Carlos Drummond de Andrade
Lista de 20 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Carlos Drummond de Andrade com questões de Vestibulares.
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01. (ITA 2023) Leia atentamente os versos destacados de “Canto ao homem do povo Charlie Chaplin”, de Carlos Drummond de Andrade. Em seguida, assinale a alternativa correta.
E falam as flores que tanto amas quando pisadas,
falam os tocos de vela, que comes na extrema penúria,
falam a mesa, os botões,
os instrumentos do ofício e as mil coisas
aparentemente fechadas,
cada troço, cada objeto do sótão, quanto mais
obscuros mais falam.
- a linguagem é pouco elaborada, pois visa a descrever materialmente a realidade, desprovida de qualidades estéticas.
- são versos livres, de ritmo fluido, nos quais a elaboração da linguagem busca tirar os objetos cotidianos da banalidade.
- a dimensão estética do cotidiano é apagada pela fama da pessoa a quem o poema é dedicado, elogiada nos versos.
- a métrica desses versos é rígida, para imitar a forma geométrica dos objetos descritos.
- o uso das rimas raras e do ritmo afastado da linguagem comum transfigura a realidade material em uma dimensão estética rebuscada, de difícil acesso para o leitor.
02. (ITA 2023) Leia atentamente as declarações de I a III, que tratam da poesia de Carlos Drummond de Andrade. Em seguida, assinale a alternativa correta.
I. O poeta transita entre a construção gramatical normativa e o experimentalismo modernista com a linguagem, o que pode ser verificado nos seguintesversos: “camabel camabel o vale ecoa/ sobre o vazio de ondalit/ a noite asfáltica/ plkx” (“Os materiais da vida”).
II. A linguagem, na poesia de Drummond, vale-se quase sempre de coloquialismos e desvios gramaticais, subvertendo a norma culta por completo, o que pode ser verificado nos seguintes versos: “Lutar com palavras/ é a luta mais vã./ Entanto lutamos mal rompe a manhã.” (“O lutador”).
III. Drummond segue à risca a gramática normativa, da qual rigorosamente nunca diverge, o que pode ser verificado nos seguintes versos: “No meio do caminho tinha uma pedra/ tinha uma pedra no meio do caminho/ tinha uma pedra/ no meio do caminho tinha uma pedra.”
- I é correta.
- II é correta.
- III é correta.
- Todas são corretas.
- Nenhuma é correta.
03. (ITA 2023) Leia atentamente os versos destacados de “Cantiga de enganar”, de Carlos Drummond de Andrade. Em seguida, assinale a alternativa correta.
Meu bem, assim acordados,
assim lúcidos, severos,
ou assim abandonados,
deixando-nos à deriva
levar na palma do tempo
— mas o tempo não existe —,
sejamos como se fôramos
num mundo que fosse: o Mundo.
- os versos confirmam, sem sombra de dúvidas, que a lucidez não só é impossível neste mundo, como também a realidade é enlouquecedora.
- lidos em conjunto com o título do poema, os versos exprimem certa ironia em relação à condição humana na realidade do mundo.
- os versos são típicos da indiferença do eu lírico, característica da poética de Drummond frente à inevitabilidade da morte em um mundo sombrio e apocalíptico.
- no contexto do poema, os versos exprimem a negação da condição de abandono do ser humano.
- no contexto da obra, os versos exemplificam o tema da busca da riqueza material, segundo o preceito do carpe diem.
04. (ITA 2023) Assinale a alternativa que complementa corretamente a seguinte afirmação: “Os poemas da seção ‘NA PRAÇA DE CONVITES’, da Antologia Poética, de Carlos Drummond de Andrade, tematizam o cotidiano...
- com um leve e alegre tom simpático e pitoresco, como nos versos: “Imenso trabalho nos custa a flor./ Por menos de oito contos vendê-la? Nunca.” (“Anúncio da rosa”).
- com ênfase na crença em relação ao progresso social do mundo moderno, como nos versos: “Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota/ e adiar para outro século a felicidade coletiva.” (“Elegia 1938”).
