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Clara dos Anjos: Lima Barreto

Lista de 10 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Clara dos Anjos: Lima Barreto com questões de Vestibulares.


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01. (UFPR) Considere o seguinte trecho do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto:

Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas é que vive uma grande parte da população da cidade, a cuja existência o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras inúteis e suntuárias noutros pontos do Rio de Janeiro.

(Clara dos Anjos, p. 38.)

Com base no trecho selecionado e na leitura integral do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto, assinale a alternativa correta.

  1. O narrador é imparcial ao descrever os cenários do subúrbio e de outros pontos da cidade, demonstrando neutralidade na constatação das diferenças entre as regiões.
  2. O subúrbio é descrito ora de modo realista, ora de modo idealizado, contribuindo para a construção de uma visão, por vezes, romantizada da pobreza.
  3. O narrador disseca com rigor quase sociológico os problemas políticos da época, citando fatos e personagens históricos reais que se misturam à narrativa.
  4. O romance apresenta o ambiente do subúrbio aliando a descrição pormenorizada do espaço físico à caracterização dos personagens que o habitam.
  5. Os vários bairros e personagens que estão nos arredores da linha férrea do trem urbano são descritos como um conjunto indiferenciado, como se cada bairro não tivesse sua característica própria.

02. (UFPR) No romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto, o narrador tece considerações generalizantes a respeito da sociedade de sua época, ao mesmo tempo em que narra a vida da protagonista, de sua família e a malandragem de Cassi Jones. A respeito de aspectos da construção de Clara ou de fatos de que ela participa, assinale a alternativa correta.

  1. A afirmação “é próprio do nosso pequeno povo fazer uma extravagante amálgama de religiões e crenças de toda a sorte, e socorrer-se desta ou daquela, conforme os transes e momentâneas agruras de sua existência” (capítulo I) explica a frequência de Clara a igrejas e templos de diferentes religiões.
  2. A frase “A gente pobre é difícil de se suportar mutuamente; por qualquer ninharia, encontrando ponto de honra, brigando, especialmente as mulheres” (capítulo VII) alude às provocações que Clara desferia contra suas vizinhas.
  3. A ponderação “Cada um de nós, por mais humilde que seja, tem que meditar, durante a sua vida, sobre o angustioso mistério da Morte, para poder responder cabalmente, se o tivermos que o fazer, sobre o emprego que demos a nossa existência” (capítulo VIII) refere-se à cena da morte de Clara.
  4. O comentário “O seu ideal na vida não era adquirir uma personalidade, não era ser ela, mesmo ao lado do pai ou do futuro marido. Era constituir função do pai, enquanto solteira, e do marido, quando casada. Não imaginava as catástrofes imprevistas da vida” (capítulo VIII) prenuncia as dificuldades que Clara enfrentou no seu casamento com Cassi.
  5. A análise “A educação que recebera, de mimos e vigilâncias, era errônea. Ela devia ter aprendido da boca dos seus pais que a sua honestidade de moça e de mulher tinha todos por inimigos, mas isto ao vivo, com exemplos, claramente...” (capítulo X) denuncia a frágil educação recebida por Clara como responsável pelo seu destino.

03. (UFU) ―Mamãe, Mamãe!

―Que é minha filha?

―Nós não somos nada nesta vida.

Todos os Santos -Rio de Janeiro-Dezembro de 1921-janeiro de 1922.

BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Tecnoprint/Ediouro, s/d. p. 77.

De acordo com o trecho acima, assinale a alternativa correta.

  1. O diálogo entre dona Engrácia e sua filha Clara simboliza de forma alegórica a desumanização da mulher negra e pobre, numa sociedade regida por D. Pedro I, mas manipulada por uma elite branca preconceituosa.
  2. Este pequeno diálogo pode ser considerado uma metáfora de uma classe social típica da Primeira República: indivíduos escravos, sem perspectiva de ascensão econômica, os quais lutavam pela assinatura da Lei Áurea.
  3. O diálogo entre Clara e sua mãe, Engrácia, que aparece ao final do romance Clara dos Anjos, publicado em plena Monarquia, simboliza a falta de perspectiva da mulher negra, analfabeta e pobre.
  4. Este pequeno diálogo, que fecha o final do romance Clara dos Anjos, pode ser considerado uma metáfora do sofrimento de uma classe social que, mesmo com a assinatura da Lei Áurea, continuava estigmatizada etnicamente.

