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Narração e Descrição

Lista de 27 exercícios de Linguagens com gabarito sobre o tema Narração e Descrição (conto, crônica, biografia, relato, carta, e-mail, diário e notícas), com questões do Enem.


Você pode conferir as videoaulas, conteúdo de teoria, e mais questões sobre o tema Narração e Descrição.




B

37. (Enem 2024) As reações à sétima temporada foram o ápice do último estágio em Game of Thrones. De forma alguma, este que vos fala seria capaz de argumentar que a série é perfeita, mas os defeitos que existem aqui sempre existiram, de uma forma ou de outra, durante os sete anos em que ela esteve no ar. Os dois roteiristas foram brilhantes em traduzir os personagens intrincados e conflituosos da obra de George R. R. Martin, mas nunca souberam exatamente como fazer jus a eles (e especialmente a elas, as mulheres da trama).

A verdade é que, com tudo isso e mais Ramin Djawadi evocando sentimentos e ambientes improváveis com sua trilha sonora magistral, a série não conseguiria ser ruim nem se tentasse, mas continua sendo uma pena que, ao buscar o seu final com tanta sede e tanta celeridade, Benioff e Weiss tenham tirado sua qualidade mais preciosa: o fôlego, a paciência e o detalhismo que faziam suas palavras se levantarem do papel e ganharem vida.

Disponível em: https://observatoriodocinema.uol.com.br. Acesso em: 29 nov. 2017 (adaptado).

Ainda que faça uma avaliação positiva da série, nessa resenha, o autor aponta aspectos negativos da obra ao utilizar

  1. marcas de impessoalidade que disfarçam a opinião do especialista.
  2. expressões adversativas para fazer ressalvas às afirmações elogiosas.
  3. interlocução com o leitor para corroborar opiniões contrárias à adaptação.
  4. eufemismos que minimizam as críticas feitas à construção das personagens.
  5. antíteses que opõem a fragilidade do roteiro à beleza da trilha sonora da série.

Resposta: B

Resolução: O autor utiliza expressões adversativas, como "mas" e "ainda que", para fazer ressalvas a pontos específicos da série Game of Thrones, elogiando alguns aspectos, mas também destacando suas falhas. Essa estrutura adversativa permite que o autor elogie a série enquanto critica o apressamento da última temporada e outros detalhes que afetaram negativamente a qualidade da narrativa.

C

41. (Enem 2024) Já ouvi gente falando que o podcast é o renascimento do rádio. O rádio é genial, uma midia imorredoura, mas podcast não tem nada a ver com ele. O formato está mais próximo do ensaio literário do que de um programa de ondas curtas, médias ou longas.

Podcasts são antípodas das redes sociais. Enquanto elas são dispersivas, levam à evasão e à desinformação, os podcasts são uma possibilidade de imersão, concentração, aprendizado. Depois que eles surgiram, lavar a louça e me locomover pela cidade viraram um programaço. Um pós-almoço de domingo e aprendo tudo sobre bonobos e gorilas. Um táxi pro aeroporto e chego ao embarque PhD em reforma tributária.

PRATA, A. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 7 jan. 2024 (adaptado).

Segundo a argumentação construída nesse texto, o podcast

  1. provoca dispersão da atenção em seu público.
  2. funciona por meio de uma frequência de ondas curtas.
  3. propicia divulgação de conhecimento para seus usuários.
  4. tem um formato de interação semelhante ao das redes sociais.
  5. constitui uma evolução na transmissão de informações via rádio.

Resposta: C

Resolução: A argumentação do texto de Antonio Prata defende que os podcasts promovem uma experiência de concentração e aprendizado, ao contrário das redes sociais, que são descritas como dispersivas. A alternativa correta é a C: "propicia divulgação de conhecimento para seus usuários", pois o texto aponta que os podcasts permitem uma imersão que favorece o aprendizado e o acesso a informações variadas.

C

10. (Enem 2024) Conheça histórias de atletas paralímpicas que trocaram de modalidade durante a carreira esportiva

Jane Karla: a goiana de 45 anos teve poliomielite aos três anos, o que prejudicou seus movimentos das pernas. Em 2003, iniciou no tênis de mesa e conseguiu conquistar títulos nacionais e internacionais. Mas conheceu o tiro com arco e, em 2015, optou por se dedicar somente à nova modalidade. Em seu ano de estreia no tiro, já faturou a medalha de ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto 2015.

Elizabeth Gomes: a santista de 55 anos era jogadora de vôlei quando foi diagnosticada com esclerose múltipla em 1993. Ingressou no Movimento Paralímpico pelo basquete em cadeira de rodas até experimentar o atletismo. Chegou a praticar as duas modalidades simultaneamente até optar pelas provas de campo em 2010. No Campeonato Mundial de Atletismo, realizado em Dubai, em 2019, Beth se sagrou campeã do lançamento de disco e estabeleceu um novo recorde mundial da classe F52.

Silvana Fernandes: a paraibana de 21 anos é natural de São Bento e nasceu com malformação no braço direito. Aos 15 anos, começou a praticar atletismo no lançamento de dardo. Em 2018, enquanto competia na regional Norte-Nordeste, foi convidada para conhecer o paratae kwon do. No ano seguinte, migrou para a modalidade e já faturou o ouro na categoria até 58 kg nos Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019.

Disponível em: https://cpb.org.br. Acesso em: 15 jan. 2024 (adaptado).

Esse conjunto de minibiografias tem como propósito

  1. descrever as rotinas de treinamento das atletas.
  2. comparar os desempenhos de atletas de alto rendimento.
  3. destacar a trajetória profissional de atletas paralímpicas brasileiras.
  4. indicar as categorias mais adequadas a adaptações paralímpicas.
  5. estimular a participação de mulheres em campeonatos internacionais.

Resposta: C

Resolução: As minibiografias narram a trajetória das atletas paralímpicas brasileiras, enfatizando suas mudanças de modalidade e conquistas, destacando suas carreiras. Portanto, a alternativa correta é C, que indica o propósito de “destacar a trajetória profissional de atletas paralímpicas brasileiras”.

B

12. (Enem 2024) Marília acorda Tomo café em golinhos para não queimar meus lábios ressequidos. Como pão em pedacinhos para não engasgar com um farelo mais duro. Marília come também, mas olha o tempo todo para baixo. Parece que tem um acanhamento novo entre a gente. Termino. Olho mais uma vez pela janela. O dia está bom. Quero caminhar pelo pátio. Marília levanta, pega o andador e põe ao lado da cama. Ela sabe que eu quero levantar sozinha, e levanto. O lance de escadas, apesar de pequeno, ainda me causa problemas, mas não quero um elevador na casa e não vou tolerar descer uma rampa de cadeira de rodas. Marília abre a porta e saímos para a manhã. O dia está mais fresco do que eu imaginava. Ela pega uma manta de tricô que temos desde não sei quando e põe sobre as minhas costas. Ela aperta meus ombros com muita força, porque mesmo depois de todos esses anos, não descobriu a medida certa do carinho. Eu gosto. Porque entendo que naquele ato, naquela força está o nosso carinho.

POLESSO, N. B. Amora. Porto Alegre: Não Editora, 2015.

Nesse trecho, o drama do declínio físico da narradora transmite uma sensibilidade lírica centrada na

  1. necessidade de fazer adaptações na casa.
  2. atmosfera de afeto fortalecido pelo convívio.
  3. condição de dependência de outras pessoas.
  4. determinação de manter a regularidade da rotina.
  5. aceitação das restrições de mobilidade da personagem

Resposta: B

Resolução: O trecho revela uma atmosfera de carinho e proximidade entre a narradora e Marília. Esse vínculo afetivo é enfatizado pelos pequenos gestos e pela compreensão mútua que desenvolveram ao longo dos anos, destacando um afeto que se fortaleceu pelo convívio diário e pela parceria, sem focar na dependência ou nas adaptações físicas.

D

28. (Enem 2024) Meu irmão é filho adotivo. Há uma tecnicidade no termo, filho adotivo, que contribui para sua aceitação social. Há uma novidade que por um átimo o absolve das mazelas do passado, que parece limpá-lo de seus sentidos indesejáveis. Digo que meu irmão é filho adotivo e as pessoas tendem a assentir com solenidade, disfarçando qualquer pesar, baixando os olhos como se não sentissem nenhuma ânsia de perguntar mais nada. Talvez compartilhem da minha inquietude, talvez de fato se esqueçam do assunto no próximo gole ou na próxima garfada. Se a inquietude continua a reverberar em mim, é porque ouço a frase também de maneira parcial – meu irmão é filho – e é difícil aceitar que ela não termine com a verdade tautológica habitual: meu irmão é filho dos meus pais. Estou entoando que meu irmão é filho e uma interrogação sempre me salta aos lábios: filho de quem?

