São Bernardo, de Graciliano Ramos
Lista de 15 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema São Bernardo, de Graciliano Ramos com questões de Vestibulares.
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01. (UFRGS) Sobre São Bernardo, de Graciliano Ramos, assinale a alternativa correta.
- Paulo Honório é o narrador que repassa sua trajetória desde a infância pobre até tornar-se proprietário de uma fazenda moderna e unir-se a Madalena, em um casamento cheio de tensões que acaba de forma trágica.
- Madalena é uma herdeira ambiciosa, que, auxiliada pelos esforços de uma tia incansável, forma-se professora e dedicase ao magistério e a disputas políticas no interior de Alagoas.
- Luís Padilha é o filho do antigo proprietário da fazenda São Bernardo que dissipa sua fortuna instigado por Paulo Honório, a quem procura enganar oferecendo-lhe um cargo político em Maceió.
- Dona Glória, tia de Madalena, dedica-se a tarefas mal pagas e economiza muito para sobreviver, mas vai se tornar uma aliada importante de Luís Padilha na tentativa de extrair dinheiro de Paulo Honório.
- Casimiro Lopes é o jagunço subordinado a Paulo Honório e trata de garantir a simpatia de seu chefe mediante serviços prestados a Madalena e Dona Glória, além de dedicar-se com carinho e desvelo ao filho do casal.
02. (PUC-GO) Leia com atenção o fragmento do romance São Bernardo, de Graciliano Ramos:
Capítulo um
Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão do trabalho. Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos consentiram de boa vontade em contribuir para o desenvolvimento das letras nacionais. Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe; prometi ao Arquimedes a composição tipográfica; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. Eu traçaria o plano, introduziria na história rudimentos de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria o meu nome na capa.
Estive uma semana bastante animado, em conferências com os principais colaboradores, e já via os volumes expostos, um milheiro vendido graças aos elogios que, agora com a morte do Costa Brito, eu meteria na esfomeada Gazeta, mediante lambujem. Mas o otimismo levou água na fervura, compreendi que não nos entendíamos.
João Nogueira queria o romance em língua de Camões, com períodos formados de trás para diante. Calculem.
Padre Silvestre recebeu-me friamente. Depois da Revolução de Outubro, tornou-se uma fera, exige devassas rigorosas e castigos para os que não usaram lenços vermelhos. Torceu-me a cara. E éramos amigos. [...]
(RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 07.)
Esse fragmento retrata a personalidade da personagem Paulo Honório, da obra São Bernardo, um dos principais romances da década de 1930.
Assinale a alternativa correta quanto à característica do protagonista no contexto da literatura da década de 1930:
- A personagem do livro e o autor Graciliano Ramos assemelham-se quanto à visão de mundo na divisão do trabalho.
- A narrativa dentro da narrativa foi uma estratégia usada pelos romancistas de 1930 para fazer denúncia social.
- Como outros romances dessa fase, a ênfase na memória e na subjetivação da personagem é a tônica da narrativa.
- Paulo Honório já deixa antever nesse capítulo a sua mentalidade capitalista, ao propor pagar as despesas e assinar o livro.
Resposta:
Resolução:
03. (ENEM PPL 2023) A verdade é que não me preocupo muito com o outro mundo. Admito Deus, pagador celeste dos meus trabalhadores, mal remunerados cá na terra, e admito o diabo, futuro carrasco do ladrão que me furtou uma vaca de raça. Tenho, portanto, um pouco de religião, embora julgue que, em parte, ela é dispensável a um homem. Mas mulher sem religião é horrível.
Comunista, materialista. Bonito casamento! Amizade com o Padilha, aquele imbecil. “Palestras amenas e variadas”. Que haveria nas palestras? Reformas sociais, ou coisa pior. Sei lá! Mulher sem religião é capaz de tudo.
RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1981.
Uma das características da prosa de Graciliano Ramos é ser bastante direta e enxuta. No romance São Bernardo, o autor faz a análise psicológica de personagens e expõe desigualdades sociais com base na relação entre patrão e empregado, além da relação conjugal.
Nesse sentido, o texto revela um(a)
- narrador personagem que coloca no mesmo plano Deus e o diabo, além de defender o livre-arbítrio feminino no tocante à religião.
- narrador onisciente, que não participa da história, conhecedor profundo do caráter machista de Paulo Honório e da sua ideologia política.
- narração em terceira pessoa que explora o aspecto objetivo e claro da linguagem para associar o espaço interno do personagem ao espaço externo.