- de forma a fugir do registro banal ou meramente anedótico, procurando captar a realidade a partir das inquietações e, por vezes, do inconformismo do eu lírico: ‘Calo-me, espero, decifro./ As coisas talvez melhorem./ São tão fortes as coisas!/ Mas eu não sou as coisas e me revolto.” (“Nosso tempo”).
- propondo a análise dos problemas do Brasil segundo os princípios da literatura naturalista, isto é, de maneira objetiva e científica, como ilustram os versos: “Eis meu pobre elefante/ pronto para sair/ à procura de amigos/ num mundo enfastiado/ que já não crê nos bichos/ e duvida das coisas.” (“O elefante”).
- da perspectiva da literatura prosélita, que defendia um nacionalismo ingênuo e panfletário, como atestam os versos: “O mar batia em meu peito, já não batia no cais./ A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu/ a cidade sou eu/ sou eu a cidade/ meu amor.” (“Coração numeroso”).
05. (UEA - SIS) Leia o trecho do poema “Eu, etiqueta”, de Carlos Drummond de Andrade.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando1
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua.
(www.sociologia.seed.pr.gov.br)
1 açambarcar: tomar com exclusividade.
O trecho do poema faz uma crítica à
- padronização da sociedade, intensificada pelo processo de globalização.
- valorização de costumes ocidentais, difundida pela internet no período da Guerra Fria.
- disputa econômica entre as empresas mundiais, favorecida pelo capitalismo comercial.
- divisão internacional do trabalho, marcada pelo estabelecimento da seguridade social.
- dinâmica das redes imateriais e materiais, ampliada pelos acordos comerciais supranacionais.
06. (FUVEST) O SOBREVIVENTE
Impossível compor um poema a essa altura da evolução
[da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de
[verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as
[necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda
falta muito para atingirmos um nível
razoável de cultura. Mas até lá, felizmente,
estarei morto.
Os homens não melhoraram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heroicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo
[dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema.)
Carlos Drummond de Andrade. Alguma Poesia, 1930.
Entre o primeiro e o último verso, há uma aparente contradição, que, todavia, não se sustenta porque
- os entraves à plenitude lírica são removidos.
- os trovadores ainda inspiram os enamorados.
- a sabedoria controla o poder das máquinas.
- os heróis sempre ressuscitam neste mundo.
- a poesia resiste à negatividade do seu tempo.
07. (UECE) Leia atentamente o seguinte excerto extraído do poema A Máquina do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade:
“[...] As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge
distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados
e as paixões e os impulsos e os tormentos
e tudo o que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeber
no sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar
na estranha ordem geométrica de tudo [...]”.
O trecho do poema, acima apresentado, se articula
com o conceito de
- primeira natureza.
- ecossistema.
- meio ambiente.
- meio técnico-científico.
08. (U. de Caxias do Sul) Leia o poema que segue.
Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?
Fonte: ANDRADE, C. D. Alguma Poesia. Belo Horizonte: Edições Pindorama, 1930.
Esse poema pode ser interpretado como uma crítica à vida moderna e acelerada que tem entre suas consequências os congestionamentos e outros transtornos causados pela falta de mobilidade urbana, afinal, passar alguns minutos ou horas “parado” no trânsito faz parte da rotina de quem vive ou trabalha nas grandes cidades.
Sobre Carlos Drummond de Andrade, é correto afirmar que
- tem a obra poética dividida em quatro fases, sendo que a gauche é caracterizada pelo pessimismo, individualismo, isolamento, reflexão existencial, ironia e metalinguagem.
- faz parte da terceira geração modernista, denominada geração de 45, sendo duramente criticado pela falta de engajamento social e por retroceder em relação às conquistas de 1922.
- apresenta preocupação com o rigor formal, a precisão vocabular, o verso curto e os paralelismos sintáticos, explorando temas como a fugacidade do tempo e a efemeridade das coisas.
- combina, influenciado por filosofias orientais, espiritualidade com um modo sutil de perceber o universo, o que explica a utilização de versos curtos, leves, suaves e imagéticos.