FUCKS, J. A resistência. São Paulo: Cia. das Letras, 2015. Das reflexões do narrador, apreende-se uma perspectiva que associa a adoção

  1. a representações sociais estigmatizadas da parentalidade.
  2. à necessidade de aprovação por parte de desconhecidos.
  3. ao julgamento velado de membros do núcleo familiar.
  4. ao conflito entre o termo técnico e o vínculo afetivo.
  5. a inquietações próprias das relações entre irmãos

Resposta: D

Resolução: A reflexão do narrador sugere um conflito entre a definição técnica do termo "filho adotivo" e a relação afetiva que existe entre irmãos e pais. Essa perspectiva associa a adoção ao conflito entre o termo técnico e o vínculo afetivo, que não se limita a conceitos legais, mas a um sentimento de pertencimento e identidade familiar.

C

35. (Enem 2024) Volta e meia recebo cartinhas de fãs, e alguns são bem jovens, contando como meu trabalho com a música mudou a vida deles. Fico no céu lendo essas coisas e me emociono quando escrevem que não são aceitos pelos pais por serem diferentes, e como minhas músicas são uma companhia e os libertam nessas horas de solidão.

Sinto que é mais complicado ser jovem hoje, já que nunca tivemos essa superpopulação no planeta: haja competitividade, culto à beleza, ter filho ou não, estudar, ralar para arranjar trabalho, ser mal remunerado, ser bombardeado com trocentas informações, lavagens cerebrais...

Queria dar beijinhos e carinhos sem ter fim nessa moçada e dizer a ela que a barra é pesada mesmo, mas que a juventude está a seu favor e, de repente, a maré de tempestade muda. Diria também um monte de clichê: que vale apena estudar mais, pesquisar mais, ler mais. Diria que não é sinal de saúde estar bem-adaptado a uma sociedade doente, que o que é normal para uma aranha é o caos para uma mosca.

Meninada, sintam-se beijados pela vovó Rita. RITA LEE. Outra autobiografia. São Paulo: Globo Livros, 2023.

Como estratégia para se aproximar de seu leitor, a autora usa uma postura de empatia explicitada em

  1. “Volta e meia recebo cartinhas de fãs, e alguns são bem jovens”.
  2. “Fico no céu lendo essas coisas”.
  3. “Sinto que é mais complicado ser jovem hoje”.
  4. “Queria dar beijinhos e carinhos sem ter fim nessa moçada”.
  5. “Diria que não é sinal de saúde estar bem-adaptado a uma sociedade doente”.

Resposta: C

Resolução: A alternativa C reflete a postura empática da autora, que se coloca no lugar do jovem ao reconhecer suas dificuldades e desafios. Essa frase sugere compreensão e proximidade, fortalecendo a conexão entre a autora e seu público.

C

45. (Enem 2024) Sempre passo nervoso quando leio minha crônica neste jornal e percebo que escapuliu a palavra “coisa” em alguma frase. Acontece que “coisa” está entre as coisas mais deliciosas do mundo.

O primeiro banho da minha filha foi embalado pela minha voz dizendo, ao fundo, “cuidado, ela ainda é uma coisinha tão pequena”. “Viu só que amor? Nunca vi coisa assim”. O amor que não dá conta de explicação é “a coisa” em seu esplendor e excelência. “Alguma coisa acontece no meu coração” é a frase mais bonita que alguém já disse sobre São Paulo. E quando Caetano, citado aqui pela terceira vez pra defender a dimensão poética da coisa, diz “coisa linda”, nós sabemos que nenhuma palavra definiria de forma mais profunda e literária o quão bela e amada uma coisa pode ser.

“Coisar” é verbo de quem está com pressa ou tem lapsos de memória. É pra quando “mexe qualquer coisa dentro doida”. E que coisa magnífica poder se expressar tal qual Caetano Veloso. Agora chega, porque “esse papo já tá qualquer coisa” e eu já tô “pra lá de Marrakech”.

TATI BERNARDI. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 3 jan. 2024 (adaptado).

O recurso utilizado na progressão textual para garantir a unidade temática dessa crônica é a

  1. intertextualidade, marcada pela citação de versos de letras de canções.
  2. metalinguagem, marcada pela referência à escrita de crônicas pela autora.
  3. reiteração, marcada pela repetição de uma determinada palavra e de seus cognatos.
  4. conexão, marcada pela presença dos conectores lógico “quando” e “porque” entre orações.
  5. pronominalização, marcada pela retomada de “minha filha” e “um namorado ruim” pelos pronomes “ela” e “lo”.

Resposta: C

Resolução: A unidade temática da crônica de Tati Bernardi é garantida pela repetição da palavra “coisa” e de seus cognatos. Esse recurso linguístico é chamado de "reiteração", pois a palavra "coisa" é repetida com variações ao longo do texto para construir a ideia central. A alternativa correta é a C: "reiteração, marcada pela repetição de uma determinada palavra e de seus cognatos".

C

22. (Enem 2023) Alguém muito recentemente cortara o mato, que na época das chuvas crescia e rodeava a casa da mãe de Ponciá Vicêncio e de Luandi. Havia também vestígios de que a terra fora revolvida, como se ali fosse plantar uma pequena roça. Luandi sorriu.

A mãe devia estar bastante forte, pois ainda labutava a terra. Cantou alto uma cantiga que aprendera com o pai, quando eles trabalhavam na terra dos brancos. Era uma canção que os negros mais velhos ensinavam aos mais novos. Eles diziam ser uma cantiga de voltar, que os homens, lá na África, entoavam sempre, quando estavam regressando da pesca, da caça ou de algum lugar.

O pai de Luandi, no dia em que queria agradar à mulher, costumava entoar aquela cantiga ao se aproximar de casa. Luandi não entendia as palavras do canto; sabia, porém, que era uma língua que alguns negros falavam ainda, principalmente os velhos. Era uma cantiga alegre. Luandi, além de cantar, acompanhava o ritmo batendo com as palmas das mãos em um atabaque imaginário.

Estava de regresso à terra. Voltava em casa. Chegava cantando, dançando a doce e vitoriosa cantiga de regressar.

EVARISTO, C. Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas, 2018.

A leitura do texto permite reconhecer a “cantiga de voltar’ como patrimônio linguístico que

  1. representa a memória de uma língua africana extinta.
  2. exalta a rotina executada por jovens afrodescendentes.
  3. preserva a ancestralidade africana por meio da tradição oral.
  4. resgata a musicalidade africana por meio de palavras inteligíveis.
  5. remonta à tristeza dos negros mais velhos com saudade da África.
A

07. (Enem 2023) Mais iluminada que outras

Tenho dois seios, estas duas coxas, duas mãos que me são muito úteis, olhos escuros, estas duas sobrancelhas que preencho com maquiagem comprada por dezenove e noventa e orelhas que não aceitam bijuterias. Este corpo é um corpo faminto, dentado, cruel, capaz e violento. Movo os braços e multidões correm desesperadas.

Caminho no escuro com o rosto para baixo, pois cada parte isolada de mim tem sua própria vida e não quero domá-las. Animal da caatinga. Forte demais. Engolidora de espadas e espinhos.

Dizem e eu ouvi, mas depois também li, que o estado do Ceará aboliu a escravidão quatro anos antes do restante do país. Todos aqueles corpos que eram trazidos com seus dedos contados, seus calcanhares prontos e seus umbigos em fogo, todos eles foram interrompidos no porto. Um homem – dizem e eu ouvi e depois também li – liderou o levante. E todos esses corpos foram buscar outros incômodos. Foram ser incomodados.

ARRAES, J. Redemoinho em dia quente.

São Paulo: Alfaguara, 2019.

Nesse texto, os recursos expressivos usados pela narradora

  1. revelam as marcas da violência de raça e de gênero na construção da identidade.
  2. questionam o pioneirismo do estado do Ceará no enfrentamento à escravidão.
  3. reproduzem padrões estéticos em busca da valorização da autoestima feminina.
  4. sugerem uma atmosfera onírica alinhada ao desejo de resgate da espiritualidade.
  5. mimetizam, na paisagem, os corpos transformados pela violência da escravidão.
C

12. (Enem 2023) Ainda daquela vez pude constatar a bizarrice dos costumes que constituíam as leis mais ou menos constantes do seu mundo: ao me aproximar, verifiquei que o Sr. Timóteo, gordo e suado, trajava um vestido de franjas e lantejoulas que pertencera a sua mãe.

O corpete descia-lhe excessivamente justo na cintura, e aqui e ali rebentava através da costura um pouco da carne aprisionada, esgarçando a fazenda e tornando o prazer de vestir-se daquele modo uma autêntica espécie de suplício.

