Adélia Prado
Lista de 15 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Adélia Prado com questões de Vestibulares.
Você pode conferir as videoaulas, conteúdo de teoria, e mais questões sobre o tema Adélia Prado.
Leia o poema “Casamento”, de Adélia Prado, para responder às questões 01 e 02.
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como ‘este foi difícil’
‘prateou no ar dando rabanadas’
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
(Italo Moriconi (org.).
Os cem melhores poemas brasileiros do século, 2001.)
01. (Albert Einstein 2023-2) Os versos do poema revelam que o eu lírico
- tem um casamento idêntico ao de outras mulheres, pois se recusa a fazer atividades por obrigação.
- faz uma crítica ao casamento, ao mostrar que algumas mulheres são silenciadas por maridos abusivos.
- diverge de outras mulheres quanto ao casamento, já que deixa as tarefas mais árduas para o marido.
- considera o casamento uma parceria, porque as tarefas compartilhadas podem reforçar a relação do casal.
- ratifica a opinião de outras mulheres, uma vez que estabelece condições para as vontades do marido.
Resposta: D
Resolução: Os versos do poema de Adélia Prado retratam o casamento como uma parceria em que as tarefas cotidianas, como limpar peixes, aproximam o casal e reforçam a cumplicidade entre eles. Ao contrário de outras mulheres que estabelecem condições para os maridos, o eu lírico destaca o prazer de compartilhar esse momento íntimo na cozinha, demonstrando que o casamento, para ela, é uma relação baseada em parceria e troca.
02. (Albert Einstein 2023-2) Em “Meu marido, se quiser pescar, pesque, / mas que limpe os peixes.” (2º e 3º versos), o trecho sublinhado expressa, em relação à oração que o antecede, ideia de
- oposição.
- concessão.
- finalidade.
- consequência.
- condição.
Resposta: E
Resolução: O trecho "mas que limpe os peixes" expressa uma ideia de condição, já que a ação do marido pescar está condicionada a ele limpar os peixes. A conjunção "mas que" indica uma exigência que deve ser cumprida para que a ação inicial seja permitida.
03. (Enem 2016) Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
O poema de Adélia Prado, que segue a proposta moderna de tematização de fatos cotidianos, apresenta a prosaica ação de limpar peixes na qual a voz lírica reconhece uma
- expectativa do marido em relação à esposa.
- imposição dos afazeres conjugais.
- disposição para realizar tarefas masculinas.
- dissonância entre as vozes masculina e feminina
- forma de consagração da cumplicidade no casamento.
Resposta: E
Resolução: O poema transforma a tarefa prosaica de limpar peixes em um ato simbólico que representa cumplicidade e intimidade conjugal. O eu lírico valoriza os pequenos gestos e o compartilhamento de momentos simples, mostrando que esses são a base da construção e consagração do relacionamento.
04. (EBMSP) Um homem doente faz a oração da manhã
Pelo sinal da Santa Cruz,
chegue até Vós meu ventre dilatado
e Vos comova, Senhor, meu mal sem cura.
Inauguro o dia, eu que ao meu crédito explico
que passei em claro a treva da noite.
Escutei – e é quando às vezes descanso –
vozes de há mais de trinta anos.
Vi no meio da noite nesgas claríssimas de sol.
Minha mãe falou,
enxotei gatos lambendo
O prato da minha infância.
Livrai-me de lançar contra Vós
a tristeza do meu corpo
e seu apodrecimento cuidadoso.
Mas desabafo dizendo:
que irado amor Vós tendes.
Tem piedade de mim,
tem piedade de mim
pelo sinal da Vossa Cruz
que faço na testa, na boca, no coração.
Da ponta dos pés à cabeça,
de palma a palma da mão.
PRADO, Adélia. Um homem doente faz a oração da manhã. Bagagem. In: Poesia Reunida. Rio de Janeiro: Siciliano, 1991. p. 51.
Nos versos de Adélia Prado, o eu poético revela-se
- temeroso de um futuro incerto, injusto e distante da presença divina.
- temente a Deus e confiante, mesmo diante de todos os males que o acometem.
- angustiado devido a sua moléstia, pedindo incessantemente clemência ao Senhor.
- comovido perante o sofrimento e a doença daqueles que se distanciam do ser divino.
- pecador e incapaz de reverter o caminho construído por ele mesmo.
Resposta: C
Resolução: O eu poético expressa angústia e sofrimento decorrentes de sua condição de saúde, clamando por clemência divina em sua oração. Embora demonstre resignação perante seu estado, ele desabafa, revelando um sentimento de tristeza e, ao mesmo tempo, a busca por alívio e piedade do Senhor.
