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Geração de 1930 ou Segunda Fase do Modernismo I

Lista de 15 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Geração de 1930 ou Segunda Fase do Modernismo I com questões de Vestibulares.


Você pode conferir as videoaulas, conteúdo de teoria, e mais questões sobre o tema Geração de 1930 ou Segunda Fase do Modernismo I.




01. (PUC-SP) De Sagarana, obra de J G Rosa NÃO É CORRETO afirmar que

  1. compõe-se de nove contos de tamanhos diferentes, inseridos todos já na matéria do sertão.
  2. apresenta linguagem da maturidade roseana, baseada na oralidade sertaneja, com aproveitamento de regionalismos e arcaísmos.
  3. recebeu o nome Sagarana, termo de origem puramente tupi e que indicia o rol de atos heroicos praticados por valentes guerreiros no combate às injustiças sociais e de fundo político.
  4. opera uma gama diversificada de enredos que envolvem personagens características do sertão de Minas Gerais.

02. (PUC-Campinas) A composição da obra de Graciliano Ramos resulta de um processo rigorosamente seletivo e subordinado essencialmente aos limites da experiência pessoal, notadamente sertaneja. Nos limites da paisagem rural, de estrutura bem característica, o fazendeiro é poderoso e único, por vezes o “coronel”, até que se enfraquece em consequência da desarticulação de todo um sistema de mandonismo tradicional, ou consequência de um drama pessoal, que nos parece ainda condicionado de qualquer forma pelo sentimento fatalista do homem regional.

(Adaptado de: CANDIDO, Antonio e CASTELLO, José Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira – Modernismo. 6. ed. Rio de Janeiro-São Paulo: Difel, 1977, p. 290)

O sentimento fatalista do homem regional está presente, como base das ações narradas, no livro de Graciliano Ramos

  1. Caetés, onde o autor se debruça melancolicamente sobre o destino das populações indígenas.
  2. Memórias do Cárcere, nas quais o autor projeta fantasiosamente a vida de um líder camponês condenado.
  3. Infância, em cujas páginas o autor revive sua meninice no engenho de açúcar de seu avô protetor.
  4. Vidas secas, romance composto em quadros nos quais se narra um ciclo de vida de uma família retirante.
  5. Angústia, conjunto de narrativas nas quais o autor rememora suas duras experiências como sitiante agregado.

03. (UFN) A Pastoral da Terra lançou, no ano passado, o relatório Conflitos do campo Brasil 2016. O documento revela o acirramento dos conflitos no campo que envolvem tanto agressões, ameaças, como assassinatos. Tal problemática, histórica no Brasil, figura também no campo da literatura que vem trabalhando essa temática sob diversas perspectivas e em diferentes momentos. Vários autores comprometeram-se em expor a realidade do latifúndio, do desmatamento ilegal, da violência e do êxodo rural. Assim, temos um amplo painel de obras no qual personagens representam, por meio da ficção, a realidade do problema.

De acordo com essa questão, relacione, entre as possibilidades a seguir, autor e obra e, depois, assinale a alternativa correta.

1. Rachel de Queirós

2. João Cabral de Melo Neto

3. Jorge Amado

4. Cyro Martins

5. José Lins do Rego

( ) Terras do sem fim narra a disputa entre dois coronéis pela área do Cerqueiro Grande, fato que deflagra uma guerra interna na região cacaueira.

( ) Em Porteira Fechada, o autor trabalha a questão da expulsão do homem do campo que, uma vez na cidade, sem identidade e trabalho, vive o processo de marginalização.

( ) Memorial de Maria Moura aborda temas importantes, como a problemática da terra, a preocupação social, a representação de figuras femininas singulares.

( ) Denominado também como auto de natal Pernambucano, o autor relata a trajetória de Severino, que migra da Serra da Costela ao Recife e, em sua trajetória, encontra vários conflitos e a presença constante da morte.

