UFU - Literatura 2025.2

57. (UFU 2025.2) Onde queres revólver, sou coqueiro

E onde queres dinheiro, sou paixão

Onde queres descanso, sou desejo

E onde sou só desejo, queres não

E onde não queres nada, nada falta

E onde voas bem alta, eu sou o chão

E onde pisas o chão, minha alma salta

E ganha liberdade na amplidão

[....]

Onde queres o ato, eu sou o espírito

E onde queres ternura, eu sou tesão

Onde queres o livre, decassílabo

E onde buscas o anjo, sou mulher

Onde queres prazer, sou o que dói

E onde queres tortura, mansidão

Onde queres um lar, revolução

E onde queres bandido, sou herói

[...]

O quereres e o estares sempre a fim

Do que em mim é de mim tão desigual

Faz-me querer-te bem, querer-te mal

Bem a ti, mal ao quereres assim

Infinitivamente pessoal

E eu querendo querer-te sem ter fim

E, querendo-te, aprender o total

Do querer que há e do que não há em mim

VELOSO, C. O quereres. In: Velô. Philips, 1984. 1 CD. Faixa 7

Com base nos versos selecionados de “O quereres”, de Caetano Veloso, é CORRETO afirmar que a canção

  1. dialoga com “Sermão da Sexagésima”, de Padre António Vieira. A canção enfatiza a crítica social, utilizando metáforas para discutir as disparidades econômicas e políticas da sociedade brasileira. Os versos empregam linguagem codificada para expressar descontentamento com a estrutura de poder vigente e a busca por justiça social.
  2. dialoga com elementos simbolistas identificados em “Broquéis”, de Cruz e Sousa. A composição explora a jornada espiritual do indivíduo via metáforas que descrevem a busca pela iluminação e pela compreensão das desigualdades sociais. A canção conota viagem metafórica por intermédio de diferentes estados de consciência e experiências sociais.
  3. dialoga estruturalmente com “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões; todavia, há também retomada de poemas líricos do autor português, como “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Aborda-se a complexidade das relações humanas, evidenciando contradições e desencontros entre os desejos e expectativas de indivíduos distintos.
  4. dialoga com a poesia concretista de Décio Pignatari. A canção torna-se um manifesto da liberdade artística e da expressão criativa, desafiando as convenções e estruturas formais. Nega-se a métrica e se utiliza uma linguagem poética para expressar a necessidade de romper com as normas estabelecidas e explorar novas formas de expressão artística.

58. (UFU 2025.2) Sobre alguns poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen, presentes na antologia “Coral e outros poemas”, organizada por Eucanaã Ferraz, é CORRETO afirmar que

  1. o contato com a literatura e cultura brasileiras se faz presente em poemas que retomam Fernando Pessoa, António Botto e o fado, no livro “Dia do Mar”.
  2. o contato com a literatura e cultura brasileiras se faz presente em poemas que retomam Manuel Bandeira, Brasília e a prosódia do português brasileiro, no livro “Geografia”.
  3. o contato com a literatura e cultura brasileiras se faz presente em poemas que retomam João Cabral de Melo Neto, Brasília e a poesia marginal, no livro “Antífona”.
  4. o contato com a literatura e cultura brasileiras se faz presente em poemas que retomam Guimarães Rosa, a visão metafísica e o barroco mineiro, no livro “Mar Novo”.

59. (UFU 2025.2) Perspectivando relação temática e estilística entre os poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen, que compõem “Coral e outros poemas”, e os contos de Lygia Fagundes Telles, que compõem “Invenção e memória”, observamos que a conexão apropriada entre ambas reside na

  1. exploração da efemeridade do tempo e uso de linguagem cultista, logo, via perspectiva alegórica, para questionar os sentidos da modernidade.
  2. visão histórica e uso de linguagem hermética, focada na reconstrução de eventos nacionais para a construção de uma identidade coletiva.
  3. atenção à dimensão existencial e uso de linguagem fluida, destacando a busca por sentido diante de temas que envolvem dilemas filosóficos e psíquicos.
  4. rejeição do diálogo com as heranças culturais de seus contextos e uso de linguagem obscura, optando pela desconstrução radical da memória.

60. (UFU 2025.2) JUIZ JOVEM (para o juiz velho): Eu não aguento mais esta roupa.

JUIZ VELHO: É sempre muito difícil de aguentar. (Saem)

CIDADÃO 1 (passando pelos homens-coiotes, para o Cidadão 2): Esses quem são?

CIDADÃO 2: Parece que é a gente que mora no vale.

CIDADÃO 1: Eles têm uma cara diferente da nossa ... (param um instante, mas não chegam perto) ... um olho ...