05. (PUC-RS ) INSTRUÇÃO: Para responder à questão, leia o poema “O que a musa eterna canta”, de Adélia Prado.
Cesse de uma vez meu vão desejo
de que o poema sirva a todas as fomes.
Um jogador de futebol chegou mesmo a declarar:
‘Tenho birra de que me chamem de intelectual,
sou um homem como todos os outros’.
Ah, que sabedoria, como todos os outros,
a quem bastou descobrir:
letras eu quero é pra pedir emprego,
agradecer favores,
escrever meu nome completo.
O mais são as maltraçadas linhas.
Com base no poema, afirma-se:
I. O eu lírico assume-se no ofício de poeta e revela-se conformado ao perceber a impossibilidade da poesia de atingir todos os tipos de público.
II. Ao apresentar no poema duas diferentes funções da linguagem – uma cotidiana, utilitária, e outra poética, subjetiva –, o eu lírico acaba por revelar uma desvalia da primeira em relação à segunda.
III. O poema apresenta versos livres e brancos.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são
- apenas I.
- apenas II.
- apenas I e III.
- apenas II e III.
- I, II e III.
Resposta: C
Resolução: I: Correta, pois o eu lírico reconhece a limitação da poesia em atender todas as necessidades e aceita essa condição com conformismo. - II: Incorreta, pois o poema não revela desvalorização da linguagem cotidiana em relação à linguagem poética, mas apenas uma distinção entre suas funções. - III: Correta, já que o poema apresenta versos livres e brancos, sem rima e métrica fixa.
06. (UFRGS) Leia os versos destacados de três poemas de Bagagem, de Adélia Prado.
Antes do nome
Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge
a sintaxe,
[...]
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo filho é Verbo. Morre quem entender.
A invenção de um modo
[...]
Porque tudo que invento já foi dito
nos dois livros que eu li:
as escrituras de Deus,
as escrituras de João.
Tudo é Bíblias. Tudo é Grande Sertão.
Guia
A poesia me salvará.
[...]
No entanto, repito, a poesia me salvará.
Por ela entendo a paixão
que Ele teve por nós, morrendo na cruz.
Considere as seguintes afirmações sobre os poemas.
I - A fé é uma musa poderosa, e o sujeito lírico sente-se inferior à palavra, tanto das escrituras quanto do cotidiano.
II - O fazer poético é, para o sujeito lírico, ao mesmo tempo, sagrado e profano, corpo e espírito.
III- A metapoesia é uma temática importante na lírica de Adélia Prado
Quais estão corretas?
- Apenas I.
- Apenas III.
- Apenas I e II.
- Apenas II e III.
- I, II e III.
Resposta: E
Resolução: I: A fé é apresentada como elemento central na vida do sujeito lírico, que reconhece a palavra divina e cotidiana como superiores. Isso está correto. - II: O fazer poético é tratado como algo que une o sagrado e o profano, o que reflete a visão de Adélia sobre a poesia. Correto. - III: A metapoesia, ou seja, a poesia que reflete sobre o próprio fazer poético, é evidente. Correto.
07. (ITA) Considere o poema ao lado, “A cantiga”, de Adélia Prado:
“Ai cigana ciganinha,
ciganinha, meu amor”.
Quando escutei essa cantiga
era hora do almoço, há muitos anos.
A voz da mulher cantando vinha de uma cozinha,
ai ciganinha, a voz de bambu rachado
continua tinindo, esganiçada, linda,
viaja pra dentro de mim, o meu ouvido cada vez melhor.
Canta, canta, mulher, vai polindo o cristal,
canta mais, canta que eu acho minha mãe,
meu vestido estampado, meu pai tirando boia da panela,
canta que eu acho minha vida.
(Em: Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.)
Acerca desse poema, é INCORRETO afirmar que
- a poeta tem consciência de que seu passado é irremediavelmente perdido.
- existe um tom nostálgico, e um saudosismo de raiz romântica.
- a cantiga faz com que a poeta reviva uma série de lembranças afetivas.
- predomina o tom confessional e o caráter autobiográfico.
- valoriza os elementos da cultura popular, também uma herança romântica.
Resposta: A
Resolução: A poeta não expressa a ideia de que seu passado é irremediavelmente perdido, mas sim que é possível resgatar parte dele por meio das lembranças. Portanto, a alternativa A está errada.