- discurso em primeira pessoa que transmite o caráter ambíguo da religiosidade do personagem e sua convicção acerca da relação que a mulher deve ter com a religião.
- narrador alheio às questões socioculturais e econômicas da sociedade capitalista e que defende a divisão dos bens e o trabalho coletivo como modo de organização social e política.
Resposta:
Resolução:
04. (UERR) O que é certo é que, a respeito de letras, sou versado em estatística, pecuária, agricultura, escrituração mercantil, conhecimentos inúteis neste gênero. Recorrendo a eles, arrisco-me a usar expressões técnicas, desconhecidas do público, e a ser tido por pedante. Saindo daí, a minha ignorância é completa. E não vou, está claro, aos cinquenta anos, munir-me de noções que não obtive na mocidade.
Não obtive, porque elas não me tentavam e porque me orientei num sentido diferente. O meu fito na vida foi apossar-me das terras de S. Bernardo, construir esta casa, plantar algodão, plantar mamona, levantar a serraria e o descaroçador, introduzir nestas brenhas a pomicultura e a avicultura, adquirir um rebanho bovino regular. Tudo isso é fácil quando está terminado e embira-se em duas linhas, mas para o sujeito que vai começar, olha os quatro cantos e não tem em que se pegue, as dificuldades são terríveis. Há também a capela, que fiz por insinuações de padre Silvestre.
Ocupado com esses empreendimentos, não alcancei a ciência de João Nogueira nem as tolices do Gondim. As pessoas que me lerem terão, pois, a bondade de traduzir isto em linguagem literária, se quiserem. Se não quiserem, pouco se perde. Não pretendo bancar escritor. É tarde para mudar de profissão. E o pequeno que ali está chorando necessita quem o encaminhe e lhe ensine as regras de bem viver.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2020 (com adaptações).
No trecho do romance São Bernardo, o narrador expõe as dificuldades que enfrenta recorrendo
- a paródia, voltada para a imitação da fala sertaneja.
- à metalinguagem, característica da ficção modernista.
- ao lirismo, marcado pelas frases curtas e metafóricas.
- ao regionalismo, concentrado na produção de imagens sobre o espaço.
- ao concretismo, devido à descrição objetiva dos problemas.
Resposta:
Resolução:
05. (UNIMONTES) Segundo Alfredo Bosi, em “História concisa da literatura brasileira”, “o realismo de Graciliano não é orgânico nem espontâneo. É crítico. O ‘herói’ é sempre um problema: não aceita o mundo, nem os outros, nem a si mesmo”
(BOSI, 1982, p. 454).
Entre as passagens do livro “São Bernardo” abaixo descritas, aponte aquela que NÃO corrobora a afirmação do referido estudioso:
- “Os outros continuavam a zumbir. Sebo! Uns insetos. Não valia a pena prestar atenção a semelhantes insignificâncias. Gente besta.”
- “O mundo que me cercava ia-se tornando um horrível estrupício. E o outro, o grande, era uma balbúrdia, uma confusão dos demônios, estrupício muito maior.”
- “Foi este modo de vida que me inutilizou. Sou um aleijado. Devo ter um coração miúdo, lacunas no cérebro [...]”.
- “Conforme declarei, Madalena possuía um excelente coração. Descobri nela manifestações de ternura que me sensibilizaram.”
06. (ENEM PPL 2017) Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca e engolem tudo.
Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tentativas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes.
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações.
— Minhas senhoras, Seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciência, vá à justiça.
Como a justiça era cara, não foram a justiça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz.
Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças as chicanas de João Nogueira.
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe político local. Em consequência mordeu-me cem mil réis.
RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1990.
O trecho, de São Bernardo, apresenta um relato de Paulo Honório, narrador-personagem, sobre a expansão de suas terras.
De acordo com esse relato, o processo de prosperidade que o beneficiou evidencia que ele
- revela-se um empreendedor capitalista pragmático que busca o êxito em suas realizações a qualquer custo, ignorando princípios éticos e valores humanitários.
- procura adequar sua atividade produtiva e função de empresário às regras do Estado democrático de direito, ajustando o interesse pessoal ao bem da sociedade.
- relata aos seus interlocutores fatos que lhe ocorreram em um passado distante, e enumera ações que põem em evidência as suas muitas virtudes de homem do campo.
- demonstra ser um homem honrado, patriota e audacioso, atributos ressaltados pela realização de ações que se ajustam ao princípio de que os fins justificam os meios.
