Resolução: Literatura Contemporânea
Lista de 12 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Literatura Contemporânea com questões do Enem.
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01. (Enem 2024) Meu irmão é filho adotivo. Há uma tecnicidade no termo, filho adotivo, que contribui para sua aceitação social. Há uma novidade que por um átimo o absolve das mazelas do passado, que parece limpá-lo de seus sentidos indesejáveis. Digo que meu irmão é filho adotivo e as pessoas tendem a assentir com solenidade, disfarçando qualquer pesar, baixando os olhos como se não sentissem nenhuma ânsia de perguntar mais nada. Talvez compartilhem da minha inquietude, talvez de fato se esqueçam do assunto no próximo gole ou na próxima garfada. Se a inquietude continua a reverberar em mim, é porque ouço a frase também de maneira parcial – meu irmão é filho – e é difícil aceitar que ela não termine com a verdade tautológica habitual: meu irmão é filho dos meus pais. Estou entoando que meu irmão é filho e uma interrogação sempre me salta aos lábios: filho de quem?
FUCKS, J. A resistência. São Paulo: Cia. das Letras, 2015. Das reflexões do narrador, apreende-se uma perspectiva que associa a adoção
- a representações sociais estigmatizadas da parentalidade.
- à necessidade de aprovação por parte de desconhecidos.
- ao julgamento velado de membros do núcleo familiar.
- ao conflito entre o termo técnico e o vínculo afetivo.
- a inquietações próprias das relações entre irmãos
Resposta: D
Resolução: A reflexão do narrador sugere um conflito entre a definição técnica do termo "filho adotivo" e a relação afetiva que existe entre irmãos e pais. Essa perspectiva associa a adoção ao conflito entre o termo técnico e o vínculo afetivo, que não se limita a conceitos legais, mas a um sentimento de pertencimento e identidade familiar.
02. (Enem 2023) E assim as coisas continuaram acontecendo entre os dois, em quase sustos, um grande por acaso com cacoetes de gestos definitivos.
Com o Nunca Mais se oferecendo o tempo todo, bastaria dizer foi um prazer ter te conhecido, bastaria não trocar telefones nem e-mails e enterrar a casualidade com a cal da sabedoria — nada poderia ser definitivo, os encontros duravam duas horas ou duas décadas ou duas vezes isso, mas em algum momento necessariamente seria o fim. De todos os grandes amores, De todos os pequenos.
De todas as juras, das promessas, de todos os na-alegria-e-na-tristeza. De todos os não amores, os desamores, os casamentos para sempre, os rancores para sempre, de todas as paralelas que só se viabilizam na abstração da geometria, de todas as pequenas paixões e de todas as grandes paixões, de tudo que para na antessala da paixão, de todos os vínculos não experimentados, de todos.
LISBOA, A. Rahushisha. Rio de Janeiro Objetiva 2014.
O recurso que promove a progressão textual, contribuindo para a construção da ideia de que as relações amorosas têm um enredo comum, é a
- repetição do pronome indefinido ‘todos”.
- utilização do travessão na marcação do aposto.
- retomada do antecedente pelo pronome “isso’
- contraposição de ideias marcada pela conjunção mas.
- substantivação de expressões pela anteposição do artigo.
Resposta: A
Resolução:
03. (Enem 2023) Passado muito tempo, resolvi tentar falar, porque estava sozinha me embrenhando na mesma vereda que Donana costumava entrar. Ainda recordo da palavra que escolhi: arado. Me deleitava vendo meu pai conduzindo o arado velho da fazenda carregado pelo boi, rasgando a terra para depois lançar grãos de arroz em torrões marrons e vermelhos revolvidos.
Gostava do som redondo, fácil e ruidoso que tinha ao ser enunciado. “Vou trabalhar no arado.” “Vou arar a terra.” “Seria bom ter um arado novo, esse arado tá troncho e velho.” O som que deixou minha boca era uma aberração, uma desordem, como se no lugar do pedaço perdido da língua tivesse um ovo quente. Era um arado torto, deformado, que penetrava a terra de tal forma a deixá-la infértil, destruída, dilacerada.
VIEIRA JR.; I. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2019.
Com a perda de parte da língua na infância, a narradora tenta voltar a falar. Essa tentativa revela uma experiência que
- reflete o olhar do pai sobre as etapas do plantio.
- metaforiza a linguagem como ferramenta de lavoura.
- explicita, na busca pela palavra, o medo da solidão.
- confirma a frustração da narradora com relação à terra.
- sugere, na ausência da linguagem, a estagnação do tempo.
Resposta: B
Resolução:
04. (Enem 2023) Alguém muito recentemente cortara o mato, que na época das chuvas crescia e rodeava a casa da mãe de Ponciá Vicêncio e de Luandi. Havia também vestígios de que a terra fora revolvida, como se ali fosse plantar uma pequena roça. Luandi sorriu.
