Luís Fernando Verissimo
Lista de 11 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Luís Fernando Verissimo com questões de Vestibulares.
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01. (PUC-Campinas) Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler, entre outros, sonharam com a pan-Europa que, com a inclusão de mais dez países, se tornou uma realidade irreversível. Os antecedentes da União Europeia são assim, alguns mais respeitáveis do que outros. Durante muito tempo depois da tentativa de Carlos Magno de substituir o império romano pelo seu, uma identidade europeia se definia mais pelo que não era do que pelo que era: cristã e não muçulmana, civilizada em vez de bárbara (e, portanto, com o direito de subjugar e europeizar os bárbaros − isto é, o resto do mundo).
(Luis Fernando Verissimo. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008)
Num processo de colonização, o colonizador vê o nativo como um elemento a ser não apenas fisicamente dominado, mas também como alguém a quem deve impor ideias e convicções. Exemplo disso ocorreu, entre nós, com
- a utilização didática do teatro, pelo Padre Anchieta, com a finalidade de conversão do gentio.
- o empenho com que o poeta Gregório de Matos satirizava os costumes populares da cidade da Bahia.
- a influência exercida pelos poetas clássicos sobre os nossos escritores arcádicos.
- os romances de José de Alencar, inteiramente tributários da tradição literária portuguesa.
- a poesia de Castro Alves, cujo vigor se deveu aos modelos literários dos iluministas franceses.
02. (UNESP) Para responder à questão, leia a crônica de Luis Fernando Verissimo.
Esta ideia para um conto de terror é tão terrível que, logo depois de tê-la, me arrependi. Mas já estava tida, não adiantava mais. Você, leitor, no entanto, tem uma escolha. Pode parar aqui, e se poupar, ou ler até o fim e provavelmente nunca mais dormir. Vejo que decidiu continuar. Muito bem, vamos em frente. Talvez, posta no papel, a ideia perca um pouco do seu poder de susto. Mas não posso garantir nada. É assim:
Um casal de velhos mora sozinho numa casa. Já criaram os filhos, os netos já estão grandes, só lhes resta implicar um com o outro. Retomam com novo fervor uma discussão antiga. Ela diz que ele ronca quando dorme, ele diz que é mentira.
— Ronca.
— Não ronco.
— Ele diz que não ronca — comenta ela, impaciente, como se falasse com uma terceira pessoa.
Mas não existe outra pessoa na casa. Os filhos raramente visitam. Os netos, nunca. A empregada vem de manhã, faz o almoço, deixa o jantar feito e sai cedo. Ficam os dois sozinhos.
— Eu devia gravar os seus roncos, pra você se convencer — diz ela. E em seguida tem a ideia infeliz. — É o que eu vou fazer! Esta noite, quando você dormir, vou ligar o gravador e gravar os seus roncos.
— Humrfm — diz o velho.
Você, leitor, já deve estar sentindo o que vai acontecer. Pare de ler, leitor. Eu não posso parar de escrever. As ideias não podem ser desperdiçadas, mesmo que nos custem amigos, a vida ou o sono. Imagine se Shakespeare tivesse se horrorizado com suas próprias ideias e deixado de escrevê- -las, por puro comedimento. Não que eu queira me comparar a Shakespeare. Shakespeare era bem mais magro. Tenho que exercer este ofício, esta danação. Você, no entanto, não é obrigado a me acompanhar, leitor. Vá passear, vá tomar sol. Uma das maneiras de controlar a demência solta no mundo é deixar os escritores falando sozinhos, exercendo sozinhos a sua profissão malsã, o seu vício solitário. Você ainda está lendo. Você é pior do que eu, leitor. Você tinha escolha.
Sozinhos. Os velhos sozinhos na casa. Os dois vão para a cama. Quando o velho dorme, a velha liga o gravador. Mas em poucos minutos a velha também dorme. O gravador fica ligado, gravando. Pouco depois a fita acaba.
Na manhã seguinte, certa do seu triunfo, a velha roda a fita. Ouvem-se alguns minutos de silêncio. Depois, alguém roncando.
— Rará! — diz a velha, feliz.
Pouco depois ouve-se o ronco de outra pessoa. A velha também ronca!
— Rará! — diz o velho, vingativo.
E em seguida, por cima do contraponto de roncos, ouve- -se um sussurro. Uma voz sussurrando, leitor. Uma voz indefinida. Pode ser de homem, de mulher ou de criança. A princípio — por causa dos roncos — não se distingue o que ela diz. Mas aos poucos as palavras vão ficando claras. São duas vozes. É um diálogo sussurrado.
“Estão prontos?”
“Não, acho que ainda não…”
“Então vamos voltar amanhã…”
(Luis Fernando Verissimo. O suicida e o computador, 1992.)