( ) Em Fogo Morto, o autor retrata o processo de decadência dos engenhos, trazendo com ele o desemprego e a desagregação da vida rural nordestina. ()

  1. 2 - 4 - 1 - 3 - 5
  2. 3 - 4 - 1 - 2 - 5
  3. 3 - 4 - 2 - 5 - 1
  4. 4 - 1 - 3 - 5 - 2
  5. 5 - 3 - 1 - 4 - 2

04. (FUVEST) TEXTOS PARA A QUESTÃO

Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devemo poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou.

Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.

O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.

Graciliano Ramos, Angústia.

Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante. Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia.

Se o discurso literário “aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o”, pode‐se dizer que Luís da Silva, o narrador‐ protagonista de Angústia, já não se comove com a leitura de “histórias fáceis, sem almas complicadas” porque

  1. rejeita, como jornalista, a escrita de ficção.
  2. prefere alienar‐se com narrativas épicas.
  3. é indiferente às histórias de fundo sentimental.
  4. está engajado na militância política.
  5. se afunda na negatividade própria do fracassado.

05. (FUVEST) TEXTOS PARA A QUESTÃO

Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devemo poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou.

Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.

O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.

Graciliano Ramos, Angústia.

Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.

Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia.

Para Graciliano Ramos, Angústia não faz concessão ao gosto do público na medida em que compõe uma atmosfera

  1. dramática, ao representar as tensões de seu tempo.
  2. grotesca, ao eliminar a expressão individual.
  3. satírica, ao reduzir os eventos ao plano do riso.
  4. Ingênua, ao simular o equilíbrio entre sujeito e mundo.
  5. alegórica, ao exaltar as imagens de sujeira.

06. (ACAFE) Leia o comentário a seguir sobre Capitães da Areia, de Jorge Amado.

“A segunda parte do romance se inicia com a apresentação de dois novos personagens: a menina Dora e seu irmão Zé Fuinha. A primeira "capitã da areia" despertará o desejo sexual dos meninos, mas, defendida por __________ e _________, acabará sendo aceita pelo grupo. Aos poucos, se torna a "mãe" dos capitães, tão necessitados de afeto e carinho.”

A alternativa que preenche corretamente os espaços em branco é:

  1. Gato – Boa Vida
  2. Sem Pernas – Pedro Bala
  3. Volta Seca – Pirulito
  4. João Grande – Professor

07. (ACAFE) Sobre a obra Capitães de Areia e seu autor, é correto o que se afirma em:

  1. O código que rege os componentes do grupo Capitães de Areia é a força física e a habilidade no uso da faca, condição demonstrada por Pedro Bala na luta com o chefe Raimundo.
  2. Antes de Pedro Bala, o chefe dos Capitães de Areia era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e forte.
  3. De 1956 a 1960, no governo de Juscelino Kubitschek, Jorge Amado refugia-se na Espanha a convite do governo de Francisco Franco, período em que escreve a biografia intitulada A Vida de Luís Carlos Prestes, rebatizada mais tarde O Cavaleiro da Esperança.
  4. A obra Capitães de Areia “não possui nem o apelo político-ideológico de muitas obras da dita “primeira fase” de Jorge Amado (Cacau, Seara Vermelha e Jubiabá), nem o apelo popular e erótico de quase todos os romances escritos depois de Gabriela, Cravo e Canela. Quer dizer, Capitães de Areia não interessava nem ao Partido Comunista, nem ao grande público.

08. (ITA) São Bernardo,de Graciliano Ramos, é obra representativa da Geração de 30. Em relação ao protagonista, podemos dizer que

  1. mesmo sendo um proprietário de terras de perfil feudal, não se envolve sexualmente com as serviçais da fazenda.
  2. por ter cometido assassinatos para tornar-se o dono de sua propriedade, é um homem sem nenhum traço de humanidade.
  3. ele próprio reconhece que as muitas agruras pelas quais passou até enriquecer acabaram por lhe dar uma alma agreste.
  4. após se tornar senhor da fazenda, esquece-se do passado e abandona, até mesmo, a sua pobre mãe de criação.
  5. mesmo com a morte trágica da esposa, não chega a questionar o sentido dos atos que praticou ao longo da vida.

09. (UERR) TEXTO

Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopéias. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas.