A mãe devia estar bastante forte, pois ainda labutava a terra. Cantou alto uma cantiga que aprendera com o pai, quando eles trabalhavam na terra dos brancos. Era uma canção que os negros mais velhos ensinavam aos mais novos. Eles diziam ser uma cantiga de voltar, que os homens, lá na África, entoavam sempre, quando estavam regressando da pesca, da caça ou de algum lugar.
O pai de Luandi, no dia em que queria agradar à mulher, costumava entoar aquela cantiga ao se aproximar de casa. Luandi não entendia as palavras do canto; sabia, porém, que era uma língua que alguns negros falavam ainda, principalmente os velhos. Era uma cantiga alegre. Luandi, além de cantar, acompanhava o ritmo batendo com as palmas das mãos em um atabaque imaginário.
Estava de regresso à terra. Voltava em casa. Chegava cantando, dançando a doce e vitoriosa cantiga de regressar.
EVARISTO, C. Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas, 2018.
A leitura do texto permite reconhecer a “cantiga de voltar’ como patrimônio linguístico que
- representa a memória de uma língua africana extinta.
- exalta a rotina executada por jovens afrodescendentes.
- preserva a ancestralidade africana por meio da tradição oral.
- resgata a musicalidade africana por meio de palavras inteligíveis.
- remonta à tristeza dos negros mais velhos com saudade da África.
Resposta: C
Resolução:
05. (Enem 2020) A vida às vezes é como um jogo brincado na rua: estamos no último minuto de uma brincadeira bem quente e não sabemos que a qualquer momento pode chegar um mais velho e avisar que a brincadeira já acabou e está na hora do jantar. A vida afinal acontece muito de repente – nunca ninguém nos avisou que aquele era mesmo o último Carnaval da Vitória. O Carnaval também chegava sempre de repente. Nós, as crianças, vivíamos num tempo fora do tempo, sem nunca sabermos dos calendários de verdade. […] O “dia da véspera do Carnaval”, como dizia a avó Nhé, era dia de confusão com roupas e pinturas a serem preparadas, sonhadas e inventadas. Mas quando acontecia era um dia rápido, porque os dias mágicos passam depressa deixando marcas fundas na nossa memória, que alguns chamam também de coração.
ONDJAKI. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007.
As significações afetivas engendradas no fragmento pressupõem o reconhecimento da
- perspectiva infantil assumida pela voz narrativa.
- suspensão da linearidade temporal da narração.
- tentativa de materializar lembranças da infância.
- incidência da memória sobre as imagens narradas.
- alternância entre impressões subjetivas e relatos factuais.
Resposta: D
Resolução: O fragmento descreve as lembranças e impressões da infância, especificamente as lembranças do Carnaval, e como elas estão profundamente arraigadas na memória e afetam o narrador. A passagem também implica a natureza subjetiva das memórias e como elas moldam nossa compreensão de eventos passados.
06. (Enem 2019) Ed Mort só vai
Mort. Ed Mort. Detetive particular. Está na plaqueta. Tenho um escritório numa galeria de Copacabana entre um fliperama e uma loja de carimbos. Dá só para o essencial, um telefone mudo e um cinzeiro. Mas insisto numa mesa e numa cadeira. Apesar do protesto das baratas. Elas não vencerão. Comprei um jogo de máscaras. No meu trabalho o disfarce é essencial. Para escapar dos credores. Outro dia entrei na sala e vi a cara do King Kong andando pelo chão. As baratas estavam roubando as máscaras. Espisoteei meia dúzia. As outras atacaram a mesa. Consegui salvar a minha Bic e o jornal. O jornal era novo, tinha só uma semana. Mas elas levaram a agenda. Saí ganhando. A agenda estava em branco. Meu último caso fora com a funcionária do Erótica, a primeira ótica da cidade com balconista topless. Acabara mal. Mort. Ed Mort. Está na plaqueta.
VERISSIMO, L. F. Ed Mort: todas as histórias. Porto Alegre: L&PM, 1997 (adaptado).
Nessa crônica, o efeito de humor é basicamente construído por uma
- segmentação de enunciados baseada na descrição dos hábitos do personagem.
- ordenação dos constituintes oracionais na qual se destaca o núcleo verbal.
- estrutura composicional caracterizada pelo arranjo singular dos períodos.
- sequenciação narrativa na qual se articulam eventos absurdos.
- seleção lexical na qual predominam informações redundantes.
Resposta: D
Resolução: A passagem descreve os eventos engraçados e absurdos da vida do detetive particular Ed Mort, como o ataque de baratas em seu escritório, usando uma máscara de King Kong como disfarce, e um caso fracassado envolvendo um oftalmologista de topless. Esses eventos são apresentados em uma sequência narrativa que cria um efeito humorístico. A passagem não depende de outros recursos linguísticos ou estilísticos para criar humor.
