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Narração e Descrição

Lista de 20 exercícios de Linguagens com gabarito sobre o tema Narração e Descrição (conto, crônica, biografia, relato, carta, e-mail, diário e notícas), com questões do Enem.


Você pode conferir as videoaulas, conteúdo de teoria, e mais questões sobre o tema Narração e Descrição.




01. (Enem 2024) As reações à sétima temporada foram o ápice do último estágio em Game of Thrones. De forma alguma, este que vos fala seria capaz de argumentar que a série é perfeita, mas os defeitos que existem aqui sempre existiram, de uma forma ou de outra, durante os sete anos em que ela esteve no ar. Os dois roteiristas foram brilhantes em traduzir os personagens intrincados e conflituosos da obra de George R. R. Martin, mas nunca souberam exatamente como fazer jus a eles (e especialmente a elas, as mulheres da trama).

A verdade é que, com tudo isso e mais Ramin Djawadi evocando sentimentos e ambientes improváveis com sua trilha sonora magistral, a série não conseguiria ser ruim nem se tentasse, mas continua sendo uma pena que, ao buscar o seu final com tanta sede e tanta celeridade, Benioff e Weiss tenham tirado sua qualidade mais preciosa: o fôlego, a paciência e o detalhismo que faziam suas palavras se levantarem do papel e ganharem vida.

Disponível em: https://observatoriodocinema.uol.com.br. Acesso em: 29 nov. 2017 (adaptado).

Ainda que faça uma avaliação positiva da série, nessa resenha, o autor aponta aspectos negativos da obra ao utilizar

  1. marcas de impessoalidade que disfarçam a opinião do especialista.
  2. expressões adversativas para fazer ressalvas às afirmações elogiosas.
  3. interlocução com o leitor para corroborar opiniões contrárias à adaptação.
  4. eufemismos que minimizam as críticas feitas à construção das personagens.
  5. antíteses que opõem a fragilidade do roteiro à beleza da trilha sonora da série.

Resposta: B

Resolução: O autor utiliza expressões adversativas, como "mas" e "ainda que", para fazer ressalvas a pontos específicos da série Game of Thrones, elogiando alguns aspectos, mas também destacando suas falhas. Essa estrutura adversativa permite que o autor elogie a série enquanto critica o apressamento da última temporada e outros detalhes que afetaram negativamente a qualidade da narrativa.

02. (Enem 2024) Já ouvi gente falando que o podcast é o renascimento do rádio. O rádio é genial, uma midia imorredoura, mas podcast não tem nada a ver com ele. O formato está mais próximo do ensaio literário do que de um programa de ondas curtas, médias ou longas.

Podcasts são antípodas das redes sociais. Enquanto elas são dispersivas, levam à evasão e à desinformação, os podcasts são uma possibilidade de imersão, concentração, aprendizado. Depois que eles surgiram, lavar a louça e me locomover pela cidade viraram um programaço. Um pós-almoço de domingo e aprendo tudo sobre bonobos e gorilas. Um táxi pro aeroporto e chego ao embarque PhD em reforma tributária.

PRATA, A. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 7 jan. 2024 (adaptado).

Segundo a argumentação construída nesse texto, o podcast

  1. provoca dispersão da atenção em seu público.
  2. funciona por meio de uma frequência de ondas curtas.
  3. propicia divulgação de conhecimento para seus usuários.
  4. tem um formato de interação semelhante ao das redes sociais.
  5. constitui uma evolução na transmissão de informações via rádio.

Resposta: C

Resolução: A argumentação do texto de Antonio Prata defende que os podcasts promovem uma experiência de concentração e aprendizado, ao contrário das redes sociais, que são descritas como dispersivas. A alternativa correta é a C: "propicia divulgação de conhecimento para seus usuários", pois o texto aponta que os podcasts permitem uma imersão que favorece o aprendizado e o acesso a informações variadas.

03. (Enem 2024) Conheça histórias de atletas paralímpicas que trocaram de modalidade durante a carreira esportiva

Jane Karla: a goiana de 45 anos teve poliomielite aos três anos, o que prejudicou seus movimentos das pernas. Em 2003, iniciou no tênis de mesa e conseguiu conquistar títulos nacionais e internacionais. Mas conheceu o tiro com arco e, em 2015, optou por se dedicar somente à nova modalidade. Em seu ano de estreia no tiro, já faturou a medalha de ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto 2015.

