Cinema
Lista de 14 exercícios de História da Arte com gabarito sobre o tema Cinema com questões de Vestibulares.
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01. (UFG) Na primeira metade do século XX, em virtude do aperfeiçoamento da fotografia, o cinema emergia como uma arte capaz de impactar multidões. Esse impacto decorria
- do uso das técnicas teatrais para compor as personagens, retirando-lhes complexidade psicológica.
- da aliança entre imagem em movimento e efeitos sonoros, aprimorando os recursos para contar histórias.
- da eleição de roteiros nos quais era atribuída relevância ao ator por meio de monólogos.
- do investimento em cenários suntuosos como estratégia de convencimento dos espectadores.
- do privilégio concedido às histórias de penúria, tornando o drama um gênero de sucesso.
02. (UFGD) O filme Em Cinema da Lei (2016), com direção de Sergio Resende, ficcionaliza a história profissional do juiz federal Odilon Oliveira, tendo como pano de fundo o crime organizado e o tráfico de drogas em uma cidade na região de fronteira com o Paraguai. No elenco, estão atores conhecidos do grande público como Mateus Solano, Paolla Oliveira e Chico Diaz, que protagonizam a trama gravada na cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Com base na obra cinematográfica, assinale a alternativa correta.
- O comércio das drogas ilícitas no ambiente geográfico do filme é legitimado pelo poder judiciário em virtude da prosperidade que promove na economia local.
- Uma análise dos elementos da narrativa audiovisual permite dizer que o antagonista da trama é o juiz federal Vítor cujo objetivo é desmontar o esquema de contrabando de drogas da região, comandado pelo traficante Gomez e pela procuradora Aline.
- O policial federal Elton procura dar respaldo às ações do juiz Vítor investigando a conduta judicial e as relações da procuradora Aline com o traficante Gomez.
- A corrupção do poder judiciário era clara e ostentada no começo da narrativa, mas com a chegada do juiz federal Vítor, precisa se tornar sutil para cooptar as ações do magistrado.
- O juiz federal Vítor fortalece o arquétipo do herói romântico ao ser apresentado na obra como uma das únicas figuras incorruptíveis da narrativa.
03. (UFGD) O filme Terra Vermelha (2008), dirigido por Marco Bechis, retrata as tensões e conflitos enfrentados por índios Guarani-Kaiowá, envolvendo a posse de terras no estado de Mato Grosso do Sul, próximo à fronteira Paraguai/Argentina/Brasil. Quanto à estética e à interpretação do filme, assinale a alternativa incorreta.
- O filme denuncia o processo de ocupação desigual da terra, resultando, para os indígenas, em problemas como disputas com fazendeiros, assassinatos, desnutrição, alcoolismo e suicídios.
- A situação de penúria dos nativos, divididos entre suas tradições culturais e a civilização branca, é bem representada pela dificuldade de acesso a bens de consumo como celulares, motocicletas e artigos de vestuário.
- O suicídio final de um adolescente indígena é simbólico, pois representa a impossibilidade, enfrentada pelos nativos, de restituir um modo de vida cultural que o espaço a eles destinado já não comporta.
- O foco narrativo se concentra no espaço indígena, realçando o drama vivido por essa população em detrimento da situação dos fazendeiros, que são representados esquematicamente e sem um aprofundamento psicológico que os humanize.
- Os impasses de comunicação entre índios e não índios transparecem no fato de que um fazendeiro, desistindo de conversar com os índios, decide usar meios violentos para afastá-los das terras ocupadas.
04. (UNESP) Nenhum dos filmes que vi, e me divertiram tanto, me ajudou a compreender o labirinto da psicologia humana como os romances de Dostoievski – ou os mecanismos da vida social como os livros de Tolstói e de Balzac, ou os abismos e os pontos altos que podem coexistir no ser humano, como me ensinaram as sagas literárias de um Thomas Mann, um Faulkner, um Kafka, um Joyce ou um Proust. As ficções apresentadas nas telas são intensas por seu imediatismo e efêmeras por seus resultados. Prendem-nos e nos desencarceram quase de imediato, mas das ficções literárias nos tornamos prisioneiros pela vida toda. Ao menos é o que acontece comigo, porque, sem elas, para o bem ou para o mal, eu não seria como sou, não acreditaria no que acredito nem teria as dúvidas e as certezas que me fazem viver.
(Mario Vargas Llosa. “Dinossauros em tempos difíceis”.www.valinor.com.br. O Estado de S. Paulo, 1996. Adaptado.)
Segundo o autor, sobre cinema e literatura é correto afirmar que
- a ficção literária é considerada qualitativamente superior devido a seu maior elitismo intelectual.