04. (UFU) A muito custo, devido às insistências de Dona Margarida, consentira em ajudá-la nos bordados, trabalhados para fora, com o que ia ganhando algum dinheiro. Não que ela fosse vadia, ao contrário, mas tinha um tolo escrúpulo de ganhar dinheiro por suas próprias mãos. Parecia tolo a uma moça ou a uma mulher.

BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Tecnoprint/Ediouro, s/d, p.72.

Em relação às personagens D. Margarida e Clara, é correto afirmar que:

  1. Dona Margarida é caracterizada, no romance, como alguém indiferente aos sofrimentos de Clara dos Anjos, tornando-se, a cada dia, uma triste senhora, muito apática e distante dos compromissos e dos relacionamentos familiares.
  2. Dona Margarida, sogra de Clara dos Anjos, sempre se compadeceu da nora, menina simples e pobre, tratando, desde sempre, de ajudá-la financeiramente, ensinando-a ganhar seu próprio dinheiro com pequenos trabalhos de agulha.
  3. Dona Margarida, personagem secundária do enredo de Lima Barreto, tem enorme influência no desenvolvimento emocional e psíquico de Clara dos Anjos, incentivando-a, inclusive, a se casar com o aventureiro Cassi Jones.
  4. Dona Margarida pode ser considerada uma personagem oposta à protagonista Clara dos Anjos, uma vez que é uma mulher mais objetiva e pragmática frente à vida, menos sonhadora e mais realista diante dos relacionamentos humanos.

05. (IFSUL) A questão se refere ao livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto:

"O drama da pobreza e do preconceito racial constitui também o núcleo de Clara dos Anjos, romance inacabado, vindo à luz postumamente, mas cuja primeira redação remonta a 1904/05 [...] A proximidade da composição e do tema está a definir a necessidade de expressão autobiográfica em que penava o jovem Lima Barreto. As humilhações do mulato encarna-as Clara dos Anjos, moça pobre do subúrbio, seduzida e desprezada por um rapaz de extração burguesa.”

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. p.323

O desfecho da história se dá com Clara sendo humilhada pela mãe de Cassi Jones. A conclusão a que chega a protagonista, depois dessa cena, indica a:

  1. desvalorização da família suburbana, pela sociedade carioca.
  2. busca de reconhecimento de seus valores morais, por parte da jovem.
  3. necessidade de ascender socialmente, como forma de se impor, no meio social.
  4. consciência quanto ao preconceito étnico e social, por parte da protagonista.

06. (FAG) Sobre o romance “Clara dos Anjos” de Lima Barreto é correto afirmar que:

  1. Clara dos Anjos tem como tema central o racismo e o lugar ocupado pela mulher na sociedade carioca no início do século XX.
  2. O personagem principal do romance é Joaquim dos Anjos, chefe da seita bíblica, homem tenaz cheio de eloquência bíblica faz seus adeptos ouvir a palavra. Quando os adeptos se acham preparados põem-se a propagá-la.
  3. Clara dos Anjos é uma obra representativa da escola literária denominada Realismo.
  4. Cassi Jones é um exemplar herói ao modelo romântico.
  5. Escrito e ambientado no Rio de Janeiro, o romance trata das profundas mudanças urbanas e sociais que a cidade vinha passando. Sem idealização alguma, o autor fala sobre essa realidade que ele testemunhava em seus aspectos mais baixos: a exploração humana, a desonestidade, o crime.

07. (Campo Real) Leia atentamente o seguinte trecho do romance de Lima Barreto:

O que era preciso, tanto a ela como às suas iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade, como possuía essa varonil Dona Margarida, para se defender de Cassi e semelhantes, e bater-se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente. Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que elas o admitiam...

(Clara dos Anjos, p. 118)

Levando em conta o trecho acima e a leitura integral do romance, assinale a alternativa correta.