Movia-se ele com lentidão, meneando todas as suas franjas e abanando-se vigorosamente com um desses leques de madeira de sândalo, o que o envolvia numa enjoativa onda de perfume. Não sei direito o que colocara sobre a cabeça, assemelhava-se mais a um turbante ou a um chapéu sem abas de onde saíam vigorosas mechas de cabelos alourados.

Como era costume seu também, trazia o rosto pintado — e para isto, bem como para suas vestimentas, apoderara-se de todo o guarda-roupa deixado por sua mãe, também em sua época famosa pela extravagância com que se vestia — o que sem dúvida fazia sobressair-lhe o nariz enorme, tão característico da família Meneses.

CARDOSO, L. Crônica da casa assassinada. São Paulo: Círculo do Livro, s.d.

Pela voz de uma empregada da casa, a descrição de um dos membros da família exemplifica a renovação da ficção urbana nos anos 1950, aqui observada na

  1. opção por termos e expressões de sentido ambíguo.
  2. crítica social inspirada pelo convívio com os patrões.
  3. descrição impressionista do fetiche do personagem.
  4. presença de um foco narrativo de caráter impreciso.
  5. ambiência de mistério das relações entre familiares.
D

14. (Enem 2023) Dão Lalalão

Do povoado do Ão, ou dos sítios perto, alguém precisava urgente de querer vir por escutar a novela do rádio. Ouvia-a, aprendia-a, guardava na ideia, e, retornado ao Ão, no dia seguinte, a repetia a outros, Assim estavam jantando, vinham os do povoado receber a nova parte da novela do rádio. Ouvir já tinham ouvido tudo, de uma vez, fugia da regra: falhara ali no Ão, na véspera, o caminhão de um comprador de galinhas e ovos, seo Abrãozinho Buristém, que carregava um rádio pequeno, de pilhas, armara um fio no arame da cerca...

Mas queriam escutar outra vez, por confirmação. — “A estória é estável de boa, mal que acompridada: taca e não rende...” – explicava o Zuz ao Dalberto.

Soropita começou a recontar o capítulo da novela. Sem trabalho, se recordava das palavras, até com clareza — disso se admirava. Contava com prazer de demorar, encher a sala com o poder de outros altos personagens. Tomar a atenção de todos, pudesse contar aquilo noite adiante. Era preciso trazer luz, nem uns enxergavam mais os outros; quando alguém ria, ria de muito longe. O capítulo da novela estava terminando.

ROSA, J. G. Noites do sertão (Corpo de baile).

São Paulo: Global, 2021.

Nesse trecho do conto, o gosto dos moradores do povoado por ouvir a novela de rádio recontada por Soropita deve-se ao(à)

  1. qualidade do som do rádio.
  2. estabilidade do enredo contado.
  3. ineditismo do capítulo da novela.
  4. jeito singular de falar aos ouvintes.
  5. dificuldade de compreensão da história.
E

29. (Enem 2023) Era um gato preto, como convinha a um cultor das boas letras, que já lera Poe traduzido por Baudelaire. Preto e gordo. E lerdo. Tão gordo e lerdo que a certa altura observei que ia perdendo inteiramente as qualidades características da raça, que são em suma o ódio de morte aos ratos. Já nem os afugentava!

Os ratos de Ouro Preto são também dignos e solenes — não ria — tradicionalistas… descendentes de ratos que naqueles mesmos casarões presenciaram acontecimentos importantes da nossa história... No sobrado do desembargador Tomás Antônio Gonzaga, imagine o senhor uma reunião dos sonhadores inconfidentes, com os antepassados daqueles ratos a passearem pelo sótão ou mesmo pelo assoalho por entre as pernas dos homens absortos na esperança da independência nacional!

E depois, os ancestres daqueles roedores que eu via agora deslizar sutilmente no meu quarto podiam ter subido pelo poste da ignomínia colonial, onde estava exposta a cabeça do Tiradentes! E quando as órbitas se descarnaram ignominiosamente, podiam até ter penetrado no recesso daquele crânio onde verdadeiramente ardera a literatura, com a simplicidade do heroísmo, a febre nacionalista...

ALPHONSUS, J. Contos e novelas. Rio de Janeiro: Imago: Brasília: INL, 1976.

Descrevendo seu gato, o narrador remete ao contexto e a protagonistas da Inconfidência para criar um efeito desconcertante centrado no

  1. desenho imaginativo do casario colonial de Ouro Preto.
  2. efeito de apagamento de limites entre ficção e realidade.
  3. vinculo estabelecido entre animais urbanos e literatura.
  4. questionamento sutil quanto à sanidade dos inconfidentes.
  5. contraste entre austeridade pomposa e imagem repugnante.
A

30. (Enem 2023) Enquanto estivemos entretidos com os urubus outras coisas andaram acontecendo na cidade. A Companhia baixou novas proibições, umas inteiramente bobocas, só pelo prazer de proibir (ninguém podia cuspir pra cima, nem carregar água em jacá, nem tapar o sol com peneira, como se todo mundo estivesse abusando dessas esquisitices); mas outras bem irritantes, como a de pular muro pra cortar caminho tática que quase todo mundo que não sofria de reumatismo vinha adotando ultimamente, principalmente os meninos.

E não confiando na proibição só, nem na força dos castigos, que eram rigorosos, a Companhia ainda mandou fincar cacos de garra a nos muros. Achei isso um exagero, e comentei o assunto com mamãe. Meu pai ouviu lá do quarto e veio explicar.

Disse que em épocas normais bastava uma coisa ou outra, mas agora a Companhia não poda admitir nenhuma brecha em suas ordens; se alguém desobedecesse à proibição podia se cortar nos cacos; se alguém conseguisse pular um muro quebrando o corte de alguns cacos, ou jogando um couro por cima, era apanhado pela proibição, nhoc — e fez o gesto de quem torce o pescoço de um frango.

VEIGA, J. J. Sombras de reis barbudos.

Rio do Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

Sob a perspectiva do menino que narra, os fatos ficcionais oferecem um esboço do momento político vigente na década de 1970, aqui representado pelo

  1. culto ao medo, infiltrado em situações do cotidiano.
  2. sentimento de dúvida quanto à veracidade das informações.
  3. ambiente de sonho, delineado por imagens perturbadoras.
  4. incentivo ao desenvolvimento econômico com a iniciativa privada.
  5. espaço urbano marcado por uma política de isolamento das crianças.
A

43. (Enem 2023) Mestre e companheiro, disse eu que nos íamos despedir. Mas disse mal. A morte não extingue: transforma; não aniquila: renova; não divorcia: aproxima.

Um dia supuseste “morta e separada” a consorte dos teus sonhos e das tuas agonias, que te soubera “pôr um mundo inteiro no recanto” do teu ninho; e, todavia, nunca ela te esteve mais presente, no íntimo de ti mesmo e na expressão do teu canto, no fundo do teu ser e na face de tuas ações.

Esses catorze versos inimitáveis, em que o enlevo dos teus discípulos resume o valor de toda uma literatura, eram a aliança de ouro do teu segundo noivado, um anel de outras núpcias, para a vida nova do teu renascimento e da tua glorificação, com a sócia sem nódoa dos teus anos de mocidade e madureza, da florescência e frutificação de tua alma.

Para os eleitos do mundo das ideias a miséria está na decadência, e não na morte. A nobreza de uma nos preserva das ruínas da outra. Quando eles atravessavam essa passagem do invisível, que os conduz à região da verdade sem mescla, então é que entramos a sentir o começo do seu reino, o reino dos mortos sobre os vivos.

BARBOSA. R. O adeus da Academia a Machado de Assis.

Rio de Janeiro: Agir, 1962.

Esse é um trecho do discurso de Rui Barbosa na Academia Brasileira de Letras em homenagem a Machado de Assis por ocasião de sua morte. Uma das características desse discurso de homenagem é a presença de

  1. metáforas relacionadas à trajetória pessoal e criadora do homenageado.
  2. recursos fonológicos empregados para a valorização do ritmo do texto.
  3. frases curtas e diretas no relato da vida e da morte do homenageado.
  4. contraposição de ideias presentes na obra do homenageado.
  5. seleção vocabular representativa do sentimento de nostalgia.
D

06. (ENEM 2022) 10 de maio

Fui na delegacia e falei com o Tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na delegacia na primeira intimação. [...] O Tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidade de delinquir do que tornar-se util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe disto, porque não faz um relatorio e envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek, e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades.

... O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome tambem é professora.

Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças.

JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.