Elizabeth Gomes: a santista de 55 anos era jogadora de vôlei quando foi diagnosticada com esclerose múltipla em 1993. Ingressou no Movimento Paralímpico pelo basquete em cadeira de rodas até experimentar o atletismo. Chegou a praticar as duas modalidades simultaneamente até optar pelas provas de campo em 2010. No Campeonato Mundial de Atletismo, realizado em Dubai, em 2019, Beth se sagrou campeã do lançamento de disco e estabeleceu um novo recorde mundial da classe F52.

Silvana Fernandes: a paraibana de 21 anos é natural de São Bento e nasceu com malformação no braço direito. Aos 15 anos, começou a praticar atletismo no lançamento de dardo. Em 2018, enquanto competia na regional Norte-Nordeste, foi convidada para conhecer o paratae kwon do. No ano seguinte, migrou para a modalidade e já faturou o ouro na categoria até 58 kg nos Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019.

Disponível em: https://cpb.org.br. Acesso em: 15 jan. 2024 (adaptado).

Esse conjunto de minibiografias tem como propósito

  1. descrever as rotinas de treinamento das atletas.
  2. comparar os desempenhos de atletas de alto rendimento.
  3. destacar a trajetória profissional de atletas paralímpicas brasileiras.
  4. indicar as categorias mais adequadas a adaptações paralímpicas.
  5. estimular a participação de mulheres em campeonatos internacionais.

Resposta: C

Resolução: As minibiografias narram a trajetória das atletas paralímpicas brasileiras, enfatizando suas mudanças de modalidade e conquistas, destacando suas carreiras. Portanto, a alternativa correta é C, que indica o propósito de “destacar a trajetória profissional de atletas paralímpicas brasileiras”.

04. (Enem 2024) Marília acorda Tomo café em golinhos para não queimar meus lábios ressequidos. Como pão em pedacinhos para não engasgar com um farelo mais duro. Marília come também, mas olha o tempo todo para baixo. Parece que tem um acanhamento novo entre a gente. Termino. Olho mais uma vez pela janela. O dia está bom. Quero caminhar pelo pátio. Marília levanta, pega o andador e põe ao lado da cama. Ela sabe que eu quero levantar sozinha, e levanto. O lance de escadas, apesar de pequeno, ainda me causa problemas, mas não quero um elevador na casa e não vou tolerar descer uma rampa de cadeira de rodas. Marília abre a porta e saímos para a manhã. O dia está mais fresco do que eu imaginava. Ela pega uma manta de tricô que temos desde não sei quando e põe sobre as minhas costas. Ela aperta meus ombros com muita força, porque mesmo depois de todos esses anos, não descobriu a medida certa do carinho. Eu gosto. Porque entendo que naquele ato, naquela força está o nosso carinho.

POLESSO, N. B. Amora. Porto Alegre: Não Editora, 2015.

Nesse trecho, o drama do declínio físico da narradora transmite uma sensibilidade lírica centrada na

  1. necessidade de fazer adaptações na casa.
  2. atmosfera de afeto fortalecido pelo convívio.
  3. condição de dependência de outras pessoas.
  4. determinação de manter a regularidade da rotina.
  5. aceitação das restrições de mobilidade da personagem

Resposta: B

Resolução: O trecho revela uma atmosfera de carinho e proximidade entre a narradora e Marília. Esse vínculo afetivo é enfatizado pelos pequenos gestos e pela compreensão mútua que desenvolveram ao longo dos anos, destacando um afeto que se fortaleceu pelo convívio diário e pela parceria, sem focar na dependência ou nas adaptações físicas.

05. (Enem 2024) Meu irmão é filho adotivo. Há uma tecnicidade no termo, filho adotivo, que contribui para sua aceitação social. Há uma novidade que por um átimo o absolve das mazelas do passado, que parece limpá-lo de seus sentidos indesejáveis. Digo que meu irmão é filho adotivo e as pessoas tendem a assentir com solenidade, disfarçando qualquer pesar, baixando os olhos como se não sentissem nenhuma ânsia de perguntar mais nada. Talvez compartilhem da minha inquietude, talvez de fato se esqueçam do assunto no próximo gole ou na próxima garfada. Se a inquietude continua a reverberar em mim, é porque ouço a frase também de maneira parcial – meu irmão é filho – e é difícil aceitar que ela não termine com a verdade tautológica habitual: meu irmão é filho dos meus pais. Estou entoando que meu irmão é filho e uma interrogação sempre me salta aos lábios: filho de quem?