  1. A reflexão final da personagem Clara dos Anjos reforça, mais uma vez, seu caráter frágil e inocente, apresentado pela personagem diante de Cassi Jones.
  2. O exemplo de Dona Margarida anima Clara a pensar que sua vida poderia ser diferente e que ela poderia se tornar protagonista de sua própria história.
  3. A mãe de Cassi Jones se opõe ao próprio filho, e seu apoio incondicional a Clara dos Anjos lhe traz ânimo e conforto.
  4. A representação da condição feminina de Clara dos Anjos por Lima Barreto não considera a diferença entre negras e brancas.
  5. Clara dos Anjos inicia, depois dessa reflexão, uma nova trajetória que Lima Barreto narra detalhadamente ao fim do livro.

08. (Campo Real) “Clara era uma natureza amorfa, pastosa, que precisava mãos fortes que a modelassem e fixassem. Seus pais não seriam capazes disso. A mãe não tinha caráter, no bom sentido, para o fazer; limitava-se a vigiá-la caninamente; e o pai, devido aos seus afazeres, passava a maioria do tempo longe dela. E ela vivia toda entregue a um sonho lânguido de modinhas e descantes, entoadas por sestrosos cantores, como o tal Cassi e outros exploradores da morbidez do violão. O mundo se lhe representava como povoado de suas dúvidas, de queixumes de viola, a suspirar amor.”

(Clara dos Anjos, p. 49)

Considerando o trecho selecionado e a integridade do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto, assinale a alternativa correta.

  1. A descrição de Clara dos Anjos permite prever o desfecho da personagem.
  2. A descrição da personagem contrasta com suas atitudes para se emancipar.
  3. A descrição da personagem denuncia o conflito entre ela e o pai, que era autoritário.
  4. O romance é determinista, apresentando personagens descolados de seu ambiente.
  5. A descrição da personagem permite antever uma crítica à música e ao seu poder de sedução.

09. (Universidade Positivo) Sobre Clara dos Anjos (1948), de Lima Barreto, é INCORRETO afirmar:

  1. Cassi Jones é rapaz de família pertencente à elite carioca urbana, não possui uma profissão definida, gasta grande parte de seu tempo em uma vida boêmia, e tem por hábito seduzir moças inocentes e pobres para depois abandoná-las à sorte, como acontece com Clara.
  2. A obra de Lima Barreto demonstra uma preocupação forte em refletir sobre o processo de urbanização implementado no início do século XX no Rio de Janeiro; e o romance Clara dos Anjos pode ser tomado como um bom exemplo dessa preocupação, já que a narrativa se concentra nos subúrbios cariocas e nos dilemas de seus habitantes, em especial na integração do pobre e/ou negro à sociedade brasileira.
  3. No desenvolvimento da trama, é possível perceber uma atenção especial, ainda que não exclusiva, sobre os hábitos musicais das personagens (modinhas, polcas etc.) e a relação do homem pobre com a cultura letrada.
  4. Clara dos Anjos, romance publicado postumamente, pode ser compreendido como a narrativa do destino quase que coletivo das moças negras na sociedade brasileira, como sugere, aliás, a epígrafe escolhida pelo autor a partir de um texto do historiador João Ribeiro.
  5. O narrador do romance é onisciente intruso, isto é, não só tem um conhecimento amplo sobre as personagens e os eventos, como apresenta o sentimento dessas mesmas personagens e tece comentários, por vezes avaliativos, sobre costumes e atitudes dos envolvidos na trama.

10. (CESUPA) O seu ideal na vida não era adquirir uma personalidade, não era ser ela, mesmo ao lado do pai ou do futuro marido. Era constituir função do pai, enquanto solteira, e do marido, quando casada. Não imaginava as catástrofes imprevistas da vida, que nos empurram, às vezes, para onde nunca sonhamos ter de passar. Não via que, adquirida uma pequena profissão honesta e digna de seu sexo, auxiliaria seus pais e seu marido, quando casada fosse.