- amplia o seu patrimônio graças ao esforço pessoal, contando com a sorte e a capacidade de iniciativa, sendo um exemplo de empreendedor com responsabilidade social.
07. (ITA) No romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, o desenlace trágico decorre sobretudo
- do fato de Madalena ter se casado unicamente por necessidade financeira.
- das dúvidas de Paulo Honório quanto à paternidade do filho de Madalena.
- da tristeza final de Paulo Honório, que o leva a se desinteressar pela fazenda.
- dos envolvimentos sexuais de Paulo Honório com as empregadas da fazenda.
- dos conflitos nascidos da diferença de mentalidade e de temperamento do casal.
08. (ITA) São Bernardo,de Graciliano Ramos, é obra representativa da Geração de 30. Em relação ao protagonista, podemos dizer que
- mesmo sendo um proprietário de terras de perfil feudal, não se envolve sexualmente com as serviçais da fazenda.
- por ter cometido assassinatos para tornar-se o dono de sua propriedade, é um homem sem nenhum traço de humanidade.
- ele próprio reconhece que as muitas agruras pelas quais passou até enriquecer acabaram por lhe dar uma alma agreste.
- após se tornar senhor da fazenda, esquece-se do passado e abandona, até mesmo, a sua pobre mãe de criação.
- mesmo com a morte trágica da esposa, não chega a questionar o sentido dos atos que praticou ao longo da vida.
09. (PUC-Campinas) Todos os romances de Graciliano Ramos são tentativas de destruição: tentativas de “acabar com a minha memória”, tentativas de dissolver as recordações pelos “estranhos hiatos” dum sonho angustiado. Surge o clichê de que Graciliano teria sido, na mocidade, um “sertanejo culto”: e sugere aos críticos a ideia de que o romancista está furioso contra o ambiente selvagem de seu passado. Mas não é assim. Não é o sertão o culpado: Vidas secas
é o seu romance relativamente mais sereno, relativamente mais otimista. O culpado é − superficialmente visto numa primeira aproximação − a cidade. O herói de Graciliano Ramos é o sertanejo desenraizado, levado do mundo primitivo para o mundo do movimento. Em São Bernardo, o fazendeiro Paulo Honório consegue seu objetivo e, contudo, é uma vida malograda. Por quê? Porque seu criador quer mais que terra, casa, dinheiro, mulher. Quer realmente voltar aos avós. Voltar à imobilidade, à estabilidade do mundo primitivo.
(Adaptado de: CARPEAUX, Otto Maria. Visão de Graciliano Ramos. Apresentação a Angústia. Rio de Janeiro: Martins, 1970, 12. ed., p. 14)
Comparando-se os universos ficcionais de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, verifica-se que ambos
- convergem, já que valorizam do mesmo modo as análises políticas do mundo sertanejo.
- convergem, pois adotaram soluções estilísticas bastante próximas.
- divergem, assim como são divergentes uma visão realista e uma visão mítica.
- divergem, já que optaram exclusivamente por uma narração ou em primeira ou em terceira pessoa.
- convergem, pois partilham de um mesmo otimismo fundamental quanto à cultura brasileira.
10. (PUC-PR) Sobre o romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, assinale a alternativa CORRETA
- Em sua intriga, o romance focaliza com destaque o problema da marginalização social que vitima os trabalhadores rurais desprovidos de terra e submetidos a um processo de desumanização. Há, da parte do protagonista, Paulo Honório, um engajamento em favor da transformação desse quadro na localidade onde mora.
- É um romance que foge da cartilha realistanaturalista por ser carregado de alegorias (por vezes fantásticas) do panorama social ficcionalizado. Trata-se de um texto precursor do realismo fantástico no Brasil. Há grande importância simbólica na referência ao pio de coruja ouvido por Paulo Honório, metáfora do crescente clamor dos miseráveis e injustiçados que, ao fim do livro, tomam a fazenda São Bernardo.
- Sendo um típico romance social e regional da década de 30, o livro, como é típico na produção ficcional de Graciliano Ramos, supera o que se poderia restringir a esse enquadramento devido à incorporação de questionamentos psicológicos a respeito da conduta do protagonista e narrador, Paulo Honório. Seu memorialismo, associado à problematização da linguagem no livro que ele se propõe a escrever, conduz o seu autorretrato a uma complexidade que transcende a caracterização simplista e estereotipada do “fazendeiro ambicioso” e injusto. O problema que suas memórias colocam diz respeito à falta de sentido para seus atos
- São Bernardo é, dentre os romances de Graciliano Ramos, aquele em que o autor mais se dá a experimentos linguísticos típicos do Modernismo. Com efeito, é notória a aproximação desse romancista em relação aos modernistas do primeiro momento, formado pelo grupo dos paulistas que protagonizaram a Semana de Arte Moderna de 1922.