FUCKS, J. A resistência. São Paulo: Cia. das Letras, 2015. Das reflexões do narrador, apreende-se uma perspectiva que associa a adoção

  1. a representações sociais estigmatizadas da parentalidade.
  2. à necessidade de aprovação por parte de desconhecidos.
  3. ao julgamento velado de membros do núcleo familiar.
  4. ao conflito entre o termo técnico e o vínculo afetivo.
  5. a inquietações próprias das relações entre irmãos

Resposta: D

Resolução: A reflexão do narrador sugere um conflito entre a definição técnica do termo "filho adotivo" e a relação afetiva que existe entre irmãos e pais. Essa perspectiva associa a adoção ao conflito entre o termo técnico e o vínculo afetivo, que não se limita a conceitos legais, mas a um sentimento de pertencimento e identidade familiar.

06. (Enem 2024) Volta e meia recebo cartinhas de fãs, e alguns são bem jovens, contando como meu trabalho com a música mudou a vida deles. Fico no céu lendo essas coisas e me emociono quando escrevem que não são aceitos pelos pais por serem diferentes, e como minhas músicas são uma companhia e os libertam nessas horas de solidão.

Sinto que é mais complicado ser jovem hoje, já que nunca tivemos essa superpopulação no planeta: haja competitividade, culto à beleza, ter filho ou não, estudar, ralar para arranjar trabalho, ser mal remunerado, ser bombardeado com trocentas informações, lavagens cerebrais...

Queria dar beijinhos e carinhos sem ter fim nessa moçada e dizer a ela que a barra é pesada mesmo, mas que a juventude está a seu favor e, de repente, a maré de tempestade muda. Diria também um monte de clichê: que vale apena estudar mais, pesquisar mais, ler mais. Diria que não é sinal de saúde estar bem-adaptado a uma sociedade doente, que o que é normal para uma aranha é o caos para uma mosca.

Meninada, sintam-se beijados pela vovó Rita. RITA LEE. Outra autobiografia. São Paulo: Globo Livros, 2023.

Como estratégia para se aproximar de seu leitor, a autora usa uma postura de empatia explicitada em

  1. “Volta e meia recebo cartinhas de fãs, e alguns são bem jovens”.
  2. “Fico no céu lendo essas coisas”.
  3. “Sinto que é mais complicado ser jovem hoje”.
  4. “Queria dar beijinhos e carinhos sem ter fim nessa moçada”.
  5. “Diria que não é sinal de saúde estar bem-adaptado a uma sociedade doente”.

Resposta: C

Resolução: A alternativa C reflete a postura empática da autora, que se coloca no lugar do jovem ao reconhecer suas dificuldades e desafios. Essa frase sugere compreensão e proximidade, fortalecendo a conexão entre a autora e seu público.

07. (Enem 2024) Sempre passo nervoso quando leio minha crônica neste jornal e percebo que escapuliu a palavra “coisa” em alguma frase. Acontece que “coisa” está entre as coisas mais deliciosas do mundo.

O primeiro banho da minha filha foi embalado pela minha voz dizendo, ao fundo, “cuidado, ela ainda é uma coisinha tão pequena”. “Viu só que amor? Nunca vi coisa assim”. O amor que não dá conta de explicação é “a coisa” em seu esplendor e excelência. “Alguma coisa acontece no meu coração” é a frase mais bonita que alguém já disse sobre São Paulo. E quando Caetano, citado aqui pela terceira vez pra defender a dimensão poética da coisa, diz “coisa linda”, nós sabemos que nenhuma palavra definiria de forma mais profunda e literária o quão bela e amada uma coisa pode ser.

“Coisar” é verbo de quem está com pressa ou tem lapsos de memória. É pra quando “mexe qualquer coisa dentro doida”. E que coisa magnífica poder se expressar tal qual Caetano Veloso. Agora chega, porque “esse papo já tá qualquer coisa” e eu já tô “pra lá de Marrakech”.

