Terra Sonâmbula, Mia Couto
Lista de 09 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Terra Sonâmbula, Mia Couto com questões de Vestibulares.
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01. (Unicamp 2023) Conheço um povo sem poligamia: o povo macua. Este povo deixou as suas raízes e apoligamou-se por influência da religião. Islamizou-se. (...) Conheço um povo de tradição poligâmica: o meu, do sul do meu país. Inspirado no papa, nos padres e nos santos, disse não à poligamia.
Cristianizou-se. Jurou deixar os costumes bárbaros de casar com muitas mulheres para tornar-se monógamo ou celibatário. (...) Um dia dizem não aos costumes, sim ao cristianismo e à lei. No momento seguinte, dizem não onde disseram sim, ou sim onde disseram não.
(CHIZIANE, Paulina. Niketche. Uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 92.)
Baseando-se no excerto e na leitura da obra, é correto afirmar que
- a organização familiar é fruto da vida religiosa dos povos, cabendo assim a monogamia aos povos cristãos e a poligamia aos povos islâmicos.
- os costumes culturais no modo de organizar os arranjos familiares são colocados em xeque por novas estruturas de poder, as quais transmitem outros valores.
- a monogamia aparece como evolução natural aos costumes supostamente bárbaros de os homens se casarem com muitas mulheres em determinadas culturas africanas.
- o povo macua tornou-se monogâmico depois de abraçar a fé cristã trazida pelo papa e padres, o que pode ser considerado um aprimoramento social.
02. (UFU) O romance Terra Sonâmbula, de Mia Couto, é uma das mais importantes obras da literatura moçambicana após a independência do país.
Sobre a elaboração dessa trama narrativa, assinale a alternativa INCORRETA.
- Mesmo em se tratando de uma guerra, a obra não apresenta tom épico, pois não há ênfase nas cenas de batalha, estando o foco nos efeitos devastadores da guerra.
- O romance se compõe de múltiplas narrativas que se cruzam na obra; o próprio ato de narrar aparece como essencial ao ato de permanecer vivo.
- A combinação entre a tradição oral moçambicana e a tradição literária, de origem europeia, ocorre sempre de modo tenso, mostrando a distância entre elas.
- A obra pode ser vista como narrativa de viagem, porém, em vários momentos, o deslocamento experimentado é mais temporal e psicológico do que espacial.
03. (UFU) O excerto abaixo, retirado da obra Terra sonâmbula de Mia Couto, é a reprodução do diálogo entre Kindzu e Surendra.
Antoninho, o ajudante, escutava com absurdez. Para ele eu era um traidor da raça, negro fugido das tradições africanas. Passou por entre nós dois, desdelicado provocador, só para mostrar seus desdéns. No passeio, gargalhou-se alto e mau som. Me vieram à lembrança as hienas. Surendra disse, então:
– Não gosto de pretos, Kindzu.
– Como? Então gosta de quem? Dos brancos?
– Também não.
– Já sei: gosta de indianos, gosta da sua raça.
– Não. Eu gosto de homens que não têm raça. É por isso que eu gosto de si, Kindzu.
COUTO, Mia. Terra sonâmbula, São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 15.
Com base no diálogo transcrito e no enredo do romance, é correto afirmar que
- a conversa ocorre ainda no início da guerra quando Kindzu havia impedido a destruição da loja do indiano por parte de alguns negros moçambicanos.
- o romance mostra como o racismo que atravessa a sociedade moçambicana, devastada pelas guerras, é consequência imediata da colonização portuguesa.
- o romance pretende apresentar os dilemas que geraram os conflitos entre negros e indianos, povos de etnias distintas que lutam pelo território moçambicano.
- a fala de Surendra revela um desejo radical de convívio harmônico entre os diferentes, capaz de superar noções de identidade baseadas só na raça.
04. (UFU) Sobre a obra de Mia Couto, Terra sonâmbula, depreende-se que esse texto
- abarca heróis no sentido clássico com capacidade de atos heroicos movidos por sentimentos nobres e elevados em prol da comunidade.
- funde histórias e estabelece pontos de contato entre épocas diferentes permitindo a identificação de um personagem com outro.
- solidifica a percepção de uma identidade nacional unificada à medida que há um amadurecimento de personagens.
- traz à tona a preocupação de reconstrução da cultura moçambicana no sentido de alinhá-la às culturas modernas.
05. (UNICAMP) Leia o seguinte trecho da obra Terra Sonâmbula, de Mia Couto, extraído do Sexto caderno de Kindzu, subintitulado O regresso a Matimati.
Lembrei meu pai, sua palavra sempre azeda: agora, somos um povo de mendigos, nem temos onde cair vivos. Era como se ainda escutasse:
- Mas você, meu filho, não se meta a mudar os destinos.Afinal, eu contrariava suas mandanças. Fossem os naparamas, fosse o filho de Farida: eu não estava a deixar o tempo quieto. Talvez, quem sabe, cumprisse o que sempre fora: sonhador de lembranças, inventor de verdades. Um sonâmbulo passeando entre o fogo. Um sonâmbulo como a terra em que nascera. Ou como aquelas fogueiras por entre as quais eu abria caminho no areal. (Mia Couto, Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia de Bolso, 2015, p. 104.)
Na passagem citada, a personagem Kindzu recorda os ensinamentos de seu pai diante do estado desolador em que se encontrava sua terra, assolada pela guerra, e reflete sobre a coerência de suas ações em relação a tais ensinamentos. Levando em consideração o contexto da narrativa do romance de Mia Couto, é correto afirmar que:
- A demanda realizada por Kindzu e que é relatada em seus cadernos funciona como uma forma de fuga para a personagem Muidinga, que se aliena da realidade da guerra pela leitura dos cadernos, indicando de modo inequívoco a função social da literatura.