HILST, H. O verdugo. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2018. p. 105-106

Na peça “O verdugo”, de Hilda Hilst, os ’homens-coiotes‘ assumem a função simbólica de

  1. representar a selvageria do verdugo, destacando a incapacidade dele de agir de forma racional ou ética ao longo do enredo. A demarcação espacial no Brasil corrobora tal aspecto.
  2. demarcar o anonimato e a desumanização impostos pelo sistema judiciário e social, transformando o executor em um instrumento sem identidade própria. A ausência de demarcação espacial corrobora tal aspecto.
  3. artifício narrativo utilizado para evidenciar a moral ilibada dos agentes que sustentam o sistema de justiça, enfatizando o apagamento da individualidade. A ausência de demarcação espacial corrobora tal aspecto.
  4. elemento cenográfico sem implicações relevantes para a compreensão da peça, em especial, do desfecho. A demarcação espacial em uma floresta corrobora tal aspecto.

61. (UFU 2025.2) O espaço é um dos componentes fundamentais de uma narrativa, englobando as referências geográficas e/ou arquitetônicas que definem os locais onde os eventos da história ocorrem, e sendo também determinante para a caracterização social e cultural.

Com base no entendimento acima, analise as asserções abaixo:

I. Na obra “A Sibila”, a família Teixeira reside em uma casa situada próxima a Amarante, uma cidade portuguesa no norte do país. Trata-se de uma região rural marcada pela pobreza e por forte religiosidade.

II. Na obra “Bom dia, camaradas”, a família do protagonista reside em uma pequena cidade no interior de Angola, espaço marcado pela presença de guerrilhas. Trata-se de uma região caracterizada pela devastação direta da Guerra civil angolana.

III. Na obra “O Karaíba: uma história do pré-Brasil”, o espaço habitado pelas personagens é o interior da Floresta Amazônica. Trata-se de uma região afastada do litoral e longe dos colonizadores invasores.

IV. Na obra “O verdugo”, a família do protagonista da peça habita uma espécie de vilarejo interiorano inominado. Trata-se de um espaço indefinido, pois as indicações cênicas não localizam a ação em um país específico.

Assinale a alternativa que apresenta apenas asserções corretas.

  1. I e IV
  2. I e III
  3. II e III
  4. II e IV

62. (UFU 2025.2) O livro “O Karaíba: uma história do pré-Brasil” dialoga com a representação histórica idealizada no quadro acima, de Oscar Pereira da Silva, de forma

  1. consentânea, pois destaca o contato e encontro de duas culturas, os colonizadores portugueses e os povos indígenas.
  2. crítica, pois narra momentos que antecedem a chegada dos portugueses pela visão indígena, evidenciando o seu protagonismo.
  3. apolítica, pois omite a presença dos europeus na narrativa, bem como os desdobramentos do processo de colonização.
  4. questionadora, pois, como na pintura, os indígenas são retratados como espectadores passivos da chegada dos colonizadores.

63. (UFU 2025.2) O trecho a seguir foi retirado do conto “Que se chama solidão”, de Lygia Fagundes Telles:

Chão da infância. Algumas lembranças me parecem fixadas nesse chão movediço, as minhas pajens. Minha mãe fazendo seus cálculos na ponta do lápis ou mexendo o tacho de goiabada ou ao piano; tocando suas valsas. E tia Laura, a viúva eterna que foi morar na nossa casa e que repetia que meu pai era um homem instável. Eu não sabia o que queria dizer instável mas sabia que ele gostava de fumar charutos e gostava de jogar. A tia um dia explicou, esse tipo de homem não consegue parar muito tempo no mesmo lugar e por isso estava sempre sendo removido de uma cidade para outra como promotor. Ou delegado.

TELLES, L. F. Invenção e memória. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. P. 6.

Sobre o trecho acima, assinale a alternativa INCORRETA

  1. O título do conto faz referência a um verso de uma cantiga infantil citada na história e cantada por uma das personagens.
  2. O termo “Chão de infância” é um caracterizador espaço temporal do conto, pois a narradora recupera memórias de um tempo passado.
  3. A personagem Tia Laura é fundamental para a compreensão do conto, pois a morte da personagem foi um evento marcante para a narradora.
  4. As lembranças evocadas pela narradora sobre suas pajens abordam possíveis encontros com elementos sobrenaturais.

64. (UFU 2025.2) A partir da leitura da obra “Casa de Alvenaria”, de Carolina Maria de Jesus, considere as asserções a seguir.

I. A obra aborda a construção da identidade de Carolina Maria de Jesus em relação à sua nova condição social, retratando o tranquilo processo de adaptação da escritora à sua nova realidade.

II. A expressão genuína de suas vivências é uma característica da escrita de Carolina Maria de Jesus na obra, amplificada pela escrita em formato de diário e pelo uso da primeira pessoa.

III. O espaço da favela é uma lembrança presente e recorrente na tessitura narrativa, pois Carolina lembra com carinho, ternura e afeto os tempos difíceis vividos na Favela do Canindé.

IV. A obra apresenta uma Carolina contestadora e crítica, mas ao mesmo tempo contraditória, oscilando entre o orgulho de sua ascensão social e a frustração com as novas formas de exclusão que enfrenta.

Assinale a alternativa que apresenta apenas asserções corretas.

  1. I e II
  2. III e IV
  3. II e III
  4. II e IV