BARRETO, Lima: Clara dos Anjos. Disponível: http// www.dominiopublico.gov.br

Em Clara dos Anjos, a personagem protagonista – mulher pobre, mulata, moradora da periferia –, incorpora o papel que a sociedade da época, início do século XX, espera da mulher. Nesse sentido, o narrador critica o(a)

  1. obrigatoriedade do casamento como forma de garantir à mulher não só o sustento, mas o próprio status social que somente as casadas possuíam.
  2. falta de autonomia financeira da mulher, passando da proteção do pai para a proteção do marido, sem refletir sobre a necessidade de ter uma profissão.
  3. alcunha recebida pelas mulheres de “rainhas do lar” e a representação masculina de só serem dignas para casar se virgens, recatadas, submissas e do lar.
  4. romantismo do qual as mulheres se cercavam, fazendo com que fossem facilmente iludidas por um conquistador que só queria seduzi-las e desonrá-las.

11. (CEFET-MG) Alguns as desposavam [as índias]; outros, quase todos, abusavam da inocência delas, como ainda hoje das mestiças, reduzindo-as por igual a concubinas e escravas.

BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012, p. 55 (epígrafe).

A epígrafe do romance Clara dos Anjos, cuja autoria é do historiador João Ribeiro (1860-1934), antecipa o

  1. sofrimento amoroso vivido por Clara e Cassi, impedidos de viver um enlace matrimonial pelo preconceito racial da sociedade da época.
  2. dilema moral vivido pelas mulheres brasileiras no início do século XX, limitadas à escolha entre a satisfação de seus desejos e o matrimônio.
  3. enredo do romance de Lima Barreto, que evidencia a imagem de mulher emancipada na sociedade, a partir da protagonista Clara dos Anjos.
  4. fim trágico da protagonista Clara dos Anjos, apontando para um problema racial e histórico que remonta ao período da colonização brasileira.

12. (CEFET-MG) Na obra Clara dos Anjos, o projeto literário de Lima Barreto revela o desejo do autor de

  1. rejeitar a influência que a música de cunho popular exercia sobre o imaginário das meninas românticas.
  2. enaltecer o modo de vida das elites brancas que importavam para o Brasil o modelo das grandes capitais europeias.
  3. denunciar o abandono e a ausência de perspectivas da camada proletária, discriminada etnicamente, que se acumulava nos subúrbios.
  4. demonstrar a centralidade que a literatura – em particular a poesia – exercia sobre as camadas populares suburbanas no início do século XX.

13. (CEFET-MG) Geralmente, da leitura de um romance, fica a impressão duma série de fatos, organizados em enredo, e de personagens que vivem estes fatos. É uma impressão praticamente indissolúvel: quando pensamos no enredo, pensamos simultaneamente nas personagens; quando pensamos nestas, pensamos simultaneamente na vida que vivem, nos problemas em que se enredam, na linha do seu destino – traçada conforme uma certa duração temporal, referida a determinadas condições de ambiente. O enredo existe através das personagens; as personagens vivem no enredo.

Enredo e personagem exprimem, ligados, os intuitos do romance, a visão da vida que decorre dele, os significados e valores que o animam.

CÂNDIDO, Antônio (et al.). “A personagem de romance”.

In: A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2014, p.53.

A partir desse fragmento, analise as declarações a seguir sobre as personagens de Clara dos Anjos:

I. O carteiro Joaquim dos Anjos é uma personagem que enreda a realidade suburbana carioca, devido ao fato de ele ser trabalhador e apreciador de músicas populares, como as modinhas.

II. Cassi Jones enreda a realidade na imagem caricatural do homem branco, malandro, criminoso, preguiçoso e pouco inteligente.

III. A personagem Clara dos Anjos caracteriza, no enredo, o perfil de mulata sedutora, devido aos seus atributos de pobre, simples, modesta, boa dona de casa.

IV. Marramaque recebeu precária escolarização, conseguiu trabalho no comércio e rememora as revoltas da escravidão.

São corretas apenas as alternativas

  1. I, II e IV.
  2. II, III e IV.
  3. II e III.
  4. I e IV.

14. (CEFET-MG) A pesquisadora Beatriz Resende compara o enredo da obra Clara dos Anjos à letra da canção O mundo é um moinho, de Cartola, cujo trecho está transcrito abaixo:

[..]

