Conto Marcha Fúnebre, de Machado de Assis
Lista de 04 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Conto Marcha Fúnebre, de Machado de Assis com questões de Vestibulares.
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Para responder às questões de 01 a 04, leia o trecho do conto “Marcha fúnebre”, de Machado de Assis, que integra a coletânea Relíquias de casa velha.
O deputado Cordovil não podia pregar olho uma noite de agosto de 186… Viera cedo do Cassino Fluminense, depois da retirada do imperador, e durante o baile não tivera o mínimo incômodo moral nem físico. Ao contrário, a noite foi excelente; tão excelente que um inimigo seu, que padecia do coração, faleceu antes das dez horas, e a notícia chegou ao Cassino pouco depois das onze.
Naturalmente concluis que ele ficou alegre com a morte do homem, espécie de vingança que os corações adversos e fracos tomam em falta de outra. Digo-te que concluis mal; não foi alegria, foi desabafo. A morte vinha de meses, era daquelas que não acabam mais, e moem, mordem, comem, trituram a pobre criatura humana. Cordovil sabia dos padecimentos do adversário. Alguns amigos, para o consolar de antigas injúrias, iam contar-lhe o que viam ou sabiam do enfermo, pregado a uma cadeira de braços, vivendo as noites horrivelmente, sem que as auroras lhe trouxessem esperanças, nem as tardes desenganos. Cordovil pagava-lhes com alguma palavra de compaixão, que o alvissareiro adotava, e repetia, e era mais sincera naquele que neste. Enfim acabara de padecer; daí o desabafo.
Este sentimento pegava com a piedade humana. Cordovil, salvo em política, não gostava do mal alheio. Quando rezava, ao levantar da cama: “Padre Nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome, venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; perdoa as nossas dívidas, como nós perdoamos aos nossos devedores...” não imitava um de seus amigos que rezava a mesma prece, sem todavia perdoar aos devedores, como dizia de língua; esse chegava a cobrar além do que eles lhe deviam, isto é, se ouvia maldizer de alguém, decorava tudo e mais alguma coisa e ia repeti-lo a outra parte. No dia seguinte, porém, a bela oração de Jesus tornava a sair dos lábios da véspera com a mesma caridade de ofício.
Cordovil não ia nas águas desse amigo; perdoava deveras. Que entrasse no perdão um tantinho de preguiça, é possível, sem aliás ser evidente. Preguiça amamenta muita virtude. Sempre é alguma coisa minguar força à ação do mal. Não esqueça que o deputado só gostava do mal alheio em política, e o inimigo morto era inimigo pessoal. Quanto à causa da inimizade, não a sei eu, e o nome do homem acabou com a vida.
— Coitado! descansou, disse Cordovil.
(Machado de Assis. Contos: uma antologia, 1998.)
01. (UEA-SIS-2 2025) No segundo parágrafo, o narrador informa que Cordovil recebia visitas de amigos que lhe traziam informações sobre o estado de saúde do homem que, por fim, veio a falecer. A motivação desses amigos era
- tranquilizar Cordovil, dizer que o homem ainda vivia e que possivelmente ainda viveria muito.
- oferecer a Cordovil o prazer de saber que seu inimigo sofria e não demoraria a morrer.
- levar conforto emocional a Cordovil, que sofria por saber que o inimigo não viveria muito tempo.
- convencer Cordovil de que, ao contrário do que ele imaginava, o homem morreria em breve.
- acusar Cordovil de ser responsável pelo padecimento e pela morte iminente do inimigo.
02. (UEA-SIS-2 2025) Considerando o contexto, constitui exemplo de eufemismo o verbo sublinhado em:
- “Digo-te que concluis mal; não foi alegria, foi desabafo.” (2º parágrafo)
- “Cordovil sabia dos padecimentos do adversário.” (2º parágrafo)
- “Cordovil, salvo em política, não gostava do mal alheio.” (3º parágrafo)
- “Cordovil não ia nas águas desse amigo; perdoava deveras.” (4º parágrafo)
- “— Coitado! descansou, disse Cordovil.” (5º parágrafo)
03. (UEA-SIS-2 2025) O narrador recorre a uma expressão coloquial no seguinte trecho:
- “ele ficou alegre com a morte do homem” (2o parágrafo).
- “Cordovil sabia dos padecimentos do adversário” (2o parágrafo).
- “Cordovil não ia nas águas desse amigo” (4o parágrafo).
- “o deputado só gostava do mal alheio em política” (4o parágrafo).
- “o inimigo morto era inimigo pessoal” (4o parágrafo)
04. (UEA-SIS-2 2025) Adjetivo é a palavra que atribui uma característica a um substantivo. Por exemplo, na frase “Ao contrário, a noite foi excelente” (1º parágrafo), “excelente” é um adjetivo que qualifica “noite”.
A oração sublinhada funciona como um adjetivo em:
- “um inimigo seu, que padecia do coração , faleceu antes das dez horas” (1º parágrafo).
- “Digo-te que concluis mal ” (2º parágrafo).
- “iam contar-lhe o que viam ou sabiam do enfermo ” (2º parágrafo).
- “Quando rezava , ao levantar da cama” (3º parágrafo).
- “perdoa as nossas dívidas, como nós perdoamos aos nossos devedores ” (3º parágrafo)