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Estórias Abensonhadas, Mia Couto

Lista de 04 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Estórias Abensonhadas, Mia Couto com questões de Vestibulares.


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01. (UNEMAT) O cego Estrelinho era pessoa de nenhuma vez: sua história poderia ser contada e descontada não fosse seu guia, Gigito Efraim. A mão de Gigito conduziu o desvistado por tempos e idades. Aquela mão era repartidamente comum, extensão de um no outro, siamensal. E assim era quase de nascença. Memória de Estrelinho tinha cinco dedos e eram os de Gigito postos, em aperto, na sua própria mão.

O cego, curioso, queria saber de tudo. Ele não fazia cerimônia no viver. O sempre lhe era pouco e o tudo insuficiente. Dizia, deste modo:

- Tenho que viver já, senão esqueço-me.

(...)

Foi no mês de dezembro que levaram Gigitinho. Lhe tiraram do mundo para pôr na guerra: obrigavam os serviços militares. O cego reclamou: que o moço inatingia a idade. E que o serviço que ele a si prestava era vital e vitalício.

COUTO, Mia. Estórias abensonhadas. São Paulo: Cia das Letras, 2012.

O conto “O cego Estrelinho”, do livro Estórias abensonhadas, do escritor moçambicano Mia Couto, narra a história do cego e seu guia, Gigito Efraim. Quando Gigito é convocado a ir para a guerra, Estrelinho sente-se perdido.

Considerando o excerto acima, o enredo e o desenvolvimento da narrativa, assinale a alternativa correta.

  1. Quando Infelizmina se apaixona por Estrelinho, ela morre de tristeza.
  2. Quando Gigito parte para a guerra, Infelizmina, sua irmã, torna-se guia de Estrelinho.
  3. Quando seu guia parte para a guerra, Estrelinho se desencanta para sempre com a vida.
  4. Quando Gigito retorna da guerra, reencontra o amigo Estrelinho, e volta a ser seu guia.
  5. Quando perguntam-lhe, Gigito diz que prefere a guerra a voltar ser guia de Estrelinho.

02. (UNEMAT) O cego Estrelinho era pessoa de nenhuma vez: sua história poderia ser contada e descontada não fosse seu guia, Gigito Efraim. A mão de Gigito conduziu o desvistado por tempos e idades. Aquela mão era repartidamente comum, extensão de um no outro, siamensal. E assim era quase de nascença. Memória de Estrelinho tinha cinco dedos e eram os de Gigito postos, em aperto, na sua própria mão.

O cego, curioso, queria saber de tudo. Ele não fazia cerimônia no viver. O sempre lhe era pouco e tudo insuficiente. Dizia, deste modo:

- Tenho que viver já, senão esqueço-me.

Gigitinho, porém, o que descrevia era o que não havia.

O mundo que ele minuciava eram fantasias e rendilhados. A imaginação do guia era mais profícua que papaeira. O cego enchia a boca de águas:

- Que maravilhação esse mundo. Me conte tudo, Gigito!

A mão do guia era, afinal, o manuscrito da mentira. Gigito Efraim estava como nunca esteve S. Tomé: via para não crer. O condutor falava pela ponta dos dedos. Desfolhava o universo, aberto em folhas. A ideação dele era tal que mesmo o cego, por vezes, acreditava ver.

(...)

COUTO, Mia. “O cego Estrelinho”. In: Estórias Abensonhadas. Portugal; Editotial caminho, 1994, pp.29 -30.

No excerto acima, retirado do conto “O cego Estrelinho”, é possível afirmar que Mia Couto utiliza de um procedimento estilístico para a construção narrativa, o da intertextualidade, que consiste no estabelecimento de relação com um texto já existente. Assim, Mia Couto traz um diálogo com um ditado popular “Ver para crer”, atribuído a São Tomé, um dos discípulos de Jesus Cristo na tradição cristã, que trazia como prerrogativa acreditar somente em algo concreto, naquilo que poderia ser visto ou constatado por ele. No entanto, Mia Couto traz nesse conto um sentido invertido desse ditado popular, ao invés da afirmação “Ver para crer”. Após sabermos que Gigito descrevia um mundo que não existia para o cego Estrelinho, o narrador afirma que “Gigito Efraim estava como nunca esteve S. Tomé: via para não crer”.