- A narrativa contida nos cadernos de Kindzu, lida por Muidinga e Tuahir, representa o universo onírico e se contrapõe à realidade objetiva das duas personagens, razão pela qual ambas as narrativas aparecem no livro de modo intercalado, sem, necessariamente, haver uma interseção entre elas.
- Segundo a personagem Kindzu, a sua terra, sonâmbula como ele, seria um lugar da sobreposição entre sonho e realidade, tal como ocorre na narrativa que registra em seus cadernos, em que é impossível o estabelecimento de uma delimitação entre o onírico e o real.
- O sonho, sugerido pelo termo “sonâmbulo”, contrapõe-se à realidade da guerra, sugerida pela palavra “fogo”; terra sonâmbula seria, pois, um lugar em que os limites entre realidade e sonho aparecem bem delimitados e no qual as personagens estão condenadas definitivamente à miséria da guerra.
06. (UFGD) Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte.
(COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007)
No que tange à realidade sócio-histórica exposta na obra do escritor moçambicano Mia Couto, Terra Sonâmbula, no breve recorte acima, é correto afirmar que os elementos grifados no excerto fazem analogia direta, respectivamente, a
- Moçambicanos / da luta / os pássaros.
- Moçambicanos / da vida / a vida.
- Moçambicanos / da guerra / a vida.
- Africanos / da guerra / a vida.
- Africanos / da guerra / os pássaros.
07. (UFGD) Em Terra sonâmbula, de Mia Couto, de que maneira os cadernos de Kindzu adquirem importância para a sobrevivência do menino Muidinga em meio à guerra civil que assola o país?
- Sendo Muidinga semianalfabeto, os cadernos de Kindzu permitem que ele, à medida que os decifra, perceba que a leitura é um poderoso instrumento de resistência ao poder estabelecido.
- Sendo Tuahir analfabeto, os cadernos de Kindzu permitem que Muidinga, ao lê-los, entretenha o velho durante a longa viagem que intentam fazer para fugir da guerra.
- Ao ler os cadernos de Kindzu para o analfabeto Tuahir, Muidinga, ao se identificar com o relato, assimila melhor seu próprio drama de resistência à guerra e a busca aos pais desaparecidos.
- Ao ler os cadernos de Kindzu, Muidinga finalmente identifica e localiza, ao final do relato, seu irmão desaparecido no início da guerra.
- Através dos cadernos de Kindzu, Muidinga percebe que Tuahir é na verdade seu pai, apesar do esforço deste em manter a informação em segredo a fim de não comprometer a fuga do local de conflito.
Leia o trecho do livro Terra sonâmbula, do escritor moçambicano Mia Couto, para responder às questões 02 e 03.
Muidinga acorda com a primeira claridade. Durante a noite, seu sono se estremunhara. Os escritos de Kindzu lhe começam a ocupar a fantasia. De madrugada até lhe parecera ouvir os tais cabritos embriagados de Taímo. E sorri, ao se lembrar. O velho ainda ressona. O miúdo se espreguiça ao sair do machimbombo¹. O cacimbo² é tão cheio que mal se enxerga. A corda do cabrito permanece atada aos ramos da árvore. Muidinga puxa por ela para trazer o bicho às vistas. Então, sente que a corda está solta. O cabrito fugira? Mas, se assim tinha sido, qual a razão daquele vermelho tintando o laço?
— Tio, tio! Comeram o cabrito!
O velho sai aos desengonços, tropernando pelas escadas do machimbombo. Primeiro, fica parado, perplexo, a digerir névoas. Depois vai pilando raivas, mãos à cabeça, espicaçador.
[…]
Grita com superiores ganas de rachar o mundo. Segura a ponta da corda, sacode-a perante o nariz. Muidinga se admira de tais fúrias. Que lamentava o velho assim tão espalhafarto?
— Deve ter sido uma hiena, tio...
O velho, ríspido, agarra a cabeça do rapaz e lhe esfrega a corda no rosto.
— Veja essa corda, satanhoco³. Veja!
O pobre miúdo nem que quisesse. A mão do velho lhe alicateia o pescoço, dobrando seu fraturável corpo sobre os infernos. Me largue, tio. É a súplica que ele consegue, já tombado nos joelhos.
— Veja aqui, grita Tuahir. Cortaram essa corda com faca!
Muidinga se arrepinha. Quem estivera ali com tais laminosas intenções? Agora ele entende a fúria do velho. Um cabrito atado só servia para agarrar os olhos dos passeantes.
(Terra sonâmbula, 2007.)
¹ machimbombo: ônibus.
² cacimbo: neblina.
³ satanhoco: sacana.
02. (Albert Einstein 2023-2) Assim como João Guimarães Rosa, Mia Couto emprega neologismos em suas obras. No trecho “O velho sai aos desengonços, tropernando pelas escadas do machimbombo.” (3º parágrafo), o termo sublinhado foi formado pela junção das palavras “tropeçando” e “perna”.
O mesmo processo de junção foi utilizado para a criação do termo
- “claridade” (1º parágrafo)
- “espreguiça” (1º parágrafo)
- “espalhafarto” (4º parágrafo)
- “fraturável” (8º parágrafo)
- “laminosas” (10º parágrafo)
03. (Albert Einstein 2023-2) “Me largue, tio. É a súplica que ele consegue, já tombado nos joelhos.” (8º parágrafo)
Ao se transpor a fala sublinhada para o discurso indireto, o trecho assume a forma:
- Ele pedia que o tio o largava.
- Ele pedira que o tio o largasse.
- Ele pede que o tio o largue.
- Ele pede que o tio o largou.
- Ele pediu que o tio o largue.