romance A Relíquia, de Eça de Queirós:
I. O autor revela, por meio de Teodorico, sua descrença num Jesus divinizado, imagem que é substituída pela ideia de Consciência.
II. Ao ser sincero com Crispim, Teodorico conquista a vida de burguês que sempre almejou.
III. Teodorico dá ouvidos à mensagem de Cristo, arrepende‐se de sua hipocrisia beata e abraça a fé católica.
Está correto o que se afirma apenas em
- I.
- II.
- I e II.
- II e III.
- I e III.
14. (Unifesp) O cortiço
Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.
(Aluísio Azevedo. O cortiço)
O caráter naturalista nessa obra de Aluísio Azevedo oferece, de maneira figurada, um retrato de nosso país, no final do século XIX. Põe em evidência a competição dos mais fortes, entre si, e estes, esmagando as camadas de baixo, compostas de brancos pobres, mestiços e escravos africanos. No ambiente de degradação de um cortiço, o autor expõe um quadro tenso de misérias materiais e humanas. No fragmento, há várias outras características do Naturalismo. Aponte a alternativa em que as duas características apresentadas são corretas.
- Exploração do comportamento anormal e dos instintos baixos; enfoque da vida e dos fatos sociais contemporâneos ao escritor.
- Visão subjetivista dada pelo foco narrativo; tensão conflitiva entre o ser humano e o meio ambiente.
- Preferência pelos temas do passado, propiciando uma visão objetiva dos fatos; crítica aos valores burgueses e predileção pelos mais pobres.
- A onisciência do narrador imprime-lhe o papel de criador, e se confunde com a ideia de Deus; utilização de preciosismos vocabulares, para enfatizar o distanciamento entre a enunciação e os fatos enunciados.
- Exploração de um tema em que o ser humano é aviltado pelo mais forte; predominância de elementos anticientíficos, para ajustar a narração ao ambiente degradante dos personagens.
15. (FGV-SP) Texto para a questão
Havia ainda, sob as telhas do negociante, um outro hóspede além do
Henrique, o velho Botelho. Este, porém, na qualidade de parasita.
Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo
branco, curto e duro, como escova, barba e bigode do mesmo teor; muito
[5] macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da
pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo
com o seu nariz adunco e com a sua boca sem lábios: viam-se-lhe ainda todos
os dentes, mas, tão gastos, que pareciam limados até ao meio.
Andava sempre
[10] de preto, com um guarda-chuva debaixo do braço e um
chapéu de Braga
enterrado nas orelhas. Fora em seu tempo empregado do comércio, depois
corretor de escravos; contava mesmo que estivera mais de uma vez na África
negociando negros por sua conta. Atirou-se muito às especulações; durante a
[15] guerra do Paraguai ainda ganhara forte, chegando a ser bem
rico; mas a roda desandou e, de malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo por
entre as
garras de ave de rapina. E agora, coitado, já velho, comido de
desilusões, cheio
de hemorroidas, via-se totalmente sem recursos e vegetava à sombra do
[20] Miranda, com quem por muitos anos trabalhou em rapaz, sob
as ordens do
mesmo patrão, e de quem se conservara amigo, a princípio por acaso e mais
tarde por necessidade.
Devorava-o, noite e dia, uma implacável amargura, uma surda tristeza
[25] de vencido, um desespero impotente, contra tudo e contra
todos, por não lhe
ter sido possível empolgar o mundo com as suas mãos hoje inúteis e trêmulas.
E, como o seu atual estado de miséria não lhe permitia abrir
contra ninguém
o bico, desabafava vituperando as ideias da época.
Aluísio Azevedo, O cortiço.
Entre as marcas do Naturalismo, que estão pre
- Configuração da personagem como um tipo, que reúne em si características de um determinado grupo social ou humano mais geral, tipificando-o.
- Abundância de anotações oriundas da percepção sensível, sobretudo as de caráter visual, na figuração da personagem.
- Caracterização da personagem por meio de comparações de caráter zoomórfico, isto é, que remetem a animais.
- Personagem figurada de modo bastante redutor, o que lhe confere certo aspecto caricatural e torna bastante previsíveis suas ações.
- Ênfase no caráter hereditário dos defeitos e das taras que acometem a personagem (determinismo biológico).