Paulina Chiziane
Lista de 04 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Paulina Chiziane com questões de Vestibulares.
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Texto I
“Na confusão verde do fundo da machamba, Maria não viu o capataz imediatamente. Esbracejou com aflição, tentando libertar as pernas. O braço rodeou-lhe os ombros duramente. O bafo quente e ácido do homem aproximou-se da sua face. A capulana da Maria desprendeu-se durante a breve luta e a sensação fria de água tornou-se-lhe mais vívida. Um arrepio fê-la contrair-se.
Sentiu nas coxas nuas a carícia morna e áspera dos dedos calosos do homem.”
Luis Bernardo Honwana. Dina, In: Nós Matamos o Cão Tinhoso!.
Texto II
“– Mas choraste. A bofetada que te dei foi só uma disciplina para aprenderes a não fazer ciúmes. Gosto muito de ti, Sarnau. És a minha primeira mulher. É tua a honra deste território. Tu és a mãe de todas as mães da nossa terra. Tu és o meu mundo, minha flor, rebuçado [bala] do meu coração. Deixei cair duas gotas de fel bem amargas e salgadinhas. Meu marido acariciava-me à moda dos búfalos; dizia-me coisas no ouvido e o seu hálito fedia a álcool, enjoava-me, arrepiavame, maltratando o meu corpinho frágil. Explodi furiosa e chorei de amargura.
– Sarnau, pareces ser uma machamba difícil. Já faz tempo que semeio em ti e não vejo resultado. Com a outra foi tão diferente. Bastou uma sementeira e germinou logo.
– Casámo-nos há pouco tempo, Nguila, muito pouco tempo.
– Não tenho lá muita paciência. Não estou para lavrar sem colher.”
Paulina Chiziane. Balada de amor ao vento, p. 61-62.
01. (Fuvest 2024) Os trechos transcritos foram retirados dos livros dos moçambicanos Luís Bernardo Honwana e Paulina Chiziane. Em ambos, observa-se a ocorrência da palavra “machamba”.
A respeito do uso desse termo, é correto afirmar:
- No texto I, machamba refere-se a um matagal, em sentido denotativo; no texto II, ao papel de esposa de Sarnau, em sentido conotativo.
- No texto I, machamba possui sentido literal, referindo-se às terras para cultivo; no texto II, o sentido é figurado, referindo-se ao útero de Sarnau.
- No texto I, machamba possui sentido figurado, referindose à colheita; no texto II, o sentido é literal, referindo-se a um problema.
- Em ambos os textos, machamba apresenta sentido literal e refere-se a um terreno agrícola de produção familiar.
- Em ambos os textos, machamba possui sentido figurado e refere-se às terras férteis ocupadas pelos portugueses.
02. (Fuvest 2024) Nos excertos, os escritores moçambicanos descrevem, cada um em seu contexto, cenas de violência. Sobre elas, é correto afirmar:
- Luís Bernardo Honwana descreve uma cena de violência psicológica velada do capataz contra a mulher, sem que ela perceba a agressão sofrida.
- Luís Bernardo Honwana expõe a violência social de que a mulher é vítima ao relatar uma discussão acalorada que ela trava com o capataz.
- Luís Bernardo Honwana narra uma luta física entre o capataz e a mulher, a qual tenta resistir à agressão sofrida, mas acaba por consentir com a relação.
- Paulina Chiziane apresenta elementos narrativos que permitem identificar a agressão psicológica e física praticada, pelo marido, contra a mulher.
- Paulina Chiziane associa a violência contra a mulher a um processo educativo que visa zelar pela estabilidade da relação conjugal e pela felicidade do casal.
03. (Unicamp 2023) Conheço um povo sem poligamia: o povo macua. Este povo deixou as suas raízes e apoligamou-se por influência da religião. Islamizou-se. (...) Conheço um povo de tradição poligâmica: o meu, do sul do meu país. Inspirado no papa, nos padres e nos santos, disse não à poligamia.
Cristianizou-se. Jurou deixar os costumes bárbaros de casar com muitas mulheres para tornar-se monógamo ou celibatário. (...) Um dia dizem não aos costumes, sim ao cristianismo e à lei. No momento seguinte, dizem não onde disseram sim, ou sim onde disseram não.
(CHIZIANE, Paulina. Niketche. Uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 92.)
Baseando-se no excerto e na leitura da obra, é correto afirmar que
- a organização familiar é fruto da vida religiosa dos povos, cabendo assim a monogamia aos povos cristãos e a poligamia aos povos islâmicos.
- os costumes culturais no modo de organizar os arranjos familiares são colocados em xeque por novas estruturas de poder, as quais transmitem outros valores.
- a monogamia aparece como evolução natural aos costumes supostamente bárbaros de os homens se casarem com muitas mulheres em determinadas culturas africanas.
- o povo macua tornou-se monogâmico depois de abraçar a fé cristã trazida pelo papa e padres, o que pode ser considerado um aprimoramento social.
04. (UNICAMP 2025) “Vou ao espelho tentar descobrir o que há de errado em mim. Vejo olheiras negras no meu rosto, meu Deus, grandes olheiras! Tendo andado a chorar muito por estes dias, choro até de mais”.
(CHIZIANE, Paulina. Niketche. Uma história de Poligamia. São Paulo: Companhia das Letras [Companhia de Bolso], p. 14, 2021.)
“Lembro-me ainda do temor de minha mãe nos dias de fortes chuvas. Em cima da cama (...) ela nos protegia com seu abraço (...). Nesses momentos os olhos de minha mãe se confundiam com os olhos da natureza. Chovia, chorava! Chorava, chovia! Então, por que eu não conseguia lembrar a cor dos olhos dela?”
(EVARISTO, Conceição. Olhos D’água. Rio de Janeiro: Pallas; Fundação Biblioteca Nacional, p. 17-18, 2016.)
A partir da leitura dos trechos e da compreensão do todo da narrativa, podemos afirmar que, comparativamente, os textos exprimem,
- pelo par “olheiras/abraço”, o medo feminino diante dos problemas econômicos e ecológicos do Sul Global.
- pelo par “espelho/águas”, o narcisismo feminino em um ambiente sociocultural altamente desigual.
- pela relação entre as águas e as lágrimas, a submissão feminina diante dos problemas econômicos e ecológicos do Sul Global.
- pela relação entre as águas e as lágrimas, o desamparo feminino em um ambiente sociocultural altamente desigual.