(RAMOS, 1992, p. 20)

O texto é um trecho do romance Vidas Secas (1938) de Graciliano Ramos, autor que se enquadra na escrita modernista da geração de 30. O roteiro de sua escrita norteou-se pela rejeição do contato do homem com a natureza, abordando com excelência e indignação o conflito entre a existência do ser e o que a sociedade apresentava para o homem.

Analisando o texto, que trata da descrição de personagem do romance Vidas Secas, assinale o item que melhor analisa sua caracterização através da relação com meio.

  1. O que está em foco nessa descrição é a incredulidade da personagem em relação aos níveis sociais de existência.
  2. Na descrição, é expressa a distância do personagem da estrutura familiar, pois não assume a posição paterna comum à sociedade da época.
  3. É fixada a tensão social como mola propulsora do comportamento do personagem.
  4. São acentuados os recursos linguísticos para abordar a humanização do personagem.
  5. O que se percebe é a desumanização do homem no sentido de reduzi-lo a condição semelhante do animal.

10. (UERJ) Os três poemas a seguir foram retirados do Livro de sonetos, de Vinicius de Moraes

(São Paulo: Companhia das Letras, 2009).

Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

[3] E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.


De repente da calma fez-se o vento

[6] Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama.


[9] De repente, não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente.


[12] Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente.

Uma série de transformações é apresentada pelo verbo fazer acompanhado da palavra se.

Na cena construída no poema, essa estrutura linguística produz o seguinte efeito:

  1. apagamento dos parceiros da relação
  2. esquecimento da sensação de perda
  3. neutralização dos espaços de conflito
  4. indefinição do momento da despedida

11. (ITA) Leia o poema de autoria de Cecília Meireles. O texto

“Epigrama n. 04”

O choro vem perto dos olhos

para que a dor transborde e caia.

O choro vem quase chorando

como a onda que toca a praia.

Descem dos céus ordens augustas

e o mar chama a onda para o centro.

O choro foge sem vestígios,

mas levando náufragos dentro.

(MEIRELES, Cecília, Viagem/Vaga música. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.p.43)

I. aproxima metaforicamente um fenômeno humano e um fenômeno natural

a partir da identificação de, pelo menos, um traço comum a ambos:

água em movimento.

II. sugere que, enquanto o movimento do choro é ligado à variação

das emoções, o movimento da onda deve-se a forças naturais,

responsáveis pela circularidade marítima.

III. ameniza o dramatismo do choro humano, pois, quando acomete o

sujeito, ele passa naturalmente, como a onda que volta ao mar.

IV. leva-nos a perceber que o choro contido tem um impacto emocional

que o torna desolador.

Estão corretas:

  1. I e II apenas;
  2. I, II e IV apenas;
  3. I, III e IV apenas;
  4. II e III apenas;
  5. todas.

12. (FUVEST) Cantiga de enganar

(...)

O mundo não tem sentido.

O mundo e suas canções

de timbre mais comovido

estão calados, e a fala

que de uma para outra sala

ouvimos em certo instante

é silêncio que faz eco

e que volta a ser silêncio

no negrume circundante.

Silêncio: que quer dizer?

Que diz a boca do mundo?

Meu bem, o mundo é fechado,

se não for antes vazio.

O mundo é talvez: e é só.

Talvez nem seja talvez.

O mundo não vale a pena,

mas a pena não existe.

Meu bem, façamos de conta.

De sofrer e de olvidar,

de lembrar e de fruir,

de escolher nossas lembranças

e revertê‐las, acaso

se lembrem demais em nós.

Façamos, meu bem, de conta

– mas a conta não existe –

que é tudo como se fosse,

ou que, se fora, não era.

(...)

Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.

Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva do sujeito maduro, já afastado das ilusões, como se lê no verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.” (“Legado”).

O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo mediada

  1. pela música, que ressoa em canções líricas.
  2. pela cor, brilhante na claridade solar.
  3. pela afirmação de valores sólidos.
  4. pela memória, que corre fluida no tempo.
  5. pelo despropósito de um faz‐de‐conta.

13. (UEA - SIS) Leia o trecho de O quinze, de Rachel de Queiroz (1910-2003), para responder à questão.

