Reportagem
Lista de 08 exercícios de Português com gabarito sobre o tema Reportagem com questões de Vestibulares.
Você pode conferir as videoaulas, conteúdo de teoria, e mais questões sobre o tema aqui.
01. (PUC-PR) O texto a seguir é referência para a próxima questão.
Você tem medo de avião?
Muita gente tem, ao menos um pouquinho. Mas não deveria: as estatísticas mostram que, ao embarcar num avião, a sua chance de morrer é de apenas uma em dez milhões. E de hospital, você tem medo? A maioria das pessoas não tem, pois acha que nada de errado acontecerá. Só que acontece: segundo a Organização Mundial da Saúde, um em cada 300 pacientes morre por consequência de erros médicos. Ou seja, pegar um avião é 33 mil vezes mais seguro do que ser internado. Um estudo da Universidade John Hopkins constatou que o erro médico mata 251 mil pessoas por ano nos EUA (onde ele é a terceira maior causa de morte, só perdendo para o infarto e o câncer). É como se, todo santo dia, caíssem dois Boeings 747, sem deixar nenhum sobrevivente. No Brasil, o cenário pode ser ainda pior. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (Iess) estimou que, em 2015, 434 mil brasileiros tenham morrido devido a erros no atendimento médico – que são a maior causa de óbito no País.
Superinteressante, ed. 391, jul/18, p. 24.
No excerto de reportagem, há comparações entre as possibilidades de alguém ser vítima de acidente aéreo ou de erro médico.
Quanto às estratégias empregadas na mensagem, identifica-se como característica comum às realidades brasileira e norte-americana
- a mesma colocação do erro médico como maior causa de mortes anuais.
- o benefício da dúvida em relação aos números que ainda são incipientes no Brasil.
- a disparidade entre o número de casos no Brasil em comparação aos norte-americanos.
- o número alarmante de mortes de pacientes por erro médico no período de um ano.
- a sensação de fragilidade do ser humano diante da aviação e dos atendimentos em saúde.
02. (UNICAMP) Numa entrevista ao jornal El País em 26 de agosto de 2016, o jornalista Caco Barcellos comenta uma afirmação sua anterior, feita em um congresso de jornalistas investigativos, de que novos profissionais não deveriam “atuar como porta-vozes de autoridades”.
“Tenho o maior encanto e admiração e respeito pelo jornalismo de opinião. O que critiquei lá é quando isso vai para a reportagem. Não acho legítimo. O repórter tem o dever de ser preciso. Pode ser até analítico, mas não emitir juízo. Na reportagem de rua, fico imbuído, inclusive, de melhor informar o meu colega de opinião. Se eu não fizer isso de modo preciso e correto, ele vai emitir um juízo errado sobre aquele universo que estou retratando. E não só ele, mas também o advogado, o sociólogo, o antropólogo e mais para frente o historiador (...) Por exemplo, essa matança que a polícia militar provoca no cotidiano das grandes cidades brasileiras – isso é muito mal reportado pela mídia no seu conjunto. Quem sabe, lá no futuro, o historiador não passe em branco por esse momento da história. Não vai poder dizer ‘olha, os negros pobres do estado mais rico da federação estão sendo eliminados com a frequência de três por dia, um a cada oito horas’. Se o repórter não fizer esse registro preciso e contundente, a cadeia toda pode falhar, a começar pelo jornalista de opinião.”
(“Caco Barcelos: ‘Erros históricos nascem da imprecisão jornalística’ ”. El País. 26/08/2016. Entrevista concedida a Camila Moraes. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/19/cultura/1468956578_924541.html. Acessado em 13/07/2017.)
De acordo com a posição defendida por Caco Barcellos com relação a seus leitores, uma reportagem exige do jornalista
- conhecimento preciso do assunto, uma vez que seu objetivo é convencer o leitor a concordar com o que escreve para evitar que ele cometa erros.
- investigação e precisão no tratamento do assunto, porque ela vai servir de base a outros artigos, permitindo que o leitor tire suas próprias conclusões.
- investigação e precisão na abordagem dos fatos, já que ele também emite seu juízo sobre o assunto, conduzindo o leitor a aceitar a história que narra.
- conhecimento preciso dos fatos tratados, para que, no futuro, o leitor seja levado a crer que o repórter registrou sua opinião de forma equilibrada.
03. (UNESP) Crônica
Texto jornalístico desenvolvido de forma livre e pessoal, a partir de fatos e acontecimentos da atualidade, com teor literário, político, esportivo, artístico, de amenidades etc. Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari, a crônica é um meio-termo entre o jornalismo e a literatura: “do primeiro, aproveita o interesse pela atualidade informativa, da segunda imita o projeto de ultrapassar os simples fatos”. O ponto comum entre a crônica e a notícia ou a reportagem é que o cronista, assim como o repórter, não prescinde do acontecimento. Mas, ao contrário deste, ele “paira” sobre os fatos, “fazendo com que se destaque no texto o enfoque pessoal (onde entram juízos implícitos e explícitos) do autor”. Por outro lado, o editorial difere da crônica, pelo fato de que, nesta, o juízo de valor se confunde com os próprios fatos expostos, sem o dogmatismo do editorial, no qual a opinião do autor (representando a opinião da empresa jornalística) constitui o eixo do texto.