Ouça-me bem, amor,

Preste atenção, o mundo é um moinho

Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho

Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida,

De cada amor tu herdarás só o cinismo

Quando notares estás à beira do abismo

Abismo que cavaste com os teus pés.

Álbum CARTOLA (1976), faixa 1 – letra de música. (adaptado)

A ideia de desilusão, presente nesses versos, é observada no seguinte trecho do romance Clara dos Anjos:

  1. [...] ela vivia toda entregue a um sonho lânguido de modinhas e descantes, entoadas por [...] cantores, como o tal Cassi e outros exploradores da morbidez do violão. O mundo se lhe representava como povoado de suas dúvidas, de queixumes de viola, a suspirar amor. (p. 219 – capítulo VIII)
  2. A filha do carteiro, sem ser leviana, era, entretanto, de um poder reduzido de pensar, que não lhe permitia meditar um instante sobre o destino, observar os fatos e tirar ilações e conclusões. (p. 219-220 – capítulo VIII)
  3. [...] Clara, na ingenuidade de sua idade e com pretensões que a falta de contato com o mundo e a capacidade mental de observar e comparar justificavam, concluía que Cassi era um rapaz digno e podia bem amá-la sinceramente. (p. 220 – capítulo VIII)
  4. Num dado momento, Clara ergueu-se da cadeira em que se sentara e abraçou muito fortemente sua mãe, dizendo, com um grande acento de desespero:
    — Mamãe! Mamãe!
    — Que é minha filha?
    — Nós não somos nada nesta vida. (p. 294 – cap. X)

15. (CEFET-MG) Há casas, casinhas, casebres, barracões, choças (cabanas), por toda a parte onde se possa fincar quatro estacas de pau e uni-las por paredes duvidosas. Todo o material para essas construções serve: são latas de fósforos distendidas, telhas velhas, folhas de zinco, e, para as nervuras das paredes de taipa, o bambu, que não é barato.

Há verdadeiros aldeamentos dessas barracas, nas coroas dos morros, que as árvores e os bambuais escondem aos olhos dos transeuntes. Nelas, há quase sempre uma bica para todos os habitantes e nenhuma espécie de esgoto. Toda essa população, pobríssima, vive sob a ameaça constante da varíola e, quando ela dá

para aquelas bandas, é um verdadeiro flagelo.

BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Penguin Classics

Companhia das Letras, 2012, p. 183 (cap. VII).

O uso da gradação nesse fragmento contribui para evidenciar um olhar crítico sobre a

  1. contaminação da água.
  2. propagação de doenças.
  3. caracterização do subúrbio.
  4. movimentação da cidade.

16. (CEFET-MG) Num dos subúrbios, na proximidade da casa de Cassi, veio a residir um casal. A mulher era moça, fruída de carnes, alta, louçã¹, grandes olhos negros, um tipo do Sul, ao que parece do Rio Grande. O marido, que era oficial de Marinha, maquinista, era amorenado, tirando a mulato, baixo, sempre triste, curvado e pensativo. [...] Não se sabe como, Cassi conseguiu conhecer a gaúcha e seduzi-la. Mal o marido saía, ele se metia em casa da moça com violão e tudo.

A vizinhança murmurava contra aquela pouca-vergonha. Fosse de que fonte fosse, o marido veio a saber e um dia, de revólver em punho, furioso, fora de si, louco, totalmente louco, penetrava na casa e alvejou a mulher com dois tiros de revólver, de cujos ferimentos veio a morrer horas depois.

Após ter alvejado mortalmente a mulher, correu em perseguição de Cassi, que, descalço, de calças e em mangas de camisa, saltava cercas e muros, para se pôr fora do alcance do marido indignado. Entregando-se à prisão, o oficial maquinista contou toda a sua desdita e o causador dela. O delegado mandou procurar Cassi e conseguiu pilhá-lo² à noite. Os agentes deram uma batida nos matos, e o galã fugitivo foi preso e recolhido à enxovia³.

BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Penguin Classics

Companhia das Letras, 2012, p. 120-121 (cap. III).

