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Guerra da Cisplatina

Guerra contra as Províncias Unidas do Prata

A província Cisplatina, anexada em 1817, proclamou a separação do Brasil em 1825. D. Pedro I declarou guerra. Ilustração MultiRio

A oposição ao governo de D. Pedro I cresceu a partir de dois acontecimentos: a morte de D. João VI – que levantou a questão da sucessão do trono português – e a guerra contra as Províncias Unidas do Rio da Prata (futura Argentina), que resultou na perda da Província Cisplatina.

Essa região, antes denominada Banda Oriental do Uruguai, havia sido conquistada por campanha militar em 1817, quando da permanência da corte portuguesa no Rio de Janeiro, durante o governo do príncipe regente. Após inúmeras manifestações, protestos e desentendimentos políticos ocorridos na região da Cisplatina – submetida por invasão –, reuniu-se um Congresso, em agosto de 1825, que proclamou sua separação do Brasil e a incorporação às Províncias Unidas do Rio da Prata.

Esse acontecimento deflagrou uma guerra desastrosa, a partir de dezembro de 1825, entre as partes envolvidas. D. Pedro I sustentou essa guerra, pois a política do Brasil em relação ao restante do continente era no sentido de dificultar a formação de grandes países.

Com a guerra na Cisplatina e a morte de D. João VI, cresceu a oposição a Pedro I. Gravura de 1826, de J. C. Villanova. Domínio público, Biblioteca Nacional

Por outro lado, a anexação da Cisplatina fortalecia as Províncias Unidas, que passavam a controlar toda a bacia do Rio da Prata e seu estuário. Tendo em vista as dificuldades de comunicação terrestre, o bloqueio da área fluvial dificultava os contatos com as áreas localizadas no oeste de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e sudoeste de Mato Grosso. Isso poderia ameaçar a unidade e a estabilidade do Império e a do imperador.

Guerra contra as Províncias Unidas do Prata: gastos militares e questões econômicas

A Batalha de Rincón. O Exército do Império do Brasil teve sua primeira derrota nesse confronto, ocorrido em 24 de setembro de 1825. Óleo sobre tela de Esteban Garino. Uso amparado pela Lei 9610

No contexto da guerra contra as Províncias Unidas do Prata, o Brasil, internamente, enfrentava vários problemas. Os gastos militares agravavam enormemente os problemas econômicos e financeiros já existentes. O conflito – em área distante da corte – envolvia o deslocamento de uma tropa regular que, na verdade, não estava organizada e muito menos preparada para o que teria que enfrentar.

Segundo o historiador Nelson Werneck Sodré, faltava tudo. Não havia, por exemplo, transporte militar suficiente: naquela época, carros de boi. A cavalaria também estava desorganizada, pois, dos cerca de 14.700 animais constantes nos documentos oficiais, apenas 18 estavam em condições. As tropas estavam descalças e com fardamento incompleto. O soldo, de um modo geral, vivia atrasado.

Uniforme completo de oficial do Exército, muito embora, por falta de recursos, as tropas costumassem usar trajes incompletos. Uso amparado pela Lei 9610, Museo Portugués de Colonia Del Sacramento

Também comentavam-se muito os escândalos que envolviam a inclusão de soldados mortos na folha de pagamento, assim como a manutenção de unidades "fantasmas" com a finalidade de assegurar rendimento maior a alguns oficiais superiores.

O problema do efetivo necessário para a tropa, inúmeras vezes recrutado à força no Brasil, foi solucionado por D. Pedro I por meio da contratação de soldados mercenários.

Vindos da Europa, eram homens pobres – sem treinamento militar, na maioria – que aceitavam o contrato proposto na perspectiva de se tornarem pequenos proprietários no Brasil.

Em meio a esses desacertos, floresceu uma imprensa militar. Felisberto Caldas, ao embarcar para assumir o comando das forças que lutavam na região da Cisplatina, solicitou uma tipografia, que alcançou o local da luta entre dezembro de 1826 e janeiro de 1827, não se sabe ao certo.

