Quincas Borba
Lista de 15 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Quincas Borba com questões de Vestibulares.
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01. (UFMS) Leia o trecho a seguir e responda à questão.
VIII
No dia seguinte, Quincas Borba acordou com a resolução de ir ao Rio de Janeiro, voltaria no fim de um mês, tinha certos negócios... Rubião ficou espantado. E a moléstia, e o médico? O doente respondeu que o médico era um charlatão, e que a moléstia precisava espairecer, tal qual a saúde. Moléstia e saúde eram dois caroços do mesmo fruto, dois estados de Humanitas.
- Vou a alguns negócios pessoais, concluiu o enfermo, e levo, além disso, um plano tão sublime, que nem mesmo você poderá entendêlo. Desculpe-me esta franqueza; mas eu prefiro ser franco com você a sê-lo com qualquer outra pessoa.
Rubião fiou do tempo que este projeto lhe passasse, como tantos outros; mas enganou-se. Acrescia que, em verdade, o doente parecia estar melhorando; não ia à cama, saía à rua, escrevia. No fim de uma semana, mandou chamar o tabelião.
- Tabelião? Repetiu o amigo.
- Sim, quero registrar o meu testamento. Ou vamos lá os dois...
(ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1975)
Com base na leitura desse trecho, de Machado de Assis, assinale a alternativa correta a respeito do narrador do romance.
- Apela ao sentimentalismo do leitor desde o início do romance, fazendo um dramalhão em relação à morte de Rubião.
- A narrativa acontece em terceira pessoa e o narrador não participa das ações como personagem.
- O texto não apresenta narrador, pois é um tratado filosófico sobre a Teoria do Humanitismo.
- O narrador é em primeira pessoa, e ele descreve as ações em ordem linear e participa como personagem.
- O narrador é o próprio Machado de Assis, que utiliza a obra como uma espécie de diário de memória de sua vida.
02. (UEA - SIS) Observa-se a intromissão do narrador de Quincas Borba no curso da narrativa no seguinte trecho:
- “Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara, e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja, que era de prata lavrada.”
- “Rubião escutava, com a alma nos olhos, sinceramente desejoso de entender; mas não dava pela necessidade a que o amigo atribuía a morte da avó.”
- “– Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral.”
- “Quincas Borba calou-se de exausto, e sentou-se ofegante. Rubião acudiu, levando-lhe água e pedindo que se deitasse para descansar; mas o enfermo, após alguns minutos, respondeu que não era nada. Perdera o costume de fazer discursos, é o que era.”
- “Fazer um capítulo só para dizer que, a princípio, os convivas, ausente o Rubião, fumavam os próprios charutos, depois do jantar, – parecerá frívolo aos frívolos; mas os considerados dirão que algum interesse haverá nesta circunstância em aparência mínima.”
03. (Fuvest) Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas em verdade vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora! Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.
— Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...
Machado de Assis, Quincas Borba.
O primeiro capítulo de Quincas Borba já apresenta ao leitor um elemento que será fundamental na construção do romance:
- a contemplação das paisagens naturais, como se lê em “ele admirava aquele pedaço de água quieta”.
- a presença de um narrador-personagem, como se lê em “em verdade vos digo que pensava em outra coisa”.
- a sobriedade do protagonista ao avaliar o seu percurso, como se lê em “Cotejava o passado com o presente”.
- o sentido místico e fatalista que rege os destinos, como se lê em “Deus escreve direito por linhas tortas”.
- a reversibilidade entre o cômico e o trágico, como se lê em “de modo que o que parecia uma desgraça...”.
04. (FGV-RJ) Texto para a questão
CAPÍTULO I
Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre*, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista*. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.
-Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...
Machado de Assis, Quincas Borba.
* Glossário:
“chambre”: espécie de roupão.
“Capitalista”: no contexto, significa homem de posses, que vive de rendimentos.
Considerando-se o primeiro capítulo do romance de Machado de Assis (Quincas Borba) sob o aspecto de sua construção (ou composição), verifica-se que ele se assinala por seu caráter
- digressivo, uma vez que muda de assunto inopinadamente e com frequência, variando também o tom, o foco e a perspectiva da narração.
- conciso, visto que concentra, com bastante economia de meios expressivos, numerosas formulações decisivas para o encaminhamento da narrativa.