Vocabulário de apoio:

1. Louçã: cheio de frescor e brilho, agradável à vista; belo, viçoso.

2. Pilhá-lo: prendê-lo.

3. Enxovia: parte térrea ou subterrânea das prisões, úmida e escura, que, outrora, abrigava os presos por crimes graves ou de alta periculosidade.

Nesse fragmento, a denúncia social do romance centra-se em um caso de

  1. racismo.
  2. feminicídio.
  3. corrupção política.
  4. negligência policial.

17. (CEFET-MG) Quem seria esse Cassi? Quem era Cassi?

Cassi Jones de Azevedo era filho legítimo de Manuel Borges de Azevedo e Salustiana Baeta de Azevedo. O Jones é que ninguém sabia onde ele o fora buscar, mas usava-o, desde os vinte e um anos, talvez, conforme explicavam alguns, por achar bonito o apelido inglês. O certo, porém, não era isso. A mãe, nas suas crises de vaidade, dizia-se descendente de um fantástico Lorde Jones, que fora cônsul da Inglaterra em Santa Catarina; e o filho julgou de bom gosto britanizar a firma com o nome do seu problemático e fidalgo avô.

BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Penguin

>Classics Companhia das Letras, 2012, p. 83-84 (cap. II).

O narrador, ao apresentar a origem de "Jones", em Cassi Jones, revela um posicionamento

  1. irônico, ao criticar o filho e a mãe por terem forjado um parente inglês para justificar o nome.
  2. compreensivo, ao justificar a adoção do nome britânico como forma de distinção social.
  3. imparcial, ao relatar a vaidade do personagem em relação à sua ascendência inglesa.
  4. favorável, ao concordar que as coisas estrangeiras são melhores do que as nacionais.

18. (CEFET-MG) Texto I

Amor é fogo que arde sem se ver,

é ferida que dói, e não se sente;

é um contentamento descontente,

é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;

é um andar solitário entre a gente;

é nunca contentar-se de contente;

é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;

é servir a quem vence, o vencedor;

é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor

nos corações humanos amizade,

se tão contrário a si é o mesmo Amor?

CAMÕES, Luís Vaz de. Lírica: redondilhas e soneto.

Rio de Janeiro / Ediouro: São Paulo: Publifolha, 1997, p. 99.

Texto II

O verdadeiro estado amoroso supõe um estado de semiloucura correspondente, de obsessão, determinando uma desordem emocional que vai da mais intensa alegria até a mais cruciante dor, que dá entusiasmo e abatimento, que encoraja e entibia; que faz esperar e desesperar, isso tudo, quase a um tempo, sem que a causa mude de qualquer forma.

BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Penguin

Classics Companhia das Letras, 2012, p. 172. (cap. VI).

Vocabulário de apoio:

1. Cruciante: que aflige; tortura.

2. Entibiar: ficar sem força; desanimar.

As palavras do narrador da obra Clara dos Anjos (Texto II) associam-se ao poema de Camões (Texto I) pelo modo como ambos

  1. descrevem o amor, por meio de ironias, para enaltecê-lo.
  2. idealizam o amor, por meio de metáforas, para ressaltar sua nobreza.
  3. criticam o amor, por meio de comparações, para evidenciar sua loucura.
  4. caracterizam o amor, por meio de antíteses, para enfatizar a ambiguidade do sentimento.

19. (CEFET-MG) Pôs-se a chorar silenciosamente. No seio da noite, um apito de locomotiva ecoou como um gemido; as árvores como que estremeceram; por sobre um capinzal próximo, um pirilampo emitia a sua luz de prata azulada; por cima da casa, morcegos silenciosos esvoaçavam; ao longe, as montanhas tinham aspectos sinistros, de gigantes negros que montavam sentinela; tudo era silêncio, e, em vão, ela apurava o ouvido e reforçava o seu poder de visão, para ver se daquele mistério todo saía qualquer resposta sobre o seu destino – ou se via o caminho para a sua salvação...

BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Penguin Classics

Companhia das Letras, 2012, p. 270 (cap. X).