A partir da intimação recebida pelo filho de 9 anos, a autora faz uma reflexão em que transparece a

  1. lição de vida comunicada pelo Tenente.
  2. predisposição materna para se emocionar.
  3. atividade política marcante da comunidade.
  4. resposta irônica ante o discurso da autoridade.
  5. necessidade de revelar seus anseios mais íntimos.
D

07. (ENEM 2022) Firmo, o vaqueiro

No dia seguinte, à hora em que saía o gado, estava eu debruçado à varanda quando vi o cafuzo que preparava o animal viajeiro:

– Raimundinho, como vai ele?...

De longe apontou a palhoça.

– Sim.

O braço caiu-lhe, olhou-me algum tempo comovido; depois, saltando para o animal, levou o polegar à boca fazendo estalar a unha nos dentes: “Às quatro da manhã... Atirei um verso e disse, para bulir com ele: Pega, velho! Não respondeu. Tio Firmo, mesmo velho e doente, não era homem para deixar um verso no chão... Fui ver, coitado!... estava morto. E deu de esporas para que eu não lhe visse as lágrimas.

NETTO, C. In: MARCHEZAN, L. G. (Org.).

O conto regionalista. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

A passagem registra um momento em que a expressividade lírica é reforçada pela

  1. plasticidade da imagem do rebanho reunido.
  2. sugestão da firmeza do sertanejo ao arrear o cavalo.
  3. situação de pobreza encontrada nos sertões brasileiros.
  4. afetividade demonstrada ao noticiar a morte do cantador.
  5. preocupação do vaqueiro em demostrar sua virilidade.
C

09. (ENEM 2022) A conquista da medalha de prata por Rayssa Leal, no skate street nos Jogos Olímpicos, é exemplo da representatividade feminina no esporte, avalia a âncora do jornal da rede de televisão da CNN. A apresentadora, que também anda de skate, celebrou a vitória da brasileira, que entrou para a história como a atleta mais nova a subir num pódio defendendo o Brasil.

“Essa representatividade do esporte nos Jogos faz pensarmos que não temos que ficar nos encaixando em nenhum lugar. Posso gostar de passar notícia e, mesmo assim, gostar de skate, subir montanha, mergulhar, andar de bike, fazer yoga”.

Temos que parar de ficar enquadrando as pessoas dentro das regras. A gente vive num padrão no qual a menina ganha boneca, mas por que também não fazer um esporte de aventura? Por que o homem pode se machucar, cair de joelhos, e a menina tem que estar sempre lindinha dentro de um padrão? Acabamos limitando os talentos das pessoas”, afirmou a jornalista, sobre a prática do skate por mulheres.

Disponível em: www.cnnbrasil.com.br.

Acesso em: 31 out. 2021 (adaptado).

O discurso da jornalista traz questionamentos sobre a relação da conquista da skatista com a

  1. conciliação do jornalismo com a prática do skate.
  2. inserção das mulheres na modalidade skate street.
  3. desconstrução da noção do skate como modalidade masculina.
  4. vanguarda de ser a atleta mais jovem a subir no pódio olímpico.
  5. conquista de medalha nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
D

18. (ENEM 2022) Criado há cerca de 20 anos na Califórnia, o mountainboard é um esporte de aventura que utiliza uma espécie de skate off-road para realizar manobras similares às das modalidades de snowboard, surf e do próprio skate.

A atividade chegou ao Brasil em 1997 e hoje possui centenas de praticantes, um circuito nacional respeitável e mais de uma dezena de pistas espalhadas pelo país. Segundo consta na história oficial, o mountainboard foi criado por praticantes de snowboard que sentiam falta de praticar o esporte nos períodos sem neve.

Para isso, eles desenvolveram um equipamento bem simples: uma prancha semelhante ao modelo utilizado na neve (menor e um pouco menos flexível), com dois eixos bem resistentes, alças para encaixar os pés e quatro pneus com câmaras de ar para regular a velocidade que pode ser alcançada em diferentes condições.

Com essa configuração, o esporte se mostrou possível em diversos tipos de terreno: grama, terra, pedras, asfalto e areia. Além desses pisos, também é possível procurar pelas próprias trilhas para treinar as manobras.

Disponível em: www.webventure.com.br. Acesso em: 19 jun. 2019.

A história da prática do mountainboard representa uma das principais marcas das atividades de aventura, caracterizada pela

  1. competitividade entre seus praticantes.
  2. atividade com padrões técnicos definidos.
  3. modalidade com regras predeterminadas.
  4. criatividade para adaptações a novos espaços.
  5. necessidade de espaços definidos para a sua realização.
C

19. (ENEM 2022) Ser cronista

Sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente no assunto.

Crônica é um relato? É uma conversa? É um resumo de um estado de espírito? Não sei, pois antes de começar a escrever para o Jornal do Brasil, eu só tinha escrito romances e contos.

E também sem perceber, à medida que escrevia para aqui, ia me tornando pessoal demais, correndo o risco de em breve publicar minha vida passada e presente, o que não pretendo. Outra coisa notei: basta eu saber que estou escrevendo para jornal, isto é, para algo aberto facilmente por todo o mundo, e não para um livro, que só é aberto por quem realmente quer, para que, sem mesmo sentir, o modo de escrever se transforme.

Não é que me desagrade mudar, pelo contrário. Mas queria que fossem mudanças mais profundas e interiores que não viessem a se refletir no escrever. Mas mudar só porque isso é uma coluna ou uma crônica? Ser mais leve só porque o leitor assim o quer? Divertir? Fazer passar uns minutos de leitura? E outra coisa: nos meus livros quero profundamente a comunicação profunda comigo e com o leitor. Aqui no Jornal apenas falo com o leitor e agrada-me que ele fique agradado. Vou dizer a verdade: não estou contente.

LISPECTOR, C. In: A descoberta do mundo.

Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

No texto, ao refletir sobre a atividade de cronista, a autora questiona características do gênero crônica, como

  1. relação distanciada entre os interlocutores.
  2. articulação de vários núcleos narrativos.
  3. brevidade no tratamento da temática.
  4. descrição minuciosa dos personagens.
  5. público leitor exclusivo.
E

19. (ENEM 2022 PPL) O boato insiste em ser um gênero da comunicação. Um rumor pode nascer da má-fé, do mal-entendido ou de uma trapalhada qualquer. O primeiro impulso é acreditar, porque: 1 - confiamos em quem o transmite;2 - é fisicamente impossível verificar a veracidade de tudo; 3 - os meios de comunicação estão sistematicamente relapsos com a verificação de seus conteúdos e, se eles fazem isso, o que nos impede?

O boato não informa, mas ensina: mostra como uma sociedade se prepara para tomar posição. A nossa tem se aplicado na tarefa de desmantelar equipes de jornalistas que dão nome de “informação” a todo tipo de “copia e cola” difundido pela internet como se fosse um fato verídico. A comunicação atual depende, cada vez mais, do modo como vamos lidar com os rumores.

PEREIRA JR., L. C. Língua Portuguesa, n. 93, jul. 2013 (adaptado).

Em relação aos boatos que circulam ininterruptamente na internet, esse texto reconhece a importância da posição tomada pelo internauta leitor ao

  1. confiar nos contatos pessoais que transmitiram a informação.
  2. acompanhar e reproduzir o comportamento dos meios de comunicação.
  3. seguir as contas dos jornalistas nas diversas redes sociais existentes.
  4. excluir de seus contatos usuários que não confirmam a veracidade das notícias.
  5. pesquisar em diferentes mídias a veracidade das notícias que circulam na rede.
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1. (Enem 2018) Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele.

O professor era gordo, grande e silencioso, de ombros contraídos. Em vez de nó na garganta, tinha ombros contraídos. Usava paletó curto demais, óculos sem aro, com um fio de ouro encimando o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele. Não amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ele tinha em nos ensinar e que, ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. Falava muito alto, mexia com os colegas, interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia, vermelho:

— Cale-se ou expulso a senhora da sala.

Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos.

(LISPECTOR, C. Os desastres de Sofia. In: A legião estrangeira. São Paulo: Ática, 1997)

Entre os elementos constitutivos dos gêneros está a sua própria estrutura composicional, que pode apresentar um ou mais tipos textuais, considerando-se o objetivo do autor. Nesse fragmento, a sequência textual que caracteriza o gênero conto é a:

  1. expositiva, em que se apresentam as razões da atitude provocativa da aluna.
  2. injuntiva, em que se busca demonstrar uma ordem dada pelo professor à aluna.
  3. descritiva, em que se constrói a imagem do professor com base nos sentidos da narradora.
  4. argumentativa, em que se defende a opinião da enunciadora sobre o personagem-professor.
  5. narrativa, em que se contam fatos ocorridos com o professor e a aluna em certo tempo e lugar.