08. (UEMA) Considerando que os textos podem dialogar entre si, leia o poema de Adélia Prado e, em seguida, compare com versos selecionados de outros autores para responder à questão.
Texto
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
− dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
Os versos que apresentam diálogo com esse poema são
- “Boi espantosamente, boi
Morto, sem forma ou sentido
Ou significado.”
(Boi morto, Manuel Bandeira) - “Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírio,
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!”
(Mulher que passa, Vinicius de Moraes) - “Mas, afinal
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de Amor
É que são ridículas.”
(Cartas de amor, Fernando Pessoa) - “[...] essa dor da vida que devora
A ânsia da glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudeceria ao menos
Se eu morresse amanhã!”
(Se eu morresse amanhã, Álvares de Azevedo) - “Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: vai, Carlos! Ser gauche na vida.”
(Poema de sete faces, Carlos Drummond de Andrade)
Resposta: E
Resolução: O poema "Com licença poética" dialoga com "Poema de sete faces" de Carlos Drummond de Andrade, pois ambos apresentam a figura de um anjo que concede uma missão ou destino aos sujeitos poéticos, além do tom reflexivo e autobiográfico.
09. (UFRGS) Considere o poema de Adélia Prado, do livro Bagagem
GRANDE DESEJO
Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
sou mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
Faço comida e como.
Aos domingos bato o osso no prato pra chamar cachorro
[5] e atiro os restos.
Quando dói, grito ai,
quando é bom, fico bruta,
as sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
[10] claridades atrás do meu estômago humilde
e fortíssima voz pra cânticos de festa.
Quando escrever o livro com o meu nome
e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma igreja,
a uma lápide, a um descampado,
[15] para chorar, chorar, e chorar,
requintada e esquisita como uma dama.
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo, sobre o poema.
( ) A semelhança entre as figuras femininas nomeadas no primeiro e no segundo versos é reforçada pela rima.
( ) Os versos 2 e 16 representam imagens díspares e inconciliáveis do eu lírico.
( ) A voz poética representa a luta das mulheres para se afirmarem como escritoras, em um campo literário predominantemente masculino.
( ) O eu lírico se reconhece como mulher do povo e poeta, vivendo com a mesma intensidade o cotidiano e a criação.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
- F – V – V – F.
- F – F – F – V.
- V – F – V – V.
- V – F – V – F.
- V – V – F – V.
Resposta: B
Resolução: (F) A rima entre Cornélia e Adélia contrasta as figuras, não as assemelha.
(F) Não há incompatibilidade entre os versos 2 e 16; eles mostram diferentes facetas do eu lírico.
(F) O poema não aborda explicitamente a luta das mulheres para se afirmarem como escritoras.
(V) O eu lírico é multifacetado, vivendo com intensidade tanto o cotidiano quanto a criação poética.
10. (Enem PPL) Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com
água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
Um dos procedimentos consagrados pelo Modernismo foia percepção de um lirismo presente nas cenas e fatos do cotidiano. No poema de Adélia Prado, o eu lírico resgata a poesia desses elementos a partir do(a)
- reflexão irônica sobre a importância atribuída aos estudos por sua mãe.
- sentimentalismo, oposto à visão pragmática que reconhecia na mãe.
- olhar comovido sobre seu pai, submetido ao trabalho pesado.
- reconhecimento do amor num gesto de aparente banalidade.
- enfoque nas relações afetivas abafadas pela vida conjugal.
Resposta: D
Resolução: A alternativa correta é a letra D porque o poema destaca o amor implícito nas atitudes da mãe, como arrumar o café e deixar água quente para o marido que trabalha até tarde. Esses gestos simples e cotidianos transcendem a banalidade, sendo repletos de significado emocional. O texto não foca em reflexões irônicas, sentimentalismo excessivo, ou na vida conjugal em si, mas sim na profundidade do sentimento escondido em ações rotineiras.
11. (UEMG) Leia a seguinte explicação:
Bakhtin desenvolve o conceito de “polifonia” em Problemas da Poética de Dostoiévski (PPD). Segundo Bakhtin, é característica do romance ser pluri vocal. Estudando Dostoiévski, Bakhtin observou que o seu discurso romanesco não é apenas pluri vocal — há algo mais além dessa plurivocidade: as vozes dos personagens apresentam uma independência excepcional na estrutura da obra. Como diz Bakhtin, "é como se soassem ao lado da palavra do autor". Observou mais que as múltiplas consciências que aparecem no romance mantêm-se equipolentes, ou seja, em pé de absoluta igualdade, sem se subordinarem à consciência do autor. Também os mundos que povoam os seus romances se combinam numa unidade de acontecimento, porém mantendo a sua imiscibilidade.