07. (Enem 2019) Ela nasceu lesma, vivia no meio das lesmas, mas não estava satisfeita com sua condição. Não passamos de criaturas desprezadas, queixava-se. Só somos conhecidas por nossa lentidão. O rastro que deixaremos na História será tão desprezível quanto a gosma que marca nossa passagem pelos pavimentos.
A esta frustração correspondia um sonho: a lesma queria ser como aquele parente distante, o escargot. O simples nome já a deixava fascinada: um termo francês, elegante, sofisticado, um termo que as pessoas pronunciavam com respeito e até com admiração. Mas, lembravam as outras lesmas, os escargots são comidos, enquanto nós pelo menos temos chance de sobreviver. Este argumento não convencia a insatisfeita lesma, ao contrário: preferiria exatamente terminar sua vida desta maneira, numa mesa de toalha adamascada, entre talheres de prata e cálices de cristal. Assim como o mar é o único túmulo digno de um almirante batavo, respondia, a travessa de porcelana é a única lápide digna dos meus sonhos.
SCLIAR, M. Sonho de lesma. In: ABREU, C. F. et al. A prosa do mundo. São Paulo: Global, 2009.
Incorporando o devaneio da personagem, o narrador compõe uma alegoria que representa o anseio de
- rejeitar metas de superação de desafios.
- restaurar o estado de felicidade pregressa.
- materializar expectativas de natureza utópica.
- rivalizar com indivíduos de condição privilegiada.
- valorizar as experiências hedonistas do presente.
Resposta: C
Resolução: A passagem descreve o desejo do personagem de ser como o escargot, uma criatura vista como elegante, sofisticada e respeitada. Esse desejo é retratado como uma utopia, pois dificilmente o personagem conseguiria realizá-lo, e mesmo que conseguisse, levaria à morte. A passagem também implica que o desejo do personagem é movido pelo desejo de escapar das conotações negativas associadas a ser um caracol e ao status social e percepção dos caracóis. Essa vontade de fugir da situação atual e chegar a uma melhor é uma utopia.
08. (Enem 2018) Quebranto
às vezes sou o policial que me suspeito
me peço documentos
e mesmo de posse deles
me prendo e me dou porrada
às vezes sou o porteiro
não me deixando entrar em mim mesmo
a não ser
pela porta de serviço
[...]
às vezes faço questão de não me ver
e entupido com a visão deles
sinto-me a miséria concebida como um eterno
começo
fecho-me o cerco
sendo o gesto que me nego
a pinga que me bebo e me embebedo
o dedo que me aponto
e denuncio
o ponto em que me entrego.
às vezes!...
CUTI. Negroesia. Belo Horizonte: Mazza, 2007 (fragmento).
Na literatura de temática negra produzida no Brasil, é recorrente a presença de elementos que traduzem experiências históricas de preconceito e violência. No poema, essa vivência revela que o eu lírico
- incorpora seletivamente o discurso do seu opressor.
- submete-se à discriminação como meio de fortalecimento.
- engaja-se na denúncia do passado de opressão e injustiças.
- sofre uma perda de identidade e de noção de pertencimento.
- acredita esporadicamente na utopia de uma sociedade igualitária.
Resposta: A
Resolução: O poema "Quebranto" da CUTI, do livro "Negroesia", retrata as experiências de preconceito e violência históricas na literatura de temática negra produzida no Brasil. O poema revela que o eu lírico incorpora seletivamente o discurso do opressor, pois o poeta expressa sentimentos de autosuspeita, autoaprisionamento e autopunição. O poeta também se descreve como um porteiro, não se permitindo entrar a não ser pela porta dos fundos, e às vezes recusando-se a ver a si mesmo, sentindo a miséria como um eterno começo. O poeta fecha-se num cerco, sendo o gesto que se nega, a bebida que bebe e se embriaga, o dedo que aponta para si e se denuncia, o ponto onde se entrega.
09. (Enem 2017) Contranarciso
em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas
o outro
que há em mim
é você
você
e você
assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós
LEMINSKI, P. Toda poesia. São Paulo: Cia. das Letras, 2013.
A busca pela identidade constitui uma faceta da tradição literária, redimensionada pelo olhar contemporâneo. No poema, essa nova dimensão revela a
- ausência de traços identitários.
- angústia com a solidão em público.
- valorização da descoberta do “eu” autêntico.
- percepção da empatia como fator de autoconhecimento.
- impossibilidade de vivenciar experiências de pertencimento.