Na composição de sua crônica, Luis Fernando Verissimo lança mão dos seguintes procedimentos estilísticos que caracterizam a prosa madura do escritor Machado de Assis:
- inclusão do leitor na narrativa e recurso à metalinguagem.
- estilo digressivo e discurso apoiado em argumentos científicos.
- discurso socialmente engajado e recurso à intertextualidade.
- argumentação de teor moralizante e interlocução explícita com o leitor.
- discurso de caráter místico e recurso ao sobrenatural.
03. (UFRN) O livro Comédias para se ler na escola, de Luís Fernando Veríssimo, pode ser considerado um livro de crônicas porque seus textos
- abordam situações cotidianas com uma linguagem simples.
- apresentam com humor temas fundamentais da história do país.
- retratam fatos históricos com uma linguagem sóbria.
- registram, com uma linguagem formal, temas do dia a dia
04. (UERJ) A QUESTÃO REFERE-SE A CRÔNICAS DO LIVRO AS MENTIRAS QUE OS HOMENS CONTAM, DE LUIS FERNANDO VERISSIMO (Rio de Janeiro: Objetiva, 2015).
Em diversas crônicas do livro, o autor constrói uma relação entre as noções de verdade e mentira, enfraquecendo a distinção entre esses termos.
Essa relação pode ser caracterizada como:
- paradoxal
- necessária
- imaginária
- natural
05. (PUC-Campinas) Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler, entre outros, sonharam com a pan-Europa que, com a inclusão de mais dez países, se tornou uma realidade irreversível. Os antecedentes da União Europeia são assim, alguns mais respeitáveis do que outros. Durante muito tempo depois da tentativa de Carlos Magno de substituir o império romano pelo seu, uma identidade europeia se definia mais pelo que não era do que pelo que era: cristã e não muçulmana, civilizada em vez de bárbara (e, portanto, com o direito de subjugar e europeizar os bárbaros − isto é, o resto do mundo).
(Luis Fernando Verissimo. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008)
Simpatizante dos ideais socialistas, o poeta Carlos Drummond de Andrade enaltece a bravura dos que resistem às invasões promovidas por Adolf Hitler, tal como se vê nestes versos:
- As cidades podem vencer, Stalingrado! Penso na vitória das cidades, que por enquanto é [apenas uma fumaça subindo do Volga.
- Adeus, minha presença, meu olhar e minhas veias [grossas, meus sulcos no travesseiro, minha sombra no muro [(...)
- Será outro país? O governo o pilhou? O tempo o [corrompeu? No país dos Andrades, secreto latifúndio, a tudo pergunto e invoco; mas o escuro soprou; e [ninguém me secunda.
- Dançai, meus irmãos! A morte virá depois como um sacramento.
- Os desiludidos do amor estão desfechando tiros no peito. Do meu quarto ouço a fuzilaria.
06. (UFRN) Os trechos abaixo são as frases iniciais de crônicas de Luís Fernando Veríssimo presentes no livro Comédias para se ler na escola. Identifique em qual deles há um tratamento metalinguístico.
- “Sou fascinado pela linguagem náutica, embora minha experiência no mar se resuma a algumas passagens em transatlânticos, onde a única linguagem técnica que você precisa saber é “a que horas servem o bufê?” (“O jargão”, p. 67)
- “Esta idéia para um conto de terror é tão terrível que, logo depois de tê-la, me arrependi. Mas já estava tida, não adiantava mais. Você, leitor, no entanto, tem uma escolha. Pode parar aqui, e se poupar, ou ler até o fim e provavelmente nunca mais dormir.” (“Sozinhos”, p. 33)
- “Sandrinha nunca esqueceu o seu primeiro dia na redação. Os olhares que recebeu quando se encaminhou para a mesa do editor. De curiosidade. De superioridade. Ou apenas indiferença. Do editor não recebeu olhar nenhum.” (“A novata”, p. 79)
- “Quando a gente aprende a ler, as letras, nos livros, são grandes. Nas cartilhas – pelo menos nas cartilhas do meu tempo – as letras eram enormes. Lá estava o A, como uma grande tenda. O B, com seu grande busto e sua barriga ainda maior.” (“ABC”, p. 113)
07. (UFRN) Leia o fragmento a seguir, extraído da crônica “Vivendo e...”, de Luis Fernando Veríssimo.
Na verdade, deve-se revisar aquela antiga frase. É vivendo e desaprendendo. Não falo daquelas coisas que deixamos de fazer porque não temos mais as condições físicas e a coragem de antigamente, como subir em bonde andando – mesmo porque não há mais bondes andando. Falo da sabedoria desperdiçada, das artes que nos abandonaram.