ROMAN, Artur Roberto. O conceito de polifonia em Bakhtin: o trajeto polifônico de uma metáfora. In: LETRAS: Curitiba, n.41-42, p. 195-205.1992-93. Editora da UFPR. Texto adaptado.
A propósito de como a polifonia se manifesta em Filandras, de Adélia Prado, é CORRETO afirmar que
- há, na obra, um efeito de independência entre as falas das personagens e a voz da narradora, por meio do uso de itálico, como recurso gráfico.
- o fator distintivo das vozes das personagens da obra é essencialmente linguístico, devido ao vocabulário que define, de forma peculiar, cada uma dessas vozes.
- uma marca particular da escrita de Adélia Prado são as diferentes nuances da voz de uma das personagens, que, à medida que envelhece, modifica sua visão de mundo.
- as diferentes vozes presentes nos contos de Filandras são frequentemente misturadas umas às outras, por meio do uso de discurso indireto livre.
Resposta: D
Resolução: A alternativa correta indica que, em Filandras, de Adélia Prado, as diferentes vozes presentes nos contos se misturam frequentemente por meio do uso do discurso indireto livre. Essa técnica narrativa é característica da obra e permite que as falas das personagens e as reflexões da narradora se combinem de forma fluida e natural. Essa independência e mistura entre vozes é um elemento que dialoga com o conceito de polifonia de Bakhtin.
12. (UNIMONTES) Texto
O amor inventa uma forma diferente de durar ao longo da vida. Que a existência de cada um, pela experiência do amor, confronta-se com uma nova temporalidade. [...] Mais do que isso, porém, é o desejo de uma duração desconhecida. Porque, como é sabido, o amor é uma reinvenção da vida. Reinventar o amor significa reinventar essa reinvenção”.
Fonte: BADIOU, Alain; TRUONG, Nicolas. Elogio do amor. Trad. Dorothée de Bruchard. São Paulo: Martins Fontes, 2013. p. 26.
O poema Casamento, de Adélia Prado, e a passagem extraída do livro Elogio do amor, do filósofo Alain Badiou dialogando com o jornalista Nicolas Truong, nos proporcionam reflexões acerca da experiência amorosa. Para Badiou, o amor, nos tempos atuais, encontra-se ameaçado devido aos interesses individuais e egoístas, atingindo, inclusive, as relações conjugais. Daí a necessidade de o amor ser reinventado e defendido, especialmente pela filosofia. Por outro lado, o poema de Adélia Prado mostra o caráter genuíno e autêntico do amor.
Considere as afirmativas a seguir e assinale a alternativa CORRETA.
- O poema de Adélia Prado não trata da convivência amorosa
- O amor não é um tema filosófico, mas apenas literário.
- O amor só começou a ser discutido pela filosofia a partir de Alain Badiou.
- O real sentido do amor não se tem considerado, na contemporaneidade.
Resposta: A
Resolução: O poema Casamento de Adélia Prado, ao contrário do que dizem as outras alternativas, trata sim da convivência amorosa, mas o faz de forma singular, destacando a autenticidade e o genuíno do amor. As demais afirmações (como a de que o amor só começou a ser discutido com Badiou ou de que o amor não é tema filosófico) são claramente incorretas. A afirmativa correta aborda de maneira ampla a complexidade e as mudanças na percepção do amor.
13. (UFRGS) Leia o poema Tabaréu, de Adélia Prado.
Vira e mexe eu penso é numa toada só.
Fiz curso de filosofia pra escovar o pensamento,
não valeu. O mais universal que eu chego
é a recepção de Nossa Senhora de Fátima
em Santo Antônio do Monte.
Duas mil pessoas com velas louvando a Maria
num oco de escuro, pedindo bom parto,
moço de bom gênio pra casar,
boa hora pra nascer e morrer.
O cheiro do povo espiritado,
isso eu entendo sem desatino.
Porque, mercê de Deus, o poder que eu tenho
é de fazer poesia, quando ela insiste feito
água no fundo da mina, levantando morrinho de areia.
É quando clareia e refresca, abre sol, chove,
conforme necessidades.
Às vezes dá até de escurecer de repente
com trovoada e raio. Não desaponta nunca.
É feito sol.
Feito amor divino.
Considere as seguintes afirmações sobre esse poema.