- suas diferenças estão relacionadas sobretudo às modalidades de público que visam atingir.
- as obras literárias desencadeiam processos intelectualmente e esteticamente formativos
- a escrita literária apresenta maior afinidade com os padrões da sociedade do espetáculo.
- as duas formas de arte mobilizam processos mentais imediatos e limitados ao entretenimento.
05. (UESB)
A imagem em destaque, contextualizada no filme “O Menino e o Mundo”, de Alê Abreu, permite afirmar, exceto:
- A obra narra, sob uma inquietante ótica infantil, um mundo devastador, dominado pelo capitalismo, mas que, de maneira indireta, mostra um profundo desejo de mudança.
- A trajetória de Oninem em busca de seu pai revela questões sociais que despertam no espectador uma tristeza, diante da constatação de fatos, que se amplia pela simplicidade com que as imagens são construídas.
- A expectativa da personagem de encontrar seu pai, simbolicamente contextualiza a crença da criança por uma sociedade mais justa e igualitária.
- A ausência de diálogos contrasta com a presença de sons que contribuem para a expressão de sentimentos e para a evolução da trama.
- A opção por traços minimalista, além de estabelecer um diálogo com a realidade psíquica de Oninem e com as demais crianças, provoca nos adultos a memória afetiva que os faz desejar voltar a ser criança.
06. (ESPM) O drama brasileiro ganhou o prêmio de público da Mostra Panorama, segunda mostra mais importante, no Festival de Berlim.
O prêmio de público não traz nenhuma quantia em dinheiro, mas traz um enorme prestígio exatamente porque emana da voz dos cinéfilos não profissionais.
Vindo de Sundance, festival nos EUA, dirigido para as produções independentes, com os prêmios de melhores atrizes para Regina Casé e Camila Márdila, o filme agora alcançou o prestigioso prêmio em Berlim.
(http://blogs.estadao.com.br/fatima-lacerda/ ganha-o-premio-de-publico-da-mostra-panorama/ 14/2/2015 acessado às 14h04)
O filme brasileiro em questão é:
- “A que horas ela volta?” de Anna Muylaert;
- “Jia Zhangke, um homem de Fenyang” de Walter Salles;
- “Ventos de agosto” de Gabriel Mascaro;
- “Ausência” de Chico Teixeira;
- “Sangue azul” de Lírio Ferreira.
07. (FACASPER) Sobre São Paulo S/A, de Luís Sérgio Person, é corretor afirmar:
- O dilaceramento existencial de Carlos, o protagonista do filme, representa o desespero dos intelectuais brasileiros às vésperas do AI-5, prenunciando um novo tempo de violência e arbítrio que se concretizaria a partir de 1968.
- O drama de Carlos tem como palco e motor principal a cidade de São Paulo. A articulação dos dramas interior e exterior, vividos não somente pelo personagem, mas também pelo país, é construída de forma a tornar o filme um amargo retrato da classe média brasileira.
- O filme se constrói como um discurso interior do personagem principal, explorando as narrações em off de Carlos como um substrato lírico e subjetivo que se emancipa da realidade social e política.
- No filme, a euforia desenvolvimentista dos anos 1950 funde-se à tragédia política de Carlos, o protagonista, que escolhe o caminho da luta armada para tentar entender um pouco melhor seu país após o golpe militar de 1964.
- O filme está fundamentado na distância cínica que a câmera estabelece com os personagens, interessada que está em registrar a violência e a agilidade das tragédias físicas, marca principal do cinema novo.
08. (ESPM) Observe a matéria:
O filme é visualmente muito elaborado, com inspiração em pinturas pré-rafaelitas e alemãs, música de Beethoven (como a Nona Sinfonia) e traduzindo a habitual visão niilista do diretor sobre a vida e as relações humanas. Kirsten Dunst acabou vencendo o prêmio de melhor atriz neste ano em Cannes, por seu desempenho no filme. A discussão do filme em si, que concorria à Palma de Ouro, foi bastante prejudicada por declarações do diretor sobre Hitler.
(www.g1.globo.com. Acesso em 04/08/11).
O texto trata sobre:
- o filme Meia Noite em Paris, do cineasta norte-americano Woody Allen;
- o filme Restrepo, do jornalista norte-americano Sebastian Junger e do fotojornalista inglês Tim Hetherington;
- o filme Melancolia, do cineasta dinamarquês Lars Von Trier;
- o filme Bastardos Inglórios, do cineasta norte-americano Quentin Tarantino;
- o filme As Razões do Coração, do cineasta mexicano Arturo Ripstein.