Diante de tal constatação, considera-se que

  1. ao inverter o sentido do ditado popular nesse conto, Mia Couto está radicalmente fazendo uma ruptura com uma tradição popular que não é de origem africana e sim cristã.
  2. o uso do procedimento da intertextualidade nessa narrativa vem colocar Mia Couto como um escritor que radicaliza a forma tradicional da escrita do gênero conto.
  3. é possível vislumbrar nesse conto dois tipos de visão, uma mais realista e a outra mais inventiva. A primeira se caracteriza pelo relato de uma realidade mais crua e dura, tal qual seria a descrição do mundo em que as personagens viviam, um mundo de miséria, de guerra e, para Estrelinho um mundo de escuridão, de cegueira. A outra visão, responsável pelo mundo inventado por Gigito, seria caracterizado pela representação de um mundo ideal, um mundo que poderia existir se não houvesse guerra.
  4. No conto, o significado da inversão de sentido do ditado popular “Ver para crer” em “via para não crer” se refere ao ato do personagem Estrelinho fingir acreditar na descrição do mundo de fantasias que Gigito lhe contava.
  5. Mia Couto traz uma crítica negativa a um mundo que “foge da realidade”, pois para ele é necessário viver a vida tal como ela é, viver no mundo como ele está, (mesmo sendo este mundo cheio de miséria e falta), para que o homem não se iluda por um mundo de fantasias que o tiram de sua verdadeira vida.

03. (PUC-GO) Leia com atenção o fragmento do conto O padre surdo, de Mia Couto:

Escrevo como Deus: direito mas sem pauta. Quem me ler que desentorte as palavras. Alinhada só a morte. O resto tem as duas margens da dúvida. Como eu, feito de raças cruzadas. Meu pai, português, cabelos e olhos loiros. Minha mãe era negra, retintinha. Nasci, assim, com pouco tom na pele, muita cor na alma.

Falo de Deus com respeito mas sem crença. Em menino, não entrei em igreja nem sequer para banho de batismo. Culpa de meu pai. Reza, dizia ele, só serve para estragar calças. Em sua suspeita a igreja devia ser lugar pouco saudável.

— Pois mal se entra nela, dois passos dados e já se cai de joelhos!? Na escola, o padre me ponteirava: esse deve ser filho das chuvas. Não comparece em catequese, nem há doutrina que se lhe conheça. E aconselhava os restantes miúdos a me guardar afastamento:

— Fruto estragado deve sair do saco.

O conselho era seguido. Me evitavam. Hoje sei que não era por obediência ao padre. Eu estava só por razão de minha raça. Como escrito de Deus que a chuva manchara. Sim, o professor tinha razão: eu era filho da chuva.

(COUTO, Mia. O padre surdo. Estórias abensonhadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 131.)

Assinale a alternativa correta em relação ao modo como o narrador se apresenta nesse fragmento:

  1. O narrador confirma que Deus escreve certo por linhas tortas ao enunciar a sua bem sucedida vida de escritor.
  2. O narrador coloca em Deus a culpa por viver só e em dificuldade para estabelecer relações com os colegas.
  3. O narrador apresenta como escreve e como suas características étnicas interferiram no modo como era visto pelas pessoas.
  4. O narrador mostra-se indiferente ao fato de a sua ascendência familiar influenciar a sua relação com a religiosidade.

04. (UNEMAT) “Estou sentado junto da janela olhando a chuva que cai há três dias. Que saudade me fazia o molhado tintintinar do chuvisco. A terra perfumegante semelha a mulher em véspera de carícia. Há quantos anos não chovia assim? De tanto durar, a seca foi emudecendo a nossa miséria. O céu olhava o sucessivo falecimento da terra, e em espelho, se via morrer. A gente se indaguava: será que ainda podemos recomeçar, será que a alegria ainda tem cabimento?

Agora, a chuva cai, cantarosa, abençoada. O chão, esse indigente indígena, vai ganhando variedades de belezas. Estou espreitando a rua como se estivesse à janela do meu inteiro país. Enquanto, lá fora, se repletam os charcos a velha Tristereza vai arrumando o quarto.”

COUTO, Mia. “Chuva: a abensonhada”. In: Estórias abensonhadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 43.

Há mais de 20 anos (a primeira edição é de 1994), Mia Couto publicou o livro Estórias abensonhadas, uma coletânea de 26 contos. As estórias transitam entre os temas de fins da guerra, de tradições moçambicanas e de utopias que povoam aquele momento do país. Neste livro, no conto Chuva: a abensonhada, o autor articula esses temas numa linguagem poética e criativa, instaurando assim uma nova realidade, desafiando a lógica que predomina na relação entre as pessoas e o mundo.

Considerando o conto Chuva: a abensonhada, assinale a alternativa correta.

  1. A casa é referência limitada do narrador e da personagem Tristereza, que estão enclausurados no passado, sem possibilidade de um recomeço.
  2. A chuva é o motivo do pensamento do narrador, que vê nela a possibilidade de renovação e transformações positivas.
  3. O narrador não é uma pessoa letrada, pois utiliza palavras que não existem, como perfumegante, Tristereza e indaguava.
  4. A narrativa é conduzida por muitas personagens que aparecem como secundárias no desenvolvimento da ação.
  5. A presença de palavras como céu, terra, rua, país é um indicativo da vontade do narrador de participar da guerra.

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