Todos os anos, nas férias da escola, Conceição vinha passar uns meses com a avó (que a criara desde que lhe morrera a mãe), no Logradouro, a velha fazenda da família, perto do Quixadá.

Ali tinha a moça o seu quarto, os seus livros, e, principalmente, o velho coração amigo de Mãe Nácia. Chegava sempre cansada, emagrecida pelos dez meses de professorado; e voltava mais gorda com o leite ingerido à força, reposta de corpo e espírito graças ao carinho cuidadoso da avó.

Conceição tinha vinte e dois anos e não falava em casar. As suas poucas tentativas de namoro tinham-se ido embora com os dezoito anos e o tempo de normalista; dizia alegremente que nascera solteirona. Ouvindo isso, a avó encolhia os ombros e sentenciava que mulher que não casa é um aleijão...

– Esta menina tem umas ideias!

Estaria com razão a avó? Porque, de fato, Conceição talvez tivesse umas ideias; escrevia um livro sobre pedagogia, rabiscara dois sonetos, e às vezes lhe acontecia citar o Nordau ou o Renan da biblioteca do avô.

Chegara até a se arriscar em leituras socialistas, e justamente dessas leituras é que lhe saíam as piores das tais ideias, estranhas e absurdas à avó.

Acostumada a pensar por si, a viver isolada, criara para seu uso ideias e preconceitos próprios, às vezes largos, às vezes ousados, e que pecavam principalmente pela excessiva marca de casa.

(O quinze, 2013.)

O advérbio “ali”, que inicia o segundo parágrafo, refere-se

  1. “escola”.
  2. “avó”.
  3. “Logradouro”.
  4. “família”.
  5. “Quixadá”.

14. (UNIVESP) Notícias

Entre mim e os mortos há o mar

e os telegramas.

Há anos que nenhum navio parte

nem chega. Mas sempre os telegramas

frios, duros, sem conforto.


Na praia, e sem poder sair.

Volto, os telegramas vêm comigo.

Não se calam, a casa é pequena

para um homem e tantas notícias.


Vejo-te no escuro, cidade enigmática.

Chamas com urgência, estou paralisado.

De ti para mim, apelos,

de mim para ti, silêncio.

Mas no escuro nos visitamos.


Escuto vocês todos, irmãos sombrios.

No pão, no couro, na superfície

macia das coisas sem raiva,

sinto vozes amigas, recados

furtivos, mensagens em código.


Os telegramas vieram no vento.

Quanto sertão, quanta renúncia atravessaram!

Todo homem sozinho devia fazer uma canoa

e remar para onde os telegramas estão chamando.


(Poesia 1930-62. São Paulo, Cosac Naif, 2012)

O eu lírico expressa um sentimento de impotência, o qual se evidencia no verso

  1. Chamas com urgência, estou paralisado.
  2. sinto vozes amigas, recados
  3. Os telegramas vieram no vento.
  4. Quanto sertão, quanta renúncia atravessaram!
  5. Todo homem sozinho devia fazer uma canoa

15. (UNIFESP) Leia o trecho inicial do conto “A doida”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.

A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado. E a rua descia para o córrego, onde os meninos costumavam banhar-se. Era só aquele chalezinho, à esquerda, entre o barranco e um chão abandonado; à direita, o muro de um grande quintal. E na rua, tornada maior pelo silêncio, o burro que pastava. Rua cheia de capim, pedras soltas, num declive áspero. Onde estava o fiscal, que não mandava capiná-la?

Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho. Só com essa intenção. Mas era bom passar pela casa da doida e provocá-la. As mães diziam o contrário: que era horroroso, poucos pecados seriam maiores. Dos doidos devemos ter piedade, porque eles não gozam dos benefícios com que nós, os sãos, fomos aquinhoados. Não explicavam bem quais fossem esses benefícios, ou explicavam demais, e restava a impressão de que eram todos privilégios de gente adulta, como fazer visitas, receber cartas, entrar para irmandades. E isso não comovia ninguém. A loucura parecia antes erro do que miséria. E os três sentiam-se inclinados a lapidar1 a doida, isolada e agreste no seu jardim.