09. (ESPM) A Cinemateca Brasileira realiza a mostra “Dogma 95 – 15 anos depois” com o apoio do Instituto Cultural da Dinamarca. O Dogma 95 é um movimento cinematográfico internacional lançado a partir de um manifesto publicado em 13/03/1995, em Copenhague, na Dinamarca. Os autores foram os cineastas dinamarqueses Thomas Vinterberg e Lar
Von Trier.
(www.redebrasilatual.com.br)
Sobre o Dogma 95 é correto afirmar:
- constituiu o manifesto de adesão de criativos cineastas ao cinema de modelo hollywoodiano;
- o manifesto teve cunho técnico e segundo os cineastas foi um ato de resgate do cinema feito antes da exploração industrial (segundo o modelo de Hollywood);
- uma das características dos filmes – Dogma – são os elevados custos de produção, o que transformou os trabalhos produzidos pelo movimento em filmes de produção caríssima;
- entre as chamadas regras básicas, também conhecidas como “voto de castidade” do movimento, estão a que o filme deve ser em preto e branco e todos devem contar com iluminação especial e filtros;
- o movimento prega a utilização de elementos especiais para explorar a cena, como trilha sonora, efeitos especiais, cenografia e truques de filmagem.
10. (FGV) Na mesma época da Bossa Nova na música, surgia o Cinema Novo. Entre 1960 e 1962, um grupo de jovens cineastas, entre eles Glauber Rocha, Arnaldo Jabor, Ruy Guerra, além do veterano Nelson Pereira dos Santos, preconizava a necessidade de um cinema ousado, em forma e conteúdo (…)
(Marcos Napolitano. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980), 2001.)
Sobre essa ousadia “em forma e conteúdo”, é correto afirmar que o Cinema Novo
- trabalhava com paródias de superproduções do cinema europeu e usava de referências carnavalescas para representar o gosto popular pelos melodramas.
- defendia um cinema de autor, com a utilização de um cenário natural, mostrando a realidade brasileira marcada por relações sociais conflituosas.
- negava destaque aos problemas contemporâneos e tinha como temática a recuperação de um passado mítico brasileiro, sob uma estética futurista.
- seguia os padrões hollywoodianos quanto à temática do progresso e recebia decisivo apoio financeiro da Ancine — Agência Nacional do Cinema.
- reconhecia, na harmonia social e racial brasileira, o elemento básico para a compreensão da realidade econômica do país.
11. (Enem Digital 2020) TEXTO I
Cinema Novo
O filme quis dizer: “Eu sou o samba”
A voz do morro rasgou a tela do cinema
E começaram a se configurar
Visões das coisas grandes e pequenas
Que nos formaram e estão a nos formar
Todas e muitas: Deus e o diabo, vidas secas, os fuzis,
Os cafajestes, o padre e a moça, a grande feira, o desafio
Outras conversas, outras conversas sobre os jeitos do Brasil
VELOSO, C.; GIL, G. In: Tropicália 2. Rio de Janeiro: Polygram, 1993 (fragmento).
TEXTO II
O cinema brasileiro partiu da consciência do subdesenvolvimento e da necessidade de superá-lo de maneira total, em sentido estético, filosófico, econômico: superar o subdesenvolvimento com os meios do subdesenvolvimento. Tropicalismo é o nome dessa operação; por isso existe um cinema antes e depois do Tropicalismo. Agora nós não temos mais medo de afrontar a realidade brasileira, a nossa realidade, em todos os sentidos e a todas as profundidades.
ROCHA, G. Tropicalismo, antropologia, mito, ideograma. In: Revolução do Cinema Novo. Rio de Janeiro: Alhambra; Embrafilme, 1981 (adaptado).
Uma das aspirações do Cinema Novo, movimento cinematográfico brasileiro dos anos 1960, incorporadas pela letra da canção e detectáveis no texto de Glauber Rocha, está na
- retomada das aspirações antropofágicas pela prática intertextual
- problematização do conceito de arte provocada pela geração tropicalista.
- materialização do passado como instrumento de percepção do contemporâneo.
- síntese da cultura popular em sintonia com as manifestações artísticas da época.
- formulação de uma identidade brasileira calcada na tradição cultural e na crítica social.
12. (Enem 2021) O documentário O menino que fez um museu, direção de Sérgio Utsch, produção independente de brasileiro e britânicos, gravado no Nordeste em 2016, mais precisamente no distrito Dom Quintino, zona rural do Crato, foi premiado em Londres, pela Foreign Press Associations (FPA), a associação de correspondentes estrangeiros mais antiga do mundo, fundada em 1888.