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva. 2001, p. 46.
A alteração que o autor faz no ditado popular “Vivendo e aprendendo” evidencia certo sentimento de
- nostalgia.
- revolta.
- incompreensão.
- arrependimento.
Para responder às questões de 08 a 11, leia a crônica “A decadência do Ocidente”, de Luis Fernando Verissimo.
O doutor ganhou uma galinha viva e chegou em casa com ela, para alegria de toda a família. O filho mais moço, inclusive, nunca tinha visto uma galinha viva de perto. Já tinha até um nome para ela — Margarete — e planos para adotá-la, quando ouviu do pai que a galinha seria, obviamente, comida.
— Comida?!
— Sim, senhor.
— Mas se come ela?
— Ué. Você está cansado de comer galinha.
— Mas a galinha que a gente come é igual a esta aqui?
— Claro.
Na verdade o guri gostava muito de peito, de coxa e de asa, mas nunca tinha ligado as partes ao animal. Ainda mais aquele animal vivo ali no meio do apartamento.
O doutor disse que queria a galinha ao molho pardo. Há anos que não comia uma galinha ao molho pardo. A empregada sabia como se preparava galinha ao molho pardo? A mulher foi consultar a empregada. Dali a pouco o doutor ouviu um grito de horror vindo da cozinha. Depois veio a mulher dizer que ele esquecesse a galinha ao molho pardo.
— A empregada não sabe fazer?
— Não só não sabe fazer, como quase desmaiou quando eu disse que precisava cortar o pescoço da galinha. Nunca cortou um pescoço de galinha. Era o cúmulo. Então a mulher que cortasse o pescoço da galinha.
— Eu?! Não mesmo!
O doutor lembrou-se de uma velha empregada da sua mãe. A Dona Noca. Não só cortava pescoços de galinhas, como fazia isto com uma certa alegria assassina. A solução era a Dona Noca.
— A Dona Noca já morreu — disse a mulher.
— O quê?!
— Há dez anos.
— Não é possível! A última galinha ao molho pardo que eu comi foi feita por ela.
— Então faz mais de dez anos que você não come galinha ao molho pardo. Alguém no edifício se disporia a degolar a galinha. Fizeram uma rápida enquete entre os vizinhos. Ninguém se animava a cortar o pescoço da galinha. Nem o Rogerinho do 701, que fazia coisas inomináveis com gatos.
— Somos uma civilização de frouxos! — sentenciou o doutor. Foi para o poço do edifício e repetiu:
— Frouxos! Perdemos o contato com o barro da vida! E a Margarete só olhando.
(Luis Fernando Verissimo. A mãe do Freud, 1997.)
08. (Albert Einstein) A voz do personagem mescla-se intimamente à voz do narrador, configurando o chamado discurso indireto livre, no seguinte trecho:
- “— Mas a galinha que a gente come é igual a esta aqui?” (6º parágrafo).
- “Depois veio a mulher dizer que ele esquecesse a galinha ao molho pardo. / — A empregada não sabe fazer?” (9º /10º parágrafos).
- “— Somos uma civilização de frouxos! — sentenciou o doutor.” (21º parágrafo).
- “Foi para o poço do edifício e repetiu: / — Frouxos! Perdemos o contato com o barro da vida!” (22º /23º parágrafos).
- “Há anos que não comia uma galinha ao molho pardo. A empregada sabia como se preparava galinha ao molho pardo?” (9º parágrafo).
09. (Albert Einstein) No período composto “Não só cortava pescoços de galinhas, como fazia isto com uma certa alegria assassina.” (14º parágrafo), há duas orações conectadas por uma relação de
- adição.
- condição.
- tempo.
- proporção.
- comparação.
10. (Albert Einstein) Ao se transpor a oração “Fizeram uma rápida enquete entre os vizinhos.” (20º parágrafo) para a voz passiva sintética, a forma verbal resultante será:
- Fariam.
- Fez-se.
- Fizeram-se.
- Tinham feito.
- Far-se-ia.
11. (Albert Einstein) O termo sublinhado em “— Mas a galinha que a gente come é igual a esta aqui?” (6º parágrafo) pertence à mesma classe gramatical daquele sublinhado em:
- “Alguém no edifício se disporia a degolar a galinha.” (20º parágrafo).
- “O doutor ganhou uma galinha viva e chegou em casa com ela, para alegria de toda a família.” (1º parágrafo).
- “Ninguém se animava a cortar o pescoço da galinha.” (20º parágrafo).
- “Depois veio a mulher dizer que ele esquecesse a galinha ao molho pardo.” (9º parágrafo).
- “O doutor disse que queria a galinha ao molho pardo.” (9º parágrafo).