(Dicionário de comunicação, 1978.)
Segundo o verbete, uma característica comum à crônica e à reportagem é
- a relação direta com o acontecimento.
- a interpretação do acontecimento.
- a necessidade de noticiar de acordo com a filosofia do jornal.
- o desejo de informar realisticamente sobre o ocorrido.
- o objetivo de questionar as causas sociais dos fatos.
04. (UFAC) Observe o trecho abaixo:
“Você é um sundae polvilhado com Ovomaltine. Pelo menos do ponto de vista dos micróbios. Existem mais bactérias pastando pela sua pele do que gente vivendo no planeta. Para elas, seu corpo é o paraíso, um lugar cheio de oásis onde água e comida jorram o tempo todo, na forma de água, sais minerais e gordura e proteínas. Cada um dos seus poros é como um restaurante onde tudo isso sai de graça. Em troca, elas deixam seu corpo fedendo. As axilas são mais problemáticas porque são as praças de alimentação mais concorridas, com glândulas que produzem mais óleos e proteínas de que elas gostam. E isso porque a pele nem tem tantas bactérias assim, comparado com a parte de dentro. A realidade assusta. Nosso corpo é feito de 10 trilhões de células. E abriga 100 trilhões de bactérias. Da próxima vez que se olhar no espelho, lembre-se: 90% do que está ali não é você, mas uma megacivilização de micro-organismos.”
(VERSIGNASSI, A., AXT, B. Donos do mundo. Superinteressante, São Paulo, ago. 2009. Capa, p. 54)
Os autores da reportagem utilizam, logo no início desse parágrafo, uma metáfora para definir o ser humano enquanto organismo (“Você é um sundae polvilhado de Ovomaltine”). Logo adiante, explicam que é do ponto de vista das bactérias. Ao final, eles nos lembram que, ao nos olharmos no espelho, boa parte do que vemos não somos nós. Esses recursos da linguagem interessam para indicar:
- a superioridade humana sobre os microorganismos.
- a necessidade de nos arrumarmos melhor.
- que a higiene humana é a mesma em qualquer parte do planeta.
- a certeza de que os micro-organismos não podem nos fazer nenhum mal.
- uma reversão interessante da condição humana, enquanto ser vivo, da qual não nos estávamos acostumados a perceber.
05. (Enem Libras 2017) Dronalismo: notas sobre o uso de drones na produção de conteúdo jornalístico
A utilização das aeronaves remotamente pilotadas em coberturas jornalísticas tem sido discutida tanto do ponto de vista dos veículos de comunicação quanto do jornalismo cidadão, uma vez que o público encontra-se em uma posição de produção de conteúdos, podendo muitas vezes contestar o discurso da mídia tradicional. Uma questão que consideramos central no jornalismo drone é: quando utilizar esse recurso? O baixo custo da operação e a possibilidade de se obterem informações de diferentes ângulos é um grande atrativo, ainda mais em uma época em que diversos veículos encontram dificuldades em engajar uma audiência dispersa a relutante a pagar pelo conteúdo disponível na web. É importante ter-se em mente que, apesar das características extremamente favoráveis ao uso de drones no jornalismo, existe uma preocupação bastante séria com a privacidade das pessoas, e a possibilidade de se confundir reportagem com invasão e coberturas informativas com vigilância, inquietações reveladas com o surgimento das primeiras reportagens que utilizaram o recurso das aeronaves não tripuladas.
PASE, A. F.; GOSS, B. M. Disponível em: www.revistageminis.ufscar.br. Acesso em: 30 out. 2015 (adaptado).
Ao abordar os impactos do uso de drones sobre a produção de informações, o texto destaca o(a)
- impasse ético de sua utilização no jornalismo.
- descentralização da elaboração de conteúdo gerada por eles.
- receio em relação ao seu uso em matérias sensacionalistas.
- sua importância para a redução de custos de empresas de mídia.
- sua praticidade para a obtenção de imagens em lugares de difícil acesso.
06. (PUC-Campinas) Reveste-se de excepcional importância a inauguração, segunda-feira próxima, do aparelhamento de televisão das Emissoras Associadas, de São Paulo [...]. Santos, Campinas, Jundiaí e demais cidades localizadas num raio de oitenta quilômetros também foram beneficiadas, e, assim, milhões de pessoas poderão ser servidas pela TV “Associada”, a primeira a entrar em funcionamento em toda a América do Sul. [...] Ligando intimamente a televisão “Associada” à poesia, será madrinha do moderno equipamento a poetisa Rosalina Coelho Lisboa Larragoiti, devendo, também, ser catada, na ocasião, pela primeira vez a Canção da TV escrita especialmente pelo poeta Guilherme de Almeida e pelo maestro Marcelo Tupinambá. Será entregue oficialmente ao público paulista a estação televisora das "Emissoras Associadas".