De acordo com o diretor, O menino que fez um museu foi o único trabalho produzido por equipes fora do eixo Estados-Unidos-Europa entre os finalistas. O documentário conta a história de um Brasil profundo, desconhecido até mesmo por muitos brasileiros. É apresentado com o carisma de Pedro Lucas Feitosa, 11 anos.
Quanto tinha 10 anos, Pedro Lucas criou o Museu de Luyiz Gonzaga, que fica distrito de Dom Quintino. A ideia surgiu após uma visita que o garoto fez, em 2013, quando tinha 8 anos, ao Museu do Gonzagão, em Exu, Pernambuco. Pedro decidiu criar o próprio lugar de exposição para homenagear o rei e o local escolhido foi a casa da sua bisavó já falecida, que fica ao lado da casa dele, na rua Alto de Antena.
Disponível em: www.opovo.com.br. Acesso em> 18 abr. 2018
No segundo parágrafo, uma citação afirma que o documentário “foi o único trabalho produzido por equipes fora do eixo Estados Unidos-Europa entre os finalistas”. No texto, esse recurso expressa uma estratégia argumentativa que reforça a
- originalidade da iniciativa de homenagem à vida vida e à obra de Luiz Gonzaga.
- falta de concorrentes ao prêmio de uma das associações mais antigas do mundo.
- proeza da premiação de uma história ambientada no interior do Nordeste brasileiro.
- escassez de investimentos para a produção cinematográfica independente no país.
- importância da parceria entre brasileiros e britânicos para a realização das filmagens
13. (Enem PPL 2017) Synopsis
Filmed over nearly three years, WASTE LAND follows renowned artist Vik Muniz as he journeys from his home base in Brooklyn to his native Brazil and the world’s largest garbage dump, Jardim Gramacho, located on the outskirts of Rio de Janeiro. There he photographs an eclectic band of “catadores” – self-designated pickers of recyclable materials. Muniz’s initial objective was to “paint” the catadores with garbage. However, his collaboration with these inspiring characters as they recreate photographic images of themselves out of garbage reveals both the dignity and despair of the catadores as they begin to re-imagine their lives. Director Lucy Walker (DEVIL’S PLAYGROUND, BLIDSIGHT and COUNTDOWN TO ZERO) and co-directors João Jardim and Karen Harley have great access to the entire process and, in the end, offer stirring evidence of the transformative power of art and the alchemy of the human spirit.
Disponível em: www.wastelandmovie.com. Acesso em: 2 dez. 2012.
Vik Muniz é um artista plástico brasileiro radicado em Nova York. O documentário Waste Land, produzido por ele em 2010, recebeu vários prêmios e
- sua filmagem aconteceu no curto tempo de três meses.
- seus personagens foram interpretados por atores do Brooklyn.
- seu cenário foi um aterro sanitário na periferia carioca.
- seus atores fotografaram os lugares onde moram.
- seus diretores já pensam na continuidade desse trabalho.
14. (UCS) A questão refere-se ao texto abaixo.
A aventura do cinema continua
Roger Lerina, em 20 de dezembro de 2017
O cinema completa 122 anos na semana que vem. Foi em 28 de dezembro de 1895, em Paris, que
os irmãos Lumière fizeram a primeira exibição pública paga de seu fabuloso invento: o cinematógrafo.
Os espectadores daquela sessão inaugural assistiram maravilhados, muitos deles aturdidos, à locomotiva
e sua composição que marchava célere do fundo da tela em direção à plateia. “A Chegada de um Trem na
[05] Estação” marca oficialmente o surgimento da expressão artística que melhor encarnou o espírito do século
XX – e que teima em encantar ainda hoje. Desde seu nascimento, a chamada sétima arte vem superando
obstáculos como limitações técnicas, descrédito intelectual, ataques moralistas, crises financeiras, atrações
concorrentes. Sua morte já foi decretada diversas vezes, mas seus supostos matadores nunca conseguiram
finalizar o serviço – a televisão, a internet, a TV a cabo, as séries na Netflix, mesmo a chegada do cinema
[10] falado. Os novos meios e formatos abalam e influenciam a produção cinematográfica, mas a demanda por
filmes é uma fome que por enquanto segue insaciada. Basta ver as extensas filas para assistir a “Star Wars:
Os Últimos Jedi”, formadas tanto por senhores que acompanham a saga como eu desde o primeiro título,
lançado em 1977, até moleques que só descobriram na semana passada o universo interestelar criado pelo
cineasta George Lucas.