- Consta que Clarice Lispector tomava São Bernardo como um dos textos que mais a influenciaram por se tratar, fundamentalmente, de um texto carregado de indagações interiores, reflexões sobre a condição humana e consciência metalinguística, como se vê na tematização da dificuldade de comunicação do protagonista Paulo Honório. O seu não falar reflete a sua inferiorização social originada de sua pobreza.
11. (UNIVESP) Leia o trecho de São Bernardo, de Graciliano Ramos, para responder a questão.
Conforme declarei, Madalena possuía um excelente coração. Descobri nela manifestações de ternura que me sensibilizaram. E, como sabem, não sou homem de sensibilidades. É certo que tenho experimentado mudanças nestes dois últimos anos. Mas isto passa.
(S. Bernardo. 93. ed. Rio de Janeiro, Record, 2012)
Em São Bernardo, o narrador, Paulo Honório, conta de seu relacionamento com a esposa, Madalena; relacionamento conflituoso, marcado pelo ciúme excessivo do marido, o que evidenciava o modo como el
- era o estereótipo do herói trágico, fadado a um destino sombrio após uma infância privilegiada na fazenda.
- reproduzia o comportamento de personagens que conhecera do convívio com romances do século XIX.
- transferia para as relações interpessoais o tratamento dado à terra e aos objetos de sua propriedade.
- correspondia à caricatura do homem traído, tão comum nas narrativas que corriam o Nordeste na década de 1930.
- tinha sérios distúrbios psicológicos, que o impediam de reproduzir o comportamento da maioria das pessoas à sua volta.
12. (FGV-SP) - A excelentíssima, declarou Seu Ribeiro, entende de escrituração.
Seu Ribeiro morava aqui, trabalhava comigo, mas não gostava de mim. Creio que não gostava de ninguém. Tudo nele se voltava para o lugarejo que se transformou em cidade e que tinha, há meio século, bolandeira, terços, candeias de azeite e adivinhações em noites de São João. Com mais de setenta anos, andava a pé, de preferência pelas veredas. E só falava ao telefone constrangido. Odiava a época em que vivia, mas tirava-se de dificuldades empregando uns modos cerimoniosos e expressões que hoje não se usam. O reduzido calor que ainda guardava servia para aquecer aqueles livros grossos, de cantos e lombadas de couro. Escrevia neles com amor lançamentos complicados, e gastava quinze minutos para abrir um título, em letras grandes e curvas, um pouco trêmulas, as iniciais cheias de enfeites.
- Entende muito, continuou. E embora eu não concorde integralmente com o
método que preconiza, reconheço que poderá, querendo, encarregar-se da escrita.
- Obrigada.
- Não há de quê. A excelentíssima conhece a matéria e tem caligrafia. Eu sou
uma ruína. Qualquer dia destes ...
Graciliano Ramos, São Bernardo.
As informações contidas no texto, consideradas no contexto de São Bernardo, indicam como importante coordenada histórico-social dessa obra o processo de
- modernização do Brasil, compreendido entre o final do 2º Reinado e o final da década de 1920.
- decadência cultural do País, determinado pela marginalização das elites católicas tradicionais.
- regressão político-institucional deflagrado pela decretação do Estado Novo, na década de 1930.
- burocratização das relações de trabalho imposta pela ditadura varguista.
- urbanização provocado pela acelerada industrialização do País, no final do Séc. XIX.
13. (PUC-PR) Leia atentamente o trecho do romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, em que o seu narrador Paulo Honório reflete sobre o casamento, e assinale a alternativa CORRETA.
“Amanheci um dia pensando em casar. Foi uma ideia que me veio sem que nenhum rabo-de-saia a provocasse. Não me ocupo com amores, devem ter notado, e sempre me pareceu que mulher é um bicho esquisito, difícil de governar.
A que eu conhecia era a Rosa do Marciano, muito ordinária. Havia conhecido também a Germana e outras dessa laia. Por elas eu julgava todas. Não me sentia, pois, inclinado para nenhuma: o que sentia era desejo de preparar um herdeiro para as terras de S. Bernardo.”