- concilia o profano e o sagrado ao produzir uma poesia mística, mas, ao mesmo tempo, erótica, tendo a mulher como uma de suas principais fontes de inspiração.
09. (UPF) Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Sobre o poema “Quadrilha”, incluído em Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade, apenas é correto afirmar que:
- O sentimentalismo do eu lírico evidencia-se no tom de lamento e no vocabulário típico da retórica romântica.
- O título “Quadrilha” explicita que os atos das personagens são criminosos, ao provocarem decepções e acontecimentos trágicos.
- Na estrutura do poema, percebe-se a inexistência dos traços que caracterizam a estética modernista.
- O desencanto do eu lírico, quando fala do seu próprio destino, explica a completa ausência de humor nos versos.
- A temática das relações amorosas marcadas por desencontros é abordada de forma direta e por meio da linguagem coloquial.
10. (Universidade Estadual do Tocantins) Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor.
Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida.
[...]
Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me.
Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. Rio de Janeiro, José Olympio, 1985. p. 80.
Analise as afirmativas a seguir.
I. A coesão referencial é responsável por criar um sistema de relações entre palavras e expressões dentro de um texto.
II. A coesão referencial permite que o leitor identifique os termos do texto aos quais os elementos coesivos se referem.
III. Nos fragmentos do conto Furto de flor, de Carlos Drummond de Andrade, os termos em destaque evidenciam a progressão textual, sendo portanto, um caso de coesão sequencial.
IV. Os termos em destaque nos fragmentos do conto Furto de flor, de Carlos Drummond de Andrade, estabelecem a coesão referencial anáfora.
Pela leitura e análise das afirmações, conclui-se que estão corretas:
- I, II e III, apenas.
- II e III, apenas.
- I e IV, apenas.
- I, II e IV, apenas.
- I, II, III e IV.
11. (UEA) Leia um fragmento do poema Eu, etiqueta, de Carlos Drummond de Andrade.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, premência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
(Carlos Drummond de Andrade. Corpo, 1984.)
Pela leitura dos versos, pode-se concluir corretamente que, para o poeta, o ser humano
- adquire produtos impróprios e inadequados para sua faixa etária.
- paga valores mais altos por produtos que tragam frases estampadas.
- costuma manter-se alheio às imposições ditadas pela moda.
- compra compulsivamente, embora não tenha recursos para isso.
- consome porque é subjugado pelo poder da publicidade.
12. (PUC-Campinas) Como epígrafe de seu livro Claro enigma, de 1951, Carlos Drummond de Andrade valeu-se de uma frase do poeta francês Paul Valéry, que pode ser traduzida como “Os acontecimentos me aborrecem”.
Tal declaração faz jus ao sentido mais especulativo e reflexivo de uma poesia na qual o poeta prefere se ver
- à margem dos fatos históricos e das escolhas políticas que marcaram seu livro A rosa do povo, de 1945.
- empenhado no cultivo de formas poéticas de vanguarda, agora já permanentes e radicalizadas.
- envolvido pelas memórias longínquas de sua infância, vazadas em linguagem clara e direta.
- como um simples memorialista mineiro, capaz de armar com sensibilidade análises da vida provinciana.
- como um artista fantasioso, capaz de imaginar e habitar territórios poéticos até então desconhecidos dele.
13. (UESB) O texto seguinte servirá de base para responder a questão.
Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade
Acesso em: https://www.culturagenial.com/maiores-poemas-literatura-brasileira/
No texto de Carlos Drummond de Andrade, "Os ombros suportam o mundo", o eu lírico está:
- forte, visto que suporta as dificuldades que o mundo impõe sem esmorecer.
- decepcionado pela traição de amigos e de parceiras supostamente fiéis.
- esperançoso por dias melhores, já que evoca Deus no primeiro verso do texto.
- ansioso por mudanças no mundo, uma vez que a sociedade aparenta felicidade.
- cansado de uma vida sem amigos, sem fé alguma e sem amores.