TATI BERNARDI. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 3 jan. 2024 (adaptado).

O recurso utilizado na progressão textual para garantir a unidade temática dessa crônica é a

  1. intertextualidade, marcada pela citação de versos de letras de canções.
  2. metalinguagem, marcada pela referência à escrita de crônicas pela autora.
  3. reiteração, marcada pela repetição de uma determinada palavra e de seus cognatos.
  4. conexão, marcada pela presença dos conectores lógico “quando” e “porque” entre orações.
  5. pronominalização, marcada pela retomada de “minha filha” e “um namorado ruim” pelos pronomes “ela” e “lo”.

Resposta: C

Resolução: A unidade temática da crônica de Tati Bernardi é garantida pela repetição da palavra “coisa” e de seus cognatos. Esse recurso linguístico é chamado de "reiteração", pois a palavra "coisa" é repetida com variações ao longo do texto para construir a ideia central. A alternativa correta é a C: "reiteração, marcada pela repetição de uma determinada palavra e de seus cognatos".

08. (Enem 2023) Alguém muito recentemente cortara o mato, que na época das chuvas crescia e rodeava a casa da mãe de Ponciá Vicêncio e de Luandi. Havia também vestígios de que a terra fora revolvida, como se ali fosse plantar uma pequena roça. Luandi sorriu.

A mãe devia estar bastante forte, pois ainda labutava a terra. Cantou alto uma cantiga que aprendera com o pai, quando eles trabalhavam na terra dos brancos. Era uma canção que os negros mais velhos ensinavam aos mais novos. Eles diziam ser uma cantiga de voltar, que os homens, lá na África, entoavam sempre, quando estavam regressando da pesca, da caça ou de algum lugar.

O pai de Luandi, no dia em que queria agradar à mulher, costumava entoar aquela cantiga ao se aproximar de casa. Luandi não entendia as palavras do canto; sabia, porém, que era uma língua que alguns negros falavam ainda, principalmente os velhos. Era uma cantiga alegre. Luandi, além de cantar, acompanhava o ritmo batendo com as palmas das mãos em um atabaque imaginário.

Estava de regresso à terra. Voltava em casa. Chegava cantando, dançando a doce e vitoriosa cantiga de regressar.

EVARISTO, C. Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas, 2018.

A leitura do texto permite reconhecer a “cantiga de voltar’ como patrimônio linguístico que

  1. representa a memória de uma língua africana extinta.
  2. exalta a rotina executada por jovens afrodescendentes.
  3. preserva a ancestralidade africana por meio da tradição oral.
  4. resgata a musicalidade africana por meio de palavras inteligíveis.
  5. remonta à tristeza dos negros mais velhos com saudade da África.

09. (Enem 2023) Mais iluminada que outras

Tenho dois seios, estas duas coxas, duas mãos que me são muito úteis, olhos escuros, estas duas sobrancelhas que preencho com maquiagem comprada por dezenove e noventa e orelhas que não aceitam bijuterias. Este corpo é um corpo faminto, dentado, cruel, capaz e violento. Movo os braços e multidões correm desesperadas.

Caminho no escuro com o rosto para baixo, pois cada parte isolada de mim tem sua própria vida e não quero domá-las. Animal da caatinga. Forte demais. Engolidora de espadas e espinhos.

Dizem e eu ouvi, mas depois também li, que o estado do Ceará aboliu a escravidão quatro anos antes do restante do país. Todos aqueles corpos que eram trazidos com seus dedos contados, seus calcanhares prontos e seus umbigos em fogo, todos eles foram interrompidos no porto. Um homem – dizem e eu ouvi e depois também li – liderou o levante. E todos esses corpos foram buscar outros incômodos. Foram ser incomodados.

ARRAES, J. Redemoinho em dia quente.

São Paulo: Alfaguara, 2019.

Nesse texto, os recursos expressivos usados pela narradora

  1. revelam as marcas da violência de raça e de gênero na construção da identidade.
  2. questionam o pioneirismo do estado do Ceará no enfrentamento à escravidão.
  3. reproduzem padrões estéticos em busca da valorização da autoestima feminina.
  4. sugerem uma atmosfera onírica alinhada ao desejo de resgate da espiritualidade.
  5. mimetizam, na paisagem, os corpos transformados pela violência da escravidão.