A frota brasileira no bloqueio de Buenos Aires. Os gastos com a guerra agravaram a crise econômico-financeira do Império. Litogravura de Gastón Roullet, c. 1880. Domínio público, Wikimedia Commons

Foi com ele que se imprimiu, em 5 de fevereiro, o segundo boletim do Exército e os que vieram depois. Posteriormente, com esse mesmo equipamento, foi impresso o primeiro jornal da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, que começou a circular em 1º de junho de 1827.

Cada vez mais, a guerra agravava a crise econômica, pois outros gastos foram feitos pelo imperador na compra de navios para a esquadra imperial.

Guerra contra as Províncias Unidas do Prata: as relações internacionais

Simón Bolívar, líder da libertação de várias colônias sul-americanas, cogitava intervir na guerra por entender que o Brasil representava os interesses recolonizadores da Santa Aliança. Detalhe de óleo sobre tela (240 x 126,5 cm) de Arturo Michelena. Domínio público, Galeria de Arte Nacional

Problemas na área das relações internacionais surgiram durante a guerra contra as Províncias Unidas do Rio da Prata. Inglaterra e França entendiam que o bloqueio do Porto de Buenos Aires, pela Marinha imperial, causaria enormes prejuízos a seus interesses comerciais na região. O conflito arrastava os dois principais compradores da Inglaterra na América do Sul para uma crise de proporções imprevisíveis. As perdas humanas também afligiam a Inglaterra, já que grande parte dos oficiais das duas Marinhas em guerra, assim como a tripulação, era composta por ingleses.

Comentava-se também que Simón Bolívar, líder da independência da América espanhola, iria propor uma intervenção nos países em guerra por julgar que a monarquia brasileira representava, na América, os interesses recolonizadores da Santa Aliança.

Para a Inglaterra, era imprescindível, comercialmente falando, que a navegação no Prata se mantivesse aberta. Apesar da mediação inglesa, a guerra prolongou-se durante três anos, sem resultados definitivos mas com grandes perdas para os dois países em luta.

Mercado de Buenos Aires. Gravura de Emeric Essex Vidal, 1820. Para a manutenção de seu comércio com a região, era fundamental à Inglaterra o fim do bloqueio do Rio da Prata. Domínio público

Nas preocupações do governo britânico incluía-se a necessidade de impedir que os dois contendores – ou até mesmo um deles – se voltassem para os Estados Unidos da América em busca de ajuda. Se isso viesse a ocorrer, os Estados Unidos receberiam vantagens comerciais, o que prejudicaria os comerciantes ingleses, que teriam os seus negócios diminuídos, especialmente em Buenos Aires. Assim, mediar o caso tinha grande importância, e por conta disso os diplomatas britânicos em Buenos Aires e no Rio de Janeiro sugeriram a mediação da Inglaterra. Consta, inclusive, que o ministro inglês Canning entendia que esta mediação "significaria uma aproximação entre o Velho e o Novo Mundo".

O final da Guerra contra as Províncias Unidas do Prata

O Uruguai adotou o Sol de Maio como símbolo. Ele faz referência ao deus-sol inca, Inti, e ao mês que deu início ao longo processo de luta que libertou da Espanha o Vice-Reino do Rio da Prata. Moeda gravada por Ernest Tasset. Domínio público

A guerra, apesar dos esforços dos mediadores, terminou apenas em 1828, quando foi assinado um tratado de paz.

A Cisplatina teve sua independência reconhecida pelos governos do Brasil e das Províncias Unidas do Rio da Prata, passando a se denominar República Oriental do Uruguai. O tratado também incluía um artigo que estabelecia a livre navegação na Bacia do Prata pelo prazo de 15 anos. Isso significava, em outras palavras, que, por meio da mediação, o governo inglês obteve a vantagem do livre comércio no estuário platino.

A guerra significou desgaste para D. Pedro I devido, em grande parte, aos altos gastos militares e empréstimos externos em tempos de crise. Por outro lado, fez aumentar as desconfianças das repúblicas latino-americanas, que julgavam a política expansionista do Brasil uma ameaça para o continente.

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