2. (Enem PPL 2017) Um conto de palavras que valessem mais por sua modulação que por seu significado. Um conto abstrato e concreto como uma composição tocada por um grupo instrumental; límpido e obscuro, espiral azul num campo de narcisos defronte a uma torre a descortinar um lago assombrado em que o atirar uma pedra espraia a água em lentos círculos sob os quais nada um peixe turvo que é visto por ninguém e no entanto existe como algas do oceano. Um contorastro de uma lesma também evento do universo qual a luz de um quasar a bilhões de anosluz; um conto em que os vocábulos são como notas indeterminadas numa pauta; que é como bater suave e espaçado de um sino propagando-se nos corredores de um mosteiro [...]. Um conto noturno com a fulguração de um sonho que, quanto mais se quer, mais se perde; é preciso resistir à tentação das proparoxítonas e do sentido, a vida é uma peça pregada cujo maior mistério é o nada.

(SANT’ANNA, S. Um conto abstrato. In: O voo da madrugada. São Paulo: Cia. das Letras, 2003)

Utilizando o recurso da metalinguagem, o narrador busca definir o gênero conto pelo procedimento estético que estabelece uma:

  1. confluência de cores, destacando a importância do espaço.
  2. composição de sons, valorizando a construção musical do texto.
  3. percepção de sombras, endossando o caráter obscuro da escrita.
  4. cadeia de imagens, enfatizando a ideia de sobreposição de sentidos.
  5. hierarquia de palavras, fortalecendo o valor unívoco dos significados.

3. (Enem PPL 2017) Este mês, a reportagem de capa veio do meu umbigo. Ou melhor, veio de um mal-estar que comecei a sentir na barriga. Sou meio italiano, pizzaiolo dos bons, herdei de minha avó uma daquelas velhas máquinas de macarrão a manivela. Cresci à base de farinha de trigo. Aí, do nada, comecei a ter alergias respiratórias que também pareciam estar ligadas à minha dieta. Comecei a peregrinar por médicos. Os exames diziam que não tinha nada errado comigo. Mas eu sentia, pô. Encontrei a resposta numa nutricionista: eu tinha intolerância a glúten e a lactose. Arrivederci, pizza. Tchau, cervejinha.

Notei também que as prateleiras dos mercados de repente ficaram cheias de produtos que pareciam feitos para mim: leite, queijo e iogurte sem lactose, bolo, biscoito e macarrão sem glúten. E o mais incrível é que esse setor do mercado parece ser o que está mais cheio de gente. E não é só no Brasil. Parece ser em todo Ocidente industrializado. Inclusive na Itália.

O tal glúten está na boca do povo, mas não está fácil entender a real. De um lado, a imprensa popular faz um escarcéu, sem no entanto explicar o tema a fundo. De outro, muitos médicos ficam na defensiva, insinuando que isso tudo não passa de modismo, sem fundamento científico. Mas eu sei muito bem que não é só modismo — eu sinto na barriga.

O tema é um vespeiro — e por isso julgamos que era hora de meter a colher, para separar o joio do trigo e dar respostas confiáveis às dúvidas que todo mundo tem.

(BURGIERMAN, D. R. Tem algo grande aí. Superinteressante, n. 335, jul. 2014 - adaptado)

O gênero editorial de revista contém estratégias argumentativas para convencer o público sobre a relevância da matéria de capa. No texto, considerando a maneira como o autor se dirige aos leitores, constitui uma característica da argumentação desenvolvida o(a):

  1. relato pessoal, que especifica o debate do assunto abordado.
  2. exemplificação concreta, que desconstrói a generalidade dos fatos.
  3. referência intertextual, que recorre a termos da gastronomia.
  4. crítica direta, que denuncia o oportunismo das indústrias alimentícias.
  5. vocabulário coloquial, que representa o estilo da revista.

4. (Enem 2016) L.J.C.

— 5 tiros?

— É.

— Brincando de pegador?

— É. O PM pensou que...

— Hoje?

— Cedinho.

(COELHO, M ln: FREIRE, M. (Org). Os cem menores contos brasileiros do século.)

Os sinais de pontuação são elementos com importantes funções para a progressão temática. Nesse miniconto, as reticências foram utilizadas para indicar:

  1. uma fala hesitante.
  2. uma informação implícita.
  3. uma situação incoerente.
  4. a eliminação de uma ideia.
  5. a interrupção de uma ação.

5. (Enem 2016) Centro das atenções em um planeta cada vez mais interconectado, a Floresta Amazônica expõe inúmeros dilemas. Um dos mais candentes diz respeito à madeira e sua exploração econômica, uma saga que envolve os muitos desafios para a conservação dos recursos naturais às gerações futuras.

Com o olhar jornalístico, crítico e ao mesmo tempo didático, adentramos a Amazônia em busca de histórias e sutilezas que os dados nem sempre revelam. Lapidamos estatísticas e estudos científicos para construir uma síntese útil a quem direciona esforços para conservar a floresta, seja no setor público, seja no setor privado, seja na sociedade civil.

Guiada como uma reportagem, rica em informações ilustradas, a obra Madeira de ponta a ponta revela a diversidade de fraudes na cadeia de produção, transporte e comercialização da madeira, bem como as iniciativas de boas práticas que se disseminam e trazem esperança rumo a um modelo de convivência entre desenvolvimento e manutenção da floresta.

(VlLLELA. M.; SPINK, P. In: ADEODATO, S)

A fim de alcançar seus objetivos comunicativos, os autores escreveram esse texto para:

  1. apresentar informações e comentários sobre o livro.
  2. noticiar as descobertas científicas oriundas da pesquisa.
  3. defender as práticas sustentáveis de manejo da madeira.
  4. ensinar formas de combate à exploração ilegal de madeira.
  5. demonstrar a importância de parcerias para a realização da pesquisa.

6. (Enem 2016) Você pode não acreditar

Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os leiteiros deixavam as garrafinhas de leite do lado de fora das casas, seja ao pé da porta, seja na janela.

A gente ia de uniforme azul e branco para o grupo, de manhãzinha, passava pelas casas e não ocorria que alguém pudesse roubar aquilo.

Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os padeiros deixavam o pão na soleira da porta ou na janela que dava para a rua. A gente passava e via aquilo como uma coisa normal.

Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que você saía à noite para namorar e voltava andando pelas ruas da cidade, caminhando displicentemente, sentindo cheiro de jasmim e de alecrim, sem olhar para trás, sem temer as sombras.

Você pode não acreditar: houve um tempo em que as pessoas se visitavam airosamente. Chegavam no meio da tarde ou à noite, contavam casos, tomavam café, falavam da saúde, tricotavam sobre a vida alheia e voltavam de bonde às suas casas.

Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que o namorado primeiro ficava andando com a moça numa rua perto da casa dela, depois passava a namorar no portão, depois tinha ingresso na sala da família. Era sinal de que já estava praticamente noivo e seguro.

Houve um tempo em que havia tempo.
Houve um tempo.

(SANTANNA, A. R. Estado de Minas)

Nessa crônica, a repetição do trecho “Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que...” configura-se como uma estratégia argumentativa que visa:

  1. surpreendem leitor com a descrição do que as pessoas faziam durante o seu tempo livre antigamente.
  2. sensibilizar o leitor sobre o modo como as pessoas se relacionavam entre si num tempo mais aprazível.
  3. advertir o leitor mais jovem sobre o mau uso que se faz do tempo nos dias atuais.
  4. incentivar o leitor a organizar melhor o seu tempo sem deixar de ser nostálgico.
  5. convencer o leitor sobre a veracidade de fatos relativos à vida no passado.

7. (Enem PPL 2016) A carta manifesta reconhecimento de uma empresa pelos serviços prestados pelos consultores da PC Speed. Nesse contexto, o uso da norma-padrão:

A carta manifesta reconhecimento de uma empresa pelos serviços prestados pelos consultores da PC Speed. Nesse contexto, o uso da norma-padrão:

  1. constitui uma exigência restrita ao universo financeiro e é substituível por linguagem informal.
  2. revela um exagero por parte do remetente e torna o texto rebuscado linguisticamente.
  3. expressa o formalismo próprio do gênero e atribui profissionalismo à relação comunicativa.
  4. torna o texto de difícil leitura e atrapalha a compreensão das intenções do remetente.
  5. sugere elevado nível de escolaridade do diretor e realça seus atributos intelectuais.

8. (Enem 2015) Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antõnio Nobre. “Ao cair das folhas”, um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até outubro de 1914.

(BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa)

No relato de memórias do autor, entre os recursos usados para organizar a sequência dos eventos narrados, destaca-se a:

  1. construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade ao texto.
  2. presença de advérbios de lugar para indicar a progressão dos fatos.
  3. alternância de tempos do pretérito para ordenar os acontecimentos.
  4. inclusão de enunciados com comentários e avaliações pessoais.
  5. alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor.

