UECE - Filosofia 2025.2

68. (UECE 2025-2) “Na República, Platão argumenta que a melhor vida para um ser humano é a vida do filósofo, uma vida devotada ao aprendizado e à contemplação da verdade. Mas também argumenta que a melhor vida é uma vida ‘governada’ pela razão, em que a razão avalia, classifica e ordena buscas alternativas”.

NUSSBAUM, Martha C. A fragilidade da bondade: fortuna e ética na tragédia e na filosofia grega. Trad. Ana Aguiar Cotrim. São Paulo: Martins Fontes, 2009., p. 122. (Adaptado).

Com base no texto, é correto afirmar que Platão

  1. considera que a paixão e a razão devem governar a vida humana.
  2. entende a razão como o caminho para a vida feliz e para a justiça.
  3. adverte para o risco de a razão ser o impedimento para viver as paixões.
  4. compreende que buscar as próprias razões é o caminho para a felicidade.

Resposta: B

Resolução: Segundo Platão, a vida ideal é aquela regida pela razão. Ele afirma que a razão deve governar os impulsos e desejos humanos, pois é o caminho para a justiça e a verdadeira felicidade. O texto destaca essa importância da razão como avaliadora e organizadora da vida.

69. (UECE 2025-2) “Para Alfarábi (filósofo mulçumano medieval), na interação com o mundo físico, a alma humana busca seguir rumo às realidades superiores em um curso de aperfeiçoamento ontológico de si. O modo como se dá o aperfeiçoamento ontológico do corpo, tendo em vista a realidade material à qual pertence, está relacionado a uma dimensão epistemológica, o que possibilita a ascensão ontológica e, inclusive, ética do ser humano.” PEREIRA DA SILVA, Francisca Galileia; SILVA SANTOS, Virgínia Braga da. Ontologia, cosmologia e epistemologia: acerca dos primeiros princípios da realidade em Al-Fārābī.

Argumentos: Revista de Filosofia, Fortaleza, v. 16, 2024. (Adaptado)

Com base no trecho anterior, é correto afirmar que o processo de conhecimento repercute eticamente em um

  1. aperfeiçoamento do saber, da técnica científica e da filosofia.
  2. melhoramento do entendimento das causas dos fenômenos.
  3. reconhecimento da impossibilidade de uma vida humana moral.
  4. aperfeiçoamento daquele que conhece e sua elevação moral.

Resposta: D

Resolução: ara Alfarábi, o conhecimento (dimensão epistemológica) é o caminho para o aperfeiçoamento do ser humano (ontológico), e isso resulta em uma elevação ética. O conhecimento transforma o sujeito, levando-o a um estado superior de ser.

70. (UECE 2025-2) “É menino! É macho! É homem! Ecoavam as vozes determinantes que me projetaram para ser, me formataram para ser. Nasci então, com todo um aparato sem compreender o que eu era, sujeito sujeitado ao inferno da dominação moralista. Uma grande parcela da sociedade cisgênera brasileira ainda nos vê como seres aberrantes, monstruosos e diabólicos. Somos vistas também como máquinas de prazer e de modo fetichizado, construídas apenas para o sexo desejante”.

SILVA, Lauri Miranda. Vozes subversivas e corpos transgressores: memórias de (re)existência de militantes dos movimentos LGBTQIA+ e de mulheridades contra as opressões interseccionais em Rondônia (1980 a 2022). 2023. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Porto Alegre, 2023. (Adaptado).

Na narrativa biográfica de Lauri Miranda Silva, uma mulher trans, nota-se uma questão filosófica fundamental: a relação entre sujeitos através do corpo, como fenômeno socialmente perceptível. Na perspectiva exposta na citação, é correto afirmar que

  1. há sempre uma identidade entre o sujeito, o seu corpo e as expectativas sociais sobre o corpo do sujeito.
  2. as ideias sociais sobre o corpo do sujeito e a imagem que o sujeito tem do seu corpo não coincidem e podem ser opressivas.
  3. o corpo é um fenômeno físico por meio do qual os sujeitos reconhecem como o sujeito do corpo se entende.
  4. os sujeitos compartilham, desde a aprendizagem da linguagem, o que cada sujeito entende sobre o seu próprio corpo.

Resposta: B

Resolução: A autora aponta para o descompasso entre como a sociedade enxerga os corpos trans e como esses sujeitos se percebem. A percepção social pode ser opressiva, revelando o conflito entre identidade pessoal e expectativas sociais normativas.

71. (UECE 2025-2) Sobre as teorias contratualistas modernas, que estabelecem as doutrinas das liberdades civis, Carole Pateman argumenta: “as mulheres não participam do contrato social original através do qual os homens transformam sua liberdade natural na segurança da liberdade civil. As mulheres são o objeto do contrato. O contrato sexual é o meio pelo qual os homens transformam seu pretenso direito natural sobre as mulheres na segurança do direito patriarcal”.

PATEMAN, Carole. O contrato sexual. Trad. Marta Avancini. São Paulo: Paz e Terra, 2021., p. 19. (Adaptado). Nessa atual compreensão das teorias contratualistas clássicas, pode-se dizer corretamente que

  1. as doutrinas modernas libertam as mulheres da servidão de gleba, incorporando-as, no direito, por meio do direito do homem sobre a mulher.
  2. as teorias do contrato social, por serem universais, não necessitam incorporar uma diferença de gênero para promover a liberdade de todos.
  3. o contrato social pressupõe o contrato sexual, o que torna a estrutura do direito civil um modelo jurídico de base patriarcal.
  4. o contrato sexual é uma forma de garantir a segurança física e intelectual das mulheres, que, no estado de natureza, viviam sob o domínio masculino.

Resposta: C

Resolução: Pateman argumenta que o contrato social clássico oculta um "contrato sexual" anterior, no qual o patriarcado legitima o domínio dos homens sobre as mulheres. Assim, o contrato social se apoia numa estrutura jurídica patriarcal.

72. (UECE 2025-2) “O racismo, enquanto pseudociência, busca legitimar a produção de privilégios simbólicos e materiais para a supremacia branca que o engendrou. São esses privilégios que determinam a permanência e a reprodução do racismo enquanto instrumento de dominação, exploração e, mais contemporaneamente, de exclusão social em detrimento de toda evidência científica que invalida qualquer sustentação para o conceito de raça.”

CARNEIRO, Sueli. Dispositivo de racialidade: a construção do outro como não ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2023. (Adaptado). Sobre a citação anterior, é correto afirmar que

  1. a ideia de raça é constituída pelas próprias estruturas racistas, objetivando a manutenção do domínio de uma forma de vida sobre outra.
  2. a raça branca e a raça preta possuem direitos e deveres iguais, sendo possível afirmar que são iguais aos olhos da lei e da justiça.
  3. a conceito de raça tem por objetivo a classificação dos homens conforme as suas diferentes estruturas biológicas.
  4. a segregação racial, baseada nas diferenças morfológicas do homem, foram superadas pela ideia de democracia racial.

Resposta: A

Resolução: Sueli Carneiro denuncia o racismo como uma construção ideológica (e pseudocientífica), criada para manter os privilégios da supremacia branca. A ideia de raça é usada para justificar desigualdades, mesmo sem base científica real.