Como era mesmo a cara da doida, poucos poderiam dizê-lo. Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma. Só o busto, recortado numa das janelas da frente, as mãos magras, ameaçando. Os cabelos, brancos e desgrenhados. E a boca inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa voz rouca. Eram palavras da Bíblia misturadas a termos populares, dos quais alguns pareciam escabrosos, e todos fortíssimos na sua cólera.

Sabia-se confusamente que a doida tinha sido moça igual às outras no seu tempo remoto (contava mais de sessenta anos, e loucura e idade, juntas, lhe lavraram o corpo). Corria, com variantes, a história de que fora noiva de um fazendeiro, e o casamento uma festa estrondosa; mas na própria noite de núpcias o homem a repudiara, Deus sabe por que razão. O marido ergueu-se terrível e empurrou-a, no calor do bate- -boca; ela rolou escada abaixo, foi quebrando ossos, arrebentando-se. Os dois nunca mais se veriam. Já outros contavam que o pai, não o marido, a expulsara, e esclareciam que certa manhã o velho sentira um amargo diferente no café, ele que tinha dinheiro grosso e estava custando a morrer – mas nos racontos2 antigos abusava-se de veneno. De qualquer modo, as pessoas grandes não contavam a história direito, e os meninos deformavam o conto. Repudiada por todos, ela se fechou naquele chalé do caminho do córrego, e acabou perdendo o juízo. Perdera antes todas as relações. Ninguém tinha ânimo de visitá-la. O padeiro mal jogava o pão na caixa de madeira, à entrada, e eclipsava-se. Diziam que nessa caixa uns primos generosos mandavam pôr, à noite, provisões e roupas, embora oficialmente a ruptura com a família se mantivesse inalterável. Às vezes uma preta velha arriscava-se a entrar, com seu cachimbo e sua paciência educada no cativeiro, e lá ficava dois ou três meses, cozinhando. Por fim a doida enxotava-a. E, afinal, empregada nenhuma queria servi-la. Ir viver com a doida, pedir a bênção à doida, jantar em casa da doida, passaram a ser, na cidade, expressões de castigo e símbolos de irrisão3.

Vinte anos de uma tal existência, e a legenda está feita. Quarenta, e não há mudá-la. O sentimento de que a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era uma falta grave, uma coisa aberrante, instalou-se no espírito das crianças. E assim, gerações sucessivas de moleques passavam pela porta, fixavam cuidadosamente a vidraça e lascavam uma pedra. A princípio, como justa penalidade. Depois, por prazer. Finalmente, e já havia muito tempo, por hábito. Como a doida respondesse sempre furiosa, criara-se na mente infantil a ideia de um equilíbrio por compensação, que afogava o remorso.

Em vão os pais censuravam tal procedimento. Quando meninos, os pais daqueles três tinham feito o mesmo, com relação à mesma doida, ou a outras. Pessoas sensíveis lamentavam o fato, sugeriam que se desse um jeito para internar a doida. Mas como? O hospício era longe, os parentes não se interessavam. E daí – explicava-se ao forasteiro que porventura estranhasse a situação – toda cidade tem seus doidos; quase que toda família os tem. Quando se tornam ferozes, são trancados no sótão; fora disto, circulam pacificamente pelas ruas, se querem fazê-lo, ou não, se preferem ficar em casa. E doido é quem Deus quis que ficasse doido... Respeitemos sua vontade. Não há remédio para loucura; nunca nenhum doido se curou, que a cidade soubesse; e a cidade sabe bastante, ao passo que livros mentem.

(Contos de aprendiz, 2012.)

1 lapidar: apedrejar.

2 raconto: relato, narrativa.

3 irrisão: zombaria.

De acordo com o segundo parágrafo,

  1. os garotos, ao descerem a rua, tinham como principal objetivo provocar a doida.
  2. as explicações dadas pelas mães para condenar as provocações à doida não comoviam os garotos.
  3. as provocações dos garotos à doida não comoviam ninguém.
  4. as mães, apesar de dizerem o contrário, consideravam as provocações dos seus filhos à doida uma mera brincadeira.
  5. as mães, por considerarem a doida responsável por sua loucura, não repreendiam seus filhos.

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