(Diário de São Paulo, 16 de setembro de 1950. Apud CALDEIRA, Jorge (org) Brasil. A história contada por quem viu. São Paulo: Mameluco, 2008, p. 525)
A referência a Guilherme de Almeida na reportagem deixa ver que
- um poeta modernista aproveitou-se de uma ocasião para promover sua sátira ao desenvolvimentismo.
- a poesia serve, por vezes, à celebração de circuns tâncias e instituições.
- data da década de 1950 o início da contribuição de poetas ao cancioneiro popular.
- um poeta da geração de 45 explorou recursos de poesia concreta num improviso musical.
- a poesia lírica é sempre convocada quando se trata de manifestações públicas oficiais.
07. (UFAC) “Duas décadas sem papel higiênico ajudaram os cubanos a encontrar uma utilidade, digamos, escatológica para o jornal oficial do Partido Comunista, o Granma, e para o recém-lançado Dicionário de pensamentos de Fidel Castro, um livrão de mais de 300 páginas muito apreciado por suas folhas finas e macias. O uso sanitário das publicações do governo é tão difundido que já deu origem a uma versão bizarra da lei da oferta e da procura: no mercado paralelo, o jornal da semana passada é vendido pelo mesmo preço que o da edição do dia. Na verdade, não importa a data da publicação se a finalidade for substituir o papel higiênico. Favorito para o asseio dos cubanos, o Granma tem oito páginas (dezesseis às sextasfeiras) e 400 mil exemplares diários. Seus artigos, pura ladainha comunista, são uma enorme chatice. As notícias, distorcidas pela propaganda oficial, não têm credibilidade. Mas o diário é bastante valorizado pela qualidade absorvente do papel em que é impresso e também pelas cores firmes, que não mancham o traseiro de seus, por assim dizer, leitores.”
(TEIXEIRA, D. Até que enfim serviram para algo. Veja, São Paulo, 9 set. 2009. Ideologia, p. 98)
A reportagem acima, ressalta, em boa parte do texto, o aspecto irônico ao tratar de uma questão que deveria ser, em primeiro lugar, meramente informativa. Ao utilizar esse recurso de forma geral ele proporciona:
- um certo controle hábil do seu discurso sobre o objeto em foco.
- um desnecessário palavrório que não ajuda a entender o objeto em foco.
- uma indelicadeza com os bons propósitos de qualquer regime comunista.
- uma subestimação da criatividade cubana.
- uma crença desmedida de que os cubanos vivem em tempos muito melhores.
08. (UFAC) “Em 2006, foi condenado pelo crime em júri popular. No mesmo ano, teve a sentença confirmada pelo Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo e, dois anos mais tarde, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Como explicar o fato de que continua livre? A resposta está, sobretudo, numa mudança ideológica que começou a tomar corpo no Supremo Tribunal Federal (STF) no início dos anos 2000. Até a década de 90, o STF era composto de uma maioria de ministros ditos conservadores – termo que – em direito penal, indica aqueles que têm uma interpretação rigorosa da lei, em oposição, por exemplo, aos ‘garantistas’, mais preocupados em assegurar os direitos fundamentais do réu. Grossíssimo modo, conservadores seriam aqueles que mandam prender e garantistas, ou liberais, aqueles que mandam soltar. A partir de 2003, o colegiado de onze magistrados do STF sofreu sete substituições. O fato de quase todos os novos ministros serem liberais levou a que uma tese passasse a prevalecer nas decisões do tribunal: o princípio da presunção da inocência, segundo o qual ninguém será considerado culpado antes que todos os recursos da defesa sejam julgados. No tempo da supremacia conservadora no STF, entendia-se que uma condenação em segunda instância era suficiente para que o réu pudesse ser preso. Agora, com a hegemonia garantista, desde que ele tenha dinheiro para pagar bons advogados e entrar com sucessivos recursos na Justiça, poderá ficar solto até a palavra final do STF, ainda que isso leve quase uma década – como no caso de Pimenta Neves.”
(DINIS, L. Quase uma década de impunidade. Veja, São Paulo, 23 set. 2009. Brasil, p. 74)
No trecho da reportagem acima, a jornalista procura mostrar os mecanismos de funcionamento da justiça brasileira, a partir de um crime bárbaro e que, quase uma década depois, continua impune.
A maneira como ela desenvolve a sua argumentação leva em conta algumas minúcias, por meio de termos, que procuram driblar um pouco o peso da linguagem técnica para entender a nossa atual cultura jurídica da impunidade. Isso acontece porque:
- diante do fato inaceitável de um assassino continuar livre, ficaria mais fácil para o leitor compreender fatos que, no fundo, só aumentam a nossa indignação, já que favorecem os criminosos endinheirados.
- no entendimento da repórter, os criminosos, de alguma maneira, serão seriamente punidos.
- o leitor presumível é ingênuo, a ponto de aceitar a impunidade como algo normal.
- investe-se, no final das contas, numa maneira de descrição inteiramente voltada para a própria supremacia da linguagem técnico-jurídica.
- indiferente ao que acontecer, as tendências conservadoras ou garantistas serão legitimadas, simplesmente, na total capacidade de auto-ajuste do nosso sistema jurídico.