9. (Enem PPL 2015) O rap constitui-se em uma expressão artística por meio da qual os MCs relatam poeticamente a condição social em que vivem e retratam suas experiências cotidianas.

(SOUZA, J.; FIALHO, V. M.; ARALDI, J. Hip hop: da rua para a escola)

O “relato poético” é uma característica fundamental desse gênero musical, em que o:

  1. MC canta de forma melodiosa as letras, que retratam a complexa realidade em que se encontra.
  2. rap se limita a usar sons eletrônicos nas músicas, que seriam responsáveis por retratar a realidade da periferia.
  3. rap se caracteriza pela proximidade das notas na melodia, em que a letra é mais recitada do que cantada, como em uma poesia.
  4. MC canta enquanto outros músicos o acompanham com instrumentos, tais como o contrabaixo elétrico e o teclado.
  5. MC canta poemas amplamente conhecidos, fundamentando sua atuação na memorização de suas letras.

10. (Enem 2015) Posso mandar por e-mail?

Atualmente, é comum “disparar” currículos na internet com a expectativa de alcançar o maior número possível de selecionadores. Essa, no entanto, é uma ideia equivocada: é preciso saber quem vai receber seu currículo e se a vaga é realmente indicada para seu perfil, sob o risco de estar “queimando o filme” com um futuro empregador. Ao enviar o currículo por e-mail, tente saber quem vai recebê-lo e faça um texto sucinto de apresentação, com a sugestão a seguir:

Assunto: Currículo para a vaga de gerente de marketing.
Mensagem: Boa tarde. Meu nome é José da Silva e gostaria de me candidatar à vaga de gerente de marketing. Meu currículo segue anexo.

(Guia da língua 2010: modelos o técnicas)

O texto integra um guia de modelos e técnicas de elaboração de textos e cumpre a função social de:

  1. divulgar um padrão oficial de redação e envio de currículos.
  2. indicar um modelo de currículo para pleitear uma vaga de emprego.
  3. instruir o leitor sobre como ser eficiente no envio de currículo por e-mail.
  4. responder a uma pergunta de um assinante da revista sobre o envio de currículo por e-mail.
  5. orientar o leitor sobre como alcançar o maior número possível de selecionadores de currículos

11. (Enem PPL 2015) Anfíbio com formato de cobra é descoberto no Rio Madeira (RO)
Animal raro foi encontrado por biólogos em canteiro de obras de usina. Exemplares estão no Museu Emilio Goeldi, no Pará

O trabalho de um grupo de biólogos no canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho, resultou na descoberta de um anfíbio de formato parecido com uma cobra. Atretochoana eiselti é o nome científico do animal raro descoberto em Rondônia. Até então, só havia registro do anfíbio no Museu de História Natural de Viena e na Universidade de Brasília. Nenhum deles tem a descrição exata de localidade, apenas “América do Sul”. A descoberta ocorreu em dezembro do ano passado, mas apenas agora foi divulgada.

(XIMENES, M.)

A notícia é um gênero textual em que predomina a função referencial da linguagem. No texto, essa predominância evidencia-se pelo(a):

  1. recorrência de verbos no presente para convencer o leitor.
  2. uso da impessoalidade para assegurar a objetividade da informação.
  3. questionamento do código linguístico na construção da notícia.
  4. utilização de expressões úteis que mantêm aberto o canal de comunicação com o leitor.
  5. emprego dos sinais de pontuação para expressar as emoções do autor

12. (Enem PPL 2014) Futebol na rua

Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o Maracanã em jogo noturno. Se você é brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou falando. Futebol de rua é tão humilde que chama pelada de senhora.

Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos assim:

DO CAMPO – O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, rua e a calçada do outro lado e nos clássicos – o quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no meio da rua.

DA DURAÇÃO DO JOGO – Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.

DA FORMAÇÃO DOS TIMES – O número de jogadores em cada equipe varia, de um a setenta para cada lado.

DO JUIZ – Não tem juiz.

DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brincando.

(L.F. Verissimo. In: Para gostar de ler: crônicas 6)

Nesse trecho de crônica, o autor estabelece a seguinte relação entre o futebol de rua e o futebol oficial:

  1. As regras do futebol de rua descaracterizam o futebol de campo, uma vez que entre as duas práticas não há similaridades.
  2. As condições materiais do futebol de rua impedem o envolvimento das pessoas e o caráter prazeroso desta prática.
  3. O futebol de rua expressa a possibilidade de autoria das pessoas para a prática de esporte e de lazer.
  4. O futebol de rua é necessariamente um futebol de menor valor e importância em relação ao futebol oficial.
  5. A ausência de regras formalizadas no futebol de rua faz com que o jogo seja desonesto em comparação com o futebol oficial.

13. (Enem 2014) Eu acho um fato interessante... né... foi como meu pai e minha mãe vieram se conhecer... né... que... minha mãe morava no Piauí com toda família... né... meu... meu avô... materno no caso... era maquinista... ele sofreu um acidente... infelizmente morreu... minha mãe tinha cinco anos... né... e o irmão mais velho dela... meu padrinho... tinha dezessete e ele foi obrigado a trabalhar... foi trabalhar no banco... e... ele foi... o banco... no caso... estava... com um número de funcionários cheio e ele teve que ir para outro local e pediu transferência prum local mais perto de Parnaíba que era a cidade onde eles moravam e por engano o... o... escrivão entendeu Paraíba... né... e meu... e minha família veio parar em Mossoró que era exatamente o local mais perto onde tinha vaga pra funcionário do Banco do Brasil e:: ela foi parar na rua do meu pai... né... e começaram a se conhecer... namoraram onze anos... né... pararam algum tempo... brigaram... é lógico... porque todo relacionamento tem uma briga... né... e eu achei esse fato muito interessante porque foi uma coincidência incrível... né... como vieram a se conhecer... namoraram e hoje... e até hoje estão juntos... dezessete anos de casados...

(CUNHA, M. A. F. (Org.) Corpus discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade do Natal)

Na transcrição de fala, há um breve relato de experiência pessoal, no qual se observa a frequente repetição de “né”. Essa repetição é um(a):

  1. índice de baixa escolaridade do falante.
  2. estratégia típica de manutenção da interação oral.
  3. marca de conexão lógica entre conteúdos na fala.
  4. manifestação característica da fala regional nordestina.
  5. recurso enfatizador da informação mais relevante da narrativa.

14. (Enem PPL 2014) A existência de uma segunda pintura da Mona Lisa a Gioconda, de Leonardo da Vinci – foi confirmada pelo Museu do Prado, em Madri, em fevereiro.

Giocondas Gêmeas

A existência de uma segunda pintura da Mona Lisa a Gioconda, de Leonardo da Vinci – foi confirmada pelo Museu do Prado, em Madri, em fevereiro. O quadro era conhecido desde o século XVIII, mas tido como uma reprodução tardia do original. Um trabalho de restauração revelou que seu fundo de cor negra na verdade recobria a reprodução de uma típica paisagem da Toscana, como a pintada por Da Vinci. Radiografias mostraram que a tela é irmã gêmea do original, provavelmente pintada por discípulos do mestre, sob supervisão de Da Vinci, no seu ateliê de Florença, entre 1503 e 1506. Os dois quadros serão, agora, expostos no Louvre. Há, entretanto, diferenças: a florentina Lisa Gherardini (Mona Lisa), aparentemente na meia-idade, parece mais moça na nova tela. O manto sobre o ombro esquerdo do quadro original surge como um véu transparente, e o decote aparece com mais nitidez. A descoberta reforça a tese de estudiosos, como o inglês Martin Kemp, de que assistentes de Da Vinci ajudaram na composição de telas importantes do mestre.

Para cumprir sua função social, o gênero notícia precisa divulgar informações novas. No texto Giocondas gêmeas, além de ser confirmada a existência de uma tela gêmea de Mona Lisa e de serem destacadas as diferenças entre elas, o valor informativo do texto está centrado na:

  1. afirmação de que a Gioconda genuína estava na fase da meia-idade.
  2. revelação da identidade da mulher pintada por Da Vinci, a florentina Lisa Gherardini.
  3. consideração de que as produções artísticas de Da Vinci datam do período renascentista.
  4. descrição do fato de que a tela original mostra um manto sobre o ombro esquerdo da personagem.
  5. confirmação da hipótese de que Da Vinci teve assistentes que o auxiliaram em algumas de suas obras.

15. (Enem 2013) Secretaria de Cultura
EDITAL

NOTIFICAÇÃO – Síntese da resolução publicada no Diário Oficial da Cidade, 29/07/2011 – página 41 – 511.a Reunião Ordinária, em 21/06/2011.