10. (Enem 2023) Ainda daquela vez pude constatar a bizarrice dos costumes que constituíam as leis mais ou menos constantes do seu mundo: ao me aproximar, verifiquei que o Sr. Timóteo, gordo e suado, trajava um vestido de franjas e lantejoulas que pertencera a sua mãe.

O corpete descia-lhe excessivamente justo na cintura, e aqui e ali rebentava através da costura um pouco da carne aprisionada, esgarçando a fazenda e tornando o prazer de vestir-se daquele modo uma autêntica espécie de suplício.

Movia-se ele com lentidão, meneando todas as suas franjas e abanando-se vigorosamente com um desses leques de madeira de sândalo, o que o envolvia numa enjoativa onda de perfume. Não sei direito o que colocara sobre a cabeça, assemelhava-se mais a um turbante ou a um chapéu sem abas de onde saíam vigorosas mechas de cabelos alourados.

Como era costume seu também, trazia o rosto pintado — e para isto, bem como para suas vestimentas, apoderara-se de todo o guarda-roupa deixado por sua mãe, também em sua época famosa pela extravagância com que se vestia — o que sem dúvida fazia sobressair-lhe o nariz enorme, tão característico da família Meneses.

CARDOSO, L. Crônica da casa assassinada. São Paulo: Círculo do Livro, s.d.

Pela voz de uma empregada da casa, a descrição de um dos membros da família exemplifica a renovação da ficção urbana nos anos 1950, aqui observada na

  1. opção por termos e expressões de sentido ambíguo.
  2. crítica social inspirada pelo convívio com os patrões.
  3. descrição impressionista do fetiche do personagem.
  4. presença de um foco narrativo de caráter impreciso.
  5. ambiência de mistério das relações entre familiares.

11. (Enem 2023) Dão Lalalão

Do povoado do Ão, ou dos sítios perto, alguém precisava urgente de querer vir por escutar a novela do rádio. Ouvia-a, aprendia-a, guardava na ideia, e, retornado ao Ão, no dia seguinte, a repetia a outros, Assim estavam jantando, vinham os do povoado receber a nova parte da novela do rádio. Ouvir já tinham ouvido tudo, de uma vez, fugia da regra: falhara ali no Ão, na véspera, o caminhão de um comprador de galinhas e ovos, seo Abrãozinho Buristém, que carregava um rádio pequeno, de pilhas, armara um fio no arame da cerca...

Mas queriam escutar outra vez, por confirmação. — “A estória é estável de boa, mal que acompridada: taca e não rende...” – explicava o Zuz ao Dalberto.

Soropita começou a recontar o capítulo da novela. Sem trabalho, se recordava das palavras, até com clareza — disso se admirava. Contava com prazer de demorar, encher a sala com o poder de outros altos personagens. Tomar a atenção de todos, pudesse contar aquilo noite adiante. Era preciso trazer luz, nem uns enxergavam mais os outros; quando alguém ria, ria de muito longe. O capítulo da novela estava terminando.

ROSA, J. G. Noites do sertão (Corpo de baile).

São Paulo: Global, 2021.

Nesse trecho do conto, o gosto dos moradores do povoado por ouvir a novela de rádio recontada por Soropita deve-se ao(à)

  1. qualidade do som do rádio.
  2. estabilidade do enredo contado.
  3. ineditismo do capítulo da novela.
  4. jeito singular de falar aos ouvintes.
  5. dificuldade de compreensão da história.

12. (Enem 2023) Era um gato preto, como convinha a um cultor das boas letras, que já lera Poe traduzido por Baudelaire. Preto e gordo. E lerdo. Tão gordo e lerdo que a certa altura observei que ia perdendo inteiramente as qualidades características da raça, que são em suma o ódio de morte aos ratos. Já nem os afugentava!

Os ratos de Ouro Preto são também dignos e solenes — não ria — tradicionalistas… descendentes de ratos que naqueles mesmos casarões presenciaram acontecimentos importantes da nossa história... No sobrado do desembargador Tomás Antônio Gonzaga, imagine o senhor uma reunião dos sonhadores inconfidentes, com os antepassados daqueles ratos a passearem pelo sótão ou mesmo pelo assoalho por entre as pernas dos homens absortos na esperança da independência nacional!