- O romance, marco da terceira geração modernista, apresenta seu narrador como um homem ganancioso e utilitarista, entretanto este traço de egoísmo desaparece quando o personagem encontra o amor na figura de Madalena.
- Paulo Honório expressa seu olhar utilitarista acerca do mundo, das pessoas e das relações sociais. Um dos grandes traços deste personagem é sua incapacidade de se relacionar com outras pessoas de forma sensível e amorosa, buscando sempre vantagens financeiras em suas ações.
- O personagem de Paulo Honório, no trecho apontado, evidencia seu desconforto em relação às figuras femininas, pois estas representam a força do feminismo, tema que toma conta do chamado Romance de 30.
- Pelo texto apresentado, podemos observar que o rebuscamento da linguagem e o uso excessivo de metáforas evidenciam as principais características do Modernismo da segunda geração, que buscou antes de tudo tratar de assuntos ligados aos sentimentos humanos, porém desligados de um viés social.
- Ao pensar em um herdeiro para o seu mundo, nota-se que Paulo Honório, que inicia o romance como um personagem egoísta, ao envelhecer, torna-se uma pessoa mais sensata e aberta ao próximo. O fato de desejar um filho demonstra a sua crença em um mundo menos dolorido.
14. (FMABC) No romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, a decisão de Paulo Honório em narrar ele próprio sua história deve-se ao fato de que,
- determinado a inocentar-se das sombras do passado que o atormenta, investe-se da autoridade de um narrador na primeira pessoa para fazer valer a perspectiva de um infeliz amante que se valeu da violência para poder afirmar-se.
- comprometido com a verdade final de uma antiga paixão, despe-se da condição de homem poderoso e resolve, piedosamente, levantar os fatos do passado que ainda podem testemunhar em favor de seus bons sentimentos.
- desprezando o registro literário que outros lhe propõem para sua biografia, dispõe-se a encarar os limites de sua linguagem bruta para buscar o sentido maior de sua vida, sobretudo da culpa que lhe ficou da relação com Madalena.
- sentindo-se melhor escritor que seus parceiros de letras, decide-se pela forma de um romance realista, com base em suas memórias juvenis, no centro das quais figura a jovem professora de ideias socialistas.
- carregado de remorsos, resolve confessar os crimes de seu passado, sobretudo os relacionados com seu mandonismo de coronel e de político inescrupuloso, atenuados apenas pelo idílio que viveu em companhia de Madalena.
15. (URCA) Capítulo um
Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão do trabalho.
Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos consentiram de boa vontade em contribuir para o desenvolvimento das letras nacionais. Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe; prometi ao Arquimedes a composição tipográfica; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. Eu traçaria o plano, introduziria na história rudimentos de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria o meu nome na capa.
Estive uma semana bastante animado, em conferências com os principais colaboradores, e já via os volumes expostos, um milheiro vendido graças aos elogios que, agora com a morte do Costa Brito, eu meteria na esfomeada Gazeta, mediante lambujem. Mas o otimismo levou água na fervura, compreendi que não nos entendíamos.
João Nogueira queria o romance em língua de Camões, com períodos formados de trás para diante. Calculem.
Padre Silvestre recebeu-me friamente. Depois da Revolução de Outubro, tornou-se uma fera, exige devassas rigorosas e castigos para os que não usaram lenços vermelhos. Torceu-me a cara. E éramos amigos. Patriota.
Está direito: cada qual tem as suas manias.
Afastei-o da combinação e concentrei as minhas esperanças em Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, periodista de boa índole e que escreve o que lhe mandam.
Trabalhamos alguns dias. A tardinha Azevedo Gondim entregava a redação ao Arquimedes, trancava a gaveta onde guarda os níqueis e as pratas, tomava a bicicleta e, pedalando meia hora pela estrada de rodagem que ultimamente Casimiro Lopes andava a consertar com dois ou três homens, alcançava São Bernardo. Comentava os telegramas dos jornais, atacava o governo, bebia um copo de conhaque que Maria das Dores lhe trazia e, sentindo-se necessário, comandava com submissão:
- Vamos a isso.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo
O texto VIII faz parte do primeiro capítulo de um livro de Graciliano Ramos, intitulado São Bernardo. Este titulo faz referência a um outro aspecto dentro da narrativa do escritor alagoano. Tal referência é:
- a cidade em que residiam as personagens;
- a fazenda de Paulo Honório;
- o padroeiro da cidade;
- o jornal local;
- o hotel em que ocorre a narrativa.