Resolução n.o 08/2011 – TOMBAMENTO dos imóveis da Rua Augusta. n.o 349 e n.o 353, esquina com a Rua Marquês de Paranaquá, n.o 315. n.o 327 e n.o 329 (Setor 010, Quadra 026, Lotes 0016-2 e 00170-0), bairro da Consolação. Subprefeitura da Sé, conforme o processo administrativo n.o 1991-0.005.365-1.

Um leitor interessado nas decisões governamentais escreve uma carta para o jornal que publicou o edital, concordando com a resolução sintetizada no Edital da Secretaria de Cultura. Uma frase adequada para expressar sua concordância é:

  1. Que sábia iniciativa! Os prédios em péssimo estado de conservação devem ser derrubados.
  2. Até que enfim! Os edifícios localizados nesse trecho descaracterizam o conjunto arquitetônico da Rua Augusta.
  3. Parabéns! O poder público precisa mostrar sua força como guardião das tradições dos moradores locais.
  4. Justa decisão! O governo dá mais um passo rumo à eliminação do problema da falta de moradias populares.
  5. Congratulações! O patrimônio histórico da cidade merece todo empenho para ser preservado.

16. (Enem 2013) Brasil é o maior desmatador, mostra estudo da ONU

O Brasil reduziu sua taxa de desmatamento em vinte anos, mas continua líder entre os países que mais desmatam, segundo a FAO (órgão da ONU para a agricultura). A entidade apresentou ontem estudo sobre a cobertura florestal no mundo e o resultado é preocupante: em apenas dez anos, uma área de floresta do tamanho de dois estados de São Paulo desapareceu do país. De forma geral, a queda no ritmo da perda de cobertura florestal foi de 37% em dez anos. Entre 1990 e 1999, 16 milhões de hectares por ano sumiram. Entre 2000 e 2009, esse número caiu para 13 milhões de hectares.

Mas o número é considerado alto. A América do Sul é apontada como a maior responsável pela perda de florestas do mundo, com cortes anuais de 4 milhões de hectares. A África vem em seguida, com 3,4 milhões de hectares/ano.

Na notícia lida, o conectivo “mas” (terceiro parágrafo) estabelece uma relação de oposição entre as sentenças: “Entre 2000 e 2009, esse número caiu para 13 milhões de hectares” e “o número é considerado alto”. Uma das formas de se reescreverem esses enunciados, sem que lhes altere o sentido inicial, é:

  1. Porque, entre 2000 e 2009, esse número caiu para 13 milhões de hectares, o número é considerado alto.
  2. Entre 2000 e 2009, esse número caiu para 13 milhões de hectares, por isso o número é considerado alto.
  3. Entre 2000 e 2009, esse número caiu para 13 milhões de hectares, uma vez que o número é considerado alto.
  4. Embora, entre 2000 e 2009, esse número tenha caído para 13 milhões de hectares, o número é considerado alto.
  5. Visto que, entre 2000 e 2009, esse número caiu para 13 milhões de hectares, o número é considerado alto.

17. (Enem 2012) E como manejava bem os cordéis de seus títeres, ou ele mesmo, títere voluntário e consciente, como entregava o braço, as pernas, a cabeça, o tronco, como se desfazia de suas articulações e de seus reflexos quando achava nisso conveniência. Também ele soubera apoderar-se dessa arte, mais artifício, toda feita de sutilezas e grosserias, de expectativa e oportunidade, de insolência e submissão, de silêncios e rompantes, de anulação e prepotência. Conhecia a palavra exata para o momento preciso, a frase picante ou obscena no ambiente adequado, o tom humilde diante do superior útil, o grosseiro diante do inferior, o arrogante quando o poderoso em nada o podia prejudicar. Sabia desfazer situações equívocas, e armar intrigas das quais se saía sempre bem, e sabia, por experiência própria, que a fortuna se ganha com uma frase, num dado momento, que este momento único, irrecuperável, irreversível, exige um estado de alerta para a sua apropriação.

(RAWET, S. O aprendizado)

No conto, o autor retrata criticamente a habilidade do personagem no manejo de discursos diferentes segundo a posição do interlocutor na sociedade. A crítica à conduta do personagem está centrada

  1. na imagem do títere ou fantoche em que o personagem acaba por se transformar, acreditando dominar os jogos de poder na linguagem.
  2. na alusão à falta de articulações e reflexos do personagem, dando a entender que ele não possui o manejo dos jogos discursivos em todas as situações.
  3. no comentário, feito em tom de censura pelo autor, sobre as frases obscenas que o personagem emite em determinados ambientes sociais.
  4. nas expressões que mostram tons opostos no discursos empregados aleatoriamente pelo personagem em conversas com interlocutores variados.
  5. no falso elogio à originalidade atribuída a esse personagem, responsável por seu sucesso no aprendizado das regras de linguagem da sociedade.

18. (Enem 2012) Aquele bêbado

Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool.

O mais ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio.

— Curou-se 100% do vício — comentavam os amigos.

Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de exalcoólatras anônimos.

(ANDRADE, C. D. Contos plausíveis)

A causa mortis do personagem, expressa no último parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque, ao longo da narrativa, ocorre uma:

  1. metaforização do sentido literal do verbo “beber”.
  2. aproximação exagerada da estética abstracionista.
  3. apresentação gradativa da coloquialidade da linguagem.
  4. exploração hiperbólica da expressão “inúmeras coroas”.
  5. citação aleatória de nomes de diferentes artistas.

19. (Enem 2012) Eu gostava muito de passeá... saí com as minhas colegas... brincá na porta di casa di vôlei... andá de patins... bicicleta... quando eu levava um tombo ou outro... eu era a::... a palhaça da turma... ((risos))... eu acho que foi uma das fases mais... assim... gostosas da minha vida foi... essa fase de quinze... dos meus treze aos dezessete anos...

A.P.S., sexo feminino, 38 anos, nível de ensino fundamental. Projeto Fala Goiana

Um aspecto da composição estrutural que caracteriza o relato pessoal de A.P.S. como modalidade falada da língua é:

  1. predomínio de linguagem informal entrecortada por pausas.
  2. vocabulário regional desconhecido em outras variedades do português.
  3. realização do plural conforme as regras da tradição gramatical.
  4. ausência de elementos promotores de coesão entre os eventos narrados.
  5. presença de frases incompreensíveis a um leitor iniciante.

20. (Enem PPL 2012) Devemos dar apoio emocional específico, trabalhando o sentimento de culpa que as mães têm de infectar o filho. O principal problema que vivenciamos é quanto ao aleitamento materno. Além do sentimento muito forte manifestado pelas gestantes de amamentar seus filhos, existem as cobranças da família, que exige explicações pela recusa em amamentar, sem falar nas companheiras na maternidade que estão ama mentando. Esses conflitos constituem nosso maior desafio. Assim, criamos a técnica de mamadeirar. O que é isso? É substituir o seio materno por amor, oferecendo a mamadeira, e não o peito!

(PADOIN, S. M. M. et al. (Org.) Experiências interdisciplinares em Aids: interfaces de uma epidemia)

O texto é o relato de uma enfermeira no cuidado de gestantes e mães soropositivas. Nesse relato, em meio ao drama de mães que não devem amamentar seus recém-nascidos, observa-se um recurso da língua portuguesa, presente no uso da palavra “mamadeirar”, que consiste:

  1. na contribuição da justaposição na formação de palavras.
  2. na recorrência a um neologismo.
  3. na manifestação do preconceito linguístico.
  4. na expressividade da ambiguidade lexical.
  5. no registro coloquial da linguagem.

21. (Enem 2012) O senhor

Carta a uma jovem que, estando em uma roda em que dava aos presentes o tratamento de você, se dirigiu ao autor chamando-o “o senhor”:

Senhora:

Aquele a quem chamastes senhor aqui está, de peito magoado e cara triste, para vos dizer que senhor ele não é, de nada, nem de ninguém.

Bem o sabeis, por certo, que a única nobreza do plebeu está em não querer esconder sua condição, e esta nobreza tenho eu. Assim, se entre tantos senhores ricos e nobres a quem chamáveis você escolhestes a mim para tratar de senhor, é bem de ver que só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas de minha testa e na prata de meus cabelos. Senhor de muitos anos, eis aí; o território onde eu mando é no país do tempo que foi. Essa palavra “senhor”, no meio de uma frase, ergueu entre nós um muro frio e triste.

Vi o muro e calei: não é de muito, eu juro, que me acontece essa tristeza; mas também não era a vez primeira.

(BRAGA, R. A borboleta amarela)

A escolha do tratamento que se queira atribuir a alguém geralmente considera as situações específicas de uso social. A violação desse princípio causou um mal-estar no autor da carta. O trecho que descreve essa violação é:

  1. “Essa palavra, ‘senhor’, no meio de uma frase ergueu entre nós um muro frio e triste.”
  2. “A única nobreza do plebeu está em não querer esconder a sua condição.”
  3. “Só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas de minha testa.”
  4. “O território onde eu mando é no país do tempo que foi.”
  5. “Não é de muito, eu juro, que acontece essa tristeza; mas também não era a vez primeira.”