Resposta: D
Resolução: O poema "Contranarciso" de Leminski, trata do tema da identidade, que é um aspecto recorrente na tradição literária, mas redimensionado por uma perspectiva contemporânea. O poema revela que a nova dimensão da identidade é a percepção da empatia como fator de autoconhecimento. O poeta vê a si mesmo nos outros e os outros em si mesmo e, dessa forma, ele reconhece a presença de dezenas de trens passando, vagões cheios de gente, centenas de pessoas e o outro que está nele é você, e você, e você. E assim como ele está em você, ele está neles, em todos nós e só quando estamos em nós mesmos, estamos em paz, mesmo que estejamos sozinhos.
10. (Enem 2015) Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançando em redor olhares complacentes, lamentando os que não faziam parte do nosso clã. [...]
Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. [...]
É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?
TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Representante da ficção contemporânea, a prosa de Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)
- convivência frágil ligando pessoas financeiramente dependentes.
- tensa hierarquia familiar equilibrada graças à presença da matriarca.
- pacto de atitudes e valores mantidos à custa de ocultações e hipocrisias.
- tradicional conflito de gerações protagonizado pela narradora e sus tios.
- velada discriminação racial refletida na procura de casamentos com europeus.
Resposta: C
Resolução: A passagem do livro "A Estrutura da Bolha de Sabão" de Lygia Fagundes Telles representa a ficção contemporânea, e a prosa configura e desconstrói modelos sociais. O trecho descreve a percepção do núcleo familiar, que descortina um pacto de atitudes e valores mantidos à custa de omissões e hipocrisias. A avó do narrador descreve a família como harmoniosa, sólida e verdadeira, mas quando Margarida revela os segredos, o narrador fica furioso. Ela nega todas as acusações, mas Margarida continua a revelar os segredos da família, mostrando que a imagem de perfeição da família se baseava em esconder a verdade, e que os familiares não eram quem aparentavam ser, mas sim motivados por ganhos financeiros e pessoais desejos.
11. (Enem 2015) À garrafa
Contigo adquiro a astúcia
de conter e de conter-me.
Teu estreito gargalo
é uma lição de angústia.
Por translúcida pões
o dentro fora e o fora dentro
para que a forma se cumpra
e o espaço ressoe.
Até que, farta da constante
prisão da forma, saltes
da mão para o chão
e te estilhaces, suicida,
numa explosão
de diamantes.
PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.
A reflexão acerca do fazer poético é um dos mais marcantes atributos da produção literária contemporânea, que, no poema de José Paulo Paes, se expressa por um(a)
- reconhecimento, pelo eu lírico, de suas limitações no processo criativo, manifesto na expressão “Por translúcida pões”.
- subserviência aos princípios do rigor formal e dos cuidados com a precisão metafórica, como se observa em “prisão da forma”.
- visão progressivamente pessimista, em face da impossibilidade da criação poética, conforme expressa o verso “e te estilhaces, suicida”.
- processo de contenção, amadurecimento e transformação da palavra, representado pelos versos “numa explosão / de diamantes”.
- necessidade premente de libertação da prisão representada pela poesia, simbolicamente comparada à “garrafa a ser “estilhaçada”.
Resposta: D
Resolução: O poema "À Garrafa" de José Paulo Paes é uma reflexão sobre o processo poético, atributo distintivo da produção literária contemporânea. O poema expressa o processo de contenção, amadurecimento e transformação da palavra, representado pelos versos “numa explosão/de diamantes”. O eu lirico reconhece suas limitações no processo criativo, manifestas na expressão "Por translúcida pões" e também no processo de contenção da forma, bem como a ideia da libertação final da prisão representada pela poesia, simbolicamente comparada à "garrafa" para ser "estilhaçada". O poema não expressa uma visão pessimista, nem a ideia de subserviência aos princípios do rigor formal e cuidado com a precisão metafórica.
12. (Enem 2015) Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.
BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, Í. (Org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que
- recorre à tradição bíblica como fonte de inspiração para a humanidade.
- desconstrói o discurso da filosofia a fim de questionar o conceito de dever.
- resgata a metodologia da história para denunciar as atitudes irracionais.
- transita entre o humor e a ironia para celebrar o caos da vida cotidiana.
- satiriza a matemática e a medicina para desmistificar o saber científico.
Resposta: D
Resolução: A narrativa de Fernando Bonassi apresenta uma percepção do olhar contemporâneo que transita entre o humor e a ironia para celebrar o caos da vida cotidiana. A narrativa descreve uma sucessão de eventos históricos, mas de forma não linear e sem a preocupação de explicar os eventos, ao invés disso, ele os coloca lado a lado e mostra como eles se relacionam com a vida cotidiana. A fala da filosofia, números racionais, História, fome, calmante e estimulante são utilizados para mostrar o caos e a complexidade da vida.