[15] Dois exemplos de filmes recentes que ajudam a entender esse fascínio pelo cinema, o primeiro já em
cartaz em Porto Alegre, o outro deve estrear nesta quinta-feira: “Lumière! A Aventura Começa” (2016) e
“Corpo e Alma” (2017). A princípio, pouco em comum há entre o documentário que compila filmetes pioneiros
rodados pela empresa de Auguste e Louis Lumière e a ficção contemporânea húngara pré-selecionada para
o próximo Oscar de longa estrangeiro. Em ambos, no entanto, somos capturados pela força de imagens
[20] capazes de nos remeter a lugares e estados de espírito que transcendem o registro visual na tela.
Diretor do Instituto Lumière e do Festival de Cinema de Cannes, o francês Thierry Frémaux compilou e
comentou 108 curtas dos 1.422 filmados pelos irmãos inventores e seus cinegrafistas entre 1895 e 1905. São
filmes de 50 segundos no máximo, recuperados e restaurados por instituições de preservação chanceladas
por nomes como o do diretor norte-americano Martin Scorsese. Em “Lumière! A Aventura Começa”, o beabá
[25] do cinema é balbuciado diante dos nossos olhos: as noções intuitivas de enquadramento, a busca por
organizar os personagens e os objetos diante da câmera, a procura incansável pelos melhores ângulos,
as maneiras inventivas de driblar a fixidez e mudar a câmera de lugar – no começo, o equipamento não
podia ser movido. O encantamento do cinema já está todo lá em sua primeira infância: a documentação das
paisagens naturais e urbanas, o mundo do trabalho e do lazer, os folguedos em família nas casas de campo
[30] que lembram quadros de Renoir e a mundanidade parisiense que parece saída das páginas de um romance
de Proust, as cidades cujo panorama estava sendo rapidamente alterado pelo progresso e as regiões do
planeta ainda exóticas aos olhares ocidentais. Cartões postais do passado em preto e branco e silentes,
precários, mas dotados de uma beleza eloquente que sobrepassa a função de meramente catalogar uma
época, dialogando com nossa percepção atual da sociedade e das coisas que nos circundam.
[35] Mais de 120 anos depois das experiências desbravadoras dos Lumière, “Corpo e Alma” reafirma a
duradoura potência do cinema como veículo de narrações e emoções. Vencedor do Urso de Ouro, do
prêmio da crítica internacional e do júri ecumênico do Festival de Berlim deste ano, o drama da diretora
húngara Ildikó Enyedi seduz o espectador logo de início com sua estranheza ao mesmo tempo encantadora
e desconfortável. A história se desenrola no ambiente de um moderno abatedouro bovino, no qual trabalha
[40] o diretor financeiro Endre (Géza Morcsányi). A rotina do local é alterada com a chegada de Mária (Alexandra
Borbély), nova inspetora de qualidade que, além do rigor em seu ofício, chama a atenção por conta de seu
comportamento arredio e metódico. Endre tenta socializar com Mária, mas as abordagens são frustradas
por conta da dificuldade da bela jovem em interagir com outras pessoas. Quando, porém, descobrem
estar dividindo os mesmos sonhos, protagonizados por um casal de cervos à beira de um lago nevado, os
[45] solitários colegas ensaiam uma aproximação mútua cautelosa, dolorosa e cheia de percalços.
A sensação que “Corpo e Alma” provoca é ambivalente: às idílicas cenas oníricas de efeito
tranquilizador, o filme contrapõe incômodas imagens explícitas e documentais de como o gado é
desmembrado e processado para o posterior consumo humano. É sobre essa instabilidade desconcertante
como a vida que “Corpo e Alma” equilibra seu romance, conto agridoce de um homem e uma mulher,
[50] tentando transformar o sonho em realidade.
Acredito que, enquanto o cinema souber manejar essa mágica que nos faz trafegar entre um mundo e
outro, do sonho à realidade e vice-versa, sua aventura continuará tendo futuro.
Disponível em: http://rogerlerina.com.br/post/120/a-aventura-do-cinema-continua. Acesso em: 29 mar. 2019. (Adaptado.)
Conforme o texto, é correto afirmar que
- o maior desafio da sétima arte é integrar as tecnologias modernas a suas técnicas tradicionais.
- mesmo com as novidades na área de produção audiovisual, o cinema permanece estático.
- as produções em preto e branco prescindem de qualidade visual.
- Endre e Mária, em certos momentos de “Corpo e Alma”, veem as mesmas imagens durante o sono.
- o intento de Frémaux em “Lumière! A Aventura Começa” é sobrepujar as produções dos irmãos Lumière.