E depois, os ancestres daqueles roedores que eu via agora deslizar sutilmente no meu quarto podiam ter subido pelo poste da ignomínia colonial, onde estava exposta a cabeça do Tiradentes! E quando as órbitas se descarnaram ignominiosamente, podiam até ter penetrado no recesso daquele crânio onde verdadeiramente ardera a literatura, com a simplicidade do heroísmo, a febre nacionalista...

ALPHONSUS, J. Contos e novelas. Rio de Janeiro: Imago: Brasília: INL, 1976.

Descrevendo seu gato, o narrador remete ao contexto e a protagonistas da Inconfidência para criar um efeito desconcertante centrado no

  1. desenho imaginativo do casario colonial de Ouro Preto.
  2. efeito de apagamento de limites entre ficção e realidade.
  3. vinculo estabelecido entre animais urbanos e literatura.
  4. questionamento sutil quanto à sanidade dos inconfidentes.
  5. contraste entre austeridade pomposa e imagem repugnante.

13. (Enem 2023) Enquanto estivemos entretidos com os urubus outras coisas andaram acontecendo na cidade. A Companhia baixou novas proibições, umas inteiramente bobocas, só pelo prazer de proibir (ninguém podia cuspir pra cima, nem carregar água em jacá, nem tapar o sol com peneira, como se todo mundo estivesse abusando dessas esquisitices); mas outras bem irritantes, como a de pular muro pra cortar caminho tática que quase todo mundo que não sofria de reumatismo vinha adotando ultimamente, principalmente os meninos.

E não confiando na proibição só, nem na força dos castigos, que eram rigorosos, a Companhia ainda mandou fincar cacos de garra a nos muros. Achei isso um exagero, e comentei o assunto com mamãe. Meu pai ouviu lá do quarto e veio explicar.

Disse que em épocas normais bastava uma coisa ou outra, mas agora a Companhia não poda admitir nenhuma brecha em suas ordens; se alguém desobedecesse à proibição podia se cortar nos cacos; se alguém conseguisse pular um muro quebrando o corte de alguns cacos, ou jogando um couro por cima, era apanhado pela proibição, nhoc — e fez o gesto de quem torce o pescoço de um frango.

VEIGA, J. J. Sombras de reis barbudos.

Rio do Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

Sob a perspectiva do menino que narra, os fatos ficcionais oferecem um esboço do momento político vigente na década de 1970, aqui representado pelo

  1. culto ao medo, infiltrado em situações do cotidiano.
  2. sentimento de dúvida quanto à veracidade das informações.
  3. ambiente de sonho, delineado por imagens perturbadoras.
  4. incentivo ao desenvolvimento econômico com a iniciativa privada.
  5. espaço urbano marcado por uma política de isolamento das crianças.

14. (Enem 2023) Mestre e companheiro, disse eu que nos íamos despedir. Mas disse mal. A morte não extingue: transforma; não aniquila: renova; não divorcia: aproxima.

Um dia supuseste “morta e separada” a consorte dos teus sonhos e das tuas agonias, que te soubera “pôr um mundo inteiro no recanto” do teu ninho; e, todavia, nunca ela te esteve mais presente, no íntimo de ti mesmo e na expressão do teu canto, no fundo do teu ser e na face de tuas ações.

Esses catorze versos inimitáveis, em que o enlevo dos teus discípulos resume o valor de toda uma literatura, eram a aliança de ouro do teu segundo noivado, um anel de outras núpcias, para a vida nova do teu renascimento e da tua glorificação, com a sócia sem nódoa dos teus anos de mocidade e madureza, da florescência e frutificação de tua alma.

Para os eleitos do mundo das ideias a miséria está na decadência, e não na morte. A nobreza de uma nos preserva das ruínas da outra. Quando eles atravessavam essa passagem do invisível, que os conduz à região da verdade sem mescla, então é que entramos a sentir o começo do seu reino, o reino dos mortos sobre os vivos.

BARBOSA. R. O adeus da Academia a Machado de Assis.

Rio de Janeiro: Agir, 1962.