- metalinguístico, dado que se desenvolve como uma reflexão sobre os recursos que emprega para configurar o espaço, o tempo e as personagens.
- diversionista, tendo em vista que evita cuidadosamente revelar seu tema principal, procurando desorientar o leitor e evitar que ele desvende precocemente os segredos da trama.
- pitoresco, uma vez que destaca os pormenores típicos, curiosos e sugestivos do espaço e da situação narrativa, com a finalidade de dar realce à cor local do ambiente.
05. (UFMS) “Quincas Borba”, considerada uma das grandes obras da fase áurea do escritor Machado de Assis, põe em cena a história de Rubião, um modesto professor de Barbacena, cidade no interior de Minas Gerais, que, ao receber uma herança inesperada do amigo Quincas Borba, resolve mudar para o Rio de Janeiro – na época, centro da vida política e econômica brasileira. Ali, encontra dificuldades para adaptar-se ao modo de ser dos que convivem com o poder, tornando-se uma vítima de aproveitadores que se fazem passar por amigos, caso, sobretudo, do casal Cristiano e Sofia Palha.
O capítulo transcrito a seguir é o último do livro. Nele se encontra uma espécie de síntese da narrativa, ao se elencarem personagens centrais da trama a partir da notícia da morte do cão Quincas Borba, cujo nome é o mesmo de seu primeiro dono, que foi herdado por Rubião.
“Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e amanheceu morto na rua, três dias depois. Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá título ao livro, e por que antes um que outro, - questão prenhe de questões, que nos levariam longe... Eia! chora os dois recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso, rite. É a mesma coisa. O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens.”
(MACHADO DE ASSIS. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012. p. 344).
Apesar de Machado de Assis construir parte significativa de sua obra ainda em fins do século XIX, é possível já verificar, em seus textos, o emprego de recursos próprios da literatura moderna. A esse propósito, sobre o trecho em questão, pode-se afirmar que:
- a projeção de um leitor hipotético no corpo do texto confere traços de indeterminação à narrativa, atualizando uma questão central do enredo, como se este continuasse em aberto.
- o exercício de reflexão em torno da metalinguagem, convida o leitor a refletir sobre esse ponto.
- ao tratar, inicialmente, da morte do cão, criatura querida dos personagens, em seus últimos momentos, de um modo repleto de ternura, o narrador chama atenção para a necessidade de humanização de alguns aspectos da vida em sociedade.
- a identificação de reações contrárias por parte do leitor (chorar/rir), decorrentes de um mesmo acontecimento, aponta para a criação de uma imagem complexa do ser humano em meio às relações sociais.
- a parte final do capítulo visa a funcionar como uma espécie de ensinamento moral, desdobrado de toda a história que o precedeu, a ser apreendido pelo leitor, em função do valor universal que acompanha esse desfecho.
06. (UFU) A temporalidade é um elemento essencial ao gênero narrativo.
Sobre a representação do tempo no romance Quincas Borba, de Machado de Assis, assinale a alternativa INCORRETA.
- A narrativa não segue uma linearidade temporal exata, ocorrendo algumas idas e vindas entre os diferentes momentos da vida de Rubião.
- A obra começa num momento avançado da ação, para depois voltar ao início dos acontecimentos, procedimento conhecido como in media res.
- O narrador em terceira pessoa é que define a ordem da narração dos acontecimentos, combinando tempo cronológico e tempo psicológico.
- Para melhor compreender a trajetória do protagonista Murilo Rubião, a obra retoma parte da infância do professor, na cidade de Barbacena.
07. (UFT) Leia o Capítulo II do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, para responder a QUESTÃO.
Capítulo II
Que abismo que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém, deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião acompanham, arregalados? Ele, coração, vai dizendo que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer, foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... – Bonita canoa! – Antes assim! – Como obedece bem aos remos do homem! – O certo é que eles estão no céu!
Fonte: ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: Ática, 1988, p. 13.
O capítulo apresenta reflexões do ex-professor Rubião sobre o “abismo que há entre o espírito e o coração”.
É CORRETO afirmar que no capítulo pode ser observado que:
- a canoa e o canoeiro são metáforas do narrador e da personagem, respectivamente.
- a voz do narrador se mistura ao pensamento da personagem.
- não ter filho ou filha é algo bom para o coração e para o espírito.
- o coração e o espírito morrem, apesar do abismo entre eles.