I - O curso de filosofia tentaria organizar/escovar o pensamento, mas a poeta reconhece que sua capacidade de alcançar o “universal” é limitada: ela é capaz, sim, de entender uma cena de fé coletiva, com suas solicitações práticas e emocionadas.
II - O uso do registro oral e popular (“vira e mexe”, “escovar o pensamento”, “o mais universal que eu chego”) revela a perspectiva despretensiosa e informal da poeta, que contrasta com os versos metrificados do poema, os quais mantêm, em sua maioria, o mesmo número de sílabas.
III - A capacidade de escrever poesia associa-se a fenômenos naturais, como água caindo sobre areia, variação de temperatura, sol e raio, dos quais derivam as dúvidas sobre a existência de Deus enunciadas no poema.
Quais estão corretas?
- Apenas I.
- Apenas II.
- Apenas I e III.
- Apenas II e III.
- I, II e III.
Resposta: A
Resolução: A única afirmativa correta é a I, que reconhece a limitação do eu lírico em alcançar o “universal”, mas que, por outro lado, é capaz de compreender a cena de fé coletiva descrita no poema. As afirmativas II e III contêm erros: II menciona métrica uniforme, o que não condiz com o poema, e III sugere dúvidas sobre a existência de Deus, algo que o poema não apresenta.
14. (PUC-RS) Leia o poema As mortes sucessivas, de Adélia Prado, e analise as afirmativas.
Quando minha irmã morreu eu chorei muito
e me consolei depressa. Tinha um vestido novo
e moitas no quintal onde eu ia existir.
Quando minha mãe morreu
Me consolei mais lento.
Tinha uma perturbação recém-achada:
meus seios conformavam dois montículos
e eu fiquei muito nua,
cruzando os braços sobre eles é que eu chorava.
Quando meu pai morreu
Nunca mais me consolei.
Busquei retratos antigos, procurei conhecidos,
parentes, que me lembrassem sua fala,
seu modo de apertar os lábios e ter certeza.
Reproduzi o encolhido do seu corpo
em seu último sono e repeti as palavras
que ele disse quando toquei seus pés:
´deixa, tá bom assim´.
Quem me consolará desta lembrança?
Meus seios se cumpriram
e as moitas onde existo
são pura sarça ardente de memória.
I. O poema apresenta um eu lírico que busca uma aprendizagem frente à morte.
II. As transformações do corpo do eu lírico evidenciam uma sucessão de perdas, enfrentadas desde a juventude.
III. A lembrança do pai é representada como ferida dolorosa que não tranquiliza o sentimento de falta.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são
- I, apenas.
- III, apenas.
- I e II, apenas.
- II e III, apenas.
- I, II, III.
Resposta: E
Resolução: I: O poema apresenta o aprendizado do eu lírico diante das perdas representadas pelas mortes de pessoas queridas. - II: As mudanças físicas e emocionais do eu lírico estão interligadas às perdas enfrentadas ao longo da vida. - III: A memória do pai é descrita como uma ferida emocional que não cicatriza, reforçando o impacto duradouro dessa perda.
15. (UNITINS) Leia o poema a seguir.
Com licença poética (Adélia Prado)
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida,é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.Eu sou.
Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/poesias/6622468. Acesso em: 11 nov. 2022.
Sobre Adélia Prado e o poema apresentado, é possível afirmar que:
I - a escritora critica o ser mulher na sociedade brasileira e evidencia as dificuldades que o gênero feminino costuma enfrentar;
II - a autora utiliza um tom de oralidade, marcado pela informalidade e pelo desejo de proximidade com o leitor. O eu- lírico se oferece ao leitor, entregando as suas qualidades e os seus defeitos sob a forma de verso;
III - à medida que se aproxima das mulheres comuns e dá voz a elas, a poeta apresenta um forte caráter feminista, mas não de luta, porque sua poesia não tem intenção de reclamar um lugar igualitário para as mulheres na sociedade.
É correto o que se afirma em
- apenas I e II.
- apenas II e III.
- apenas I e III.
- apenas I.
- I, II e III.
Resposta: A
Resolução: I: A crítica à condição da mulher e às dificuldades enfrentadas pelo gênero é evidente na obra de Adélia Prado, refletindo as complexidades sociais que envolvem o ser mulher. - II: A linguagem informal e a oralidade são características marcantes do poema, criando uma conexão íntima entre o eu lírico e o leitor. A afirmativa III, no entanto, é incorreta, pois Adélia Prado apresenta um caráter feminista em sua obra, mas sua abordagem vai além da mera descrição ou omissão de luta.