Esse é um trecho do discurso de Rui Barbosa na Academia Brasileira de Letras em homenagem a Machado de Assis por ocasião de sua morte. Uma das características desse discurso de homenagem é a presença de

  1. metáforas relacionadas à trajetória pessoal e criadora do homenageado.
  2. recursos fonológicos empregados para a valorização do ritmo do texto.
  3. frases curtas e diretas no relato da vida e da morte do homenageado.
  4. contraposição de ideias presentes na obra do homenageado.
  5. seleção vocabular representativa do sentimento de nostalgia.

15. (ENEM 2022) 10 de maio

Fui na delegacia e falei com o Tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na delegacia na primeira intimação. [...] O Tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidade de delinquir do que tornar-se util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe disto, porque não faz um relatorio e envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek, e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades.

... O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome tambem é professora.

Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças.

JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.

A partir da intimação recebida pelo filho de 9 anos, a autora faz uma reflexão em que transparece a

  1. lição de vida comunicada pelo Tenente.
  2. predisposição materna para se emocionar.
  3. atividade política marcante da comunidade.
  4. resposta irônica ante o discurso da autoridade.
  5. necessidade de revelar seus anseios mais íntimos.

16. (ENEM 2022) Firmo, o vaqueiro

No dia seguinte, à hora em que saía o gado, estava eu debruçado à varanda quando vi o cafuzo que preparava o animal viajeiro:

– Raimundinho, como vai ele?...

De longe apontou a palhoça.

– Sim.

O braço caiu-lhe, olhou-me algum tempo comovido; depois, saltando para o animal, levou o polegar à boca fazendo estalar a unha nos dentes: “Às quatro da manhã... Atirei um verso e disse, para bulir com ele: Pega, velho! Não respondeu. Tio Firmo, mesmo velho e doente, não era homem para deixar um verso no chão... Fui ver, coitado!... estava morto. E deu de esporas para que eu não lhe visse as lágrimas.

NETTO, C. In: MARCHEZAN, L. G. (Org.).

O conto regionalista. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

A passagem registra um momento em que a expressividade lírica é reforçada pela

  1. plasticidade da imagem do rebanho reunido.
  2. sugestão da firmeza do sertanejo ao arrear o cavalo.
  3. situação de pobreza encontrada nos sertões brasileiros.
  4. afetividade demonstrada ao noticiar a morte do cantador.
  5. preocupação do vaqueiro em demostrar sua virilidade.

17. (ENEM 2022) A conquista da medalha de prata por Rayssa Leal, no skate street nos Jogos Olímpicos, é exemplo da representatividade feminina no esporte, avalia a âncora do jornal da rede de televisão da CNN. A apresentadora, que também anda de skate, celebrou a vitória da brasileira, que entrou para a história como a atleta mais nova a subir num pódio defendendo o Brasil.

“Essa representatividade do esporte nos Jogos faz pensarmos que não temos que ficar nos encaixando em nenhum lugar. Posso gostar de passar notícia e, mesmo assim, gostar de skate, subir montanha, mergulhar, andar de bike, fazer yoga”.

Temos que parar de ficar enquadrando as pessoas dentro das regras. A gente vive num padrão no qual a menina ganha boneca, mas por que também não fazer um esporte de aventura? Por que o homem pode se machucar, cair de joelhos, e a menina tem que estar sempre lindinha dentro de um padrão? Acabamos limitando os talentos das pessoas”, afirmou a jornalista, sobre a prática do skate por mulheres.

Disponível em: www.cnnbrasil.com.br.

Acesso em: 31 out. 2021 (adaptado).

O discurso da jornalista traz questionamentos sobre a relação da conquista da skatista com a

  1. conciliação do jornalismo com a prática do skate.
  2. inserção das mulheres na modalidade skate street.
  3. desconstrução da noção do skate como modalidade masculina.
  4. vanguarda de ser a atleta mais jovem a subir no pódio olímpico.
  5. conquista de medalha nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

18. (ENEM 2022) Criado há cerca de 20 anos na Califórnia, o mountainboard é um esporte de aventura que utiliza uma espécie de skate off-road para realizar manobras similares às das modalidades de snowboard, surf e do próprio skate.