08. (UFU) Em suas obras, Machado de Assis faz questionamentos de várias teorias de sua época, como a darwinista, a evolucionista e a positivista.
Além de críticas, em Quincas Borba, Machado faz uma caricatura do
- Naturalismo ao submeter Sofia à fatalidade das leis naturais.
- Romantismo ao exaltar Palha como um típico burguês em ascensão.
- Absolutismo ao caracterizar Rubião como imperador.
- Determinismo ao projetar em Palha a vitória do mais forte.
09. (UEA) Quincas Borba leu-me daí a dias a sua grande obra. O último volume compunha-se de um tratado político, fundado no Humanitismo. Reorganizada a sociedade pelo método dele; nem por isso ficavam eliminadas a guerra, a insurreição, a fome, as doenças; mas sendo esses supostos flagelos verdadeiros equívocos do entendimento, destinados a não influir sobre o homem, senão como simples quebra da monotonia universal, claro está que a sua existência não impediria a felicidade humana. Mas ainda quando tais flagelos correspondesse no futuro à concepção acanhada de antigos tempos, nem por isso ficava destruído o sistema porque sendo Humanitas a substância criadora e absoluta, cada indivíduo deveria achar a maior delícia do mundo em sacrificar-se ao princípio de que descende.
(Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas, 1970. Adaptado.)
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, foi publicado, em primeira edição, em 1881. O romance mantém um diálogo crítico e irônico com alguns princípios filosóficos presentes e atuantes na sociedade brasileira da segunda metade do século XIX. A filosofia política do Humanitismo, exposta pelo personagem Quincas Borba, entende que
- o conflito é o princípio gerador da civilização, o sistema político perfeito é o que promove as guerras entre os povos.
- o caminho da regeneração social é a religião suprema, a evolução social emancipa os indivíduos das imposições da história.
- a existência de Deus, comprovada cientificamente, garante aos indivíduos a paz e a concórdia eternas.
- os progressos históricos devem ser considerados de maneira global, pois o conjunto dos seres humanos predomina sobre as individualidades.
- os seres humanos, tomados isoladamente, precisam ter seus direitos particulares reconhecidos e protegidos por uma espécie de Grande Ser.
10. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
I - Quando filiado a uma ordem religiosa, Brás contrariou sua natureza interesseira e sentiu-se verdadeiramente recompensado ao diminuir a desgraça alheia.
II - Baseado na constatação de que, ao olhar para o próprio nariz, o indivíduo deixa de invejar o que é dos outros, Brás teoriza sobre a utilidade da ponta do nariz para o equilíbrio das sociedades.
III - A teoria do Humanitismo de Quincas Borba foi fundamentada no episódio da borboleta negra, que morreu nas mãos do protagonista por não ser azul e bela.
Quais estão corretas?
- Apenas I.
- Apenas II.
- Apenas I e II.
- Apenas I e III.
- I, II e III.
11. (UEA - SIS) Leia o trecho do romance Quincas Borba, de Machado de Assis.
Queres o avesso disso, leitor curioso? Vê este outro convidado para o almoço, Carlos Maria. Se aquele tem os modos “expansivos e francos” – no bom sentido laudatório –, claro é que ele os tem contrários. Assim, não te custará nada vê-lo entrar na sala, lento, frio e superior, ser apresentado ao Freitas, olhando para outra parte. Freitas que já o mandou cordialmente ao diabo por causa da demora (é perto do meio-dia), corteja-o agora rasgadamente, com grandes aleluias íntimas.
Também podes ver por ti mesmo que o nosso Rubião, se gosta mais do Freitas, tem o outro em maior consideração; esperou-o até agora, e esperá-lo-ia até amanhã. Carlos Maria é que não tem consideração a nenhum deles. Examinai-o bem; é um galhardo rapaz de olhos grandes e plácidos, muito senhor de si, ainda mais senhor dos outros. Olha de cima; não tem o riso jovial, mas escarninho1 . Agora, ao sentar-se à mesa, ao pegar no talher, ao abrir o guardanapo, em tudo se vê que ele está fazendo um insigne2 favor ao dono da casa – talvez dois –, o de lhe comer o almoço, e o de lhe não chamar pascácio3 .
E, malgrado essa disparidade de caracteres, o almoço foi alegre.
(Quincas Borba, 2008.)
1 escarninho: que zomba de algo.