22. (Enem 2012) Nós, brasileiros, estamos acostumados a ver juras de amor, feitas diante de Deus, serem quebradas por traição, interesses financeiros e sexuais. Casais se separam como inimigos, quando poderiam ser bons amigos, sem traumas. Bastante interessante a reportagem sobre separação. Mas acho que os advogados consultados, por sua competência, estão acostumados a tratar de grandes separações. Será que a maioria dos leitores da revista tem obras de arte que precisam ser fotografadas antes da separação? Não seria mais útil dar conselhos mais básicos? Não seria interessante mostrar que a separação amigável não interfere no modo de partilha dos bens? Que, seja qual for o tipo de separação, ela não vai prejudicar o direito à pensão dos filhos? Que acordo amigável deve ser assinado com atenção, pois é bastante complicado mudar suas cláusulas? Acho que essas são dicas que podem interessar ao leitor médio.

O texto foi publicado em uma revista de grande circulação na seção de carta do leitor. Nele, um dos leitores manifesta-se acerca de uma reportagem publicada na edição anterior. Ao fazer sua argumentação, o autor do texto:

  1. faz uma síntese do que foi abordado na reportagem.
  2. discute problemas conjugais que conduzem à separação.
  3. aborda a importância dos advogados em processos de separação.
  4. oferece dicas para orientar as pessoas em processos de separação.
  5. rebate o enfoque dado ao tema pela reportagem, lançando novas ideias.

23. (Enem 2012) Sou feliz pelos amigos que tenho. Um deles muito sofre pelo meu descuido com o vernáculo. Por alguns anos ele sistematicamente me enviava missivas eruditas com precisas informações sobre as regras da gramática, que eu não respeitava, e sobre a grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava. Fi-lo sofrer pelo uso errado que fiz de uma palavra num desses meus badulaques. Acontece que eu, acostumado a conversar com a gente das Minas Gerais, falei em “varreção” — do verbo “varrer”. De fato, trata-se de um equívoco que, num vestibular, poderia me valer uma reprovação. Pois o meu amigo, paladino da língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário, aquela que tem, no topo, a fotografia de uma “varroa”(sic!) (você não sabe o que é uma “varroa”?) para corrigir-me do meu erro. E confesso: ele está certo. O certo é “varrição” e não “varreção”. Mas estou com medo de que os mineiros da roça façam troça de mim porque nunca os vi falar de “varrição”. E se eles rirem de mim não vai me adiantar mostrar-lhes o xerox da página do dicionário com a “varroa” no topo. Porque para eles não é o dicionário que faz a língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas de Minas Gerais, fala “varreção” quando não “barreção”. O que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que nunca tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é feio. Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que o prato está rachado.

(ALVES, R. Mais badulaques)

De acordo com o texto, após receber a carta de um amigo “que se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário” sinalizando um erro de grafia, o autor reconhece:

  1. a supremacia das formas da língua em relação ao seu conteúdo.
  2. a necessidade da norma padrão em situações formais de comunicação escrita.
  3. a obrigatoriedade da norma culta da língua, para a garantia de uma comunicação efetiva.
  4. a importância da variedade culta da língua, para a preservação da identidade cultural de um povo.
  5. a necessidade do dicionário como guia de adequação linguística em contextos informais privados resolução.

24. (Enem 2011) É água que não acaba mais

Dados preliminares divulgados por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) apontaram o Aquífero Alter do Chão como o maior depósito de água potável do planeta. Com volume estimado em 86 000 quilômetros cúbicos de água doce, a reserva subterrânea está localizada sob os estados do Amazonas, Pará e

Amapá. “Essa quantidade de água seria suficiente para abastecer a população mundial durante 500 anos”, diz Milton Matta, geólogo da UFPA. Em termos comparativos, Alter do Chão tem quase o dobro do volume de água do Aquífero Guarani (com 45 000 quilômetros cúbicos). Até então, Guarani era a maior reserva subterrânea do mundo, distribuída por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Essa notícia, publicada em uma revista de grande circulação, apresenta resultados de uma pesquisa científica realizada por uma universidade brasileira. Nessa situação específica de comunicação, a função referencial da linguagem predomina, porque o autor do texto prioriza:

  1. as suas opiniões, baseadas em fatos.
  2. os aspectos objetivos e precisos.
  3. os elementos de persuasão do leitor.
  4. os elementos estéticos na construção do texto.
  5. os aspectos subjetivos da mencionada pesquisa.

25. (Enem 2010) O dia em que o peixe saiu de graça

Uma operação do Ibama para combater a pesca ilegal na divisa entre os Estados do Pará, Maranhão e Tocantins incinerou 110 quilômetros de redes usadas por pescadores durante o período em que os peixes se reproduzem. Embora tenha um impacto temporário na atividade econômica da região, a medida visa preservá-la ao longo prazo, evitando o risco de extinção dos animais. Cerca de 15 toneladas de peixes foram apreendidas e doadas para instituições de caridade

A notícia, do ponto de vista de seus elementos constitutivos,

  1. apresenta argumentos contrários à pesca ilegal.
  2. tem um título que resume o conteúdo do texto
  3. informa sobre uma ação, a finalidade que a motivou e o resultado dessa ação.
  4. dirige-se aos órgãos governamentais dos estados envolvidos na referida operação do Ibama.
  5. introduz um fato com a finalidade de incentivar movimentos sociais em defesa do meio ambiente.

26. (Enem PPL 2010) Assaltantes roubam no ABC 135 mil figurinhas da Copa do Mundo

Cinco assaltantes roubaram 135 mil figurinhas do álbum da Copa do Mundo 2010 na noite de quarta-feira (21), em Santo André, no ABC. Segundo a assessoria da Treelog, empresa que distribui cromos, ninguém ficou ferido durante a ação.

O roubo aconteceu por volta das 23h30. Armados, os criminosos renderam 30 funcionários que estavam no local, durante cerca de 30 minutos, e levaram 135 caixas, cada uma delas contendo mil figurinhas. Cada pacote com cinco cromos custa R$ 0,75.

Procurada pelo G1, a Panini, editora responsável pelas figurinhas, afirmou que a falta de cromos em algumas bancas não tem relação com o roubo. Segundo a editora, isso se deve à grande demanda pelas figurinhas.

A notícia é um gênero jornalístico. No texto, o que caracteriza a linguagem desse gênero é o uso de:

  1. expressões linguísticas populares.
  2. termos técnicos e científicos.
  3. palavras de origem estrangeira.
  4. variantes linguísticas regionais.
  5. formas da norma padrão da língua.

27. (Enem 2009) Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida da chuva, e descansou na pedra o cachimbo.

Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.

(TREVISAN, Uma vela para Dario)

No texto, um acontecimento é narrado em linguagem literária. Esse mesmo fato, se relatado em versão jornalística, com características de notícia, seria identificado em:

  1. Aí, amigão, fui diminuindo o passo e tentei me apoiar no guarda-chuva... mas não deu. Encostei na parede e fui escorregando. Foi mal cara! Perdi os sentidos ali mesmo. Um povo que passava falou comigo e tentou me socorrer. E eu, ali, estatelado, sem conseguir falar nada! Cruzes! Que mal!
  2. O representante comercial Dario Ferreira, 43 anos, não resistiu e caiu na calçada da Rua da Abolição, quase esquina com a Padre Vieira, no centro da cidade, ontem por volta do meio-dia. O homem ainda tentou apoiar-se no guardachuva que trazia, mas não conseguiu. Aos populares que tentaram socorrê-lo não conseguiu dar qualquer informação.
  3. Eu logo vi que podia se tratar de um ataque. Eu vinha logo atrás. O homem, todo aprumado, de guarda-chuva no braço e cachimbo na boca, dobrou a esquina e foi diminuindo o passo até se sentar no chão da calçada. Algumas pessoas que passavam pararam para ajudar, mas ele nem conseguia falar.
  4. Vítima
    Idade: entre 40 e 45 anos
    Sexo: masculino
    Cor: branca
    Ocorrência: Encontrado desacordado na Rua da Abolição, quase esquina com Padre Vieira. Ambulância chamada às 12h34min por homem desconhecido. A caminho.
  5. Pronto socorro? Por favor, tem um homem caído na calçada da rua da Abolição, quase esquina com a Padre Vieira. Ele parece desmaiado. Tem um grupo de pessoas em volta dele. Mas parece que ninguém aqui pode ajudar. Ele precisa de uma ambulância rápido. Por favor, venham logo!

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