Nos trechos sublinhados, o autor, para conferir maior dramaticidade aos sentimentos de Clara, utiliza a figura de linguagem

  1. comparação.
  2. metonímia.
  3. antítese.
  4. ironia.

As questões (20) e (21) referem-se ao fragmento de texto a seguir.

– Pois tu não sabes quem sou eu, quem é Leonardo Flores? Pois tu não sabes que a poesia para mim é a minha dor e é a minha alegria, é a minha própria vida? Pois tu não sabes que tenho sofrido tudo, dores, humilhações, vexames, para atingir o meu ideal? Pois tu não sabes que abandonei todas as honrarias da vida, não dei o conforto que minha mulher merecia, não eduquei convenientemente meus filhos, unicamente para não desviar dos meus propósitos artísticos? Nasci pobre, nasci mulato, tive uma instrução rudimentar, sozinho completei-a conforme pude; dia e noite lia e relia versos e autores; dia e noite procurava na rudeza aparente das coisas achar a ordem oculta que as ligava, o pensamento que as unia; o perfume à cor, o som aos anseios de mudez de minha alma; a luz à alegoria dos pássaros pela manhã; o crepúsculo ao cicio melancólico das cigarras – tudo isto eu fiz com sacrifício de coisas mais proveitosas, não pensando em fortuna, em posição, em respeitabilidade. Humilharam-me, ridicularizaram-me, e eu, que sou homem de combate, tudo sofri resignadamente. Meu nome afinal soou, correu todo este Brasil ingrato e mesquinho; e eu fiquei cada vez mais pobre, a viver de uma aposentadoria miserável, com a cabeça cheia de imagens de ouro e a alma iluminada pela luz imaterial dos espaços celestes. O fulgor do meu ideal me cegou. [...] A Arte só ama a quem a ama inteiramente, só e unicamente; e eu precisava amá-la, porque ela representava, não só a minha Redenção, mas toda a dos meus irmãos, na mesma dor. Louco?! [...]

BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Penguin Classics

Companhia das Letras, 2012, p. 211-213 (cap. VII).

20. (CEFET-MG) Nesse fragmento, o poeta Leonardo Flores, personagem do romance Clara dos Anjos, revela sua

  1. paixão pela poesia e uma indiferença em relação a sua posição social.
  2. dedicação à poesia e uma angústia diante das belezas naturais do Brasil.
  3. concepção sobre o significado da poesia e uma crítica ao desprezo da sociedade pela arte.
  4. história pessoal das grandes conquistas sociais e uma admiração pela política brasileira.

21. (CEFET-MG) Nesse fragmento de texto, o poeta Leonardo Flores emprega um recurso linguístico muito comum, sobretudo, no contexto literário e em algumas regiões do Brasil. Esse recurso linguístico está localizado no emprego de

  1. segunda pessoa verbal: “tu não sabes”.
  2. advérbios: “convenientemente; unicamente”.
  3. adjetivos: “pobre, mulato, rudimentar, sozinho”.
  4. pronomes possessivos de 1ª pessoa: “meu nome afinal soou”.

22. (UFPR) Acerca dos personagens de Clara dos Anjos, de Lima Barreto, considere as seguintes afirmativas:

1. Clara dos Anjos é uma moça que tem dezessete anos no início da trama; viveu toda sua vida no subúrbio e foi criada de maneira rígida, sem ter permissão para sair de casa sozinha.

2. Salustiana Baeta de Azevedo é uma mulher que se julga superior a todos os outros habitantes do subúrbio e que protege seu filho Cassi Jones mesmo contra a vontade do marido.

3. Marramaque é um pequeno funcionário público, padrinho de Clara e amigo do pai dela; desde o início da trama, Marramaque demonstra repulsa por Cassi Jones, que arquiteta seu assassinato.

4. Cassi Jones é um cantador de modinhas malandro típico do Rio de Janeiro do início do século XX, capaz de circular com desenvoltura tanto no subúrbio, onde vive, como no centro da cidade.

Assinale a alternativa correta.

  1. Somente a afirmativa 3 é verdadeira.
  2. Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.
  3. Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
  4. Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdad
  5. As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.

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