14. (ITA) A respeito da obra de Carlos Drummond de Andrade, é incorreto afirmar que
- a sua poética mantém uma relação ambígua com a memória, com traços de esperança, embora sem saudosismo ou idealização, como atestam os versos: “Pois de tudo fica um pouco./ Fica um pouco de teu queixo/ no queixo de tua filha.” (“Resíduo”).
- ( ) não é sua característica tratar do amor como luxúria carnal que intensifica a dor de amar, conforme atestam os versos: “Não cantarei amores que não tenho,/ e, quando tive, nunca celebrei.” (“Nudez”).
- não é marcada por terna evocação saudosista do passado, como atestam os versos: “E de tudo fica um pouco./ Oh abre os vidros de loção/ e abafa/ o insuportável mau cheiro da memória.” (“Resíduo”).
- o poeta jamais demonstra dúvidas relativamente ao amor, conforme atestam os versos: “Amarei mesmo Fulana?/ ou é ilusão de sexo?” (“O mito”).
- o poeta não evita o tema da memória e só trata da expectativa do futuro, como atestam os versos: “Amanhecem de novo as antigas manhãs/ que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.” (“Campo de flores”).
15. (PUC-GO) Analise o fragmento do texto de Carlos Drummond:
Março, 12 – Tanto trabalho para redigir a carta de resposta a uma diretora de serviço público que me mandou observações sobre uma crônica que publiquei no Jornal do Brasil. Problema: achar o tom adequado, a palavra justa, a expressão medida e insubstituível nem mais nem menos. Chego à conclusão de que escritor é aquele que não sabe escrever, pois quem não sabe escreve sem esforço. Já Manoel Bandeira era de outra opinião: “Se você faz uma coisa com dificuldade, é que não tem jeito para ela”. Duvido.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. O observador no escritório. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2020, p. 199. Grifos do autor)
Assinale a única alternativa correta que apresenta o principal problema abordado por Drummond nesse texto:
- O Autor afirma que, para conseguir uma adequação vocabular que garanta coerência e clareza no texto, é necessário empenho na seleção vocabular.
- O escritor afirma que tanto ele quanto Manoel Bandeira comungam das mesmas ideias sobre saber escrever qualquer que seja o tipo de escrita.
- O escritor sentiu-se ofendido com as observações feitas pela diretora de serviço público a uma crônica sua, publicada no Jornal do Brasil.
- O Autor expõe que o emprego das palavras é soberano, pois a servidão a elas é atenuada, sobretudo na área da literatura.
16. (Unioeste) Tendo por base o livro Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade, assinale a alternativa INCORRETA.
- É uma obra produzida sob o signo da modernidade de 1922, e pode ser observado, dentre seus poemas, a prática do poema-piada, a utilização de coloquialismos e temas relacionados à vida cotidiana.
- Em Alguma poesia é possível notar a oposição dos modernistas às tendências simbolistas e parnasianas.
- O eu retorcido, o amor, as questões sociais e o crescente progresso que transforma as cidades são temas que se fazem presentes na obra citada.
- Um dos poemas mais importantes da obra Alguma poesia é “Quadrilha”, que desnuda a condição social de violência gerada pela miséria das populações menos privilegiadas do Brasil.
- Poemas consagrados de Carlos Drummond de Andrade, como “No meio do caminho”, “Quadrilha” e “Poema de sete faces” fazem parte da obra intitulada Alguma poesia.
17. (FUVEST) Remissão
Tua memória, pasto de poesia,
tua poesia, pasto dos vulgares,
vão se engastando numa coisa fria
a que tu chamas: vida, e seus pesares.
Mas, pesares de quê? perguntaria,
se esse travo de angústia nos cantares,
seo que dorme na base da elegia
vai correndo e secando pelos ares,
e nada resta, mesmo, do que escreves
e te forçou ao exílio das palavras,
senão contentamento de escrever,
enquanto o tempo, e suas formas breves
ou longas, que sutil interpretavas,
se evapora no fundo do teu ser?
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.
Claro enigma apresenta, por meio do lirismo reflexivo, o posicionamento do escritor perante a sua condição no mundo.