A atividade chegou ao Brasil em 1997 e hoje possui centenas de praticantes, um circuito nacional respeitável e mais de uma dezena de pistas espalhadas pelo país. Segundo consta na história oficial, o mountainboard foi criado por praticantes de snowboard que sentiam falta de praticar o esporte nos períodos sem neve.

Para isso, eles desenvolveram um equipamento bem simples: uma prancha semelhante ao modelo utilizado na neve (menor e um pouco menos flexível), com dois eixos bem resistentes, alças para encaixar os pés e quatro pneus com câmaras de ar para regular a velocidade que pode ser alcançada em diferentes condições.

Com essa configuração, o esporte se mostrou possível em diversos tipos de terreno: grama, terra, pedras, asfalto e areia. Além desses pisos, também é possível procurar pelas próprias trilhas para treinar as manobras.

Disponível em: www.webventure.com.br. Acesso em: 19 jun. 2019.

A história da prática do mountainboard representa uma das principais marcas das atividades de aventura, caracterizada pela

  1. competitividade entre seus praticantes.
  2. atividade com padrões técnicos definidos.
  3. modalidade com regras predeterminadas.
  4. criatividade para adaptações a novos espaços.
  5. necessidade de espaços definidos para a sua realização.

19. (ENEM 2022) Ser cronista

Sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente no assunto.

Crônica é um relato? É uma conversa? É um resumo de um estado de espírito? Não sei, pois antes de começar a escrever para o Jornal do Brasil, eu só tinha escrito romances e contos.

E também sem perceber, à medida que escrevia para aqui, ia me tornando pessoal demais, correndo o risco de em breve publicar minha vida passada e presente, o que não pretendo. Outra coisa notei: basta eu saber que estou escrevendo para jornal, isto é, para algo aberto facilmente por todo o mundo, e não para um livro, que só é aberto por quem realmente quer, para que, sem mesmo sentir, o modo de escrever se transforme.

Não é que me desagrade mudar, pelo contrário. Mas queria que fossem mudanças mais profundas e interiores que não viessem a se refletir no escrever. Mas mudar só porque isso é uma coluna ou uma crônica? Ser mais leve só porque o leitor assim o quer? Divertir? Fazer passar uns minutos de leitura? E outra coisa: nos meus livros quero profundamente a comunicação profunda comigo e com o leitor. Aqui no Jornal apenas falo com o leitor e agrada-me que ele fique agradado. Vou dizer a verdade: não estou contente.

LISPECTOR, C. In: A descoberta do mundo.

Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

No texto, ao refletir sobre a atividade de cronista, a autora questiona características do gênero crônica, como

  1. relação distanciada entre os interlocutores.
  2. articulação de vários núcleos narrativos.
  3. brevidade no tratamento da temática.
  4. descrição minuciosa dos personagens.
  5. público leitor exclusivo.

20. (ENEM 2022 PPL) O boato insiste em ser um gênero da comunicação. Um rumor pode nascer da má-fé, do mal-entendido ou de uma trapalhada qualquer. O primeiro impulso é acreditar, porque: 1 - confiamos em quem o transmite;2 - é fisicamente impossível verificar a veracidade de tudo; 3 - os meios de comunicação estão sistematicamente relapsos com a verificação de seus conteúdos e, se eles fazem isso, o que nos impede?

O boato não informa, mas ensina: mostra como uma sociedade se prepara para tomar posição. A nossa tem se aplicado na tarefa de desmantelar equipes de jornalistas que dão nome de “informação” a todo tipo de “copia e cola” difundido pela internet como se fosse um fato verídico. A comunicação atual depende, cada vez mais, do modo como vamos lidar com os rumores.

PEREIRA JR., L. C. Língua Portuguesa, n. 93, jul. 2013 (adaptado).

Em relação aos boatos que circulam ininterruptamente na internet, esse texto reconhece a importância da posição tomada pelo internauta leitor ao

  1. confiar nos contatos pessoais que transmitiram a informação.
  2. acompanhar e reproduzir o comportamento dos meios de comunicação.
  3. seguir as contas dos jornalistas nas diversas redes sociais existentes.
  4. excluir de seus contatos usuários que não confirmam a veracidade das notícias.
  5. pesquisar em diferentes mídias a veracidade das notícias que circulam na rede.

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