2 insigne: notável, significativo.
3 pascácio: tolo, simplório.
No trecho, é evidente uma característica presente em algumas narrativas de Machado de Assis:
- um narrador que emite opiniões ao longo da narrativa e que conversa com o leitor.
- uma perspectiva positiva a respeito da humanidade, visto que, no convívio social, poucos personagens apresentam falhas morais.
- personagens idealizados, éticos e cordiais que, apesar das adversidades, frequentemente se impõem.
- retrato de uma sociedade rural, tranquila, com personagens nada maliciosos, às vezes até ingênuos.
- retrato de um mundo austero, masculino, em que as personagens femininas não têm relevância.
12. (UFRN) A passagem abaixo é extraída do capítulo “Das negativas”, de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência de Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. 27. ed. São Paulo: Ática,1999. p. 176.
Neste capítulo, Brás Cubas faz uma espécie de balanço de sua existência, em que
- demonstra tristeza por não ter conseguido um saldo positivo em sua vida.
- lamenta suas dificuldades e o fato de não ter tido sucesso em sua vida.
- orgulha-se por não ter deixado filhos para herdarem a infelicidade humana.
- desculpa-se pelo fato de não ter suportado o sofrimento como seus amigos.
13. (FGV-SP) texto para a questão
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.” Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico; diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora, e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam.
Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias que correram como melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas.
Raul Pompeia, O Ateneu.
Uma nota pessoal do autor de O Ateneu, Raul Pompeia, registra que, na sua concepção, “a prosa tem de ser eloquente, para ser artística, tal como os versos”. Essa concepção
I manifesta-se na composição do trecho de O Ateneu, aqui reproduzido;
II orienta igualmente a prosa machadiana de Quincas Borba;
III contraria o ideal estilístico do autor de São Bernardo, Graciliano Ramos.
Está correto o que se indica em
- I, somente.
- II, somente.
- I e III, somente.
- II e III, somente.
- I, II e III.
14. (PUC-Campinas) Pessoalmente, o que mais me atrai nos livros de Machado de Assis é o tema da transformação do homem em objeto do homem, que é uma das maldições ligadas à falta de liberdade verdadeira, econômica e espiritual. A esse tema se liga a famosa teoria do Humanitismo, elaborada por um dos seus personagens, o filósofo Quincas Borba, doido e por isso machadeanamente lúcido (...)
Os críticos interpretam o Humanistismo como sátira ao positivismo em geral e ao naturalismo filosófico do século XIX, principalmente sob o aspecto da teoria darwiniana da luta pela vida com sobrevivência do mais apto.
(Adaptado de Antonio Candido, Vários escritos. S. Paulo: Duas Cidades, 1970, p.28)
No julgamento que Antonio Candido faz das obras de Machado de Assis, o crítico está ressaltando um aspecto
- estilístico: o contraste entre a velha retórica e a oralidade naturalista.
- histórico: a atitude do sujeito irracional diante do humanismo lusitano.
- temático: o sacrifício de valores humanos ao princípio da autopreservação.
- estilístico: a eliminação do discurso racional pelo discurso da loucura.
- temático: a prevalência dos valores iluministas dentro da ordem cívica.
15. (UNICAMP) (...) pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil réis.
– Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu.
– Sim? acudiu ele, dando um bote pra mim.
– Trabalhando, concluí eu. Fez um gesto de desdém; calou-se alguns instantes, depois disse-me positivamente que não queria trabalhar.
(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001, p.158.)
O trecho citado diz respeito ao encontro entre Brás Cubas e Quincas Borba, no capítulo 49, e, mais precisamente, apanha o momento em que Brás dá uma esmola ao amigo. Considerando o conjunto do romance, é correto afirmar que essa passagem
- explicita a desigualdade das classes sociais na primeira metade do século XIX e propõe a categoria de trabalho como fator fundamental para a emancipação do pobre.
- indica o ponto de vista da personagem Brás Cubas e propõe a meritocracia como dispositivo pedagógico e moral para a promoção do ser humano no século XIX.
- elabora, por meio do narrador, o preconceito da classe social a que pertence Brás Cubas em relação à classe média do século XIX, na qual se insere Quincas Borba.
- sugere as posições de classe social das personagens machadianas, mediante um narrador que valoriza o trabalho, embora ele mesmo, sendo rico, não trabalhe.