Considerando-o como representativo desse seu aspecto, o poema “Remissão”
- traduz a melancolia e o recolhimento do eu lírico em face da sensação de incomunicabilidade com uma realidade indiferente à sua poesia.
- revela uma perspectiva inconformada, mesclando-a, livre da indulgência dos anos anteriores, a um novo formalismo estético.
- propõe, como reação do poeta à vulgaridade do mundo, uma poética capaz de interferir na realidade pelo viés nostálgico.
- reflete a visão idealizada do trabalho do poeta e a consciência da perenidade da poesia, resistente à passagem do tempo.
- realiza a transição do lirismo social para o lirismo metafísico, caracterizado pela adesão ao conforto espiritual e ao escapismo imaginativo.
18. (UFU) Produzido nos anos de 1943-45, no contexto da Segunda Guerra Mundial, o livro A rosa do povo solidifica características centrais da poética de Carlos Drummond de Andrade e o consagra como um dos mestres da poesia modernista brasileira.
Sob essa perspectiva, leia o poema “Consolo na praia” e assinale a alternativa que explicita corretamente como os traços distintivos do Modernismo de Drummond representam, no texto em análise, o momento histórico da guerra
Consolo na praia
Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
ANDRADE, C. D. de. A rosa do povo. 21. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2000, pp. 128-12.
- Com métrica irregular e versos brancos, a musicalidade do poema é obtida pela repetição de sons e de formas sintáticas. Essa simplicidade visa tornar acessível a mensagem politicamente engajada do poema contra os regimes nazifascistas.
- A destrutividade da guerra transparece no poema por meio de imagens que remetem à negação e à frustração, deixando uma marca de pessimismo não vista na poesia anterior de Drummond, que era inspirada no otimismo pelos tempos modernos.
- A metáfora da nudez na beira do mar remete ao indianismo, revelando um desejo de retorno ao início da nação brasileira, à era da cultura indígena, quando o ser humano era inocente e ainda não havia a crueldade da guerra moderna.
- Ao longo do poema, a intensidade das perdas e das falhas é temperada por uma sutil ironia (o “humour”), o que moderniza o lirismo tradicional e abre espaço para uma possível resistência do sujeito perante as angústias do momento histórico.
19. (Universidade de Passo Fundo) Infância
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
— Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
Sobre “Infância”, que integra a obra Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade, apenas é incorreto afirmar que:
- O eu lírico guarda na lembrança cenas agradáveis de sua infância, comparando sua história à de Robinson Crusoé.
- Desde a sua primeira estrofe, o texto constrói a imagem de uma criança que é leitora de obras literárias.
- A voz da preta velha, símbolo de aconchego para o menino, também remete à situação vivida por ela no passado, quando era escrava.
- Verifica-se, no poema, a presença do discurso direto e da linguagem coloquial.
- A mãe e o pai mantêm-se atentos e próximos aos filhos, a fim de garantirem o seu bem-estar.
20. (FUVEST) Cantiga de enganar
(...)
O mundo não tem sentido.
O mundo e suas canções
de timbre mais comovido
estão calados, e a fala
que de uma para outra sala
ouvimos em certo instante
é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
no negrume circundante.
Silêncio: que quer dizer?
Que diz a boca do mundo?
Meu bem, o mundo é fechado,
se não for antes vazio.
O mundo é talvez: e é só.
Talvez nem seja talvez.
O mundo não vale a pena,
mas a pena não existe.
Meu bem, façamos de conta.
De sofrer e de olvidar,
de lembrar e de fruir,
de escolher nossas lembranças
e revertê‐las, acaso
se lembrem demais em nós.
Façamos, meu bem, de conta
– mas a conta não existe –
que é tudo como se fosse,
ou que, se fora, não era.
(...)
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.
Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva do sujeito maduro, já afastado das ilusões, como se lê no verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.” (“Legado”).
O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo mediada
- pela música, que ressoa em canções líricas.
- pela cor, brilhante na claridade solar.
- pela afirmação de valores sólidos.
- pela memória, que corre fluida no tempo.
- pelo despropósito de um faz‐de‐conta.